Os três últimos pedidos do Pai Nosso interagem uns com os outros. A súplica do perdão vem integrada à da superação das tentações ou provas, completada com a da liberação do mal. Esta última compreende também, de certa maneira, os antecedentes, porque, libertos do mal, somos capazes de realizar o conteúdo dos pedidos, que contêm a santificação do nome de Deus, a vinda do Seu Reino e o cumprimento de Sua vontade.
Liberação de que mal?
A última invocação do Pai Nosso fala do “mal”. É uma palavra que pela indeterminação deixa o caminho aberto a duas interpretações. Na sua acepção neutra, o termo abrange o mal, seja no sentido físico, psíquico ou moral. Este mal compreende os vários tipos de sofrimento e ansiedade que afligem a nossa vida. Por isso, existem estudiosos das Escrituras Sagradas que, na tradução do Pai Nosso - “Livrai-nos do mal” -, preferem este sentido: “Livrai-nos do Maligno”. Ambos os significados são válidos e inseparáveis.
Existência do mal no mundo
O mal não se desdobra somente a partir da maldade do homem, que sem dúvida tem uma grande responsabilidade em difundi-lo. Sua origem é o diabo, mas é o homem que o completa, porque aceita ser enganado no seu livre-arbítrio, distanciando-se de Deus.
É uma verdade que pode parecer desagradável, mas não deve ser subestimada porque é confirmada pelas Palavras de Deus. No Evangelho (cf. Mt 4, 1-11; Mc 1, 14-15; Lc 4, 1-14) lê-se que Jesus no deserto foi tentado por Satanás e venceu por obediência ao Pai, tornando-se um modelo para nós.
O que pensar do mal?
A maior parte dos homens, sitiada pelas penas cotidianas, não tem tempo de refletir se existem perspectivas de soluções relativas ao mal. Sujeita-se, o suporta e desejaria ser libertado.
Não há filósofo, teólogo, reformador social que possa responder satisfatoriamente à questão do mal, do sofrimento. Somente as palavras de Deus podem lançar um pouco de luz sobre esta realidade. Então, pode ser útil examinar algumas, vendo que soluções propõem e que lições podemos extrair.
A superação do mal depende do progresso da ciência
Aqueles que impedem a possibilidade de Deus entrar na vida dos homens acreditam que os sofrimentos e as misérias do mundo provêm da ignorância e inexperiência do homem. Será o progresso da pesquisa científica e a sua influência nos vários setores da existência humana a fazê-los desaparecer. Que já realizamos muito e que podemos fazer mais e melhor para eliminar as situações de inquietação da humanidade, é obrigatório e razoável que apoiemos. Que seja possível alcançá-las e eliminá-las é uma utopia aqui sobre a terra.
A vida deve ser como é
Outros creem que, no momento, o mal é inevitável porque principia na fragilidade da natureza humana, nada resta além de resignar-se, mas sem se deixar levar pelo pânico. Antes de tudo, não explicam de onde deriva a fragilidade humana e atribuem somente ao homem a responsabilidade do mal no mundo. Não destacam a contribuição que todo homem, aberto à solidariedade e à partilha, pode dar à superação das situações de privação com o próprio trabalho.
O silêncio de Deus diante do mal
Existem os crentes e não crentes que se colocam o dramático ponto de interrogação do silêncio de Deus diante do mal. Para os não crentes, este silêncio seria a prova da não existência de Deus ou de um Deus que ignora suas criaturas. Para os crentes, iluminados pela divina revelação, as respostas tomam duas direções. De um lado, eles afirmam que o Deus dos cristãos é o Deus da vida, não o Deus da morte; Ele não deseja o sofrimento das suas criaturas, mas intervém para sustentá-las e libertá-las. De outro lado, descrevem o modo como este apoio libertador da parte de Deus veio e continua a produzir frutos.
Deus, em Jesus Cristo, se fez solidário com as suas criaturas
Deus, por meio de Jesus Cristo, se fez próximo: de criador tornou-se também redentor, de juiz se ofereceu como vítima. Assumiu a natureza humana no ventre da Virgem Maria por obra do Espírito Santo para tornar-se solidário conosco e compartilhar o nosso sofrimento. Não o eliminou, mas o levou para si mesmo para redimi-lo com a sua paixão e morte, para transfigurá-la. Deus se fez presente, nos encontra, nos fala, nos une a Ele para tornar nosso sofrimento fecundo. Para o cristão que, à luz da fé, reflete sobre a paixão de Jesus, o sofrimento aceito com a ajuda da graça não parece absurdo e injusto, mas um instrumento de purificação e de santificação que se opõe à força do mal. A fé nos oferece a capacidade de empenhar-nos em superá-la, antevendo uma libertação.
Padre Agostino Favale, SDB, é professor emérito de História da Igreja Moderna e Contemporânea e de Espiritualidade da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma, consultor da Congregação para a Causa dos Santos e autor de mais de 180 obras.
Tradução: Elaine Tozetto.
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