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4 de outubro de 2013

Sob o signo de Francisco


Foi muito movimentada a semana. Os oito cardeais, membros do agora “conselho permanente” do Papa, se reuniram com ele durante três dias. Em seguida, o Papa Francisco se sentiu na obrigação de visitar Assis, a terra do primeiro Francisco. E precedendo a estes episódios todos, saiu a nova entrevista, desta vez concedida a um ateu professo, diretor do jornal italiano La Repubblica.

Diante deste contexto, parece clara a advertência do Evangelho sobre os “sinais dos tempos”. Se somos capazes de pressentir a chuva, como não perceber que em Roma está se armando um tempo, sujeito a relâmpagos e trovoadas, prometendo bem mais que uma chuva passageira.

Pelos sinais emitidos, aos poucos o Papa Francisco, com firmeza e convicção, vai direcionando suas propostas de mudanças, que prometem ser urgentes e amplas.

A começar pela decisão de dar perenidade ao “conselho de consultores”. Antes de sua primeira reunião, este “Conselho” foi elevado à categoria de órgão permanente, com a finalidade de assessorar o Papa no governo da Igreja.

Para entender o alcance desta medida, é bom relacioná-la com o tempo de Paulo VI, logo após o Concílio. Eram insistentes as recomendações, no sentido de que o Papa criasse um “conselho de cardeais”, para ajudá-lo a implementar as orientações do Concílio. Mas Paulo VI, por sua natural timidez, não criou este “conselho”. Agora o Papa Francisco, por clara decisão tomada e publicada nestes dias, criou esta nova instância do governo eclesial, dando-lhe caráter definitivo, com possibilidade de agregar outras incumbências, e com o número dos seus componentes podendo ser adaptado de acordo com as circunstâncias.

Com isto, o Papa Francisco tem agora o instrumento para acionar as iniciativas que ele julgar oportunas.

Algumas delas, de certa maneira, já foram confidenciadas. Entre elas, sua disposição de abrir o diálogo com a modernidade. Era a grande intenção do Concílio Vaticano II. Cinquenta anos depois, esta disposição parece tomar forma concreta. Assim se expressa o Papa, de maneira clara e incisiva, diante de um interlocutor ateu:

“Os padres conciliares sabiam que abrir-se à cultura moderna significava ecumenismo religioso e diálogo com os não-crentes. Desde então foi feito muito pouco nesta direção. Tenho a humildade e a ambição de querer fazê-lo”.

Portanto, ele decidiu levar em frente o Concílio, que permanece referência indiscutível para a Igreja em nosso tempo.

Outra grande empreitada do Papa é abrir a Igreja para que ela perceba os problemas da humanidade, e os assuma de maneira solidária. Depois de comentar a situação em que vivem hoje os jovens, sem trabalho e sem futuro, e o abandono em que se encontram as pessoas idosas, ele afirma claramente que este problema precisa ser assumido pela Igreja: “Isto é o problema mais urgente que a Igreja tem pela frente.”

Portanto, o Papa quer uma Igreja aberta aos problemas que hoje a humanidade enfrenta. Esta decisão do Papa leva a outra, agora definida claramente. Diz respeito à Cúria Romana. Reconhecendo seus muitos valores, aponta o problema principal de que ela padece. No dizer do Papa, a Cúria Romana é muito “vaticano-cêntrica”... “vê e cuida dos interesses do Vaticano...e descuida do mundo que nos circunda”.

É uma análise pesada que o Papa faz da Cúria Romana. Diante disto, assume uma posição corajosa e firme, dizendo textualmente: “ Não compartilho com esta visão, e farei tudo para mudá-la”.

Assim, vão ficando claros os propósitos renovadores do Papa Francisco. Ele se mostra muito disposto a levá-los em frente, conforme revelou para o jornalista Eugênio Scalfari: “farei o que for possível para cumprir o mandato que me foi confiado”.

D. Demétrio Valentini

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