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3 de janeiro de 2014

Manuscrito da Terceira Parte do Segredo é objeto de estudo diplomático e paleográfico

Maria José Azevedo Santos é a primeira a destacar a decisão histórica do Santuário de Fátima ao solicitar o estudo diplomático e paleográfico do Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima.

O estudo ainda decorre, mas a investigadora, em entrevista ao jornal oficial do Santuário de Fátima “Voz da Fátima” (edição de 13.01.2014), adianta algumas conclusões e especificidades do documento: trata-se do manuscrito autêntico, foi escrito em papel de carta sem marca de água e, curiosamente, não tem a assinatura da Irmã Lúcia.

Professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, especialista em Diplomática e Paleografia, Maria José Azevedo Santos foi convidada a analisar, à luz destas duas ciências, o Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima, propriedade do Vaticano, atualmente confiado ao Santuário de Fátima que o colocou na exposição temporária “Segredo e Revelação”, patente ao público
até ao final de outubro de 2014.

“Sou mulher, leiga. O convite que me foi feito mostra que a Igreja está aberta a receber contributos das áreas científicas nas quais trabalho, aliás, fundadas por religiosos no século XVII”, afirmou ao destacar “o grande interesse na aliança entre a abordagem pastoral e teológica”, que deixa “para os teólogos e para os que estudam a vida da Irmã Lúcia”, e esta abordagem pelas ciências da Diplomática e Paleografia.

“Este meu testemunho é verdadeiramente um testemunho singular, porque o encargo que recebi é também singular. Fui a primeira mulher leiga a entrar em contato direto com o documento em apreço, com prévia autorização de Sua Santidade, o Papa Francisco, concedida aos delegados do Bispo de Leiria-Fátima”, destaca a investigadora.

Escolhida pelo Reitor do Santuário de Fátima pelas reconhecidas “qualidades técnicas e científicas” nas áreas disciplinares em que é especialista, segundo as palavras do próprio na carta-convite que lhe foi endereçada, Maria José Azevedo Santos diz ter-se sentido “emocionada” com o convite que recebeu, em agosto de 2013.

“É um convite raro, com dimensão e um impacto internacional, o que confere um sentimento de emoção e uma responsabilidade muito grandes a quem o recebe”, refere.

O primeiro contacto

Com a autorização do Arquivo da Congregação para a Doutrina Fé, onde o manuscrito estava depositado, Maria José Azevedo Santos, acompanhada pelo então diretor do serviço de Estudos e Difusão (SESDI) do Santuário de Fátima, padre Luciano Cristino, e pelo diretor do Museu do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte (atual diretor do SESDI), partiram rumo a Roma em inícios de setembro de 2013, onde, durante uma semana, recolheram os elementos necessários ao estudo diplomático e paleográfico do documento.

“Recolhi os elementos que nem a melhor reprodução tecnológica permite; estar em contato com o produto natural é muito importante para a investigação; para recolher todos os elementos era obrigatório contatar diretamente com o Manuscrito”, sublinha Maria José Azevedo Santos, que revela que os métodos que utilizou são os habituais neste tipo de estudo: “trabalhei com todos os métodos, princípios e regras das duas ciências, estudei o documento do ponto de vista interno e extrínseco”.

Entre outras, foram alvo de análise a letra, o uso de abreviaturas, o esmero na execução gráfica, a assinatura (que o documento não possui), a data de lugar e a data cronológica, o tipo e tamanho de papel, a tinta.

As primeiras conclusões

“A Igreja nunca teve dúvidas de que o documento era original. Se a Igreja reclama à Ciência que apresente a sua leitura, poderíamos, é óbvio, encontrar algum elemento contraditório, o que não aconteceu”, refere Maria José Azevedo Santos, para confirmar que “estamos na presença de um documento autêntico, verdadeiro, que saiu das mãos da Irmã Lúcia”.

Maria José Azevedo Santos destaca algumas as caraterísticas do Manuscrito em investigação. Talvez a mais curiosa seja o não ter a assinatura da autora, a Irmã Lúcia. “Não é a ausência de assinatura que invalida a autenticidade do documento; pudemos comparar a letra com outros documentos manuscritos pela Irmã Lúcia e chegar à conclusão de que este, que não está assinado, é da mesma autora. Esta é a conclusão científica”, explica.

Maria José Azevedo Santos, autora da primeira dissertação de doutoramento das áreas da Diplomática e da Paleografia em Portugal – apresentada em 1989 e publicada em 1994 – e acadêmica de número da Academia Portuguesa da História, sublinha que “o documento tem uma dimensão universal, porque o interesse dele não se restringe só à comunidade cristã católica”.

A seu ver, o Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima é “patrimônio da humanidade”.

LeopolDina Simões

Fotografia: Análise do Manuscrito da Terceira Parte do Segredo de Fátima, no Arquivo da Congregação para a Doutrina da Fé,
em setembro de 2013.

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