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31 de janeiro de 2013

Homenagem as vítimas do incêndio na Boate Kiss em Santa Maria (27/01/2013)



Aos anjos de Santa Maria, que agora repousam junto de Deus e contemplam a sua face!!

Dom Bosco - “Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.”

São João Bosco é um dos Santos mais populares da Igreja e do mundo. Foi sua missão específica a educação cristã da juventude. Para o desempenho da sua missão salvadora, jamais o Céu lhe faltou com extraordinários dotes humanos e sobrenaturais.


São João Bosco nasceu no Colle dos Becchi, no Piemonte, Itália, uma localidade junto de Castelnuovo de Asti (agora chama-se Castelnuovo Dom Bosco) a 16 de agosto de 1815.
Era filho de humilde família de camponeses. Órfão de pai aos dois anos viveu sua mocidade e fez os primeiros estudos no meio de inumeráveis trabalhos e dificuldades. Desde os mais tenros anos sentiu-se impelido para o apostolado entre os companheiros.

Sua mãe, que era analfabeta, mas rica de sabedoria cristã, com a palavra e com o exemplo animava-o no seu desejo de crescer virtuoso aos olhos de Deus e dos homens. Mesmo diante de todas as dificuldades, João Bosco nunca desistiu.
Durante um tempo foi obrigado a mendigar para manter os estudos. Prestou toda a espécie de serviços. Foi costureiro, sapateiro, ferreiro, carpinteiro e, ainda nos tempos livres, estudava música. Queria vivamente ser sacerdote.

Dizia:

“Quando crescer quero ser sacerdote para tomar conta dos meninos. Os meninos são bons; se há meninos maus é porque não há quem cuide deles”. A Divina Providência atendeu os seus anseios. Em 1835 entrou para o seminário de Chieri. Ordenado Sacerdote a 5 de junho de 1841, principiou logo a dar provas do seu zelo apostólico, sob a direção de São José Cafasso, seu confessor.

No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, iniciou o seu apostolado juvenil em Turim, catequizando um humilde rapaz de nome Bartolomeu Garelli. Começava assim a obra dos Oratórios Festivos, destinada, em tempos difíceis, a preservar da ignorância religiosa e da corrupção, especialmente os filhos do povo.
Em 1846 estabeleceu-se definitivamente em Valdocco, bairro de Turim, onde fundou o Oratório de São Francisco de Sales. Ao Oratório juntou uma escola profissional, depois um ginásio, um internato etc.
Em 1855 deu o nome de Salesianos aos seus colaboradores.

Em 1859 fundou com os seus jovens salesianos a Sociedade ou Congregação Salesiana. Com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou em 1872 o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875 enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. Foi ele quem mandou os salesianos para fundar o Colégio Santa Rosa em Niterói, primeira casa salesiana do Brasil, e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo.

Criou ainda a Associação dos Cooperadores Salesianos. Prodígio da Providência divina, a Obra de Dom Bosco é toda ela um poema de fé e caridade. Consumido pelo trabalho, fechou o ciclo de sua vida terrena aos 72 anos de idade, a 31 de janeiro de 1888, deixando a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e da América. Se em vida foi honrado e admirado, muito mais o foi depois da morte.

O seu nome de taumaturgo, de renovador do Sistema Preventivo na educação da juventude, de defensor intrépido da Igreja Católica e de apóstolo da Virgem Auxiliadora se espalhou pelo mundo inteiro e ganhou o coração dos povos. Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Apesar dos anos que separam os dias de hoje do tempo em que viveu Dom Bosco, seu amor pelos jovens, sua dedicação e sua herança pedagógica vêm sendo transmitidos por homens e mulheres no mundo inteiro.

Hoje Dom Bosco se destaca na história como o grande santo Mestre e Pai da Juventude. Embora tenha feito repercutir pelo mundo o seu carisma e o sistema preventivo de salesiano, que é baseado na Razão, na Religião e na Bondade, Dom Bosco permaneceu durante toda a sua vida em Turim, na Itália. Dedicou-se como ninguém pelo bem-estar de muitos jovens, na maioria órfãos, que vinham do campo para a cidade em busca de emprego e acabavam sendo explorados por empregadores interessados em mão-de-obra barata ou na rua passando fo me e convivendo com o crime.

Com atitudes audaciosas, pontuadas por diversas inovações, Dom Bosco revolucionou no seu tempo o modelo de ser padre, sempre contando com o apoio e a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora. Aliás, o sacerdote sempre considerou como essencial na educação dos jovens a devoção à Maria.

Dom Bosco ficou muito famoso pelas frases que usava com os meninos do oratório e com os padres e irmãs que o ajudavam. Embora tenham sido criadas no século passado, essas frases, ainda hoje, são atuais e ricas de sabedoria. Elas demonstram o imenso carinho que Dom Bosco tinha pelos jovens.

Entre alguns exemplos,

“Basta que sejam jovens para que eu vos ame.”,
“Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens.”,
“O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele”,
“Ganhai o coração dos jovens por meio do amor”,
“A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos.”

O método de apostolado de Dom Bosco era o de partilhar em tudo a vida dos jovens; para isto no concreto abriu escolas de alfabetização, artesanato, casas de hospedagem, campos de diversão para os jovens com catequese e orientação profissional; foi por isso que a Igreja reza:

"Deus suscitou São João Bosco para dar à juventude um mestre e um pai”.
De estatura atlética, memória incomum, inclinado à música e a arte, Dom Bosco tinha uma linguagem fácil, espírito de liderança e ótimo escritor.

Este grande apóstolo da juventude foi elevado para o céu em 31 de janeiro de 1888 na cidade de Turim; a causa foi o outros, já que afirmava ter sido colocado neste mundo para os outros.
Educar não é só uma arte. Passou a ser um desafio, pois é cada vez mais difícil orientar a juventude num sentido contrário à mentalidade dominante. São João Bosco encontrou a chave que abre a alma do jovem à influência do bem. Manter a disciplina numa sala de aulas constituída de adolescentes é uma dificuldade que, com algumas varia ntes, mostra-se quase tão antiga como a civilização.

Os mestres de Santo Agostinho poderiam dar um testemunho valioso a esse respeito. Em outros tempos, os métodos usados eram muito mais diretos que os atuais e davam resultados imediatos, proporcionais à energia e à força de personalidade do professor. Mas o problema de fundo não deixa de ser o mesmo, hoje como ontem. A educação não se restringe a conseguir manter, dentro do recinto de uma sala de aulas, todos os alunos em ordem e silêncio, para que o professor possa transmitir com eficácia seus ensinamentos.

O bom educador deve saber moldar a personalidade de seus discípulos, corrigindo os defeitos, estimulando as qualidades, fazendo-os amar os princípios que orientarão a vida. Numa boa educação, a formação religiosa ocupa lugar principal, pois sem amor de Deus e auxílio da graça ninguém consegue vencer as más inclinações e praticar estavelmente a virtude.
Da teoria à prática… Na teoria, tudo isso é muito fácil… Mas, como pô-la em prática no mundo de hoje, no qual são tão numerosas e atraentes as solicitações para o mal e os educadores sentem crescente dificuldade de exercer influência sobre os jovens? O problema já era candente na época de São João Bosco.

A sociedade de então passava por grandes transformações, sobretudo de mentalidade. E a juventude, sempre ávida de novidades, afastava-se da religião e perdia o rumo.
Dom Bosco fazia o “milagre” – muito maior do que todos os outros por ele realizados – de atrair e formar jovens que já não se deixavam moldar pelos antigos métodos educacionais e se subtraíam à ação da Igreja. Tentativas de penetrar o segredo do método preventivo

Eram tão surpreendentes os resultados obtidos pelo fundador dos salesianos que muitos de seus coetâneos procuravam insistentemente arrancar dele o “segredo” de seu êxito.
Essa mesma intenção teve o reitor do seminário maior de Montpellier, quando enviou uma carta a Dom Bosco, perguntando qual o segredo da pedagogia utilizada por ele. Imagine-se sua surpresa ao receber a seguinte resposta: “Consigo de meus meninos tudo o que desejo, graças ao temor de Deus infundido em seus corações”.

Não satisfeito, o reitor enviou uma segunda carta, mas a esta o Santo não soube responder, pois nunca havia feito um estudo sobre a matéria.
O livro do qual ele tirava seus ensinamentos era sua própria vida. Confiança: o instrumento do bom educador Discorrendo sobre o mesmo assunto com o cardeal Tosti, em Roma, numa manhã de 1858, disse-lhe São João Bosco:

“Veja, Eminência, é impossível educar bem a juventude se não se lhe conquista a confiança”. Em seguida, para dar-lhe um exemplo concreto, ele o convidou a acompanhá-lo à Praça del Popolo, onde facilmente encontrariam grupos de jovens brincando, e poderia demonstrar a eficácia de seu método.
Mas quando desceu da carruagem, a turma de meninos que brincava na praça fugiu correndo. Certamente julgaram que esse padre lhes ia fazer um pequeno sermão ou repreendê- los por alguma falta.

O cardeal ficara dentro do veículo, assistindo à cena, e se divertia, julgando que aquele primeiro fracasso levaria Dom Bosco a desistir da experiência. Mas este não se deixou abater e, em poucos minutos, com sua vivacidade e irresistível bondade, tinha uma pequena multidão de jovenzinhos à sua volta se divertindo com seus jogos e entusiasmados com sua bondade. Chegado o momento de se retirar, eles formaram duas fileiras diante do coche, para aclamar o sorridente sacerdote enquanto este passava.
O cardeal tinha dificuldade em acreditar no que estava vendo… Evitar o pecado: a essência do método preventivo.
Afinal, como fazia São João Bosco para cativar a juventude?

Como primeiro objetivo, pretendia ele evitar todo e qualquer tipo de pecado, usando de grande vigilância, acompanhada de amorosa solicitude. Não de um modo esmagador e glacial, mas paternal e afetuoso.
A essa tática de conduzir os jovens o santo educador deu o nome de “método preventivo”, em confronto com o outro então em voga, denominado “repressivo”, o qual tinha por base os castigos. Esse modelar formador da juventude não perdia ocasião de coarctar o avanço do mal. Mesmo nos recreios, seu olhar atento logo conseguia descobrir onde estava a rixa ou de onde provinham palavras reprováveis e, sem demora, desfazia a confusão com hábil jovialidade, pois ele era a alma dos divertimentos, como seus alunos testemunhavam.

Não raras vezes, ele desafiava todos os meninos, de uma só vez, para uma corrida. Então erguia a batina, contava até três e deixava aquela turba de jovens para trás: Dom Bosco sempre chegava em primeiro lugar. Quando já tinha 53 anos, ele ainda deixava os espectadores estupefatos com sua agilidade, pois nunca perdia uma corrida com os alunos do Oratório. Suavidade na repreensão São João Bosco jamais dava castigos corporais, na convicção de que isso só incitaria os corações à revolta e fecharia a alma do jovem para os conselhos salutares.

A maneira pela qual ele repreendia era através de uma palavra fria, um olhar triste, uma mão retraída, ou qualquer outro sinal discreto de desagrado com alguma falta. Mas os resultados demonstravam ser extremamente eficaz essa forma de correção. Certa noite, logo após as orações, Dom Bosco queria dirigir aos meninos algumas palavras benfazejas, antes de irem dormir, mas tal era a algazarra que ele não conseguiu obter silêncio. Após alguns minutos de espera, comunicou- lhes:
“Não estou contente com vocês! Vão dormir. Esta noite não lhes digo nada”.
A partir desse dia nunca mais foi necessário usar uma sineta para que os rapazes fizessem silêncio. Poderia, porém, surgir uma dúvida a respeito de tal método.

Essa vigilância para evitar o pecado não acabaria por tirar a liberdade ao jovem?

A natureza humana é feita para o equilíbrio: não sufocar a liberdade nem, muito menos, permitir uma indisciplina desenfreada. Essa conjunção, São João Bosco soube fazê-la admiravelmente. Apesar de toda a vivacidade e afeto no trato com os jovens, estes sempre mantinham uma atitude de respeito e admiração para com seu mestre. Alegria, tempero indispensável

O ambiente no refeitório do Oratório era uma comprovação desse relacionamento harmonioso, quando Dom Bosco demorava algum tempo mais para terminar sua refeição, à qual tinha chegado atrasado. Assim que os outros superiores saíam, uma multidão de jovens entrava correndo e ocupava todo o recinto, não deixando espaço vazio. Alguns se aproximavam tanto que quase encostavam suas cabeças nos ombros dele, outros se apoiavam no espaldar de sua cadeira e os mais pequeninos se enfiavam debaixo da mesa.

