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27 de janeiro de 2013

0 culto na ortodoxia, no pietismo e no iluminismo

 2.1 – Ortodoxia 

 2.1.1– O que é ortodoxia 

A ortodoxia luterana iniciou logo após a morte do reformador Martim Lutero, permanecendo até, aproximadamente, o final do século XVII. Na ortodoxia aconteceu uma sistematização e também uma consolidação das idéias da Reforma, em contraste com a contra-reforma.

O importante era manter “o artigo da justificação por graça mediante a fé e a liberdade cristã daí advinda”. As discussões que aconteciam na ortodoxia visavam encontrar uma interpretação correta para a doutrina dos reformadores e também da Bíblia, “tudo girando em torno do ensino correto”.

O que aconteceu nesta busca pelo correto foi que, ao invés de esclarecer a doutrina dos reformadores, a ortodoxia a obscureceu. Mesmo tentando ser fiel a Lutero e a seus ensinamentos, a ortodoxia contrariou o objetivo de Lutero de tornar a teologia acessível ao povo, “pois a ortodoxia tornou-se sempre mais erudita, formalista e árida”.
A ênfase nas discussões teológicas recaía sobre a formulação e definição da fé.
“Fé passava a ser algo objetivo. O intelectualismo da fé substituía a existência da fé. Fé era doutrina”.

2.1.2 – Liturgia e culto na ortodoxia 

No período da ortodoxia luterana aconteceu a “cristalização do culto”, a estabilização das ordens de culto. Esta cristalização e estabilidade do culto e de suas ordens não significou a perda da liberdade. Havia liberdade para fazer mudanças, levando em conta a utilidade e a edificação da comunidade, mas em determinadas situações não se deveria ceder.Liberdade havia também quanto ao uso dos elementos verbais e não verbais.

Os gestos eram encarados de forma positiva: “estão aí para atestar que os sacramentos não são espetáculos que nada dizem e nada fazem”. As vestes, como testemunho da liberdade cristã, especialmente contra os calvinistas, foram mantidas. A liberdade em relação à formulação dos cultos manifestou-se, também, no desenvolvimento diferenciado ocorrido nos territórios luteranos, bem como na diferenciação feita entre cultos realizados na zona urbana (mais ricos litúrgicamente) e os realizados na zona rural (com prédicas doutrinárias).

No culto da ortodoxia luterana a música foi destaque. Houve um florescimento da música, como não ocorreu mais nos séculos posteriores. Assim como fez Lutero, a ortodoxia também substituiu partes do culto por hinos; estes se tornaram cada vez mais importantes. Assim, o que muitas vezes a prédica ortodoxa não alcançava, os hinos encarregaram-se de fazer como a proclamação da Palavra.

Ao contrário de Lutero, a ortodoxia não conseguiu, com a música, proporcionar uma maior participa- ção da comunidade nos cultos. Em primeiro lugar, porque o órgão também ganhou espaço, assumindo partes que eram do coral, e também porque muitas pessoas começaram a ir ao culto somente após os cantos, na hora da pregação.
A ênfase nos cultos da ortodoxia luterana recaiu sobre a pregação, que, normalmente, era longa (aproximadamente uma hora) e não era moldada de acordo com a compreensão da comunidade. Além do tempo dedicado à pregação, outro sinal de sua valorização nos cultos da ortodoxia foi que se criou uma liturgia própria em torno dela.

Esta liturgia tinha: Hino, Pai Nosso orado em voz baixa, pregação, avisos do púlpito, anúncio dos que incorreram em culpa pública e dos que foram absolvidos em função do arrependimento, admoestações à oração e bênção do púlpito.

Quanto à celebração da Santa Ceia, esta foi separada do culto de pregação e sua ênfase foi modificada de ato sacrificial do sacerdote para comunhão com Cristo e com os outros. Ela também foi tratada como um apêndice no culto, pois muitas pessoas deixavam o culto logo após a pregação. Com a valorização do conteúdo, o culto perdeu a sua vivacidade interior. Tudo isso se refletiu na participação apenas parcial da comunidade nos cultos. Essa participação parcial talvez nem acontecesse se não houvesse uma fiscalização por parte dos senhores feudais, os quais aplicavam multas e prisão aos que não participassem.

