Conclui-se neste sábado a primeira semana de trabalhos da III Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, que tem como tema central a família. Desde os primeiros momentos do encontro, introduzidos na manhã da última segunda-feira pelo Papa Francisco, pode-se notar na grande Sala do Sínodo um clima diferente. Sim, porque o Papa deixou claro na sua breve introdução que “falar claro é a condição básica”: é preciso dizer tudo o que se sente, a verdade sem temores. Ao mesmo tempo – prosseguiu Francisco – deve-se escutar com humildade e acolher, de coração aberto, o que dizem os irmãos. “Com estas duas atitudes, se exerce a sinodalidade”.
Esta é a atitude que se pode notar nos padres sinodais nas sessões e nos momentos em que cada um pode usar da palavra para expressar ideias e propostas livremente.
Mas por que o Papa Francisco chama ao Vaticano eclesiásticos e leigos – sim temos também a presença de casais que dão o seu testemunho – para tratar de um tema longo quanto a existência do homem? Muitas são as respostas, mas a síntese, creio, seria a necessidade de dar à família o lugar que ela merece em uma sociedade que continuamente muda. Dar à família o papel central, recuperando o seu real valor, reflexo de Deus.
Sabemos perfeitamente quanto a família hoje é alvo de comportamentos que desejam torná-la somente algo privado que não diz respeito à construção da sociedade e aos valores sobre os quais se funda.
Sem entrar no mérito da questão sobre o matrimônio, sacramento que os padres sinodais recordam ser união indissolúvel, não podemos, porém, deixar de notar que existe uma discussão dentro e fora da Igreja, sobre os reais problemas que envolvem os casais: problemas que vão da fidelidade à contracepção; do fim do relacionamento às novas uniões; dos casais héteros aos casais do mesmo sexo. Problemas que estão aí e dizem respeito também à vida ordinária desses casais, junto com a educação dos filhos, a crise econômica e a falta de perspectivas para o futuro. É preciso sair da teoria e ir à prática, colocar a mão na massa e caminhar ao lado dessas pessoas, que muitas vezes se sentem perdidas, sentem que faliram na sua vida, nas suas escolhas e que, principalmente, se sentem rejeitadas dentro da própria Igreja.
Vários pronunciamentos dos padres sinodais nesta semana focalizaram a atenção sobre a linguagem e as linguagens que a Igreja deve usar para responder e fazer-se entender: construir um caminho mediante o qual os fiéis cristãos se aproximem daquilo que é o ideal da família cristã e do matrimônio cristão. Não somente no momento da preparação para o matrimônio, mas em continuidade, com todas as etapas da vida cristã, de modo que haja uma continuidade e uma coerência na formação, preparação e compreensão do sentido de matrimônio e de família.
Seria muito reduzido sintetizar esse Sínodo somente – como frequentemente fazem alguns meios de comunicação – na questão dos casais separados e recasados, mas essa é uma realidade de fato, que atinge muitas pessoas e que esperam uma luz da Igreja e deste Sínodo. Em muitos pronunciamentos foi ressaltado que a Igreja deve apresentar aos casais em dificuldade e aos divorciados recasados não um juízo, mas uma verdade, com um olhar de compreensão. Em um mundo marcado pela influência da mídia ao apresentar ideologias muitas vezes contrárias à doutrina cristã, a Igreja deve oferecer seu ensinamento de modo mais incisivo.
A necessidade não é a de uma escolha entre a doutrina e a misericórdia, mas do início de uma pastoral iluminada para encorajar, sobretudo, as famílias em dificuldade.
Não se deve olhar somente para os remédios para a falência da união conjugal, mas também para as condições que a tornam válida e frutuosa.
A crise das famílias na Igreja e também a crise das famílias cristãs na sociedade, está muito ligada à crise geral de fé neste tempo. A fé não é somente aderir a conteúdos, a ensinamentos, mas é antes de tudo uma adesão pessoal a Cristo, uma escolha, uma aliança com Ele.
Muitos dentro da Igreja defendem uma melhor preparação para o matrimônio – neste caso para evitar falências -, mas a pergunta é óbvia: como se evita uma falência em um relacionamento que já começou de modo errado? Certamente para evitar o erro é necessário começar bem o caminho.
O matrimônio deve ser visto não como um ponto de chegada, mas como um percurso rumo a uma meta mais alta para um autêntico crescimento pessoal e do casal. O matrimônio é um ato livre o qual confiamos a Deus.
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