Qual não era a surpresa comovida do Santo ao ver aquelas pequenas cabecinhas dali saírem, com o único fim de estarem mais perto de seu pai. A liberdade com que aqueles jovenzinhos dele se aproximavam e a veneração que lhe devotavam constituíam realmente um quadro comovedor. Uma ocasião como essa era uma excelente oportunidade de fazer o bem. O zeloso sacerdote aproveitava então para contar uma história, dar um bom conselho, fazer perguntas, até que o sino indicasse a hora da oração da noite, ou seja, o fim desse convívio enternecido.

Como se vê, a alegria ocupava um grande papel no método educativo de Dom Bosco. Com ela, pretendia o Santo tornar a vida leve e criar disposições para os meninos abrirem a alma à influência dele e ao sobrenatural. Um dos meios que utilizava eram os jogos e diversões, dos quais o próprio educador participava. Num desses divertimentos, ele alinhava todos os meninos em uma única fila e lhes recomendava: “Atenção! Façam tudo como eu fizer.

Quem não fizer como eu faço, sai da brincadeira”. Isso dito começava seu percurso, ora correndo com os braços para o ar, ora fazendo gestos espetaculares, batia palmas, pulava com uma só perna, ameaçava parar numa árvore, mas logo depois saía correndo de novo. Desse modo, entretinha e criava um ambiente de alegria para aqueles jovens. Com tais recursos e, sobretudo, com a graça divina, São João Bosco conseguia levá-los a amar a Deus com alegria. Para esse efeito, a música era um instrumento valioso, a ponto de ele dizer que uma casa sem música é como um corpo sem alma. Frequência aos sacramentos e devoção a Nossa Senhora.
A perseverança só é possível pela frequência aos sacramentos e uma ardente devoção a Nossa Senhora. Na confissão, Dom Bosco pacificava as consciências, infundia confiança nas almas, conduzia seus juvenis penitentes a Deus. Bela descrição dessas confissões nos faz Huysmans, escritor católico do séc. XIX:

“Nosso Santo, trazendo no semblante a bonomia de um velho vigário do interior, puxava para perto de si o menino que tinha terminado o exame de consciência e, tomando-o pelo pescoço, envolvia-o com o braço esquerdo e fazia o pequeno penitente apoiar a cabeça no seu coração.
Não era mais o juiz. Era o pai que ajudava os filhos, na confissão tantas vezes penosa das faltas mais pequeninas.” Por meio da comunhão frequente queria São João Bosco fortificar a alma dos jovens contra as investidas infernais.

Para ele, a Primeira Comunhão deveria ser feita o mais cedo possível:

“Quando um menino sabe distinguir entre o pão comum e o Pão Eucarístico, quando se acha suficientemente instruído, não é preciso olhar para a idade.
Venha logo o Rei do Céu reinar nessa alma”. Seguindo os sábios conselhos maternos, Dom Bosco fez da devoção a Maria Santíssima, sob a bela invocação de Maria Auxiliadora, uma coluna da espiritualidade dos salesianos. “Se chegares a ser padre – repetia-lhe afetuosamente ‘mamma Margherita’ – propaga sem cessar a devoção a Nossa Senhora”.

Método preventivo e graça divina Na realidade, o método preventivo de Dom Bosco é uma forma adaptada às novas gerações – e plenamente atual – de predispor os jovens para serem flexíveis à ação da graça divina.
É ela a verdadeira causa do êxito surpreendente desse grande educador que marcou sua época, até nossos dias, com seu inovador método transmitido a seus seguidores, os sacerdotes salesianos e as filhas de Maria Auxiliadora.

Fontes: Revista Arautos do Evangelho, Jan/2007, n. 61, p. 22 a 25
Site da Paróquia Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora: http://www.auxiliadora.org.br/.

30 de janeiro de 2013

O que é Leitura Orante da Bíblia?

É uma prática muito antiga na Igreja, mas que ficou por muito tempo desconhecida pelos cristãos.
Hoje ela voltou a florescer e está novamente ocupando seu lugar na Igreja, nas casas religiosas, nos cursos bíblicos, nas famílias e é praticada também individualmente.

Trata-se de uma reflexão sobre um trecho da Bíblia e, em geral, pode-se fazê-la sobre as leituras da liturgia do dia, conforme as circunstâncias ou preferências. Ela é feita em passos que se alternam durante a oração-meditação, que nos levam à conclusões pessoais, espirituais e à prática das virtudes sugeridas pelo texto, como também pelas inspirações divinas.

A Leitura Orante pode ser dividida em vários passos, segundo o interesse da pessoa ou do grupo. Vamos fazer uma demonstração abordando cinco pontos, que são suficientes para que essa leitura atinja seus objetivos.
Feita em grupo, ela poderá durar até uma hora mais ou menos, segundo o número dos participantes.

Abordaremos os seguintes pontos:

1) Leitura do texto.

2) Meditação: O que o texto diz para mim?

3) Contemplação: O que o texto me leva a experimentar?

4) Oração: O que o texto me faz dizer para Deus?

5) Ação: O que o texto me sugere a viver?

Vejamos agora cada um dos passos, na sua aplicação concreta. Quem dirige a Leitura Orante poderá fazer uma introdução com um canto ou uma oração que leve ao recolhimento.

É bom que o texto seja escolhido com antecedência, de preferência do Segundo Testamento. Escolhe-se também um refrão ou mantra, que será cantado na passagem de um passo para outro.

1) Passo:Leitura do texto

Pode ser feita por uma pessoa que leia em voz alta e bem. As demais acompanham em sua própria Bíblia. Se houver alguém que tenha uma Bíblia de tradução diferente, poderá ler uma segunda vez o mesmo texto. Não se faz nenhum comentário, apenas ouve-se.
A passagem para o passo seguinte é marcada pelo canto do refrão escolhido.
Após a leitura, faz-se a repetição do texto, em poucas palavras, mas sem desviar-se do que foi lido.

Pode-se também, repetir a frase que mais causou impacto. Não se faz ainda nenhuma aplicação do texto. Canta-se, depois, o refrão e dá-se prosseguimento.

2) Passo: Meditação

Reflete-se agora sobre o que o texto está dizendo para mim, isto é, qual é o ensinamento que percebo ser dirigido a mim?

Comparo o texto com a minha vida pessoal e tiro as conclusões que me levam a melhorar minha conduta. Partilho com as demais pessoas para o enriquecimento de todas, pois é a Palavra de Deus que age em mim. Depois das partilhas, canta-se o refrão escolhido e passa-se adiante. 

3) Passo: Contemplação

Em perfeito silêncio e, se possível, de olhos fechados para evitar qualquer distração, reconstruo mentalmente a cena do texto, colocando-me como membro integrante da narrativa bíblica. Procuro ouvir as palavras que foram pronunciadas, observar os gestos, aproximar-me da personagem principal pondo-me a dialogar com ela.
É o momento de usar a própria criatividade. Depois de um tempo razoável, canta-se o refrão. 

4) Passo: Oração

Este é o momento em que conversamos com Deus, num diálogo muito íntimo.
A oração, que será expressão do nosso agradecimento, do pedido de perdão, ou daquilo que sentirmos necessidade de dizer, é o momento partilhado com o grupo. Depois das partilhas, o dirigente encerra a sessão com uma oração, que poderá ser um Pai Nosso ou uma Ave Maria, ou mesmo um canto, segundo sua criatividade 

5) Passo:

Depois que lemos, meditamos, contemplamos e rezamos a Palavra, nasce em nós o desejo de vivê-la.
E, para vivê-la de forma concreta escolhemos um gesto, uma atitude para ser vivida até quando sentirmos necessidade. É algo bem concreto na linha do apelo que a Palavra nos fez. E quem desejar pode partilhar seu compromisso.

Em seguida, encerra-se a Leitura Orante com uma prece ou canto. Como você percebe, a Leitura Orante da Bíblia nos leva ao aprofundamento da Palavra de Deus, fazendo com que ela seja o suporte de nossas ações e nos proporcione a vivência concreta de seus ensinamentos e exortações. E não só, ela nos torna apóstolas e apóstolos de Jesus Cristo, pois é impossível permanecer impassível diante das alegrias que essa Palavra nos transmite.

São muitas as pessoas que já se habituaram à prática da Leitura Orante.

Você gostaria de ser uma delas?

Pois faça a experiência, porque o contato com a Bíblia Sagrada deixa saudades. Ela possui uma força misteriosa que nos sustenta, pois é alimento cotidiano e companheira de todas as horas.
Quem sabe você também convide outras pessoas para que, juntas, formem um grupo assíduo da Leitura Orante da Bíblia e se reúnam, mensal, quinzenal ou mesmo semanalmente, para vivenciar o Evangelho da missa dominical! E, uma vez começada a caminhada, não poderão nem conseguirão mais parar.

A Leitura Orante da Bíblia é uma prática milenar.

Ela nos sustenta na caminhada do dia a dia e nos proporciona o conhecimento profundo de Deus, em seu mistério de amor que, por meio de Jesus Cristo veio até nós, abençoando-nos e santificando-nos.

Que a Palavra de Deus se torne cada dia mais conhecida, amada, adorada, praticada e transforme o nosso mundo em um oásis de paz.

O que é Liturgia das Horas?

A liturgia das horas constitui “a oração pública da Igreja”, na qual os fiéis exercem o sacerdócio régio de batizados.

Nos primórdios, já os batizados eram “perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Várias vezes os Atos dos Apóstolos atestam que a comunidade cristã orava em comum.

Os documentos da Igreja primitiva também testemunham que os fieis, cada um em particular, se entregavam à oração em determinadas horas. Assim, muito cedo prevaleceu, em diversas regiões, o costume de reservar para a prece comum tempos fixos, como a última hora do dia, ao anoitecer, quando se acendiam as luzes, ou a primeira, quando, saindo o sol, a noite finda.

Com o decorrer do tempo chegaram a santificar com uma prece também as demais horas, que os Padres viam insinuadas nos Atos dos Apóstolos. Aí, de fato, aparecem os discípulos reunidos às nove horas (At 2,1-15). O príncipe dos Apóstolos “subiu ao terraço para orar pelas doze horas (At 10,9). “Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, às quinze horas” (At 3,1). “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas, em oração louvavam a Deus” (At 16,5).

Essas orações, celebradas em comum, foram pouco a pouco aperfeiçoadas e organizadas como o ciclo completo das Horas. Enriquecida com leituras, essa Liturgia das Horas ou Ofício Divino, é antes de tudo oração de louvor e petição e é oração da Igreja com Cristo e a Cristo.

A Liturgia das Horas desenvolveu-se pouco a pouco, até se tornar a oração da Igreja local, onde veio a ser, em tempos e lugares estabelecidos, sob a presidência do sacerdote, como que complemento necessário a todo culto divino, que se encerra no Sacrifício eucarístico e que devia ter repercussão e estender-se a toda as horas da vida humana.

Nas Laudes foram acrescentadas as Preces, com as quais se quer consagrar o dia e se fazem as invocações para o início do trabalho cotidiano.
Nas Vésperas se faz uma breve oração de súplica, estruturada como a oração universal.
No final das Preces se introduziu a Oração do Senhor.
Assim, considerando que é rezada também na Missa, se restabelece, em nosso tempo, o uso da Igreja antiga de rezar essa Oração três vezes ao dia.

A celebração da Liturgia das Horas, quando particularmente por esse motivo a Igreja se reúne, manifesta a verdadeira natureza da Igreja orante, da qual se revela como sinal maravilhoso.

Há pessoas (os ministros ordenados e os religiosos) que receberam da Igreja o mandato de celebrar a Liturgia das Horas. Estas devem cumprir seu dever todos os dias rigorosamente, com a recitação integral, fazendo coincidir, na medida do possível, com o verdadeiro momento de cada uma das Horas.
Além disso, devem dar a devida importância sobretudo às Laudes e Vésperas. Estas pessoas não se sintam impelidas unicamente por uma lei a cumprir, mas antes pela reconhecida importância intrínseca da oração e pela sua utilidade pastoral e ascética.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica celebrar a “Liturgia das horas”exige não somente que se harmonize a voz com o coração que reza. Mas também que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico,principalmente dos salmos

Os hinos e as ladainhas da “oração das horas” inserem a oração dos salmos no tempo da Igreja, exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Além disso, a leitura da palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em certas horas, as leituras dos padres da Igreja e dos mestres espirituais, revelam mais profundamente o sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para a oração silenciosa.

