Alguns textos magisterias a serem observados
Hoje, se tem desenvolvida teologicamente uma teoria que milita ampliar o conceito de Igreja para que se sustente a letra do dogma Fora da Igreja Não Há Salvação. Diante da solidez da afirmação dogmática, arquitetou-se incrementar o número dos que integram a Igreja e assim poder continuar afirmando que fora da Igreja (bem mais ampla do que é realmente) não há salvação. Com isso, a problemática passou a ter seu foco principal voltado para uma questão de eclesiologia mais ampla, o que, conseqüentemente, tornou ainda mais complexa a discussão do tema nos dias atuais, levando analistas a abdicarem da árdua tarefa do aprofundamento exigido e a aceitar passivamente tal teoria.
Porém, colocada à devida prova, rapidamente se constata que essa teoria amplia indevidamente o número dos que se qualificam como membros integrantes da Igreja. Mas, como a doutrina da Igreja não se restringe às atuais propostas teológicas, recorre-se ao Catecismo Romano, o qual apresenta de forma bastante precisa quem não deve ser contado entre os integrantes da Igreja:
Só três classes de homens são excluídos da comunhão com a Igreja. Em primeiro lugar, os infiéis; em segundo, os hereges e cismáticos; por último, os excomungados. Os pagãos, realmente, porque nunca estiveram no seio da Igreja; não a conheceram, nem se tornaram participantes de nenhum Sacramento, na comunidade do povo cristão. Os hereges e cismáticos, porque apostataram da Igreja. Pertencem tampouco à Igreja, como os desertores fazem parte do exército, que abandonaram. É certo todavia, que continuam sob o poder [coercitivo] da Igreja, que os pode julgar punir e excomungar. Afinal, os excomungados, que são excluídos judicialmente da Igreja, que os pode julgar punir, e excomungar. (CATECISMO ROMANO. Redigido por decreto do Concílio Tridentino. Anápolis: Serviço de Animação Eucarística Mariana, 2006, p. 162).
Há não poucas iniciativas de se tentar assinalar uma divisão e uma não-coincidência entre a Igreja visível e a Igreja invisível. Porém, catalogamos mesmo a Lumen Gentium, que chega a dizer explicitamente o contrário:
A sociedade provida de órgãos hierárquicos e o Corpo Místico de Cristo, a assembléia visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja enriquecida dos bens celestes, não devem ser considerados duas coisas, mas formam uma só realidade complexa. (Constituição dogmática Lumen Gentium, n. 8. In: Compêndio do Vaticano II. Constituições, decretos, declarações. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 46).
Leão XIII, na encíclica Satis Cognitum, enfatiza tal questão, esclarecendo como se dá essa união:
Cristo é uno pela união das duas naturezas e nas duas naturezas, a visível e a invisível. Analogamente Seu Corpo Místico não seria a verdadeira Igreja se seus elementos visíveis não recebessem a força e a vida dos dons sobrenaturais e dos outros elementos invisíveis, dos quais nasce sua própria essência e natureza. (LEÃO XIII. Encíclica Satis Cognitum, n. 4).
Pio XII, em sua encíclica Mystici Corporis, também contribui para maior elucidação e reto entendimento:
Se a Igreja é um corpo, deve necessariamente ser um todo sem divisão, segundo aquela sentença de Paulo: "Nós, muitos, somos um só corpo em Cristo" (Rm 12, 5). E não só deve ser um todo sem divisão, mas também algo concreto e visível, como afirma nosso predecessor de feliz memória Leão XIII, na encíclica "Satis cognitum": "Pelo fato mesmo que é um corpo, a Igreja torna-se visível aos olhos". Estão pois longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma, que não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa "pneumática" que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé.
(PIO XII. Encíclica Mysticy Corporis, n. 14. In: Documentos de Pio XII: Trad. Poliglota Vaticana. São Paulo: Paulus, 1998, p. 147).
Não se quer dizer que todos dentro da Igreja estejam salvos. O Catecismo Romano deixa bem claro este ponto:
Há, porém, na Igreja militante duas categorias de homens: bons e maus. Certo é que os maus participam com os bons, dos mesmos Sacramentos, professam a mesma fé, mas não lhes são semelhantes nem na vida, nem nos costumes. Os bons, na Igreja, são aqueles que estão unidos e ligados entre si, não só pela profissão de fé e participação dos sacramentos, mas também pelo espírito da graça e pelo elo da caridade. Deles é que se declarou: "O Senhor sabe quem são os seus". (2 Tm 2, 19). Nós homens podemos conjeturar, mas nunca saber com certeza, quais são os que pertencem ao número dos justos. (CATECISMO ROMANO. Redigido por decreto do Concílio Tridentino. Anápolis: Serviço de Animação Eucarística Mariana, 2006, p. 161).
Essa mesma proposta também é endossada pelo Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã:
Não basta para nos salvarmos sermos de qualquer maneira membros da Igreja Católica, mas é preciso que sejamos seus membros vivos. Os membros vivos da Igreja são todos os justos e só eles, isto é, aqueles que estão atualmente em graça de Deus. Membros mortos da Igreja são os fiéis que estão em pecado mortal. Quem, sendo muito embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, seria membro morto, e portanto não se salvaria, porque para a salvação de um adulto requer-se não só o Batismo e a fé, mas também as obras conformes à fé. (PIO X. Catecismo maior de São Pio X. Anápolis: Edições Santo Tomás, 2005, n. 165-171, p. 69-70).
Portanto, erram aqueles que diminuem as condições exigidas para o homem se fazer apto a ver Deus face a face no além-físico, e relativizam os preceitos da fé católica.
Fonte:Claudiomar Ferreira de Medeiros Filho
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