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24 de abril de 2013

Gravidade do pecado, necessidade da oração, misericórdia divina

Um atento leitor do best-seller de autoria de Antonio Augusto Borelli Machado, As aparições e a mensagem de Fátima, conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, livro divulgado no mundo inteiro pelas TFPs, enviou perguntas, pedindo esclarecimentos sobre certos pormenores das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, em 1917, aos três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta.

O autor da referida obra elucidou sinteticamente as questões propostas. Julgamos que seria de interesse também de nossos leitores -- tão atentos a tudo quanto se relacione com Fátima -- tomar conhecimento desses detalhes ricos de conteúdo doutrinário.

1ª. pergunta: Na Parte II, p.40, Lúcia pergunta a Nossa Senhora a respeito do destino eterno de Amélia. A Virgem responde-lhe dizendo que Amélia ficará no Purgatório até o fim do mundo. Quem era essa Amélia?

Quarto de Francisco em Aljustrel –– A tal Amélia, a respeito da qual Nossa Senhora disse que ficaria no Purgatório até o fim do mundo, era uma jovem de Aljustrel (aldeia onde moravam os videntes), e que ficara conhecida por uma “irremediável desonra em matéria de castidade”, segundo afirma o historiógrafo de Fátima, Cônego Sebastião Martins dos Reis (Síntese crítica de Fátima, 1967, p. 64, nota 40).

2ª. pergunta: Por que tanto rigor com uma alma? Por que deixar alguém sofrendo no Purgatório até o fim do mundo?

-- Em primeiro lugar, cabe ponderar que os juízos de Deus são infalíveis, porque Ele tem um conhecimento perfeito do que cada alma fez. Sendo infinitamente justo não castiga ninguém além da medida, e sendo infinitamente misericordioso, até mitiga algum tanto o seu castigo. Nem sempre aquilo que parece mais razoável a nossa mente limitada e falível corresponde ao conhecimento infinito que Deus tem das almas. Posta a questão nestes termos, devemos proceder segundo a lógica inaciana dos Exercícios Espirituais, e não concluir que Deus é excessivamente severo, mas que o pecado é um ato tão grave que merece um castigo tão severo... E ainda mais temperado pela misericórdia infinita de Deus!

No caso concreto da Amélia, está se vendo bem quanto Deus abomina a perda da virgindade fora do Sacramento do Matrimônio, o que deve arrepiar um número incontável de fiéis que foram formados na escola permissivista que se difundiu em certos ambientes católicos, especialmente após o Concílio Vaticano II. Ademais, como podemos saber nós que outros pecados graves terá cometido essa pessoa? Deus entretanto o sabe.

Jacinta e Lúcia na época das aparições Se algo em nós não está em sintonia com essa avaliação da extrema gravidade do pecado em geral, e do pecado contra a castidade em particular, devemos reformar os nossos critérios à luz da doutrina católica e da lógica inaciana acima lembrada.

Todo pecado mortal é um ato extremamente sério, pois é uma ofensa a Deus, um ato de revolta contra Deus, que nos torna inimigos de Deus e réus do inferno. Se a pessoa dele se arrepende, Deus retoma a sua amizade, mas não deixa de cobrar a pena devida a esse pecado, na Terra ou no Purgatório.

Por fim, cabe observar que tanta gente deve ter tido pena dessa Amélia, e rezado por ela, que a sentença inicial dada por Deus pode ter sido comutada, e quiçá já esteja até no Céu. Pois, como é sabido, nossas orações e sacrifícios – sobretudo o Santo Sacrifício da Missa – aliviam as penas das almas do Purgatório. Tal é a consoladora doutrina católica, severa nas suas austeridades, e suave nos seus perdões. Fica aqui um convite a nosso leitor, que se interessou por Amélia, a que reze por ela.

3ª. pergunta: Por que teria Nossa Senhora sido rigorosa com o Francisco, dizendo que ele só iria para o Céu se rezasse muitos Rosários?

Para as duas outras videntes Ela não estabeleceu o mesmo.
Transladação dos restos mortais de Jacinta para o jazigo na Basílica da Cova da Iria, em 1º de maio de 1951 -- Quanto ao Francisco, embora não tivesse senão nove anos, algo não andava bem na retidão de sua alma em relação a Deus, razão pela qual Nossa Senhora disse que ele teria que rezar muitos terços, antes de entrar no Céu. Por isso, entre os videntes de Fátima, como sublinhava o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ao comentar as aparições, Francisco é o modelo das almas penitentes. Talvez tenha sido, dos três videntes, o que melhor discerniu o sentido profundo da Mensagem de Fátima. Corrobora essa impressão o livro do Pe. Joaquín María Alonso, Doctrina y espiritualidad del mensaje de Fátima (Arias Montano Editores, Madrid, 1990), que realça muito a figura do já hoje venerável Francisco.

