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23 de setembro de 2013

Diante da crise, solidariedade, astúcia e esperança. Os discursos do Santo Padre em Cagliari

Depois do almoço com os bispos da Sardenha, a tarde do Pontífice em Cagliari foi marcada por três encontros: com os pobres e os detentos, com o mundo acadêmico e com os jovens.

Na Catedral de Cagliari, na presença de 120 pobres e 37 presos, o Papa Francisco notou a fadiga e a esperança em seus rostos. “Todos nós temos misérias e fragilidades.

Ninguém é melhor do que outro. Todos somos iguais diante de Deus. E olhando Jesus, vemos que ele escolheu o caminho da humildade e do serviço.”
O Papa advertiu que hoje a palavra solidariedade corre o risco de ser cancelada do dicionário. Mas este é o único caminho. “A caridade não é assistencialismo, é uma escolha de vida, um modo de ser.” Francisco criticou a arrogância que, às vezes, se usa no serviço aos pobres, para alimentar a própria vaidade. “Isso é pecado grave, seria melhor se essas pessoas ficassem em casa.”
Por fim, Francisco encorajou a percorrer o caminho indicado por Jesus com caridade, semeando esperança.

Acadêmicos

O encontro com o mundo acadêmico foi feito na Aula Magna da Pontifícia Faculdade Teológica Regional. A reflexão do Pontífice foi inspirada na experiência dos discípulos de Emaús que, desiludidos diante da morte de Jesus, demonstram resignação e desejo de fugir da realidade.

Essas mesmas atitudes, disse o Papa, podemos constatar neste momento histórico, em que vemos a deterioração do meio ambiente, “a guerra da água”, os desiquilíbrios sociais, a terrível potência das armas, o sistema econômico e financeiro, o ‘deus dinheiro’.

“Diante da crise, pode haver a resignação. Esta concepção pessimista da liberdade humana e dos processos históricos leva uma espécie de paralisação da inteligência e da vontade. Algo como fez Pilatos, de ‘lavar-se as mãos’. Uma atitude que aparece pragmática, mas que ignora o grito de justiça, de humanidade e de responsabilidade social e leva ao individualismo, à hipocrisia, para não falar de uma espécie de cinismo.”

Diante deste cenário, o Papa propõe então que a Universidade se torne o local do discernimento, em que se elabore a cultura da proximidade e de formação à solidariedade, que impulsione a buscar e encontrar vias de esperança que abram novos horizontes à nossa sociedade.

Jovens

A visita de Francisco a Cagliari se encerrou com os jovens, na Praça Carlo Felici – o que fez com que se lembrasse da Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro: “Talvez alguns de vocês estavam lá, mas muitos certamente acompanharam na televisão e na internet. Foi uma experiência muito bela, uma festa da fé e da fraternidade que enche de alegria. A mesma alegria que hoje sentimos”.
Num clima de festa, bem humarado, o Papa falou uma palavra em espanhol. Ao perceber, brincou: "Também eu falo dialeto aqui", em referência ao dialeto sardo.

Da vocação dos quatro primeiros discípulos Francisco tirou a mensagem dirigida aos jovens: não desencorajar diante da experiência da falência e confiar em Jesus.
Hoje, afirmou, o sacramento da Crisma mudou de nome. "É o sacramento do 'adeus'. Depois dele, muitos deixam a Igreja. Isso é uma falência."

Para Francisco, os jovens não devem se desencorajar diante de algo que não deu certo. Muito menos devem vender sua juventude "para os que vendem a morte". Não se pode parar no ‘trabalhamos sem nada apanhar’, mas ir além, ‘lançar as redes' novamente, sem se cansar. "Jesus dará a força! Há a ameaça da lamentação e quando tudo parece estagnante quando os problemas pessoais nos inquietam, as dificuldades sociais não encontram as respostas devidas, não é bom desistir."

O caminho é Jesus: fazê-lo subir no nosso 'barco' e tomar o largo com Ele, que transforma a perspectiva da vida. "Eu não venho aqui para vender uma ilusão. Mas venho para dizer que existe uma pessoa que pode levá-lo avante. Confie Nele. É Jesus e Jesus não é uma ilusão."
Abrir-nos a Deus, disse ainda o Papa, nos abre aos outros.

"Também os jovens são chamados a se tornarem ‘pescador de homens’. “Tenham a coragem de ir contra a corrente, sem se deixar levar pelas correntes. Encontrar Jesus Cristo, experimentar o seu amor e a sua misericórdia é a maior aventura, e a mais bela, que pode acontecer a uma pessoa!”

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