A lectio divina, em que a palavra de Deus é lida e meditada para tornar-se oração, está assim enraizada na celebração litúrgica.
A liturgia das horas, que é como que um prolongamento da celebração eucarística, não exclui, mas requer de maneira complementar as diversas devoções do povo de Deus, particularmente a adoração e o culto do santíssimo sacramento.

29 de janeiro de 2013

Abusos Litúrgicos e atos nefastos

 Bater palmas na Santa Missa?, Danças?,Coreografias?

O abuso litúrgico é antes de tudo uma falsificação da liturgia católica, no dizer da Instrução Redemptionis Sacramentum. Todo católico tem o direito de ver celebrada a sagrada liturgia sem improvisações, sem experimentação, de acordo com as normas estabelecidas pela Santa Sé.

Conversas, barulho, alvoroço, danças... nada disso combina com a missa. Certamente haverá locais e circunstâncias propícias para extravasar a alegria de ser cristão. Na missa, vale a "regra de ouro": o que não caberia fazer no Calvário, não cabe fazer na missa.

Estamos diante do sacrifício do Filho de Deus! No altar, Jesus oferece-se ao Pai como vítima, por nossos pecados. Portanto, conversar com o vizinho, atender chamadas de celulares, bater palmas ou fazer coreografias, danças, etc., nada disso é próprio na missa. Este tipo de atitude podemos chamar de atos nefastos e profanos na celebração da renovação do sacrifício do calvário.

Na chamada "Missa Nova" do rito ordinário, por exemplo, há orações que são próprias e exclusivas do sacerdote. No caso específico, rezam o "Por Cristo, com Cristo, em Cristo...", a doxologia com que o sacerdote encerra a anáfora (a parte central da missa). Só o padre pode pronunciá-la. Mesmo que o celebrante convide ("todos juntos!", etc.) os fiéis deverão ficar em silêncio e responder, ao final, o solene "amém" (cf. IGMR 151).

Os leigos também não devem rezar a oração da paz ("Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos: Eu vos deixo a paz, Eu vos dou a minha paz..."). Só o sacerdote pronuncia essa oração.

Há que se distinguir os papéis do sacerdote e do leigo na missa:

"Deve-se evitar o perigo de obscurecer a complementaridade entre a ação dos clérigos e dos leigos, para que as tarefas dos leigos não sofram uma espécie de «clericalização», como se fala, enquanto os ministros sagrados assumem indevidamente o que é próprio da vida e das ações dos fiéis leigos" (Redemptionis Sacramentum).


Fonte: Catolicismo Romano

Palmas na missa: sim ou não?

 A questão do respeito à liturgia da Igreja tem atualmente suscitado vários debates sobre temas como procissão, adoração ao Santíssimo Sacramento, cantos, missas tridentinas, manifestação de carismas extraordinários etc.
Obviamente que tais temas não estão todos no mesmo nível ou no mesmo grau de valor, quando se refere a uma maior ou menor adequação às normas litúrgicas da Igreja.

É o caso do questionamento que se pode levantar sobre bater palmas durante a celebração da missa. 
Antes de se tentar fazer brevemente aqui algumas considerações no tocante ao respeito da liturgia da Igreja, o que se pode dizer sobre as palmas em si?

 Já há muito que, em tantas culturas – por que não dizer em todas, mesmo se com maior ou menor freqüência - se expressa os afetos com as palmas. Para manifestar entusiasmo e motivação ou para entusiasmar e motivar, as palmas são usadas de forma rítmica ou não.

Grandes aclamações de personalidades públicas, apresentações artísticas ou o simples fato de reconhecer algo bem feito, são acompanhados de palmas como sinal de ovação, reverência ou reconhecimento.

O ritmo de cantos e danças muitas vezes se inicia com palmas ou as gera. E até mesmo uma boa e sã gargalhada às vezes é completada com palmas, na exteriorização corporal das emoções.
Este gesto que consiste em bater uma mão contra a outra, produzindo um som não é tão anódino quanto parece. Ademais, muito se poderia discorrer sobre quanto significado há as mãos.

No contexto bíblico, deparar-se-á com um grande número de expressões que empreguem a “mão”, muitas vezes personificada, a fim de designar a intenção mais profunda do próprio sujeito agente. Assim as mãos são levantadas para exprimir a atitude de oração (cf. 2Mac 3,20; 1Tm 2,8)

Encontrar-se-ão as palmas de aclamação a um rei (cf. 2R 11,11); o profeta bate palmas enquanto profetiza (cf. Ez 21,19); há também as palmas de censura e reprovação dos atos (cf. Ez 6,10; Lm 2,15); e até Deus bate palmas (cf. Ez 21,22)! Num hino de louvor, a natureza é convidada a exultar de alegria com as palmas (cf. Is 55,12; Sal 97,8), antropomorfismo que revela suas verossímeis raízes na liturgia do povo.

Diz o salmo 46 9 Ao mestre de canto. Salmo dos filhos de Coré. Povos, aplaudi com as mãos, aclamai a Deus com vozes alegres, porque o Senhor é o Altíssimo, o temível, o grande Rei do universo.

Ele submeteu a nós as nações, colocou os povos sob nossos pés, escolheu uma terra para nossa herança, a glória de Jacó, seu amado. Subiu Deus por entre aclamações, o Senhor, ao som das trombetas.

Cantai à glória de Deus, cantai; cantai à glória de nosso rei, cantai. Porque Deus é o rei do universo; entoai-lhe, pois, um hino! Deus reina sobre as nações, Deus está em seu trono sagrado. Reuniram-se os príncipes dos povos ao povo do Deus de Abraão, pois a Deus pertencem os grandes da terra, a ele, o soberanamente grande.

Portanto, isto deixa entrever uma liturgia celebrada alegremente pelo povo de Israel, com instrumentos, ritmos, aclamações, na qual o corpo também está bastante envolvido. Tal fato se confirma em outros textos bíblicos (cf. 1Cr 16, 42; 1Cr 23,5; 2 Cr 7, 6; 2Cr 30,21; ).

Seria fastidioso citar aqui todos os textos que mencionam os músicos, os corais, os instrumentos e os cânticos, através dos quais a alegria da música hebraica se traduz, dando lugar também aos afetos e sentimentos de todos os tipos e assumindo os gestos corporais.

Significativo é o texto de 2S 6,5:

“Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor, e cantavam acompanhados de harpas e de cítaras, de tamborins, de sistros e de címbalos”. Seria difícil não imaginar o uso das palmas em tais celebrações.

Certamente que a liturgia da Igreja não é a mesma da época de Davi e do povo de Israel. Contudo, a liturgia da Igreja assumiu muitos traços das celebrações hebraicas, mantendo com estas uma grande semelhança nos primeiros séculos.

Na época apostólica, para a celebração litúrgica, “se fala também de louvor de Deus, e oração de intercessão. Aqui se vê a continuidade com a tradição sinagogal que, no culto sabatino, faz uso das berakot (= orações de bênçãos) no contexto da leitura da Palavra de Deus e da sua explicação; Jesus era habituado a freqüentar esta liturgia na sinagoga em dia de sábado (Lc 4,16-21)”1 .

O questionamento, que se fará necessário, concerne não somente a história da liturgia, mas também a história da música sacra. Pois assim como a liturgia cristã teve suas influências sinagogais e seu desenvolvimento no encontro com outras culturas, assim também a música se desenvolverá e passará por diferentes estilos ao longo da história do culto cristão. Talvez, em certos momentos da história, um determinado estilo musical tenha sido mais valorizado na liturgia do que outros.

Porém, na Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, percebese que, ainda que o canto gregoriano tenha uma grande estima, não há nenhum estilo musical concreto que possa ser mais sacro do que outros, aprovando e aceitando “no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas” (SC 112).

Ainda que haja palmas para diferentes situações, como já foi acima mostrado, é no âmbito da música litúrgica que justamente elas poderão assumir uma razão de ser e um sentido, os quais não ofendem a liturgia da Igreja em suas rubricas, e menos ainda o centro do mistério celebrado.

Ademais isto também não significa que se estaria a forçar uma introdução das palmas no rito romano ou que se precisaria de uma autorização expressa, haja vista que os documentos da Igreja já dão uma margem para tanto.

Como se justificaria isto?

Já no início da parte da SC que trata da música (cf. 112) percebemos esta abertura a uma forma musical que, por seus aspectos culturais que englobam o ritmo e os gestos corporais, seria propensa a admitir as palmas em certas partes da celebração da missa, ato litúrgico por excelência.
Quando o documento Musicam Sacram, de 1965, trata da participação do povo na liturgia ele diz o seguinte no n. 15: 21 Esta participação:

 a) Deve ser antes de tudo interior; quer dizer que, por meio dela, os fiéis se unem em espírito ao que pronunciam ou escutam e cooperam com a graça divina.

 b) Mas a participação deve ser também exterior; quer dizer que a participação interior deve expressar-se por meio de gestos e atitudes corporais, pelas respostas e pelo canto. Eduquem-se também os fiéis no sentido de se unirem .

Seria um erro pensar que dentre estes gestos corporais estariam as palmas, particularmente em certas culturas, nas quais os gestos assumem um papel relevante?

Parece que a CNBB entende que não. Para uma cultura mestiça como a do povo brasileiro, repleta de elementos indígenas, europeus e africanos, o texto de um estudo da CNBB (n. 79) admite palmas como fazendo parte da liturgia. Por exemplo, para as aclamações, como participação do povo, devem ser incentivadas e mais variadas, através do canto, das palmas ou dos vivas .

Ou ainda, para a acolhida inicial, “oportunamente, gestos da assembléia poderão intervir, por exemplo, acolher-se mutuamente através de saudações aos vizinhos, bater palmas, dar vivas em honra ao Cristo Ressuscitado, a Nossa Senhora, ao Padroeiro(a), em dia de festa etc.” .

Poder-se-ia objetar afirmando que os textos não tratam da música. Todavia, quando se procura interpretar o que o texto da SC diz nos números 118 e 119, deduz-se que haveria a possibilidade de um acompanhamento do canto com as palmas.

No n. 118, o Concílio afirma que se deve promover “muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam”.

Entenda-se o canto popular religioso como aquele que assume os traços da música popular de um país, com seus ritmos, harmonias e melodias característicos. Ora, em várias tradições populares da música brasileira e de tantos países, encontra-se o acompanhamento das palmas.

O número seguinte do documento acrescenta: “há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40”. Portanto, o ensinamento conciliar já previa e incluía as diferentes tradições musicais - reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas territoriais competentes -que certamente englobam variadas formas e expressões corporais.

Por outro lado, há uma grande necessidade de formação litúrgica, a fim de evitar os excessos, como por exemplo, as palmas em momentos indevidos ou o incentivo exagerado às mesmas. Uma boa formação litúrgica atentará para o bom senso, à harmonia, à sobriedade e ao decoro, de tal forma que as manifestações exteriores na participação da celebração da missa não sobrepujem a adesão e a atenção interiores requeridas como primordiais.

Desde modo, conhecendo bem as características dos cantos que acompanham as distintas partes da celebração eucarística, evitar-se-á, por exemplo, palmas acompanhando o canto de comunhão, cuja índole é mais meditativa.

Mesmo com a aprovação da CNBB, também as aclamações com palmas devem ser empregadas com parcimônia. Melhor seria reservá-las para os domingos “festivos”, solenidades ou nos momentos de grandes encontros de uma diocese.

Assim como os músicos recebem uma formação musical no tangente à unidade e harmonia do conjunto, toda a assembléia também pode e deve estar atenta à este aspecto no tocante às palmas. Normalmente, um instrumento de ritmo tem seus momentos fortes e fracos, assim como os outros instrumentos.

Todos assumem uma justa medida de intensidade e volume que é prevista pela partitura. Isto também faz parte da harmonia e da estética musical.

Quando se trata de palmas, que compõem o conjunto celebrativo-musical, o discurso é análogo. Portanto, será de grande proveito para a beleza da celebração litúrgica uma educação quanto ao emprego das palmas. Será, algumas vezes, uma situação de crescimento mútuo, haja vista que se um irmão ou irmã está batendo palmas exageradamente, de modo descompassado ou em momentos inoportunos, uma gentil correção será oportuna.

Por fim, resta lembrar que as palmas não são obrigatórias e por isso nunca devem ser impostas a ninguém. O acolhimento de uma comunidade velará para que todos se sintam à vontade e não em situações desconfortáveis durante as celebrações.

A caridade manifestada no acolhimento e no desejo de fazer os outros participarem ativamente da celebração, deve caminhar junto com a necessidade de acolher o mistério vivido e celebrado através do culto oferto na e pela Igreja.