2.2 – Pietismo 

2.2.1 – O que é pietismo 

O pietismo surgiu no século XVII103, após a Guerra dos Trinta Anos. Por causa de toda a destruição ocorrida nessa guerra, havia necessidade de reconstruir, no que a Igreja teve um papel importante. Dentro desse processo foi que surgiu o pietismo. Cabe lembrar ainda que o surgimento do pietismo aconteceu dentro “da nova classe ascendente de então, a burguesia”. Para a burguesia a ortodoxia representava um mundo ultrapassado e infantil, em desacordo com a forma com a qual o burguês via a realidade e a natureza.

A ênfase do pietismo estava na conversão, na recepção do Espírito Santo e na experiência religiosa. Isso fez com que os pietistas investissem na missão também em outros países.
Com essa ênfase na conversão o pietismo retomou algo que foi combatido por Lutero: “o esquema sacrificial da teologia da glória”. O sacrifício oferecido a Deus era um coração puro.

No pietismo a religião tornou-se algo pessoal, individual e interior. Por causa dessa individualização e também pela crença de que a renovação da sociedade era algo que passava pela renovação do indivíduo, as reformas sociais do pietismo não foram além de obras de caridade, ou seja, o pietismo não se engajou para mudar a estrutura opressora da sociedade da época.

O pietismo foi de certa forma um movimento que não se preocupou com as “coisas do mundo”.
Isso fica claro nas obras sociais que não trouxeram modificação das estruturas, nos “collegia pietatis”, que se tornaram uma pequena igreja dentro da igreja (ecclesiola in ecclesia), nos quais se reuniam os convertidos, e na separação que os pietistas faziam entre partes da vida que eram consideradas religiosas e outras que eram consideradas seculares.

Com essa separação entre fé e mundo, o pietismo mostrou que não compreendeu que a fé cristã se conserva dentro do mundo. Outro ponto acentuado no pietismo foi o sentimento, em detrimento da razão. Frases como “religião é questão de coração e não de cabeça”, e “a religião cristã é religião do coração, não se baseia na razão” (Zinzendorf), demonstram isso.

2.2.2 – Liturgia e culto no pietismo 

No pietismo o objetivo, a forma, e o entendimento de culto foram mudados. O objetivo do culto, que estava em acordo com a ênfase maior do pietismo, passou a ser a conversão, juntamente com a santificação e a edificação que resultassem em despertamento. Enquanto não fosse despertada, a comunidade de culto era um campo de missão.
Com essa ênfase na conversão, o batismo perdeu muito da sua importância, até porque, sendo realizado com crianças, não poderia ser resultado de uma decisão pessoal. Por isso, o que recebeu importância foi a confirmação, que foi utilizada como uma confirmação do sacramento do batismo. Em evidência no culto pietista estão também o emocionalismo e o subjetivismo.

A liturgia, por sua vez, não recebeu muito valor. Spener defendia que a liturgia deveria ser usada com liberdade, variedade e mobilidade. O uso das agendas continuou, em alguns casos, apesar de suas ordens serem consideradas “engessadas”.
A liturgia formal, o Ano Eclesiástico e costumes os cristãos foram considerados muletas desnecessárias para os “perfeitamente regenerados”.

A pregação, por sua vez, recebeu destaque também com o objetivo de levar as pessoas à conversão.
A pregação passou a não ser mais de controvérsia ou uma exibição das habilidades em argumentar por parte do pregador, mas sim para a edificação da vida cristã dos ouvintes, tendo um caráter avivamentista. Em muitos casos, as pregações, que eram feitas com base nas perícopes tradicionais, acabaram sendo substituídas pelo estudo da Bíblia

Outra modificação promovida pelo pietismo foi nas orações, as quais deixaram de ser lidas das agendas e se tornaram orações livres. Spener, usando o critério da liberdade, da variedade e da mobilidade do culto, adotou a oração livre , feita de improviso.
A celebração da Ceia foi criticada por Spener, que via nela não somente reflexões bíblicas, mas também costumes alemães. Franke, por sua vez, rejeitou a confissão antes da celebração da Ceia dominical e, em muitos casos, celebrou a Ceia em casas particulares.

