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23 de março de 2011

A Igreja e a Escravidão indígena e africana

Eis um importante assunto que até hoje é comentado em salas de aula, roda de professores, dentro das igrejas e ainda é muito pesquisado por historiadores e demais cientistas sociais, políticos e teólogos.
Atualmente a Igreja lamenta tais procedimentos, entendimentos, pois assim como toda a sociedade, aprendeu com seus erros, falhas, equívocos, além de olhar para frente e, melhorar e renovar suas formas de pensar.


Tendo isso em mente, vamos a uma breve explicação.
Ressalto que esse texto é uma síntese visando informar e esclarecer possíveis dúvidas sobre o tema, além de cativar o leitor a pesquisar mais profundamente todos os pontos citados ao longo do mesmo, ok?
Existem inúmeros textos que podem ajudar a entender o período, os quais estarei citando ao final.


Recortarei esse tema para a Conquista e Colonização Ibérica na América.
Portugal e Espanha, países católicos, trouxeram junto com os navios e desbravadores, os sacerdotes, os quais tinham a missão de expandir a fé para essas novas terras. Encontraram sociedades nativas com costumes totalmente diversos, ou como diria o antropólogo Lévi Strauss, os europeus encontraram “outra humanidade”. Na colonização espanhola viu-se uma verdadeira “Guerra de Imagens” e a condenação das práticas religiosas dos nativos sendo colocada como “idolatrias” ou “demoníacas”. Realmente essa colonização foi mais dura, observando essas questões, do que a portuguesa.


A sociedade européia, nesse período, teve alguns problemas na forma de lidar com o elemento nativo americano. Num primeiro momento muitos achavam que eles não teriam alma. Depois entenderam que eles eram pessoas puras e necessitavam receber o Evangelho, outros ainda pensavam que deveriam ser tratados como os “mouros” (muçulmanos africanos / árabes). E a Igreja de Roma também precisava lidar com essa situação. Muitos debates foram vistos, livros foram escritos sobre o nativo – “índio”.


A escravidão dos africanos já era uma prática pelas próprias tribos do continente e quando os portugueses passaram a avançar pelo litoral da África, muitas tribos começaram a vender esses escravos, fato que era muito bem visto pelos conquistadores. Com a chegada à América, esses escravos serão a base da mão-de-obra da América Portuguesa.


O projeto colonial português se afirmava desenvolvendo duas formas de intervenção drásticas para a sobrevivência dos povos indígenas: usurpação de suas terras e exploração da sua força de trabalho. Na realidade, os primeiros escravos do Brasil foram os índios, também chamados, na documentação oficial, de “negros da terra” ou “gentío da terra”.


De início, recorreu-se aos indígenas, com o escambo, contudo, os portugueses queriam o trabalho em tempo integral e, para isso, necessitou escravizar os nativos. Eram usados como força de trabalho em tempo de guerra e em tempo de paz: soldados contra o invasor não português e trabalhadores na construção de obras públicas, engenhos, fortalezas, nas plantações do colonizador.


A chamada Igreja Colonial foi baseada em situações controversas. Alguns historiadores afirmam que estudar esse período é algo muito complexo, pois essa sociedade era muito diferente das demais e também foi única.


Os negros foram introduzidos no Brasil a fim de atender às necessidades de mão-de-obra e às atividades mercantis (tráfico negreiro). O comércio de escravos africanos para o Brasil teve início nos primeiros tempos da colonização. Na África os negros eram trocados por aguardentes de cana, fumo, facões, tecidos, espelhos, etc. Os africanos que vieram para o Brasil pertenciam a uma grande variedade de etnias.


Desde o século XVI o Cristianismo tem sido a principal religião do Brasil, predominando a Igreja Católica Apostólica Romana. O catolicismo no Brasil foi trazido por missionários que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses nas terras do Brasil. O catolicismo possui grande presença social, política e na cultura do Brasil.


A Igreja e o Estado possuíam funções e posições muito próximas, como uma forte aliança do tipo “Trono e Altar”, “Cruz e Espada”, entende? Atualmente não vemos essa forte ligação, todavia, nos séculos XV ao XVIII, por exemplo, era um fato muito comum. A Igreja sempre esteve ligada a Coroa portuguesa desde a Idade Média (476-1453) e vemos essa participação também na colonização da América Portuguesa. Os reis exerciam o “Padroado”, ou seja, com a autorização papal eles nomeavam as autoridades religiosas e os religiosos passavam a ser “funcionários” do Estado.


ATENÇÃO!! Não podemos esquecer que nesse momento está o correndo paralelamente a Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero em 1517, e a Igreja de Roma estava com os olhos voltados para evitar que ela se alastrasse por toda a Europa. Assim vemos essa concessão papal visando um auxílio para a evangelização no Novo Mundo. Com isso, os estados controlavam a atividade eclesiástica da colônia por meio do padroado, assim arcava com o sustento da Igreja colonial e ganhava a obediência e o reconhecimento da Igreja de Roma. Além disso, o Estado nomeava os bispos e párocos e concedia licenças para a construção de novas igrejas, ajudando financeiramente todo este processo.


A atuação da Cia de Jesus na América se dará na catequese dos indígenas, utilizando o teatro, a difusão das imagens visando a conversão e o controle social. São contra a escravidão indígena, visam salvar suas almas, modificar seus hábitos e costumes que não condiziam com o Cristianismo.


Os nativos nunca tiveram o contato anterior com o Cristianismo, mas, como já foi mencionado, ainda existia um debate muito visto: se o nativo teria alma ou não.