 Fonte :Pe Rafael C. Fornasie

27 de janeiro de 2013

0 culto na ortodoxia, no pietismo e no iluminismo

 2.1 – Ortodoxia 

 2.1.1– O que é ortodoxia 

A ortodoxia luterana iniciou logo após a morte do reformador Martim Lutero, permanecendo até, aproximadamente, o final do século XVII. Na ortodoxia aconteceu uma sistematização e também uma consolidação das idéias da Reforma, em contraste com a contra-reforma.

O importante era manter “o artigo da justificação por graça mediante a fé e a liberdade cristã daí advinda”. As discussões que aconteciam na ortodoxia visavam encontrar uma interpretação correta para a doutrina dos reformadores e também da Bíblia, “tudo girando em torno do ensino correto”.

O que aconteceu nesta busca pelo correto foi que, ao invés de esclarecer a doutrina dos reformadores, a ortodoxia a obscureceu. Mesmo tentando ser fiel a Lutero e a seus ensinamentos, a ortodoxia contrariou o objetivo de Lutero de tornar a teologia acessível ao povo, “pois a ortodoxia tornou-se sempre mais erudita, formalista e árida”.
A ênfase nas discussões teológicas recaía sobre a formulação e definição da fé.
“Fé passava a ser algo objetivo. O intelectualismo da fé substituía a existência da fé. Fé era doutrina”.

2.1.2 – Liturgia e culto na ortodoxia 

No período da ortodoxia luterana aconteceu a “cristalização do culto”, a estabilização das ordens de culto. Esta cristalização e estabilidade do culto e de suas ordens não significou a perda da liberdade. Havia liberdade para fazer mudanças, levando em conta a utilidade e a edificação da comunidade, mas em determinadas situações não se deveria ceder.Liberdade havia também quanto ao uso dos elementos verbais e não verbais.

Os gestos eram encarados de forma positiva: “estão aí para atestar que os sacramentos não são espetáculos que nada dizem e nada fazem”. As vestes, como testemunho da liberdade cristã, especialmente contra os calvinistas, foram mantidas. A liberdade em relação à formulação dos cultos manifestou-se, também, no desenvolvimento diferenciado ocorrido nos territórios luteranos, bem como na diferenciação feita entre cultos realizados na zona urbana (mais ricos litúrgicamente) e os realizados na zona rural (com prédicas doutrinárias).

No culto da ortodoxia luterana a música foi destaque. Houve um florescimento da música, como não ocorreu mais nos séculos posteriores. Assim como fez Lutero, a ortodoxia também substituiu partes do culto por hinos; estes se tornaram cada vez mais importantes. Assim, o que muitas vezes a prédica ortodoxa não alcançava, os hinos encarregaram-se de fazer como a proclamação da Palavra.

Ao contrário de Lutero, a ortodoxia não conseguiu, com a música, proporcionar uma maior participa- ção da comunidade nos cultos. Em primeiro lugar, porque o órgão também ganhou espaço, assumindo partes que eram do coral, e também porque muitas pessoas começaram a ir ao culto somente após os cantos, na hora da pregação.
A ênfase nos cultos da ortodoxia luterana recaiu sobre a pregação, que, normalmente, era longa (aproximadamente uma hora) e não era moldada de acordo com a compreensão da comunidade. Além do tempo dedicado à pregação, outro sinal de sua valorização nos cultos da ortodoxia foi que se criou uma liturgia própria em torno dela.

Esta liturgia tinha: Hino, Pai Nosso orado em voz baixa, pregação, avisos do púlpito, anúncio dos que incorreram em culpa pública e dos que foram absolvidos em função do arrependimento, admoestações à oração e bênção do púlpito.

Quanto à celebração da Santa Ceia, esta foi separada do culto de pregação e sua ênfase foi modificada de ato sacrificial do sacerdote para comunhão com Cristo e com os outros. Ela também foi tratada como um apêndice no culto, pois muitas pessoas deixavam o culto logo após a pregação. Com a valorização do conteúdo, o culto perdeu a sua vivacidade interior. Tudo isso se refletiu na participação apenas parcial da comunidade nos cultos. Essa participação parcial talvez nem acontecesse se não houvesse uma fiscalização por parte dos senhores feudais, os quais aplicavam multas e prisão aos que não participassem.

2.2 – Pietismo 

2.2.1 – O que é pietismo 

O pietismo surgiu no século XVII103, após a Guerra dos Trinta Anos. Por causa de toda a destruição ocorrida nessa guerra, havia necessidade de reconstruir, no que a Igreja teve um papel importante. Dentro desse processo foi que surgiu o pietismo. Cabe lembrar ainda que o surgimento do pietismo aconteceu dentro “da nova classe ascendente de então, a burguesia”. Para a burguesia a ortodoxia representava um mundo ultrapassado e infantil, em desacordo com a forma com a qual o burguês via a realidade e a natureza.

A ênfase do pietismo estava na conversão, na recepção do Espírito Santo e na experiência religiosa. Isso fez com que os pietistas investissem na missão também em outros países.
Com essa ênfase na conversão o pietismo retomou algo que foi combatido por Lutero: “o esquema sacrificial da teologia da glória”. O sacrifício oferecido a Deus era um coração puro.

No pietismo a religião tornou-se algo pessoal, individual e interior. Por causa dessa individualização e também pela crença de que a renovação da sociedade era algo que passava pela renovação do indivíduo, as reformas sociais do pietismo não foram além de obras de caridade, ou seja, o pietismo não se engajou para mudar a estrutura opressora da sociedade da época.

O pietismo foi de certa forma um movimento que não se preocupou com as “coisas do mundo”.
Isso fica claro nas obras sociais que não trouxeram modificação das estruturas, nos “collegia pietatis”, que se tornaram uma pequena igreja dentro da igreja (ecclesiola in ecclesia), nos quais se reuniam os convertidos, e na separação que os pietistas faziam entre partes da vida que eram consideradas religiosas e outras que eram consideradas seculares.

Com essa separação entre fé e mundo, o pietismo mostrou que não compreendeu que a fé cristã se conserva dentro do mundo. Outro ponto acentuado no pietismo foi o sentimento, em detrimento da razão. Frases como “religião é questão de coração e não de cabeça”, e “a religião cristã é religião do coração, não se baseia na razão” (Zinzendorf), demonstram isso.

2.2.2 – Liturgia e culto no pietismo 

No pietismo o objetivo, a forma, e o entendimento de culto foram mudados. O objetivo do culto, que estava em acordo com a ênfase maior do pietismo, passou a ser a conversão, juntamente com a santificação e a edificação que resultassem em despertamento. Enquanto não fosse despertada, a comunidade de culto era um campo de missão.
Com essa ênfase na conversão, o batismo perdeu muito da sua importância, até porque, sendo realizado com crianças, não poderia ser resultado de uma decisão pessoal. Por isso, o que recebeu importância foi a confirmação, que foi utilizada como uma confirmação do sacramento do batismo. Em evidência no culto pietista estão também o emocionalismo e o subjetivismo.

A liturgia, por sua vez, não recebeu muito valor. Spener defendia que a liturgia deveria ser usada com liberdade, variedade e mobilidade. O uso das agendas continuou, em alguns casos, apesar de suas ordens serem consideradas “engessadas”.
A liturgia formal, o Ano Eclesiástico e costumes os cristãos foram considerados muletas desnecessárias para os “perfeitamente regenerados”.

A pregação, por sua vez, recebeu destaque também com o objetivo de levar as pessoas à conversão.
A pregação passou a não ser mais de controvérsia ou uma exibição das habilidades em argumentar por parte do pregador, mas sim para a edificação da vida cristã dos ouvintes, tendo um caráter avivamentista. Em muitos casos, as pregações, que eram feitas com base nas perícopes tradicionais, acabaram sendo substituídas pelo estudo da Bíblia

Outra modificação promovida pelo pietismo foi nas orações, as quais deixaram de ser lidas das agendas e se tornaram orações livres. Spener, usando o critério da liberdade, da variedade e da mobilidade do culto, adotou a oração livre , feita de improviso.
A celebração da Ceia foi criticada por Spener, que via nela não somente reflexões bíblicas, mas também costumes alemães. Franke, por sua vez, rejeitou a confissão antes da celebração da Ceia dominical e, em muitos casos, celebrou a Ceia em casas particulares.

2.2.3 – “Vozes discordantes”

Nem todos no pietismo concordavam com um culto com uma liturgia mais “livre” e de improviso. Houve nomes importantes do pietismo que defenderam a continuidade do uso das agendas de culto e também das orações eclesiásticas. Esse foi o caso de Zinzendorf. Para ele, as velhas orações eclesiásticas tinham algo de “divino e inimitável”.

Também defendeu a continuidade do uso da liturgia, tendo para isso um forte argumento:
“No momento em que a liturgia for negligenciada, teremos, certamente, uma diminuição do Espírito”. Zinzendorf também era a favor de pregações que não fossem longas: “se eu faço uma pregação curta, geralmente digo mais do que se eu faço uma pregação longa”.nas perícopes tradicionais, acabaram sendo substituídas pelo estudo da Bíblia. 

A música e os cantos também foram modificados nos cultos pietistas.
A música era tida somente como algo para acompanhar os hinos, não sendo significativa para a liturgia.
Os hinos “baseados em fatos objetivos da salvação foram substituídos por outros que retratavam experiências pessoais”.

J.A. Freylinghausen trouxe, em seu hinário (“Geistliches Gesangbuch” –Hinário Espiritual) esta nova forma de hinos, os quais, por suas palavras e maneiras, acentuavam o sentimento.Hinário Espiritual) esta nova forma de hinos, os quais, por suas palavras e maneiras, acentuavam o sentimento.

Outra modificação promovida pelo pietismo foi nas orações, as quais deixaram de ser lidas das agendas e se tornaram orações livres. Spener, usando o critério da liberdade, da variedade e da mobilidade do culto, adotou a oração livre , feita de improviso.

A celebração da Ceia foi criticada por Spener, que via nela não somente reflexões bíblicas, mas também costumes alemães. Franke, por sua vez, rejeitou a confissão antes da celebração da Ceia dominical e, em muitos casos, celebrou a Ceia em casas particulares.

2.2.3 – “Vozes discordantes” 

Nem todos no pietismo concordavam com um culto com uma liturgia mais “livre” e de improviso. Houve nomes importantes do pietismo que defenderam a continuidade do uso das agendas de culto e também das orações eclesiásticas. Esse foi o caso de Zinzendorf. Para ele, as velhas orações eclesiásticas tinham algo de “divino e inimitável”.
Também defendeu a continuidade do uso da liturgia, tendo para isso um forte argumento:
“No momento em que a liturgia for negligenciada, teremos, certamente, uma diminuição do Espírito”. Zinzendorf também era a favor de pregações que não fossem longas: “se eu faço uma pregação curta, geralmente digo mais do que se eu faço uma pregação longa”

Outro nome importante no pietismo, August H. Franke, recomendou que os pastores ensinassem as partes do culto, para que este não fosse celebrado de uma maneira errada. Franke, que elaborou liturgias para o uso em sua comunidade, entendia que sem as cerimônias exteriores era impossível preservar a religião. Enquanto que no pietismo a veste litúrgica foi eliminada, Franke usava o talar de professor durante as celebrações.

2.3 – Iluminismo 

2.3.1 – O que é iluminismo 

No iluminismo a razão passou a dominar a relação do ser humano com Deus. Por causa dessa ênfase na razão, o iluminismo também é tratado como racionalismo.
O iluminismo (no alemão: Aufklärung, que significa esclarecimento) entrou na Igreja Luterana por meio de Christian Thomasius, que o fez com base na idéias de Georg Leibniz e René Descartes.
 O iluminismo retoma a teologia da glória, a qual era “de cunho dominador e legalista”.

No iluminismo pretendia-se uma redução da religião cristã ao essencial, que para os iluministas é a moralidade. Para alcançar a moralidade e exercê-la, a Igreja era até considerada desnecessária
O iluminismo considerava a fé algo racional, que podia ser captado racionalmente.

Por causa disso é que somente os aspectos da fé cristã que podiam ser captadas racionalmente eram valorizadas. Cristo também não era mais tido como o Salvador, mas apenas como um modelo moral. Também não era mais Deus quem vinha ao ser humano, mas era este que deveria subir em direção a ele.

 É importante, ainda, constatar que para o iluminismo o passado não tinha mais valor, importava olhar para o futuro. Também era importante a relação entre Igreja e escola: ambas existiam para instruir as pessoas e doutrinálas, introduzindo-as em uma vida virtuosa.

2.3.2 – Liturgia e culto no iluminismo 

No iluminismo, apesar da preocupação com a liturgia, de um grande número de publicações de folhetos e de jornais de liturgia e de um grande número de agendas, as formas litúrgicas e o culto foram reduzidos/simplificados, assim como aconteceu com a religião e a teologia cristã.