2.2.3 – “Vozes discordantes”

Nem todos no pietismo concordavam com um culto com uma liturgia mais “livre” e de improviso. Houve nomes importantes do pietismo que defenderam a continuidade do uso das agendas de culto e também das orações eclesiásticas. Esse foi o caso de Zinzendorf. Para ele, as velhas orações eclesiásticas tinham algo de “divino e inimitável”.

Também defendeu a continuidade do uso da liturgia, tendo para isso um forte argumento:
“No momento em que a liturgia for negligenciada, teremos, certamente, uma diminuição do Espírito”. Zinzendorf também era a favor de pregações que não fossem longas: “se eu faço uma pregação curta, geralmente digo mais do que se eu faço uma pregação longa”.nas perícopes tradicionais, acabaram sendo substituídas pelo estudo da Bíblia. 

A música e os cantos também foram modificados nos cultos pietistas.
A música era tida somente como algo para acompanhar os hinos, não sendo significativa para a liturgia.
Os hinos “baseados em fatos objetivos da salvação foram substituídos por outros que retratavam experiências pessoais”.

J.A. Freylinghausen trouxe, em seu hinário (“Geistliches Gesangbuch” –Hinário Espiritual) esta nova forma de hinos, os quais, por suas palavras e maneiras, acentuavam o sentimento.Hinário Espiritual) esta nova forma de hinos, os quais, por suas palavras e maneiras, acentuavam o sentimento.

Outra modificação promovida pelo pietismo foi nas orações, as quais deixaram de ser lidas das agendas e se tornaram orações livres. Spener, usando o critério da liberdade, da variedade e da mobilidade do culto, adotou a oração livre , feita de improviso.

A celebração da Ceia foi criticada por Spener, que via nela não somente reflexões bíblicas, mas também costumes alemães. Franke, por sua vez, rejeitou a confissão antes da celebração da Ceia dominical e, em muitos casos, celebrou a Ceia em casas particulares.

2.2.3 – “Vozes discordantes” 

Nem todos no pietismo concordavam com um culto com uma liturgia mais “livre” e de improviso. Houve nomes importantes do pietismo que defenderam a continuidade do uso das agendas de culto e também das orações eclesiásticas. Esse foi o caso de Zinzendorf. Para ele, as velhas orações eclesiásticas tinham algo de “divino e inimitável”.
Também defendeu a continuidade do uso da liturgia, tendo para isso um forte argumento:
“No momento em que a liturgia for negligenciada, teremos, certamente, uma diminuição do Espírito”. Zinzendorf também era a favor de pregações que não fossem longas: “se eu faço uma pregação curta, geralmente digo mais do que se eu faço uma pregação longa”

Outro nome importante no pietismo, August H. Franke, recomendou que os pastores ensinassem as partes do culto, para que este não fosse celebrado de uma maneira errada. Franke, que elaborou liturgias para o uso em sua comunidade, entendia que sem as cerimônias exteriores era impossível preservar a religião. Enquanto que no pietismo a veste litúrgica foi eliminada, Franke usava o talar de professor durante as celebrações.

2.3 – Iluminismo 

2.3.1 – O que é iluminismo 

No iluminismo a razão passou a dominar a relação do ser humano com Deus. Por causa dessa ênfase na razão, o iluminismo também é tratado como racionalismo.
O iluminismo (no alemão: Aufklärung, que significa esclarecimento) entrou na Igreja Luterana por meio de Christian Thomasius, que o fez com base na idéias de Georg Leibniz e René Descartes.
 O iluminismo retoma a teologia da glória, a qual era “de cunho dominador e legalista”.

