Em síntese: Missas Gregorianas são trinta Missas consecutivas, que, segundo a Tradição, vêm a ser especialmente benéficas para as almas do purgatório. Têm sua origem numa história narrada por S. Gregório Magno (+ 604). A Tradição, no caso, não fundamenta um artigo de fé, de modo que cada fiel católico é livre para crer ou não na especial eficácia de tal série gregoriana. Importa não conceber o purgatório como um cárcere ou uma punição de pecadores, para os quais os vivos na terra poderiam obter a anistia do Senhor Deus.
A Redação de PR recebeu o seguinte e-mail:
"Recentemente um parente próximo faleceu, devido a disparo de arma de fogo.
A investigação policial ainda não concluiu o inquérito, mas há no mínimo duas hipóteses; suicídio ou assassinato.
Neste momento os parentes escutam muita bobagem e muitas sugestões horríveis.
Entretanto estou escrevendo para esclarecer uma dúvida que surgiu.
Dizem que, quando uma pessoa morre em situações trágicas, sua alma necessita de muita oração.
Então surgiu a opção de missas gregorianas (trinta ou quarenta missas consecutivas).
Solicito sua gentileza e sua atenção para responder ou dizer algo em nosso auxílio".
A esta pergunta será prestada resposta em duas etapas:
1) significado dos sufrágios pelos defuntos;
2) Missas Gregorianas.
1. Sufrágios pelos defuntos:
significado:
Qualquer pessoa falecida é acompanhada pelas orações dos sobreviventes na terra. Pouco importa, no caso, o tipo de morte por que passou; o falecimento brutal não requer necessariamente mais orações do que a morte tranquila.
Essas orações são chamadas sufrágios, isto é, votos, anseios. Não visam a pedir a Deus anistia ou compaixão para as almas do purgatório, pois este não é um cárcere nem um castigo, que Deus poderia abrandar ou cancelar a pedido dos parentes e e amigos da pessoa defunta.
É preciso remover radicalmente a concepção de purgatório-castigo ou cárcere. O purgatório é, antes, uma concessão da misericórdia divina feita ao cristão que morre com o seu amor voltado para Deus, mas ainda contraditado por tendências desregradas (impaciência, maledicência, vaidade, orgulho...);
tal cristão é chamado a ver Deus face a face ou a participar do banquete do Cordeiro; para tanto, deve estar com a veste nupcial rematada e totalmente limpa (isenta de resquícios do pecado); se não conseguiu preparar a sua veste antes de deixar este mundo, deverá fazê-lo no além, não em um tanque de enxofre fumegante nem num lugar dimensional, mas num estado psíquico chamado purgatório.
A duração do purgatório não se mede pelo tempo astronômico (dias, semanas, meses e anos), mas pelo tempo psicológico (atos de conhecimento e amor, que vão extinguindo o apego ao pecado e às escórias).
Sobre este pano de fundo, as orações pelas almas do purgatório pedem a Deus que dê a tais almas a graça necessária para que, sem demora, possam vencer a resistência do "pecadinho" ao amor de Deus.
A experiência ensina, nesta vida, como os maus hábitos, mesmo os mais leves, estão arraigados no fundo do ser humano e se manifestam sorrateiramente, mesmo depois de um ato de arrependimento sincero e profundo; dificilmente alguém consegue extirpar por completo todas as suas tendências desregradas, que se exprimem pela soberba, a vaidade, a inveja, a preguiça...
As Missas Gregorianas são especial modalidade de sufragar os fiéis defuntos, como se dirá a seguir.
2. Missas Gregorianas
No tocante aos sufrágios pelos defuntos, o Papa S. Gregório Magno (+ 604) deu origem ao costume das Missas diárias consecutivas: podiam ser três, sete, dez, trinta ou mais.
A série de trinta tornou-se famosa com o nome de "Missas gregorianas", baseadas no seguinte episódio narrado por S. Gregório Magno, outrora monge no mosteiro do Monte Célio (Roma):
Certo monge chamado Justo morreu; após o quê, foram descobertas três moedas de ouro ocultas entre os seus objetos de uso; tratava-se de algo ilícito no mosteiro. O Abade Gregório muito se entristeceu com o fato, pois o irmão havia falecido em situação irregular; devia purificar-se dessa falha no purgatório póstumo. Chamou então o monge Prior e mandou-lhe que fizesse celebrar uma série de Missas em dias consecutivos sem interrupção.
A ordem foi sendo executada, de tal modo que certo dia o falecido monge Justo apareceu a seu irmão Copioso (monge do mesmo mosteiro), comunicando-lhe que havia sofrido as penas do purgatório até aquele dia, em que fora libertado; os monges haviam perdido a conta das Missas; todavia, ao ouvirem a notícia trazida por Copioso, verificam que o fato ocorrera após a celebração da trigésima Missa (ver Diálogos, livro IV, 55).
Este episódio tornou-se paradigma, dando origem ao costume de se celebrarem trinta Missas consecutivas por um defunto, sem interrupção, na esperança de que, após a trigésima Missa, este, tendo expiado as suas faltas, entre no gozo da visão beatífica.
À "série gregoriana" não se devem atribuir efeitos supersticiosos ou mágicos; a Igreja deixa a cada fiel a liberdade de aceitar ou não tal prática, que nada contém de herético, mas se deriva de revelação particular.
O próprio S. Gregório Magno escrevia:
"É mais seguro alguém fazer por si mesmo, enquanto vivo, o bem que espera ser-lhe feito, depois de morto, pelos outros; é melhor livre partir desta vida do que como prisioneiro, depois da morte, procurar a liberdade" (Diálogos, livro IV 58).