A pregação assumiu a centralidade do culto, sendo que o “público” (contraposto ao pregador) deveria apenas receber, através dela, o ensino religioso e moral156. Através da pregação se quer produzir um “ser humano esclarecido e confiá- vel”.

A valorização da pregação era tanta que não era mais a pregação que tinha de estar em harmonia com o tema do culto, mas este tinha de estar em harmonia com o tema daquela.
A escolha das orações, dos cantos, e da leitura eram orientados pelo tema da pregação. Ou seja, escolhia-se um tema para a pregação e todo o restante do culto era utilizado para justificar este tema. Com isso corria-se o perigo de não pregar a Palavra de Deus, mas sim as idéias do próprio pregador.

Os temas sugeridos para as pregações também eram bem “estranhos”. Sugeria-se, por exemplo, pregar: “Sobre o valor das felicitações humanas”, (...) “Sobre o robustecimento dos pastores e advertência contra o uso de boinas de pele”, (...) “Sobre o risco de ser enterrado vivo”. Não existia relação entre o tema da pregação e a época do ano eclesiástico, até porque este não era valorizado, e porque o lecionário foi eliminado.
Muitos até sonhavam que com a “iluminação” alcançada através da pregação, com o tempo, o culto se tornaria supérfluo. Assim como na ortodoxia e no pietismo, também no iluminismo partes da liturgia foram substituídas por hinos. Isto acontecia com as partes da liturgia que não eram abolidas.

Os hinos foram também instrumentos usados para criar, no culto, um clima mais festivo e também sentimentos piedosos165. Em alguns casos as letras e as melodias das músicas foram arbitrariamente modificadas.

A oração, por sua vez, não era considerada uma forma de falar com Deus, mas sim um auto-ensinamento. Em muitos casos as orações foram substituídas por discursos emocionais. No que se refere à celebração da Ceia, também esta recebeu uma redução, não somente em sua forma litúrgica como também na quantidade de vezes ao ano em que era celebrada.

O dia preferencial para se celebrar e participar da Ceia era a Sexta - feira Santa, a qual foi elevada ao posto de grande feriado do ano.Quando ela era celebrada era apenas um “apêndice” ao culto, até mesmo a narrativa da instituição foi modificada para “refletir as nuanças intelectuais do racionalismo”.
Elementos de prodigalidade do culto, como as vestes, paramentos, velas, não comunicaram racionalmente, por isso foram ridicularizados, quando não completamente eliminados do culto iluminista.

Um pastor oficiando de alba era considerado um fantasma, além do que, acreditava-se que as vestes promovessem a superstição e por isto foram consideradas ridículas e eliminadas.
O uso de velas acesas durante o dia era considerado um absurdo.


Fonte de pesquisa: Márcio Arthur Trentini 

26 de janeiro de 2013

Lutero e Litúrgia

 1.1 – O contexto da Reforma de Lutero 

 O período em que acontece a Reforma é um período no qual a área germânica central “estava em efervescência e passava por profundas transformações”, uma vez que a população estava crescendo muito.

 O aumento populacional gerou sobra da mão de obra, bem como crescimento das cidades pelo êxodo rural  e pelo surgimento de novas atividades.

 Isso tudo ocasionou também uma divisão entre ricos e pobres e um aumento da violência por parte das pessoas que queriam manter à força os monopólios na mão de obra, no comércio e na fabricação da cerveja, e por parte do governo, que se utilizava da violência para a cobrança cada vez maior de impostos. A Igreja, por sua vez, enfatizava a penitência.

No entanto, quem não podia, ou não queria fazer penitência, comprava indulgências para evitar o fogo do inferno, aumentando, assim, a arrecadação de dinheiro para a Igreja. Ou seja, o Deus que era pregado naquela época negociava a salvação em troca de castigos (penitências) ou de dinheiro (indulgências), não por amor e graça. Isso se dava por influência do occamismo, que insistia que a graça de Deus era resultado do esfor-ço/merecimento humanos. Essa visão/concepção de Deus se refletia nas missas, as quais eram consideradas sacrifícios oferecidos a Deus.

 O individualismo também era forte, pois assistia-se à missa sem participar da comunhão a qual era substituída pela adoração à hóstia (que se acreditava ser fonte de graças particulares) e pela veneração do sangue e das chagas do Cristo morto.

 Também eram enfatizados os cultos aos santos, a encomenda de missas para os mortos e como proteção contra males e a prática do rosário. Lutero, no período de sua vida monástica, via nos cultos e na obediência às regras do convento um meio de alcançar a graça divina, ou seja, também via a salvação como resultado do esforço humano.

 Apesar dessa situação e do descrédito em relação aos clérigos, o culto e a Igreja eram respeitados e o “apetite divino” permanecia. Mas havia também um anseio por mudanças, por uma volta “a um estado original considerado modelo”.

1.2 – Objetivos de Lutero ao elaborar liturgias

 Lutero, ao elaborar suas propostas de liturgia para o culto, não queria abolir o que aí vigorava, mas talvez, atendendo aos anseios vistos anteriormente, e também para se posicionar frente ao que outros estavam fazendo17, seu objetivo era restaurar, “restabelecer o seu [do culto] verdadeiro uso”18, resgatando para isso principalmente a Palavra. Lutero denunciava que a Palavra de Deus fora silenciada nos cultos e que ela acabara substituída por fábulas, lendas e histórias mentirosas.

 O resgate da Palavra, para Lutero, significava fazer com que ela “chegasse” a todas as pessoas, até às mais simples. Por isso, Lutero demonstrou preocupação para que o culto não fosse cansativo, que fosse feito com amor, não fosse apenas “um palavrório e um vozerio vazio”, mas que fosse também uma forma de instrução do povo, para que este se tornasse conhecedor da Bíblia.

 Para alcançar tais objetivos, Lutero propôs que: o culto tivesse partes em língua alemã (principalmente as partes de leitura da Palavra e cantos, quando não fosse completamente em alemão), mas preservando ainda o latim, pois assim também os jovens poderiam aprendê-lo. Propôs também que as pregações abrangessem toda a Bíblia, não somente uma pequena parte.

Outra preocupação de Lutero foi com que as pessoas pudessem participar ativamente nos cultos.
Por esta razão também se empenhou para que as melodias dos hinos fossem fáceis24 e estabeleceu uma liturgia “simplificada, uniforme para todas as épocas do ano” . Conforme já mencionado, para Lutero o culto era também um importante espaço na instrução dos jovens, por isso não poderia estar repleto de novidades, pois isso tornaria o culto mais uma vez algo cansativo, provocando o seu esvaziamento.

O ideal de culto para Lutero não foi nem o que ele propôs em 1523 ou em 1526, mas sim que as pessoas se inscrevessem e se reunissem em alguma casa qualquer com o objetivo de orar, ler, realizar os sacramentos de forma breve e bonita, praticar obras cristãs e ofertar para distribuir entre os pobres. Também nessa forma ideal por ele proposta a ênfase deveria estar na Palavra.

Lutero sabia que uma ordem de culto uniforme poderia ser um importante instrumento para a unidade da Igreja, porém também não queria que essa uniformidade novamente se tornasse uma lei, um mérito diante de Deus para conquistar a salvação. Era isto que ele condenava nas missas católicas da época:
“Isto é o diabo”. Enfim, Lutero não queria que o culto tivesse uma ordem “inflexível” em todos os tempos e lugares, mas apresentou “princípios norteadores para a sua estruturação”.

Para alcançar esses objetivos, Lutero sabia que era necessário explicar o rito, e não fazer algo sem a aprovação, sem o consentimento da comunidade.

1.3 – Formulário da Missa e da Comunhão para a Igreja de Wittenberg (1523) 

Após muita resistência, Lutero, em 1523, elaborou uma proposta de liturgia para a celebração das missas. Nela ele não pretendia acabar de vez com os costumes antigos, nem trazer algo totalmente novo, mas sim “tratar de uma forma evangélica de celebrar a missa (como dizem) e de comungar”.

A missa elaborada por Lutero em 1523 tinha a seguinte ordem:

- Intróito: salmo de entrada;
- Kyrie: poderia ser cantado com várias melodias e seguido do Glória in excelsis. Por opção do pastor, essa parte poderia ser omitida;
- Oração de coleta: somente uma e seguida da leitura da epístola (dando preferência às epístolas de Paulo, nas quais é ensinada a fé);
- Graduais: eram seguidos do aleluia (versículo com aleluia) não devendo exceder mais de dois versículos para não se tornarem tediosos. Nessa parte devia-se se respeitar as épocas da Quaresma e da Semana Santa;
- Leitura do Evangelho: acompanhada ou não de velas e incensos;
- Credo Niceno: cantado, ficando sua utilização ou não como opção do pastor;
- Pregação no vernáculo: poderia ocorrer nesse momento ou até mesmo antes do intróito;
- Ofertório: para Lutero o ofertório “cheirava a sacrifício”36, por isso deveria ser deixado fora da missa e seguia da seguinte maneira:
- Preparação do vinho e do pão para a bênção;
- Diálogo entre oficiante e comunidade seguido do prefácio;
- Palavras de instituição: dita após um breve intervalo, podendo ser recitada em silêncio ou em voz alta;
- Sanctus: cantado pelo coro;
- Benedictus: enquanto ocorria os elementos eram elevados. Nesse ponto Lutero dizia estar fazendo uma modificação que poderia causar escândalo, por isso essa mudança deveria ser precedida de uma pregação que a explicasse;
- Pai Nosso: os gestos feitos com a hóstia e o cálice
após o Pai Nosso deveriam ficar de fora;
- Gesto da paz: feito com o oficiante de frente para o povo;
- Agnus Dei (Cordeiro de Deus);
- Comunhão: sendo que comungava primeiro o oficiante e depois a comunidade; enquanto isso poderia ser cantado o Communio.

Lutero também defendia que as duas espécies (o pão e o cálice) fossem dadas à comunidade, e não somente uma delas (o pão), pois a decisão de dar somente uma das espécies era decisão humana, de um concílio, enquanto dar as duas era ordem expressa do próprio Cristo, conforme está descrito nos Evangelhos e em Paulo. Dar somente uma das espécies era colocar o ser humano acima do próprio Deus.

Lutero também recomendava que aquelas pessoas que iriam participar da eucaristia fizessem uma inscrição anterior e que primeiro passassem por um “teste” respondendo a perguntas referentes à eucaristia (o que significava, para que servia, por que queriam tomá-la). Esse “teste” deveria ser feito pelo menos uma vez ao ano. Com isso Lutero queria evitar a participação dos indignos.

Ainda quanto à comunhão, Lutero era contrário a que se celebrasse a comunhão de um modo privado dentro da igreja, mas incentivava que ela acontecesse em torno do altar, onde as pessoas que estavam participando pudessem ser vistas, isso era também uma forma de testemunhar que eram pessoas cristãs. Quanto à preparação, ele afirmava não ser necessária a confissão privada, mas a considerava útil, recomendando também que as pessoas que iriam participar da eucaristia viessem no mínimo sóbrias.
- Ite missa: algo semelhante a um envio e que significa “Ide, a missa terminou.”;
- Bênção: a costumeira (Abençoe-vos o onipotente Deus, Pai, Filho e Espírito Santo – dita em latim) ou Números 6.24-27, ou ainda o Salmo 67.6-7.

Interessante é que Lutero modificou os textos bíblicos de bênção, utilizando os pronomes “nós”, ao invés de “vós” ou “te”; com isso ele mesmo se incluía na bênção.
Lutero sugeriu, ainda, que fossem cantados o máximo possível de hinos na língua vernácula, até que se pudesse celebrar toda a missa em alemão, possibilitando, assim, uma maior participação do povo na missa.

Fazia uma crítica ao abuso das coisas exteriores (vestes, velas, vasos, etc...), pois eram usadas para a obtenção de lucros em negócios.
Isso ficou claro novamente quando Lutero comendou que não houvesse luxo e pompa nas vestes litúrgicas. Em relação a estas recomendava, ainda, que não fossem tratadas como objetos sagrados, pois isso era superstição.

 1.4 – Missa Alemã e Ordem de culto (1526) 

 Atendendo aos anseios das comunidades, de teólogos e também do príncipe-eleitor da Saxônia, Lutero elaborou a Missa Alemã, que foi definitivamente introduzida em Wittenberg no Natal de 1525, sendo impressa logo após.

