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30 de março de 2011

A CIÊNCIA que descobriu a Morte

A morte não é algo desconhecido, porque todo ser humano passa por tal experiência.
Mas, é relativamente tarde que a ciência começou a se interessar pelo fenômeno. 
Há pouco mais de vinte anos que o mundo inteiro ficava surpreso com os resultados de uma pesquisa sobre pacientes terminais ou clinicamente mortos que, depois de sua revitalização, revelaram experiências até agora desconhecidas.
Quem, hoje, pesquisar na Internet essas experiências, chamadas de "near-death-experiences", encontra milhões de sites, que se preocupam com o assunto. 
As assim chamadas "experiências perto da morte", tornaram-se objeto de pesquisas de todo tipo e de interpretações de toda espécie.
Ficou de conhecimento geral que, perto da morte, as pessoas podem passar por experiências intrigantes; sentir-se fora de seu corpo, passar por um túnel escuro, enxergar uma luz clara e brilhante, e fazer a experiência de paz e de harmonia no momento de encontrar-se com essa luz.
As interpretações desses fenômenos, cuja existência não mais podemos negar, são das mais variadas. Uns querem ver nelas as primeiras experiências do além. 
Outros interpretam tudo a partir de mecanismos psicofisiológicos, como últimas descargas bio-elétricas do cérebro. 
A resposta definitiva até hoje não temos, mas há cada vez mais indícios que apontam na direção de uma explicação psicofisiológica.
A descoberta de tais fenômenos levou a ciência a preocupar-se mais com aquela experiência que, até hoje, ainda permanece um dos campos pouco explorados pela ciência: a morte. 
O interesse científico pelo fenômeno cresceu de tal maneira que ressurgiu com novo vigor aquele ramo da ciência que se preocupa com a morte, a assim chamada tanatalogia, cujo campo de interesse vai da medicina e da biologia, até as áreas da antropologia social, da psicologia, da antropologia e da sociologia, e finalmente termina com a filosofia e a teologia.
A preocupação científica com a morte mostrou quão pouco ainda sabemos sobre essa última experiência empírica de todos nós. 
O que acontece conosco na morte?
A famosa pesquisadora Elisabeth Kübler Ross descobriu que, no processo de nosso morrer, se podem distinguir cinco fases bem nítidas. 
A primeira delas está sendo chamada de "choque ou incredibilidade". 
Frente à informação de que a sua morte é inevitável, a pessoa, primeiro, não acredita naquilo que os médicos dizem. Quando, porém, não é mais possível negar o óbvio, entra numa segunda fase, aquela da raiva, da ira, e da inveja. 
"Por que eu? 
Existem mil razões para eu não morrer!" Pessoas que acreditam em Deus começam a culpá-lo. 
"Que Deus é este, que me deixa morrer, sabendo que a minha família ainda precisa de mim!"
O eremita Macario mostra os efeitos da morte, afresco do século 14 no Sacro Speco de Sbiano
Há de fato mil razões para não morrer, e na segunda fase, essas razões estão sendo lembradas. Mas, diante da impossibilidade de impedir o processo do morrer, a pessoa se torna agressiva. Agressiva contra si mesma, agressiva contra Deus, agressiva contra as pessoas em torno dela. 
O pessoal hospitalar que trabalha com moribundos conhece muito bem as explosões de raiva que nessa fase podem acontecer. As pesquisas da tanatologia ajudam-nos a compreender tal comportamento e a tolerá-lo, porque sabemos que, na base de toda essa agressividade, há o profundo desespero daquele que se vê confrontado com o inevitável que lhe inspira medo e do qual quer fugir.
É aqui que se abre todo um campo de ação para uma psicologia hospitalar ainda em formação. Abre-se todo um campo, também, para uma pastoral praticamente inexistente ainda: A pastoral do moribundo. Ela ficaria do lado da pessoa em todos os momentos de seu processo de morrer, ajudando-a a passar com mais facilidade pelas suas fases.
A terceira delas começa a partir do momento em que a pessoa se torna capaz de superar a sua raiva. Com isso, entra na fase da "negociação". Ela tenta negociar um prazo maior. 
"Vou morrer, sim, mas não já, mas o ano que vêm". Em geral, porém, toda negociação não adianta e, assim, a pessoa entra na quarta etapa de seu processo de morrer: a depressão. O moribundo, agora, deve despedir-se do mundo e, nessa ocasião, percebe que ama sua vida muito mais que pensou. Despedir-se dela torna-o triste. 
Mas, realizar a despedida é a condição para poder aceitar a morte. Uma vez realizada tal aceitação, a pessoa se tranqüiliza. Ela, agora, pode falar de seu morrer com serenidade e, muitas vezes, nessa fase, é o moribundo que consola a sua família e não mais a família que consola o moribundo.
São estas as cinco fases do morrer, descobertas e pesquisadas pela tanatologia.
 Mas, além de preocupar-se com esse lado psicossocial do morrer, a mesma tanatologia se interessa também por uma outra questão: quando é que podemos declarar uma pessoa realmente morta?


Nós nos acostumamos a falar de "morte cerebral" ou "morte clínica", mas, em geral, tais termos são compreendidos de maneira muito restrita, assim como se eles designassem a morte da pessoa inteira ou como se fosse um "momento" bem determinado.
Detalhe da Pietá de Giotto. Capela de Scrovegni, Padova
Na realidade, porém, era a Comissão Ética da Universidade de Harvard que propunha o termo, em 1968, como definição da morte. Tal redefinição se fez necessária, frente à nova técnica de transplante de corações.
A noção não determina um
 "momento específico", mas deve ser compreendida muito mais em termos de uma "síndrome" que inclui toda uma escala de sintomas, cuja soma conduz à declaração da morte. Na verdade, essa declaração determina nada além do que a morte de um órgão humano, o cérebro. E as evidências apontam que nem do cérebro inteiro se trata, mas só de uma parte.
Quando essa parte morreu, a medicina declara o paciente morto, e esta declaração, além de seu conteúdo médico, tem também um significado jurídico muito importante. A partir daquela declaração, a pessoa é juridicamente morta. Agora, os seus órgãos podem eventualmente ser usados para transplantes. Do ponto de vista biológico, porém, com a declaração da morte cerebral, esses órgãos ainda estão bem vivos. Eles morrerão, progressivamente, num processo que, só mais ou menos três semanas mais tarde, chegará ao seu fim.
 É este momento que a tanatologia chama de "morte real".


leitura


"Consolo para quem está de luto de Renold J. Blank Edições Paulinas, 2001
A consciência porém, assim como nós a podemos detectar, apaga-se muito antes dessa morte real. Ela se apaga, quando o cérebro, o instrumento através do qual a consciência se manifesta, pára de funcionar. É este o momento que a medicina chama de "morte cerebral".


A grande questão que se põe, frente a todo esse quadro científico, é a indagação se, com a consumação da morte cerebral, a pessoa como tal também parou de existir. A resposta a esta questão vai claramente além do quadro de qualquer ciência empírica. O nosso próximo artigo vai questionar se ainda pode haver vida consciente, depois da morte declarada pela medicina.


Fonte: Renold J. Blank, doutor em Teologia e em Filosofia, é professor titular da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo

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