Com estas palavras, São Gregório Magno rechaçava qualquer atitude de magia ou superstição, ensinando a vivência sacramental clássica no decorrer desta vida.
Fonte: Revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 453 - Ano 2000 - p. 92
A Redação de PR recebeu o seguinte e-mail:
"Recentemente um parente próximo faleceu, devido a disparo de arma de fogo.
A investigação policial ainda não concluiu o inquérito, mas há no mínimo duas hipóteses; suicídio ou assassinato.
Neste momento os parentes escutam muita bobagem e muitas sugestões horríveis.
Entretanto estou escrevendo para esclarecer uma dúvida que surgiu.
Dizem que, quando uma pessoa morre em situações trágicas, sua alma necessita de muita oração.
Então surgiu a opção de missas gregorianas (trinta ou quarenta missas consecutivas).
Solicito sua gentileza e sua atenção para responder ou dizer algo em nosso auxílio".
A esta pergunta será prestada resposta em duas etapas:
1) significado dos sufrágios pelos defuntos;
2) Missas Gregorianas.
1. Sufrágios pelos defuntos:
significado:
Qualquer pessoa falecida é acompanhada pelas orações dos sobreviventes na terra. Pouco importa, no caso, o tipo de morte por que passou; o falecimento brutal não requer necessariamente mais orações do que a morte tranquila.
Essas orações são chamadas sufrágios, isto é, votos, anseios. Não visam a pedir a Deus anistia ou compaixão para as almas do purgatório, pois este não é um cárcere nem um castigo, que Deus poderia abrandar ou cancelar a pedido dos parentes e e amigos da pessoa defunta.
É preciso remover radicalmente a concepção de purgatório-castigo ou cárcere. O purgatório é, antes, uma concessão da misericórdia divina feita ao cristão que morre com o seu amor voltado para Deus, mas ainda contraditado por tendências desregradas (impaciência, maledicência, vaidade, orgulho...);
tal cristão é chamado a ver Deus face a face ou a participar do banquete do Cordeiro; para tanto, deve estar com a veste nupcial rematada e totalmente limpa (isenta de resquícios do pecado); se não conseguiu preparar a sua veste antes de deixar este mundo, deverá fazê-lo no além, não em um tanque de enxofre fumegante nem num lugar dimensional, mas num estado psíquico chamado purgatório.
A duração do purgatório não se mede pelo tempo astronômico (dias, semanas, meses e anos), mas pelo tempo psicológico (atos de conhecimento e amor, que vão extinguindo o apego ao pecado e às escórias).
Sobre este pano de fundo, as orações pelas almas do purgatório pedem a Deus que dê a tais almas a graça necessária para que, sem demora, possam vencer a resistência do "pecadinho" ao amor de Deus.
A experiência ensina, nesta vida, como os maus hábitos, mesmo os mais leves, estão arraigados no fundo do ser humano e se manifestam sorrateiramente, mesmo depois de um ato de arrependimento sincero e profundo; dificilmente alguém consegue extirpar por completo todas as suas tendências desregradas, que se exprimem pela soberba, a vaidade, a inveja, a preguiça...
As Missas Gregorianas são especial modalidade de sufragar os fiéis defuntos, como se dirá a seguir.
2. Missas Gregorianas
No tocante aos sufrágios pelos defuntos, o Papa S. Gregório Magno (+ 604) deu origem ao costume das Missas diárias consecutivas: podiam ser três, sete, dez, trinta ou mais.
A série de trinta tornou-se famosa com o nome de "Missas gregorianas", baseadas no seguinte episódio narrado por S. Gregório Magno, outrora monge no mosteiro do Monte Célio (Roma):
Certo monge chamado Justo morreu; após o quê, foram descobertas três moedas de ouro ocultas entre os seus objetos de uso; tratava-se de algo ilícito no mosteiro. O Abade Gregório muito se entristeceu com o fato, pois o irmão havia falecido em situação irregular; devia purificar-se dessa falha no purgatório póstumo. Chamou então o monge Prior e mandou-lhe que fizesse celebrar uma série de Missas em dias consecutivos sem interrupção.
A ordem foi sendo executada, de tal modo que certo dia o falecido monge Justo apareceu a seu irmão Copioso (monge do mesmo mosteiro), comunicando-lhe que havia sofrido as penas do purgatório até aquele dia, em que fora libertado; os monges haviam perdido a conta das Missas; todavia, ao ouvirem a notícia trazida por Copioso, verificam que o fato ocorrera após a celebração da trigésima Missa (ver Diálogos, livro IV, 55).
Este episódio tornou-se paradigma, dando origem ao costume de se celebrarem trinta Missas consecutivas por um defunto, sem interrupção, na esperança de que, após a trigésima Missa, este, tendo expiado as suas faltas, entre no gozo da visão beatífica.
À "série gregoriana" não se devem atribuir efeitos supersticiosos ou mágicos; a Igreja deixa a cada fiel a liberdade de aceitar ou não tal prática, que nada contém de herético, mas se deriva de revelação particular.
O próprio S. Gregório Magno escrevia:
"É mais seguro alguém fazer por si mesmo, enquanto vivo, o bem que espera ser-lhe feito, depois de morto, pelos outros; é melhor livre partir desta vida do que como prisioneiro, depois da morte, procurar a liberdade" (Diálogos, livro IV 58).
Com estas palavras, São Gregório Magno rechaçava qualquer atitude de magia ou superstição, ensinando a vivência sacramental clássica no decorrer desta vida.
Fonte: Revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 453 - Ano 2000 - p. 92
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