Em 1549, seis jesuítas da Companhia de Jesus acompanharam o Governador-Geral Tomé de Souza, estes eram chefiados pelo Padre Manoel de Nóbrega, em 1580 os carmelitas descalços chegaram ao Brasil e em 1581 tiveram início às missões dos beneditinos. Durante o século XVI e XVII, o governo português, representado pelos governadores-gerais, buscara o equilíbrio entre o governo central e a Igreja Católica, com o intuito de diminuir e administrar os conflitos existentes entre os missionários, os colonos e os índios.


Eis a famosa pergunta: Por que a Igreja apoiou a escravidão africana??


O contato dos africanos com o Cristianismo não começa nesse período.


Vemos que, ao longo da Idade Média (476-1453), esse contato com os mouros (árabes muçulmanos) no processo re reconquista da península ibérica desde o ano de 711. Vemos também na ação portuguesa em realizar o “périplo africano” nas Grandes Navegações, aonde o Cristianismo se propagou pela costa da África. A religião nativa era contrária aos princípios cristãos, a grande maioria não aceitou o Evangelho, além da religião Islâmica já estar bem propagada e por também não aceitar tais princípios dos cristãos. Podemos entender a postura da Igreja frente a essa problemática por vários ângulos diferentes, pois são muitas as explicações que são dadas. Eis uma explicação:


Assim, a Igreja passou a ver esses que se recusaram a Fé, como descendentes de Cam, personagem bíblico, um dos filhos de Noé, que foi amaldiçoado pelo próprio pai. Tal fato é narrado no livro de Gênesis, no Antigo Testamento: “Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!” (livro do Gênesis 9, 25).


Os mouros foram assim combatidos ao longo de toda a Idade Média. Eram chamados também de infiéis. Os africanos assumem essa conformação e são vistos como escravos, assim como Cam. Contudo, o trabalho forçado garantiria a libertação deles do pecado do paganismo, para serem merecedores da graça eterna, da salvação na outra vida.


Com a chegada à América, os nativos também passariam por esse crivo dos europeus. Por acreditarem que não tinham alma podiam ser tratados como “coisa”, logo eram inferiores e poderiam ser escravizados, explorados. Outros foram tratados da mesma forma que os africanos, pois algumas tribos eram canibais ou realizavam sacrifícios humanos, por exemplo. Surgia assim a chamada Guerra Justa. Os nativos que ficavam nas Missões (vilas administradas por jesuítas) eram evangelizados e não podiam ser escravizados. Porém, esses fatos não era algo perfeitamente concluso, pois gerava muitos debates por religiosos e autoridades na época.


Com o a chegada do Pe. Manuel da Nóbrega (1517-1570), junto com Tomé de Souza; José de Anchieta (1534-1597), em 1553; o padre Antônio Vieira (1608–1697); dentre muitos outros, temos a forte presença religiosa. Eles foram fundamentais para a ampliação da cristianização dos nativos na América Portuguesa, através de seus sermões que valorizavam a vida humana, atacavam os maus tratos dos senhores, assinalavam que os escravos precisavam trabalhar arduamente para purificar seus corpos visando a salvação... Os mesmos padres que apoiavam os senhores, em outros momentos puxavam suas orelhas devido aos maus tratos com os escravos e por privarem eles dos sacramentos da igreja. Em outros textos, os jesuítas criticam os escravos que são preguiçosos, que desafiam os senhores, pois deveriam ser “bons escravos”;


Vemos uma igreja complexa, assim como a sociedade daquele período; não há como separar a Igreja do restante da sociedade, pois ela é regida pelos homens; ela estava dentro de um pensamento típico dos séculos XIV, XV, XVI, XVII, XVIII..., logo não podemos analisar essa Igreja segundo os parâmetros do século XXI; precisamos entender aquele processo histórico, as suas tensões, sua complexidade dentro do seu próprio contexto e imaginário.


Bem, a Igreja de Roma partia do princípio de que detinha a verdade e, por isso, obrigava pela força que todos os demais estivessem de acordo com suas idéias.


Pedidos de Perdão de João Paulo II


João Paulo II, em março de 2000, lançava um documento de 90 páginas, agrupando as incorreções em blocos que abrangem praticamente toda a história da Igreja, pecados contra os direitos dos povos e o respeito à diversidade cultural e religiosa, ou seja, a evangelização forçada colocada a serviço da colonização de povos dominados, além de citar a Inquisição, as Cruzadas, ataques aos judeus, indígenas, árabes, dentre outros. Em 2004, novamente pedia perdão pelos "erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor" (Inquisição).


Ele pediu perdão pelos pecados cometidos pela Igreja Católica durante os últimos dois mil anos, incluindo o tratamento dispensado a pessoas de outras religiões. O Pontífice citou o uso da violência "a serviço da fé" e a hostilidade contra os praticantes de outras religiões


"Estamos pedindo perdão a Deus pelas divisões entre cristãos, pelo uso da violência que, por vezes, praticamente a serviço da fé e por atitude de desconfiança e hostilidade assumidas contra os praticantes de outras religiões", disse o Santo Padre; e humildemente também pediu perdão a Deus pelas "responsabilidades dos cristãos nos males de hoje". O Sumo Pontífice pediu ainda perdão a Deus pelos "erros cometidos por outros contra cristãos. O Papa descreveu a sua ação como uma tentativa para "purificar a memória" de uma triste história de ódio e rivalidades.


Fonte: Juberto Santos











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