Com essa Missa Alemã Lutero não quis que as demais formas de missa (de 1523 e em latim) fossem eliminadas, nem que fosse usada como uma lei, mas que fosse usada com liberdade “segundo o seu [do oficiante] agrado, como, onde, quando e por quanto tempo as circunstâncias o reclamassem e exigissem”.

Destacou ainda a utilidade da Missa Alemã para a busca da unidade, e da necessidade dessa ordem por causa daquelas pessoas que viriam a ser cristãs. Antes de escrever o texto da missa propriamente dita, Lutero ainda escreveu destacando a importância de ensinar o catecismo e de educar as crianças na fé. Também trouxe recomendações quanto ao culto diário ao longo da semana, que tinha sua ênfase na pregação.

A Missa Alemã era uma missa cantada (com exceção da pregação e da paráfrase que precede a Santa Ceia). Por isso também uma das preocupações de Lutero foi de não traduzir simplesmente o texto para o vernáculo, usando a melodia dos textos latinos, mas de que houvesse uma harmonia entre o texto, as notas, o acento e a língua usada.

Lutero, inclusive, substituiu partes da liturgia por hinos e, com a simplificação das melodias, conseguiu que a comunidade participasse mais. Com uma missa totalmente na língua do povo e com cantos de melodias simples, possibilitando que o povo compreendesse e participasse da missa, Lutero pretendia que o povo ocupasse novamente o seu lugar, ou seja, que o povo celebrasse a missa e não o sacerdote.

A Missa Alemã elaborada por Lutero tinha a seguinte ordem:

- Intróito: canto de um Salmo, que também poderia ser substituído por um hino sacro alemão;
- Kyrie Eleison: cantado somente três vezes, sempre no mesmo tom;
- Oração de coleta: lida num único tom. A formulação de coleta que Lutero apresentou é bem clássica, tendo invocação, ação de Deus no passado, súplica por atendimento, indicação de finalidade e conclusão (esta não era em forma trinitária). Deveria ser feita com o rosto voltado para o altar;
- Epístola: o sacerdote que realiza a leitura fica virado de frente para o povo;
- Canto: este é em língua alemã e cantado em conjunto pela comunidade com o coro inteiro.
A sugestão, a julgar pelo título (“Agora pedimos ao Espírito Santo”), é de um hino de invocação do Espírito Santo;
- Leitura do Evangelho: quem realiza a leitura também fica com o rosto voltado para o povo;
- Confissão de fé: credo cantado em alemão;
- Pregação: esta acontecia tendo como base o Evangelho do domingo ou do dia de festa.
Lutero demonstrava preocupação com o que iria ser pregado e por isso recomendava que os pregadores lessem uma postila de pregações elaborada por ele. Com isso queria evitar também que fossem pregados “gansos azuis” (assuntos estranhos ao Evangelho).
A leitura da postila servia, ainda, como precaução contra os entusiastas e contra outras seitas.
- Paráfrase transparente do Pai Nosso e uma exortação aos que iriam participar na Santa Ceia:
aqui Lutero começou a fazer mudanças mais radicais, e as fez, mais uma vez, com a intenção de tirar da missa tudo o que pudesse ter algum “cheiro”de sacrifício64.
O ofertório, eliminado já na Missa de 1523, continuou de fora.
A oração eucarística foi eliminada. Não ficou nem mesmo o gesto da paz.
Em seu lugar Lutero introduziu uma paráfrase do Pai Nosso.
O que Lutero quis com esta paráfrase foi “ensinar e conduzir o povo”.
A paráfrase do Pai Nosso seria a forma de se rememorar o Senhor, cumprindo com a sua ordem. Importante também era que esta paráfrase não fosse modificada sempre de novo, mas que tivesse uma formulação definitiva e um procedimento uniforme para não confundir o povo.
- Celebração da Ceia e consagração: para consagração dos elementos da Ceia, Lutero usava as palavras da instituição e o canto do Sanctus com a elevação dos elementos, pois achava que combinavam e poderiam significar o cumprimento da ordem de rememorar Cristo.
Quanto à forma de distribuição da Ceia, a sugestão era de que primeiro fosse distribuído o pão e depois fosse consagrado e distribuído o cálice. Lutero também sugeriu que homens e mulheres viessem separadamente (primeiro os homens e depois as mulheres) à Ceia e também permanecessem separados durante o culto;
- Coleta: esta oração é também conhecida como pós-comunhão
- Bênção: o texto sugerido para a bênção foi mais uma vez o texto de Números 6.24, no entanto, dessa vez Lutero o escreveu utilizando o pronome “te” e não “nós”, não se incluindo na bênção, como havia feito na missa de 1523.

Na missa de 1526, Lutero, mais uma vez, se referiu ao uso das vestes, da vela e do altar, sugerindo que estes continuassem sendo utilizados até que se quisesse fazer alguma modificação, deixando também liberdade para quem quisesse agir de maneira diferente.
Não ficou muito claro o que ele queria em relação ao altar, pois apenas disse que “o altar não deveria permanecer da forma como está”.
Talvez ele já estivesse pensando que o altar, como mesa da comunhão, deveria estar no centro, pois sugeriu também que o sacerdote ficasse de frente para o povo, assim como Cristo certamente ficou de frente para os seus discípulos na Ceia.

Lutero encerrou a missa de 1526 sugerindo exercícios  para aprender a usar as melodias e lembrando mais uma vez que o que ele estava propondo não poderia virar uma lei imutável, nem ser usado como mérito diante de Deus, mas que deveria servir “para a promoção da fé e do amor”.

 Fonte de pesquisa: MÁRCIO ARTHUR TRENTINI - mestre em teologia

História da Liturgia

O que compreendemos por liturgia?

 Liturgia é serviço do povo, realizado em benefício deste.

Numa análise filológica, vem da raiz grega Laos = povo e Ergon= ação. É ação, trabalho, serviço. Ação esta que antes do Vaticano II, o povo apenas assistia como meros espectadores sem compreender o que era feito.

A partir do Vaticano II, o conceito de liturgia voltou ao seu sentido primeiro: ação do povo.
Hoje se fala em participação, celebração, porque todo povo batizado faz parte do sacerdócio real de Cristo, chamados à transformação e santificação da vida e da história. Esta ação não é feita sozinha.
É feita em parceria com o próprio Deus, e através da fé percebemos a sua presença amorosa e sua ação permanente a serviço da vida.

A ação de Deus se dá através de Cristo, seu Filho amado que se fez irmão e servidor com sua encarnação, vida, paixão, morte e ressurreição. Nesse sentido, afirmamos que Cristo é o liturgo por excelência. Em linhas gerais, a liturgia é a ação de Deus realizada em Jesus Cristo, e através do seu espírito, em nós a favor de toda humanidade. É também o memorial do mistério pascal de Cristo celebrado na Igreja.
A cada rito[1] celebrado fazemos memória[2] do ressuscitado na vida de cada pessoa e da comunidade.

2 A história da liturgia desde os primeiros séculos até o séc. X. 

2.1 O mistério celebrado no primeiro milênio da nossa era 

É importante termos presente que para compreendermos LITURGIA devemos, antes de tudo, fazer uma análise do que aconteceu nos primeiros séculos da Igreja, isto é, como a LITURGIA era celebrada pelos primeiros cristãos, para que ao chegarmos na nossa era, compreendamos, à luz do Vaticano II, o significado deste mistério[3] celebrado, que por sua vez significa experimentar a presença de Deus na nossa vida.

É a ação de Deus na qual Ele entra em comunhão com o mundo e com os homens. De um lado Deus se revela e se comunica ao homem, e de outro, o homem entra em comunhão com Deus. Deus é mistério em si mesmo porque é comunhão de vida, de amor e felicidade em si mesmo.

Para a Sagrada Escritura, os Padres da Igreja e a Liturgia, mistério é o plano de Deus de fazer o ser humano participante de sua vida, de salvar a humanidade. Além disso, é visto sob o aspecto divino da salvação. Neste caso, o mistério de Deus é revelado em seu Filho Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, isto é, que se fez humano para a nossa salvação. Ao se revelar em Jesus Cristo, Ele comunicou a sua vida eterna mais íntima ao ser humano.
Para compreendermos o mistério é necessário termos fé, pois este brota da nossa espiritualidade. Depois deste ensaio, vamos estudar a liturgia nas suas origens.

2.2 A liturgia nos primórdios do cristianismo 

Na era apostólica, mais conhecida como tempo dos apóstolos, Jesus e seus seguidores praticavam a religião judaica. Participavam das celebrações litúrgicas (templo, sinagoga, oração e festas). Jesus era um homem muito piedoso, assim como seus seguidores (apóstolos) e participavam assiduamente da religião de seu povo.

Jesus e os apóstolos não vieram romper com a liturgia antiga, pelo contrário, vieram dar pleno cumprimento (Mt 5,17), aperfeiçoá-la. Assim sendo, deu uma nova orientação aos ritos judaicos já existentes.
Portanto, a nossa liturgia cristã é uma continuidade da liturgia hebraica.
O nosso referencial é Jesus de Nazaré. A partir do mistério de Cristo, aconteceu uma cristianização dos elementos ritualizados herdados, surgindo daí a liturgia cristã. Os elementos rituais são:


São elementos rituais riquíssimos que demonstram como a nossa liturgia está enraizada na cultura do Antigo Testamento.
Em contrapartida, há aspectos de rupturas entre a liturgia cristã e a liturgia judaica. Em alguns aspectos, Jesus mantém uma crítica em relação à ordem cultual da religião judaica. Jesus quer resgatar o fundamento do culto, a saber, o amor que se desdobra na prática da justiça, da misericórdia, do perdão (cf. Mt 9,13).

Também os discípulos de Jesus, após a ascensão, continuavam participando do templo, porém, não participavam dos sacrifícios rituais. Como judeus cristianizados, eram convictos de que a morte-ressurreição de Jesus havia superado o sacrifício da lei antiga. O templo passou a ser o verdadeiro Templo que agora é Cristo.

A partir de então, a Igreja apostólica começou a organizar-se criando formas próprias de culto. Uma das características desse novo grupo era a reunião (aspecto comunitário): É a liturgia dos primeiros cristãos (cf. Mt 18,20, At 4,31; 20,7-8).

Em At 2, 46 narra-se o momento da refeição, onde partiam o pão e comiam com simplicidade e alegria. Junto da reunião tinha o momento da oração da benção (oração eucarística: ação de graças) e o ensinamento dos apóstolos.

Outro aspecto interessante é que costumavam realizar as reuniões no primeiro dia da semana. A este dia, deram o nome de “dia do Senhor” (domingo), por ser o dia em que se recorda a ressurreição do Senhor. Mais tarde surgiu a festa anual da Páscoa, quando Paulo dizia: “Cristo nossa Páscoa foi imolado” (1 Cor 5,7).
A imolação do Cristo substituiu a do cordeiro da Páscoa anual hebraico. Mais tarde surge também o batismo que já havia sido prefigurado por João Batista (batismo no Espírito no nome de Jesus).

 Embora não tendo uma regulamentação estável da liturgia, a comunidade apostólica já dispunha de algumas formas litúrgicas próprias: oração, batismo e eucaristia.

2.3 A era dos mártires 

Neste período, séc. II e III, os cristãos procuravam manter-se no âmbito da tradição judaica. Também foi institucionalizada a prática apostólica de fazer reuniões para a fração do pão em casas particulares. Eram casas de famílias nobres que cediam o espaço para as reuniões das comunidades cristãs.

Os cristãos, herdeiros do monoteísmo judaico (único Deus), eram contrários aos rituais pagãos. Por causa disso sofriam perseguições violentas pelo fato de exaltarem a superioridade do cristianismo frente ao paganismo[4]. Eram acusados de ateus e sem religião por não terem templo, altar, nem sacrifícios e nem sacerdotes. O templo para a comunidade cristã era o próprio Cristo e nele, a comunidade cristã forma um só corpo.

Já podemos falar de uma liturgia inculturada, porque o mundo cristão estava em contato com o mundo pagão, chamados helênicos. A liturgia vai se adaptando aos povos do mundo mediterrâneo com sua cultura própria. O mistério de Cristo passa a ser celebrado com elementos da cultura local. Um exemplo é o testemunho de Justino, filósofo convertido ao cristianismo.

No ano 150, ele escreve uma apologia em favor dos cristãos, defendendo como era celebrada a missa na comunidade cristã em meados do séc. II. No relato ela apresenta as seguintes partes da missa: Reunião no dia do sol (domingo), escuta da Palavra, homilia, oração dos fiéis, preparação das oferendas, oração eucarística, comunhão e socorro aos necessitados.

