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17 de janeiro de 2013

Porque Sofremos? explicando o sofrimento para o catolicismo


Pergunta — Se Deus é nosso Pai, por que Ele permite a guerra, a doença, a fome? Por que Ele permite que seus filhos sofram? Por favor, me ajudem!

Resposta — O apelo final por ajuda indica uma pessoa submetida a muitos sofrimentos, que deseja entender a razão deles em face de um Deus que é Pai de misericórdia: “Compassivo e misericordioso é o Senhor, paciente e cheio de misericórdia; o Senhor é suave com o mundo todo, e suas misericórdias se estendem sobre todas as suas obras” (Ps 144,8-9). Como explicar, então, que Deus permita que soframos?

 Como primeiro movimento de uma alma católica e sacerdotal, me compadeço desses sofrimentos e peço a Maria Santíssima que interceda junto a Deus Nosso Senhor para que eles sejam diminuídos na medida do possível. Mas há uma quota de sofrimento, variável no modo e na intensidade, que cada um de nós nesta vida tem de carregar. Para esse sofrimento peço a Deus, em favor da consulente, a paciência e a resignação de alma, tão agradáveis a Nosso Senhor e tão cheias de frutos para nossas almas.

A pergunta tem um alcance mais profundo do que talvez a própria consulente imaginou ao formulá-la. Com efeito, ela incide sobre uma discrepância fundamental entre o espírito católico e o mundo moderno. Esse ponto de discrepância consiste na seriedade com que devemos encarar a vida nesta Terra.

 A grave crise de seriedade

O mundo moderno vive um momento de grande decadência espiritual e moral, que teve origem numa grave crise de seriedade. Essa crise veio se desenvolvendo ao longo de séculos, mas até a I Guerra Mundial (1914-1918) a sociedade ainda conservava importantes traços de seriedade. Fotografias e filmes da época mostram pessoas geralmente sérias, tanto nas cenas da vida quotidiana como em ocasiões de solenidade. Entretanto, a partir de então, o processo que leva a ter uma posição superficial perante a vida sofreu uma aceleração rápida, em consequência principalmente da difusão do “espírito de Hollywood”.

Assim chamamos o espírito disseminado pelos filmes provenientes dos Estados Unidos (os quais, aliás, segundo observadores dignos de crédito, apresentavam a mentalidade norte-americana não de modo autêntico, mas caricatural). O fato é que, em poucas dezenas de anos, implantou-se em todo o Ocidente um modo otimista, risonho e superficial de encarar a vida, caracterizado pela convicção gratuita de que o desenrolar dos acontecimentos termina sempre num happy end. Isto é, tudo nesta vida tem um final normalmente feliz.

Tal estado de espírito predispõe a considerar o sofrimento como um intruso no decurso normal da vida.

Assim, para compreendermos sem dificuldade a razão de ser do sofrimento no plano divino, temos que expungir de nossa alma todo resquício de espírito hollywoodiano que, mesmo sem o percebermos, se tenha introduzido em nós. Para isso, nada melhor do que nos compenetrarmos de que a vida é séria, extremamente séria.

O sofrimento e a salvação das almas

O fundamento mais tangível dessa seriedade é que temos uma alma a salvar: o desfecho de nossa história pessoal será uma vida eternamente feliz no Céu ou uma vida eternamente desgraçada no inferno.

A graça de Deus nos chama constantemente para as vias da salvação, mas a escolha do caminho depende também de nossa cooperação — ou não cooperação... — com essa graça. E nesta alternativa se joga tudo por tudo! Como, então, passar a vida sorrindo tolamente diante dessa dupla perspectiva final?

O sofrimento entrou no mundo pelo pecado. A consequência do pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, foi sua expulsão do Paraíso terrestre, a condenação à morte e o fechamento do Céu para o gênero humano. Deus, porém, que é Pai de misericórdia, apiedou-se da humanidade e determinou que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fizesse homem, pagasse por nós o débito do pecado — que, por ser infinito, não estávamos em condições de saldar — e nos reabrisse o Céu. Tal foi a obra da Redenção consumada pelo sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo no alto da Cruz. O essencial, portanto, foi cumprido pelo Divino Salvador.

Entretanto, Deus estabeleceu que o fruto da Redenção se aplicasse a cada um de nós pela nossa participação pessoal no Sacrifício redentor de Cristo. E essa participação se dá pela aceitação amorosa e resignada dos sofrimentos que Deus nos manda nesta vida. É a doutrina ensinada por São Paulo, segundo a qual devemos completar em nossa carne o que falta à

Paixão de Cristo (cfr. Col 1,24).

Fica assim explicada a profunda razão de ser do sofrimento dos filhos de Deus nesta Terra.

São insuportáveis os sofrimentos?

Essa exposição tem como fundo de quadro sofrimentos humanamente suportáveis (bem entendido, com a ajuda da graça divina). Mas nossa missivista refere-se a três gêneros de sofrimento — “a guerra, a doença e a fome” — que, no seu entender, parecem exceder de muito a capacidade do homem de suportá-los. Como conciliar isso com a visão que temos de um Deus, Pai das misericórdias?

A dúvida faz sentido. Os jornais descrevem todos os dias horrores da guerra, atos pavorosos de terrorismo que atingem indiscriminadamente todo gênero de vítimas, incursões criminosas de guerrilhas que tumultuam a vida de diversas nações, regimes totalitários que provocam fomes insanáveis a que estão submetidas populações inteiras, a pandemia da Aids etc. Não constitui isso um sofrimento que ultrapassa todo limite do suportável?

Sem dúvida, o estado de convulsão generalizada em que está o mundo produz sofrimentos inauditos.

Porém, cumpre perguntar se o estado de pecado em que vive hoje grande parte da humanidade não é de molde a atrair castigos divinos. E a pecados inauditos, castigos inauditos... E como isso tudo ofende a Deus!

O bom pai, quando castiga, é para bem do filho

A revista Catolicismo tem mostrado a extensão e a gravidade desses pecados: a imoralidade inconcebível das modas e dos costumes, a desagregação institucional da família, o aborto, a depravação homossexual e tantas outras desordens, na esfera individual como na social, nacional e internacional.

Tudo isso manifesta o abandono dos princípios da moral natural e da moral católica, um voltar desdenhoso de costas a Deus. Como admirar-se de que Deus puna o mundo com castigos nunca vistos?

Assim, ao sofrimento que sempre acompanhou a vida do homem desde Adão e Eva acrescentam-se sofrimentos incomensuráveis, que se podem atribuir a um castigo pela apostasia hodierna, a qual ofende enormemente o Coração de Jesus. Aceitar com amor e resignação os sofrimentos que daí decorrem é um meio de a alma católica reparar tão grandes ofensas.

Deus nunca deixa seus filhos ao abandono, mas socorre-os misericordiosamente.

Por isso enviou sua Santíssima Mãe à Terra, em Fátima, a anunciar que, se os homens não se emendassem, grandes castigos haveriam de sobrevir. Porém, ao fim destes, graças também nunca vistas choverão sobre a humanidade, que retornará a Deus e à Igreja, estabelecendo-se na Terra uma era de paz: é o Reino de Cristo, que se reinstaurará com o triunfo do Imaculado Coração de Maria. Essa a grande e maravilhosa esperança que nos dá ânimo para suportar todas as lutas e sofrimentos deste mundo convulsionado em que vivemos.

Fonte de pesquisa: Catolicismo Romano

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