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11 de julho de 2013

Amor: Fruto da Caridade

Todo ser busca, com afinco, o bem e deste encontro decorre a alegria. Mas, qual bem pode nos trazer alegria a ponto de sa
ciar todo desejo e não dar margem a nenhum tipo de decepção? São Tomás esclarece que, muito além de ser uma simples paixão, a alegria é o fruto mais arrebatador do amor a Deus, pois “o amor é o primeiro movimento da potência apetitiva do qual resulta o desejo e a alegria.1”

Segundo Pe. Royo Marín, O.P.2, para que um objeto seja a causa de alegria e felicidade perfeita para o homem, ele deve resumir em si quatro condições essenciais: ser o bem supremo que não compita com outro maior; excluir toda e qualquer mescla de mal; saciar por completo todas as aspirações do coração humano; e, por último, ser estável, ou seja, que uma vez obtido não possa ser perdido.
Segundo este moralista, tais requisitos não são cumpridos por nenhum dos seres criados, sejam eles dinheiro, fama, glória, beleza, etc.; essa tese é confirmada taxativamente pela Santa Mãe Igreja (CCE 1723): “a verdadeira alegria não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo o bem e de todo amor“.

O Pe. Royo Marín dá as razões: as riquezas, por exemplo, além de fomentarem progressivamente o desejo de mais fortunas, não excluem certos infortúnios como enfermidades e mortes, e podem ser perdidas por qualquer eventualidade. Similarmente, as honras, a fama e o poder são instáveis, pois cessam após a morte. Quem, por exemplo, se lembra hoje das personalidades que encheram os jornais de há um século? Ademais, saúde, beleza, força, enfim, dentre todos os bens corpóreos, nenhum deles são bens supremos, pois o corpo é a parte inferior do homem, além do que também findam com a morte. Neste sentido, Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias dá um interessante depoimento:

Eu conheci pessoas riquíssimas em minha vida. Viajando de lá para acolá, conheci reis de petróleo, conheci magnatas de grandes fortunas: deprimidos, cheios de tiques nervosos, [...] porque a qualquer momento podia ser que acontecesse isto, acontecesse aquilo, que perdesse isso, perdesse aquilo. Eles não se davam conta que iriam perder tudo na hora da morte, porque [...] passariam para a eternidade sem levar nada.3

Tampouco a ciência preenche as condições necessárias para ser a razão da alegria humana, pois esta pode ser perdida pelas doenças mentais, além de não saciar o homem, a ponto de o próprio Sócrates afirmar: “Só sei que nada sei”.

Por fim, o Pe. Royo Marín ousa dizer que nem sequer na virtude – no sentido estrito da palavra – pode consistir o gozo perfeito, posto que não pode ser completa nesta Terra, nem é estável já que pode-se perdê-la pelo ímpeto das paixões.

Definitivamente: o único que pode nos fazer felizes é Deus. É como aconselha Tomás Kempis em sua obra “Imitação de Cristo”: “Tende por vã toda consolação que venha da criatura. A alma que ama a Deus despreza tudo abaixo de Deus. Só Deus, eterno e imenso, preenche tudo, Consolação da alma e verdadeira Alegria do coração4”.

E realça L. Desiato que “não adianta procurá-la [a felicidade] dando uma volta pelo mundo, ela está dentro de nós, no sorriso de uma Presença”5 ; e é, também, o que reconhece o Bispo de Hipona: “quando busco a Vós, Deus, busco a vida bem-aventurada6” .

Quando nós colocamos um amor meramente humano, quando nós colocamos a esperança meramente humana, quando nos aferramos a qualquer coisa puramente natural, aí vem a decepção. Por quê? Porque quando nós entregamos o nosso coração, nós estamos à procura de um infinito, de um Ser absoluto, de Deus. E muitas vezes nós, por equívoco, acabamos colocando nossa esperança em algo que não é Deus, e isso não nos traz o saciar deste anseio que eu levo dentro da minha alma, que é o anseio de Deus. O único ser que apaga este fogo, este anseio de felicidade que é de felicidade infinita – eu quero esta felicidade infinita porque eu fui criado para ela –, o único ser [que a sacia] é Deus, é Nosso Senhor Jesus Cristo, é a Religião, é ter a graça de Deus.7

Para vermos como a alegria verdadeira só se encontra no âmbito sobrenatural, tomemos a figura de Napoleão Bonaparte.

[Ele foi] um homem que fez uma carreira brilhante, galgou imediatamente, em pouco tempo, o posto de imperador da Europa. Era cultuado por todos, aplaudido por todos… [...] ele teve uma vida de triunfos magníficos. Pois bem, Napoleão Bonaparte quando perguntaram a ele qual foi o dia mais alegre, mais feliz da vida dele, ele disse que foi o dia da Primeira Comunhão.8

“O que permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele” (I Jo 4, 16)

Contudo, a alegria é produzida pela obtenção de um bem presente, pois, de outro modo, seria apenas um desejo; e o Catecismo da Igreja Católica (CCE1718) afirma que este, por assim dizer “instinto natural”, Deus o pôs na alma humana a fim de atrair-nos a Ele. Mas, sendo Deus infinito, como poderia o homem obter a Deus? Esta resposta, a dá, de forma magistral, o Doutor Angélico:

[A caridade] produz no homem a perfeita alegria. Com efeito, ninguém tem verdadeiro gáudio se não vive na caridade. Porque qualquer um que deseje algo, não goza nem se alegra nem descansa enquanto não o obtém. E nas coisas temporais ocorre que se apetece o que não se tem, e o que se possui se despreza e produz tédio; mas não é assim nas coisas espirituais. Pelo contrário, quem ama a Deus o possui, e por isso o ânimo de quem O ama e O deseja n’Ele descansa.9

Portanto, só a caridade nos dá a possibilidade de possuir a Deus, pois como afirma São João: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (I Jo 4, 16). A caridade dilata o nosso coração para que, já nesta Terra, possamos abarcar um pouco mais do que nossa capacidade humana conseguiria, a infinitude do Criador.

Acrescenta ainda Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias:

O modo de participarmos de Nosso Senhor Jesus Cristo e permanecermos n’Ele e na alegria d’Ele, é [...] estar participando daquilo que Ele é. O que Ele é? Ele é a Alegria. Ouçam como soa mal: “Deus é a depressão. Deus é o desânimo. Deus é a tristeza”. Alguém dirá: “Você é um louco. Fora daí!” Porque se há algo que eu não posso dizer é isso. Mas eu posso dizer: “Deus é a Alegria!” E Ele, portanto, quer transferir a nós essa alegria. Como recebemos essa alegria? É permanecendo no amor d’Ele, é permanecendo n’Ele, é obedecendo as leis morais que Ele pôs.10

Ora, Deus é amor e é alegria; logo, para se ter alegria é preciso ter amor a Ele.



Fonte: , ifte, Mariana Iecker Xavier Quimas de Oliveira

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