No iluminismo pretendia-se uma redução da religião cristã ao essencial, que para os iluministas é a moralidade. Para alcançar a moralidade e exercê-la, a Igreja era até considerada desnecessária
O iluminismo considerava a fé algo racional, que podia ser captado racionalmente.

Por causa disso é que somente os aspectos da fé cristã que podiam ser captadas racionalmente eram valorizadas. Cristo também não era mais tido como o Salvador, mas apenas como um modelo moral. Também não era mais Deus quem vinha ao ser humano, mas era este que deveria subir em direção a ele.

 É importante, ainda, constatar que para o iluminismo o passado não tinha mais valor, importava olhar para o futuro. Também era importante a relação entre Igreja e escola: ambas existiam para instruir as pessoas e doutrinálas, introduzindo-as em uma vida virtuosa.

2.3.2 – Liturgia e culto no iluminismo 

No iluminismo, apesar da preocupação com a liturgia, de um grande número de publicações de folhetos e de jornais de liturgia e de um grande número de agendas, as formas litúrgicas e o culto foram reduzidos/simplificados, assim como aconteceu com a religião e a teologia cristã.

A pregação assumiu a centralidade do culto, sendo que o “público” (contraposto ao pregador) deveria apenas receber, através dela, o ensino religioso e moral156. Através da pregação se quer produzir um “ser humano esclarecido e confiá- vel”.

A valorização da pregação era tanta que não era mais a pregação que tinha de estar em harmonia com o tema do culto, mas este tinha de estar em harmonia com o tema daquela.
A escolha das orações, dos cantos, e da leitura eram orientados pelo tema da pregação. Ou seja, escolhia-se um tema para a pregação e todo o restante do culto era utilizado para justificar este tema. Com isso corria-se o perigo de não pregar a Palavra de Deus, mas sim as idéias do próprio pregador.

Os temas sugeridos para as pregações também eram bem “estranhos”. Sugeria-se, por exemplo, pregar: “Sobre o valor das felicitações humanas”, (...) “Sobre o robustecimento dos pastores e advertência contra o uso de boinas de pele”, (...) “Sobre o risco de ser enterrado vivo”. Não existia relação entre o tema da pregação e a época do ano eclesiástico, até porque este não era valorizado, e porque o lecionário foi eliminado.
Muitos até sonhavam que com a “iluminação” alcançada através da pregação, com o tempo, o culto se tornaria supérfluo. Assim como na ortodoxia e no pietismo, também no iluminismo partes da liturgia foram substituídas por hinos. Isto acontecia com as partes da liturgia que não eram abolidas.

Os hinos foram também instrumentos usados para criar, no culto, um clima mais festivo e também sentimentos piedosos165. Em alguns casos as letras e as melodias das músicas foram arbitrariamente modificadas.

A oração, por sua vez, não era considerada uma forma de falar com Deus, mas sim um auto-ensinamento. Em muitos casos as orações foram substituídas por discursos emocionais. No que se refere à celebração da Ceia, também esta recebeu uma redução, não somente em sua forma litúrgica como também na quantidade de vezes ao ano em que era celebrada.

O dia preferencial para se celebrar e participar da Ceia era a Sexta - feira Santa, a qual foi elevada ao posto de grande feriado do ano.Quando ela era celebrada era apenas um “apêndice” ao culto, até mesmo a narrativa da instituição foi modificada para “refletir as nuanças intelectuais do racionalismo”.
Elementos de prodigalidade do culto, como as vestes, paramentos, velas, não comunicaram racionalmente, por isso foram ridicularizados, quando não completamente eliminados do culto iluminista.

Um pastor oficiando de alba era considerado um fantasma, além do que, acreditava-se que as vestes promovessem a superstição e por isto foram consideradas ridículas e eliminadas.
O uso de velas acesas durante o dia era considerado um absurdo.


Fonte de pesquisa: Márcio Arthur Trentini 

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