Jacinta, ao que tudo indica, não perdera sua inocência de alma, e daí o não ter Nossa Senhora indicado nenhuma exigência especial para ela.

Quanto à Irmã Lúcia, era a vidente principal, e sobre ela Nossa Senhora tinha desígnios especiais. O que não nos impede de lembrar que ela foi um tanto mole em enfrentar as dificuldades que lhe acarretavam as aparições, a ponto de ser admoestada pela própria Jacinta. Não é fácil a vida de uma vidente autêntica!

4ª. pergunta: Na Parte III, p. 66, Jacinta refere-se à sua madrinha. Quem é ela? Seria a Madre Maria da Purificação Godinho?
-- Jacinta chamava sua madrinha a Madre Maria da Purificação Godinho, que a assistiu no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, e recolheu muitas de suas reflexões. Essa Madre Godinho alegou anos depois ter tido ela mesma algumas revelações de Nossa Senhora, sobre uma Congregação religiosa que ela deveria fundar. Como a autenticidade dessas revelações deixou dúvidas, alguns autores pretendem pôr em dúvida tudo quanto Madre Godinho afirmou de Jacinta. Tal não me parece criterioso, pois segundo a praxe canônica, e mesmo a praxe processual civil, o valor de um testemunho se mede pela credibilidade da testemunha na época do depoimento, e não pelo que ela venha a fazer depois. E, ademais, o que Madre Godinho diz como proveniente de Jacinta é tão consonante com tudo o mais da Mensagem de Fátima, que considero totalmente arbitrário riscar esse depoimento pela conduta futura da depoente.

Jacinta e Francisco: dois videntes já declarados veneráveis

Francisco “Um processo de beatificação é o processo mais rigoroso da Igreja. Neste caso [de Francisco e Jacinta], durante seis meses de estudo dos relatórios, dezoito peritos da matéria debruçaram-se sobre a vida dos dois pequeninos e com grande admiração pelas suas virtudes deram o seu voto positivo, por escrito, à Congregação para as Causas dos Santos. Tendo essa votação depois sido apresentada ao Santo Padre, este mandou preparar o Decreto sobre as virtudes heróicas dos Pastorinhos e em 13 de Maio de 1989 reconheceu oficialmente perante a Igreja a vida santa de Francisco e Jacinta Marto. Isto quer dizer: os dois Pastorinhos da Cova da Iria são santos e particularmente venerados como tal.

“E o que falta para que essa veneração venha a tornar-se pública?

“Para que tudo isso seja permitido, a Igreja exige um milagre por sua intercessão, provado cientificamente.

“Esta prova está a correr em Roma, no Vaticano. Esperamos com fé firme que este exame duma cura extraordinária termine em breve. Os seus nomes já são conhecidos por todo o mundo. Foi justamente isso que tanto impressionou a Igreja. Embora o resultado negativo duma consulta às diferentes Comissões na Congregação para as Causas dos Santos sobre a possibilidade das virtudes heróicas nas crianças e nos jovens tivesse obrigado o Papa Pio XI, em 1937, a mandar arquivar todos os processos de crianças e jovens até à idade de 17 anos, até então aceitos em Roma, os processos dos Pastorinhos obrigaram a Igreja a rever a sua posição e a abolir o cancelamento papal.

“Jacinta, depois de ver o inferno, só se preocupava com a salvação das almas em perigo de se perderem para sempre.

Jacinta Marto “No fim da sua vida ainda multiplicava os sacrifícios. O que lhe custou mais foi ter deixado a família para ir ser tratada num hospital em Lisboa e lá morrer sozinha. ‘Ó meu Jesus, agora podes converter muitos pecadores, porque este sacrifício é muito grande’. Francisco chegou, por meio da meditação dos mistérios do terço, aos vértices da contemplação, só queria ficar com Jesus, que se encontrava triste por causa dos pecadores, e procurava consolá-lo continuamente, realizando o pedido do Anjo: ‘Consolai o Vosso Deus’.

“ Depois das visões, parecia ter recebido a vocação de eremita: escondia-se atrás das rochas e das árvores para rezar sozinho; outras vezes subia aos lugares mais elevados e solitários e aí entregava-se tão intensamente à meditação e à oração que nem ouvia as vozes dos que o chamavam. ‘Que belo é Deus, que belo! mas está triste por causa dos pecados dos homens. Eu quero consolá-Lo, quero sofrer por seu amor’.

“Termino repetindo a profecia do Santo Padre Pio X: ‘Haverá santos entre as crianças!’ Acrescentando: ‘Haverá sim, haverá em breve!’”


Fonte: Pe. Luís Kondor, Vice-Postulador das Causas,
Haverá santos entre as crianças... em breve,
L'Osservatore Romano”, edição em português, 6 de março de 1999



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