Hipólito de Roma (ano 215) também nos apresenta um importante documento dizendo como era organizada e celebrada a missa nessa época. Refere-se ao batismo, havia um itinerário de iniciação cristã, a eucaristia, uma oração eucarística e as ordenações (bispos, presbíteros e diáconos com uma oração de consagração para cada um desses graus. As bênçãos e as orações. Não havia livros litúrgicos e o presidente improvisava as orações.

2.4 A liturgia em fase de estruturação plena (séc. IV a VIII) 

Nesse período, a liturgia chega ao seu apogeu, ou seja, atinge sua fase de estruturação.

No ano de 313, o imperador Constantino concede liberdade total para a Igreja. Fim das perseguições! Em todo o império, o número de cristãos se multiplica pelo fato de ser uma honra, o que equivale a ser um cidadão do império.

A liturgia passa por profunda transformação em sua forma e compreensão. Por estar em contato direto com a cultura romana, as celebrações passam a assumir um caráter imponente e suntuoso. A celebração da eucaristia passa a ser presidida pelo bispo e os cristãos passam a se reunir em locais amplos, nas basílicas construídas pelo imperador.

A liturgia passa a receber também na cultura romana, elementos da própria cultura. Dentro de um contexto político, social e eclesial, os paramentos adotados são semelhantes ao da corte imperial. As liturgias se transformam em suntuosas cerimônias pontificais. Os ministros ordenados são revestidos de uma dignidade de honras igual aos mais altos dignitários do império.

Tudo isso é representado pelo mistério de Cristo, que visto como esplendor passa a ser expresso exteriormente na forma esplendida dos cerimoniais da corte.

A Bíblia continua sendo a principal fonte de inspiração na composição dos textos litúrgicos e na explicação dos mistérios cristãos.

Elementos pagãos foram introduzidos na religião cristã, como por exemplo, a prática de construir igrejas voltadas para o oriente, o nascer do sol; a festa do natal que entrou no lugar da festa do nascimento do deus sol da religião pagã.

2.5 A formação das grandes famílias litúrgicas 

Existem várias formas de celebrar o rito litúrgico devido à inculturação da liturgia cristã nas diversas culturas. Eis os dados cronológicos dessa evolução:

Séculos I e II: Unidade litúrgica. Na formação das comunidades cristãs precisava-se garantir o essencial da tradição recebida. 22 Séculos III e IV: Começa uma multiplicidade de formas celebrativas. Cada comunidade vai fixando seus ritos, costumes e orações.

Século V: Com a liberdade religiosa concedida por Constantino, é o momento da criação das diversas famílias litúrgicas ou ritos litúrgicos no oriente e no ocidente. Entendemos que o mistério de Cristo é um só, mas as formas de celebrações são diferentes. Durante a história foram organizados diferentes ritos que constituem as famílias litúrgicas originadas dos antigos e influentes patriarcados: Antioquia[5], Alexandria e Roma.

A ação missionária permitiu a esses grupos se expandissem para outras terras, formando assim novos ramos litúrgicos, porém não perdendo a essência que é o mistério de Cristo. [6] Para ilustrar melhor, apresentamos a seguinte distinção: existem as liturgias orientais e ocidentais. As liturgias orientais (do oriente) se distinguem em dois grupos, por causa dos seus patriarcados de origem (Antioquia e Alexandria): o grupo antioqueno e o grupo alexandrino.

O grupo antioqueno se subdivide em siríaco ocidental (que compreende o siríaco de Antioquia, o maronita, o bizantino e o armeno) e siríaco oriental (que compreende o rito nestoriano, o caldeu, na Mesopotâmia, e o malabar, na Índia). O grupo alexandrino abrange o rito copta e o etiópico.

As liturgias ocidentais (do ocidente) são: a romana (da diocese de Roma), a ambrosiana (própria da diocese de Milão), a hispânica (peculiar da Espanha), a galicana (das Gálias) e a celta (elaborada entre os povos celtas, no ambiente geográfico que compreende a Irlanda, a Escócia e País de Gales).

Atualmente, na prática, conserva-se apenas um rito ocidental: o romano. Dos outros, restaram apenas vestígios, ou estão limitados a lugares bem determinados (como é o caso dos ritos ambrosiano e hispânico)[7].

 2.6 A formação da liturgia romana clássica 

 Entre os séc. IV ao VIII foi o tempo em que a Igreja romana foi organizando sua liturgia de forma esplêndida e rica do ponto de vista teológico. Posteriormente, esta liturgia sofrerá influência dos povos francos-germânicos, sofrendo numerosas modificações: ela deixa de ser liturgia romana pura.

Após 313, como já vimos, a liturgia sai das catacumbas e passa a ser celebrada nas basílicas. A partir daí, surge a necessidade de organizar as celebrações litúrgicas de forma mais fixa e rígida. Assim, os bispos de Roma começam a compilar inúmeras orações, introduzem novos ritos. Surge neste período, o primeiro livro litúrgico chamado sacramentário. É um livro que contém as orações presidenciais tanto para as celebrações eucarísticas como dos demais sacramentos.

 Também para proclamar a palavra de Deus na liturgia, fez-se uma seleção de textos bíblicos de forma ordenada segundo o correr do ano litúrgico. Nasce assim o Lecionário que era dividido em dois livros: Evangeliário (para uso dos diáconos) e Epistolário (para uso dos leitores).

Devida a amplidão das basílicas, foram introduzidas três grandes procissões:

· A solene procissão de entrada do presidente com seus ministros ( introduziu-se a oração da coleta)
· A procissão levando ao altar o pão e o vinho (introduziu-se a oração sobre as oferendas)
· A procissão em direção ao altar para receber a comunhão sob duas espécies. (introduziu-se a oração após a comunhão)

As orações introduzidas no final de cada uma das três procissões variam no decorrer do ano litúrgico. A proclamação do evangelho também foi ritualizada, reservada ao diácono e a procissão era acompanhada de luzes, incenso e aclamação do Aleluia.

A oração eucarística é a única, com variadas orações do prefácio. Mais tarde foram acrescentados o glória e o cordeiro de Deus. É importante ressaltarmos que as orações introduzidas na missa (coleta, prefácio, sobre as oferendas, após a comunhão) possuem uma forma literária elegante.
São orações dirigidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo.

2.7 A passagem da liturgia romana para as Igrejas franco-germânicas 

A partir do séc. VII os ritos litúrgicos do ocidente e do oriente já haviam adquirido suas características fundamentais. Ao longo do séc. VIII e início do séc. IX acontece o fenômeno de imigração da liturgia romana para as terras franco-germânicas. Este fator será importante para compreendermos a cultura religiosa brasileira e latino-americana.

Por ela, a liturgia romana foi adaptada à liturgia galicana para depois retornar à Roma como fundamento da liturgia romana da idade média. Tudo isso aconteceu pelo fato dos bispos e abades franco-germânicos terem simpatizado pelo ritual romano e terem demonstrado insatisfação com os ritos franco-germânicos. Ficaram admirados pela suntuosidade da liturgia, ao mesmo tempo simples e pelos textos litúrgicos romano. 

Dado o apreço, o imperador franco-germânico, Carlos Magno, com o intuito de uniformizar a liturgia em todo o império, pediu ao papa Adriano I uma cópia do sacramentário romano.

Carlos Magno, ao instituir o rito percebeu que o mesmo estava incompleto, não havendo os vários formulários de missa e bênçãos, que o povo galicano prezava muito.
A solução foi incorporar vários elementos próprios da liturgia galicana, tais como: benção do círio pascal, orações para ordenações, bênçãos, dedicações de Igrejas e exorcismos. Daí surgiu uma liturgia romana-franco germânica.

A liturgia galicana se caracterizava pela dramaticidade das orações e das ações litúrgicas, caracterizada pelo pavor diante da divindade, uma forte consciência de pecado, um inquietante sentimento de culpa e um grande individualismo religioso.

A missa passa a ser uma devoção privada do sacerdote e não mais comunitária. Começa-se a perder o caráter pascal da celebração cristã e passa-se para uma espiritualidade fortemente individualista. Dá-se mais importância aos aspectos sentimentais da meditação da paixão de Cristo do que o mistério da fé na ressurreição.

Em contrapartida, surge na liturgia franco-germânica o famoso hino Veni Creator Spiritus. E surgem nesse período, as magníficas Igrejas românicas na França, Alemanha e Espanha. Apesar de esta liturgia ser pouco eclesial-comunitária, mais tarde Roma a adotará como liturgia romana obrigatória para todas as liturgias do ocidente, tornando-se uma liturgia devocionista e individualista.

3 O mistério celebrado no segundo milênio da era cristã 

3.1 A liturgia romana em nova fase ou a liturgia romana da idade média (Sec. X a XIV) 

A partir do final do séc. IX a liturgia romana inicia uma nova fase que durará por muitos séculos.
A maior parte do segundo milênio é caracterizada por uma liturgia romana totalmente distanciada da tradição antiga. Roma adota a liturgia romano-franco-germânica[8].

A vida litúrgica e espiritual passa por uma terrível decadência. Os papas deste período foram considerados indignos de assumir o governo da Igreja católica. Tanto os papas como o clero manifestavam pouco interesse pela vida litúrgica da Igreja. É um fato assustador, pois Roma elaborou e viveu dos séculos IV a VIII uma liturgia bastante suntuosa.

Os imperadores Otâo I e Otão II, em suas viagens a Roma, ficam horrorizados pelos caos religioso e cultual que proliferava na cidade eterna. Eles mesmos decidiram promover a vida litúrgica na cidade eterna, insistindo no uso dos livros litúrgicos romano-franco-germânicos trazidos da Alemanha.
Estes livros foram adotados no norte dos Alpes alemães a partir do séc. VIII. Com a contribuição dos povos franco-germânicos, a vida litúrgica e espiritual em Roma assume um novo sentido.

Superada esta decadência, os papas voltam a assumir com responsabilidade a liturgia romana, até então dominada pelos soberanos e bispos dos Alpes.
O Papa Gregório VII (1073-1085) propõe uma ampla e profunda reforma na Igreja. Seu objetivo era recuperar as fontes antigas, zelar pela disciplina moralizando o clero e elevar a dignidade do sacerdócio. Neste sentido havia um interesse específico pela liturgia. Quem celebra a liturgia deve ter dignidade, respeito, coerência de vida e santidade. Como se vê, a moralização do clero gerou um monopólio clerical da liturgia.

Começa-se aqui o individualismo religioso por parte dos padres. Gregório VII não recupera o caráter comunitário da liturgia romana clássica dos séc. IV a VIII.

A reforma gregoriana não obteve sucesso pelo fato de ter ocorrido uma centralização romana. Em se tratando especificamente do culto, todas as Igrejas do Ocidente foram obrigadas a seguir o modelo de liturgia da cúria romana estabelecida pelo Papa Gregório VII, e que, no fundo, manteve a mesma estrutura da liturgia romano-franco-germânica.

O Papa Inocêncio III (1198-1216) dedicou-se à reforma dos livros litúrgicos.

Na liturgia romana clássica, como vimos, para cada ator da celebração havia um livro. Naquela época, a celebração litúrgica expressava o caráter bem comunitário. Com o tempo, a participação ativa dos fiéis diminuiu e tudo acabou sendo confiado ao sacerdote. Este se tornou o único ator da celebração e a assembléia se tornou meros espectadores.

Para tornar mais prática a celebração, ao invés de usar os variados livros litúrgicos ao mesmo tempo (Sacramentário, Lecionário, Antifonário etc), tudo era reunido num único volume o qual chamamos de Missal.
Nasce então o Missal, usado pelos sacerdotes quando celebravam missas sozinhos. Um livro que não contemplava a presença da assembléia. Este livro será imposto para todas as igrejas.

Ocorreu o mesmo com o livro de oração eclesial. Por motivo de comodidade e para a oração privada, inclui-se num único livro contendo tudo o que é necessário para o ofício divino, chamado mais tarde de Breviário[9]. 42 3.2 Algumas características da liturgia romana da Idade Média

Mesmo diante das reformas de Gregório VII e Inocêncio III, a liturgia continua distante do povo e cada vez mais clerical, ou seja, reservada ao sacerdote.


· Enquanto o padre reza a missa no altar distante, o povo se entretém com as devoções particulares.
A comunhão é substituída pela adoração da hóstia. Ver a hóstia de longe, adorando-a, tornou-se uma forma de comungar. Por isso que na consagração, os padres adotaram o costume de elevar a hóstia e mais tarde o cálice. Este era o ponto mais importante da missa. Era um momento importante para os fiéis. Para tal, introduziram o uso da campainha para chamar atenção do povo e enfatizar este momento.

· A adoração eucarística substituiu o verdadeiro sentido da eucaristia vivido nas comunidades primitivas (assembléia, caridade, comunhão e sacrifício). Surge também no séc. XIII a festa de Corpus Christi[10], tornando-se a festa mais importante do ano litúrgico, estando acima da festa da Páscoa.

·É muito forte o costume devocional das missas privadas pelos defuntos, em honra aos santos e por diferentes intenções particulares. Conseqüentemente cresce o número de padres ordenados somente para rezar missa (altaristas) e a dramatização dos gestos litúrgicos durante a missa[11] (sinal da cruz constante, genuflexões e movimentos de um lado para o outro).
A liturgia era um teatro religioso medieval.

·Os sacramentos perderam a sua originalidade, ou seja, como celebração do mistério pascal e passou a serem vistos como remédio que cura, purifica, previne e fortalece.

3.3 Reforma litúrgica do Concílio de Trento 

O Concílio[12], celebrado na cidade de Trento nos anos de 1545-1563, foi de grande importância para a vida da Igreja, pois o séc. XVI foi um período muito conturbado na Igreja.
Em 1517 eclodiu-se a reforma protestante liderada por Martinho Lutero, rompendo-se com a Igreja e fundando a igreja luterana, e mais tarde, na Inglaterra, o rei Henrique VIII também rompe com Roma e funda o Anglicanismo. 
Um novo cisma abalou as estruturas internas e externas da Igreja Católica. Lutero questionava os abusos existentes dentro da Igreja, também no que diz respeito à liturgia.

O Concílio de Trento promoveu algumas reformas litúrgicas importantes, porém parcial, pois não havia tempo para fazer a reforma completa da liturgia.

Os reformadores reivindicavam uma renovação na Igreja, sobretudo na liturgia. Para eles havia uma falta de espírito evangélico e exigia o uso da língua de cada nação, a participação ativa de todos, a recitação das orações em voz alta, comunhão sob duas espécies, abolir o uso exclusivo de celebrações privadas. Estas práticas não foram assumidas por Trento e veremos que acontecerá somente com Vaticano II.

O Concílio de Trento teve um caráter mais doutrinário do que pastoral, portanto, dos assuntos discutidos, afirmou-se o caráter sacrifical da missa e a presença real de Jesus na eucaristia. Por falta de tempo, o Concílio não aprofundou o aspecto litúrgico da Igreja, mas manteve a liturgia romana que perdurou por quatro séculos e confiou ao Papa a publicação dos livros litúrgicos[13], que passaram a ser de uso obrigatório para toda a Igreja, menos as dioceses e ordens religiosas com tradições próprias de mais de dois séculos.

Em resposta à reforma protestante, surge um movimento cultural que expressava bem o espírito da contra-reforma. A este chamamos de barroco. Foi um período de superação das crises provocadas pelo protestantismo, onde a Igreja Católica se sentiu vitoriosa, segura e forte.
A Igreja assume um caráter triunfalista acentuando a presença real de Cristo na eucaristia e insistindo cada vez mais na dignidade dos sacerdotes. Continua-se o modelo de separação entre o padre e o povo.
As celebrações são brilhantes, com caráter triunfalista, porém fora do verdadeiro espírito da liturgia. Nas igrejas os altares laterais se multiplicam, como também a imagem dos santos e de Maria. A homilia se torna sermão e era feita no púlpito.

Os sacrários são luxuosos, se desenvolve a música sacra e a missa era apenas ouvida. A festa por excelência no período do barroco foi a de Corpus Christi com a solene procissão em honra ao rei eucarístico. Sendo a missa animada pela orquestra e o coro em voz alta, a participação do povo foi quase zero. Muitos aproveitavam a ocasião para recitar o rosário e se entregar às suas devoções populares.

3.4 A Liturgia que o Brasil e a América Latina Herdaram 

O conhecimento da liturgia no período tridentino e pós-tridentino é importante para compreendermos as raízes históricas de nossa própria cultura religiosa brasileira e latino-americana. Queremos dar ênfase à liturgia que herdamos, sobretudo no período colonial, e “para algumas adaptações desta liturgia no nosso contexto social e religioso.

A liturgia que herdamos foi a liturgia do período medieval e pós-tridentino, que os colonizadores e os missionários portugueses e espanhóis trouxeram para o continente latino americano a partir de 1492. Uma liturgia de índole romano-franco-germânica e de língua única e obrigatória (latim) para todos os povos do ocidente. Uma liturgia igual para todos, porém com o passar do tempo houve adaptações, o que hoje chamamos de inculturação.

Ainda estava muito longe de ter uma liturgia, cuja finalidade seria a celebração do mistério pascal comunitariamente celebrado sob a presidência de seus pastores. Permanecia o ritual meio mágico celebrado pelo clero, distante do povo. Herdamos uma liturgia feita apenas para o clero, e o povo assistia passivamente as cerimônias feitas pelos padres lá no altar.

A devoção popular tomou fôlego neste período. O povo se dedicava mais à devoção aos santos, novenas, reza do terço, etc.
Os sacramentos eram vistos como remédio espiritual para curar os males e manter uma boa relação de amizade com Deus e não como a celebração do mistério pascal em nossa vida. Foi uma liturgia que predominava o individualismo religioso.

Cada pessoa cuidava da sua vida espiritual sem nenhum compromisso eclesial e de transformação social, sem sentir-se irmão uns dos outros e membros do corpo místico de Cristo. Em síntese, não se contemplava o valor da assembléia.

Esta é a liturgia católica que herdamos durante cinco séculos, o que formou neste continente uma cultura tipicamente religiosa. Por um lado, o catolicismo popular teve seus elementos positivos (solidariedade, hospitalidade, piedade, gosto pela festa, espírito jovial, etc) e negativos (superstição, idolatria do poder, falta de formação, sincretismo, redução da fé a um contrato com Deus, individualismo religioso, etc).

A liturgia teve que se adaptar no contato com os povos desta terra (negros, índios, colonizadores e mestiços). Um exemplo é a tentativa de adaptação da celebração do batismo entre os índios do Brasil. Os missionários fizeram a tradução dos textos para a língua tupi.

Uma das adaptações mais interessantes é a que aparece na organização do espaço das celebrações nas igrejas no Brasil. O espaço era dividido em seis recintos:

· Recinto clerical: presbitério · Recinto central: reservado às mulheres
· Recintos laterais: num plano mais elevado, reservado para os homens bons, livres e simbolizava a superioridade, tanto diante do clero quanto das mulheres.
· O espaço em torno das portas: reservado aos negros e escravos · Um lugar de destaque entre a nave central e o presbitério era reservado para pessoas mais importantes.
· O coro, sobre a porta da Igreja, era reservado para os cantores e a orquestra.
No Brasil colônia existia igrejas para os escravos e os negros e igrejas para os homens brancos, como é visível nas antigas cidades mineiras do Brasil colônia (Ouro Preto, Mariana, etc).

As casas, normalmente tinham seus oratórios para a liturgia familiar. Eles se reuniam para rezar o terço e a oração da noite. O rezador geralmente era pessoa muito simples e mesmo se houvesse um padre, ele presidia as orações.
As missas eram celebradas com grande pompa barroca adaptada ao ambiente social do Brasil colônia.
No séc. XVI, os jesuítas permitiam o uso de instrumentos musicais indígenas nas celebrações.

Era uma grande festa e faziam uso de recursos da liturgia barroca para atrair os índios: músicas, procissões, cruz alçada, paramentos, multicores, bandeiras, batinas, folhas de palmeiras a serem agitadas nas procissões, imagens teatros, dramatizações, etc. São exemplos de adaptações da liturgia medieval e pós-tridentina no contexto do Brasil colônia. No seu espírito ela permanecia a mesma, ao passo que o essencial continuava em segundo plano.

3.5 O caminho da renovação:

O movimento litúrgico No início do séc. XX inicia-se um grande movimento de renovação litúrgica na Igreja do ocidente. É o chamado movimento litúrgico, que teve a sua pré-história no período do iluminismo (séc. XVIII) e da restauração católica (séc. XIX).

O movimento litúrgico aparece na Europa por volta do séc. XVIII com o intuito de se contrapor ao barroco: o iluminismo. Teve grande influência na liturgia. Desencadeou um processo contra a centralidade tridentina e a exagerada exteriorização barroca.
Os católicos exigiam uma liturgia mais simples, que se adequasse à realidade do povo e fosse por eles compreendida.

O problema é que os católicos viam a liturgia mais como função educadora do povo do que celebração do mistério de Cristo. O que comprometeu o trabalho de reforma. Em todo caso, este movimento se culminará com a reforma litúrgica do Vaticano II. E a partir daí compreenderemos que a liturgia é a fonte primordial da vida cristã.

No Brasil, o movimento litúrgico surge em 1933 e teve como expoente o monge beneditino Martinho Micheler. 
Foi muito bem aceito nos movimentos de Ação Católica e divulgado em quase todo país, pois pregava o retorno às fontes. As propostas do movimento, às vezes não foram colocadas de modo feliz por seus divulgadores e acabou formando um antagonismo com os católicos tradicionais brasileiros. Por um lado os liturgistas e por outro os devocionistas.
Os devocionistas eram mais reacionários e acusavam o movimento de tentar abolir as devoções populares (culto aos santos,bao papa, à Virgem Maria e ao Santíssimo Sacramento).

Graças ao movimento litúrgico, o Concílio Vaticano II pôde concretizar a reforma litúrgica. A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II

O Vaticano II (1962-1965) foi um Concílio de cunho mais pastoral. Era urgente uma reforma no interior da Igreja e o beato Papa João XXII considerou como um “Novo Pentecostes para a Igreja”.

O primeiro documento aprovado foi a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. No artigo 1°, o documento afirma que o Concílio deseja fomentar sempre mais a vida cristã dos fiéis e favorecer para que tudo se convirja para os que crêem em Cristo.

Trata-se de um Concílio que vem de encontro com a realidade sócio cultural do séc. XX, dialogando com o homem moderno. A liturgia a partir do Vaticano II foi um verdadeiro retorno às fontes.
Procurou adaptar-se à realidade cultural de cada nação. Um dos grandes méritos foi a missa celebrada de frente para o povo, tornando assim uma celebração comunitária em que o centro da celebração é o Cristo.

Fonte: texto elaborado pelo Cl. Geovani dos Santos Pereira


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[1] É o conjunto das cerimónias litúrgicas. Nelas se atualiza a ação salvadora de Jesus Cristo realizada de uma vez por todas.
[2] Memória significa recordar um fato acontecido no passado. Ao mesmo tempo, temos a certeza de participarmos deste mesmo acontecimento e de seus efeitos salvíficos.
[3] O mistério é algo oculto que podemos conhecê-lo aos olhos da fé. Toda liturgia é um mistério celebrado porque narra toda a história da salvação e nos coloca diante do grande mistério que é Deus, revelado no seu Filho Jesus Cristo. Neste sentido, o mistério é a presença de Deus. O mistério deve ser entendido como uma vontade salvífica de Deus em salvar a humanidade. Sem dúvida alguma, este deve brotar da nossa espiritualidade. Deus é mistério em si mesmo porque é comunhão de vida, de amor e de fidelidade em si mesmo.
[4] O paganismo significa a adoração a vários deuses (politeísmo). Era muito comum entre os gregos nos primeiros séculos.
[5] Local onde as primeiras comunidades receberam o nome de cristãos pela primeira vez.
[6] Ler o Catecismo da Igreja Católica nn. 1200 – 1202.
[7] BUYST, Ione. O mistério celebrado: memória e compromisso I. São Paulo: Paulinas. p. 35.
[8] É uma junção da liturgia de Roma e dos impérios franco e germânicos.
[9] O Breviário é um livro que contem as orações da Igreja distribuídas seis momentos ao longo do dia. É o livro oficial das comunidades religiosas e todo povo de Deus (leigos e leigas) é convidado a seguir esta prática.
[10] Corpus Christi surgiu com o intuito de exaltar a realeza de Jesus, atribuindo à ele todas as pompas reais, até então ostentada pelos homens terrenos. Tornou-se uma festa devocional e até hoje nas  procissões as vias são ornadas com tapetes luxuosos. Ainda é muito presente esta prática em Minas Gerais.
[11] O clero celebrava frequentemente as missas votivas e faziam da Igreja um comércio espiritual.
[12] O Concílio é uma assembléia da Igreja que reúne os bispos com o objetivo de tratar de assuntos referentes à vida da Igreja.
[13] Pio V publicou o breviário (1568) e o missal romano (1570). Clemente VIII publicou o pontifical romano (1596) e o cerimonial dos bispos (1600).

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