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13 de setembro de 2012

A verdadeira Igreja - parte III

Argumentos da tese católica. 

Segundo os historiadores católicos, a hierarquia da Igreja remonta às origens do cristianismo.
Como já advertimos, é fora de dúvida que a Igreja foi progredindo quanto as formas externas da sua organização; mas afirmamos - e este é o único ponto controverso - que a evolução se fez normalmente.

Os protestantes e os modernistas admitem que a Igreja, desde o tempo de S. Ireneu, do papa S. Vitor e da controvérsia pascal, possui uma autoridade de ensino e de governo, isto é, que a Igreja é hierárquica. Não é difícil provar que já o era muito antes, que o foi sempre e que não existiu era pré-católica. Não são, é certo, numerosos os documentos em que se apóia a nossa tese, mas são decisivos. Os principais, por ordem decisiva, são:

Testemunho de S. Ireneu. Não se deveria aduzir o testemunho de S. Ireneu, visto que os racionalistas concedem que a Igreja no seu tempo já estava hierarquicamente organizada. Mas relatamo-lo porque é de estrema importância e nos facilita a ascensão aos tempos primitivos da era cristã. S. Ireneu, argumentando contra os hereges, apresenta o caráter hierárquico da Igreja, como um fato notório que ninguém pode negar, como uma fundação de Cristo e dos Apóstolos. Ora, como podia reivindicar para a Igreja cristã a origem apostólica, se os seus adversários pudessem apresentar provas de fundação recente na hierarquia?

Testemunho de S. Policarpo. Se de S. Ireneu passarmos à geração precedente, encontraremos o testemunho de S. Policarpo, que, pelos meados do século II designa os pastores como “chefes da hierarquia e guardas da fé”. Entre os testemunhos do século II poderíamos citar ainda: o de Hegesipo que mostra as igrejas governadas pelos Bispos, sucessores dos apóstolos, o de Dionísio de Corinto, que escreve na sua carta à Igreja romana que a Igreja de Corinto guarda fielmente as admoestações recebidas outrora do papa Clemente e o testemunho de Abécio. Naquela célebre inscrição do fim do século II, Abécio, talvez Bispo de Hierápolis, conta que nas suas viagens pelas Igrejas cristãs, encontrou por toda parte a mesma fé,, a mesma Escritura, a mesma Eucaristia.

Testemunhos de S. Inácio de Antioquia (+110) e de S. Clemente de Roma (+100). Com esses dois testemunhos chegamos ao princípio do século II, ou fins do século I. S. Inácio fala, na sua Epístola aos Romanos, da Igreja de Roma como centro da cristandade: “Tu (Igreja de Roma) ensinaste as outras. E eu quero que permaneçam firmes as coisas que tu prescreves pelo teu ensino” (Rom. IV, 1). Cerca do ano 96, S. Clemente Romano, discípulo imediato de S. Pedro e S. Paulo, escreveu uma carta aos Coríntios, na qual nos dá da Igreja noção equivalente à de Ireneu, apresentando a hierarquia como a guarda da Tradição e a Igreja de Roma com a primazia universal sobre todas as Igrejas locais.

Deste modo, de geração em geração, chegamos aos tempos apostólicos. Os testemunhos dos Atos dos Apóstolos, com termos claros e explícitos, falam-nos da existência de uma sociedade que tem a sua hierarquia visível, a sua regra de fé e o seu culto:

Hierarquia visível. Desde o primeiro alvorecer do cristianismo, os apóstolos desempenharam a dupla função de dirigentes e pregadores. Escolheram Matias para ocupar o lugar de Judas (At. I, 12-26). No dia de Pentecostes S. Pedro começou a sua pregação e fez numerosas conversões (At. II, 37). Pouco depois os apóstolos instituíram diáconos nos quais delegaram parte dos seus poderes (At. VI, 1-6).

Regra de fé. É incontestável que entre os primeiros cristãos alguns foram favorecidos com os dons do Espírito Santo, ou carismas, mas não exageremos, nem julguemos que as primeiras comunidades eram apenas núcleos místicos de judeus piedosos, que recebiam os dogmas por meio das inspirações do Espírito Santo. Os carismas eram um motivo de credibilidade que levava as almas à fé ou as mantinha no fervor religioso. Não eram regra de fé, mas estavam subordinados ao magistério dos apóstolos e à fé recebida, como se vê em S. Paulo, que regula o uso dos carismas nas assembléias (I Cor. XIV, 26-40) e não hesita em declarar que nenhuma autoridade pode prevalecer sobre o Evangelho que ela ensinou (I Cor. XV, 1).

Portanto, o cristianismo primitivo tinha uma regra de fé que lhe veio dos apóstolos. Não é complicada e resume-se em poucas palavras. Geralmente os apóstolos ensinavam nas suas pregações que Jesus realizou a esperança messiânica, que é o Senhor a quem são devidas as honras divinas e que só nele há salvação (At. IV, 12).

Esta é a doutrina elementar, que os Apóstolos impunham a todos os membros do cristianismo. Nada absolutamente é deixado à inspiração individual; quando surge alguma controvérsia no seio da Igreja nascente, é levada aos Apóstolos como a autoridade incontestável e única, com poder de a dirimir.

Culto. A leitura dos Atos dos Apóstolos testifica-nos claramente que a sociedade cristã possuía e observava ritos especificamente distintos dos judaicos: o batismo, a imposição das mãos para conferir o Espírito Santo e a fração do pão.

Conclusão. Podemos inferir desta longa discussão que a Igreja Católica, logo no princípio da sua existência, era uma sociedade hierárquica, conforma ao dogma católico. O que os racionalistas chamam época pré-católica é uma falsidade. Se os apóstolos logo depois da Ascensão do Senhor falam e procedem como chefes, é porque julgam possuir o direito e os poderes inerentes ao seu cargo. E, se eles se crêem investidos desse poderes, é muito provavelmente porque o receberam de Cristo. Por conseqüência, os textos evangélicos estão de acordo com a historie a não há motivo algum para os adversários afirmarem que são interpolações. A nossa tese fica, portanto, solidamente provada com os dois argumentos escriturístico e histórico.

§ 2. - Jesus Cristo fundou uma hierarquia permanente. A sucessão apostólica

1. Estado da questão

Provamos no parágrafo precedente que Jesus Cristo fundou uma Igreja hierárquica pelo fato de ter instituído uma autoridade de ensino e governo na pessoa dos apóstolos. Vejamos agora se a jurisdição conferida aos apóstolos era transmissível e, em caso afirmativo, em devia recair a sucessão.

Também aqui há duas teses: a racionalista e a católica.

Na primeira não se põe o problema da transmissão da jurisdição apostólica, porque, segundo ela, a hierarquia não é instituição de origem divina, mas meramente humana. Assim, o episcopado é o resultado de várias circunstâncias e necessidades da primitiva Igreja. Veremos mais adiante as circunstâncias a que os racionalistas atribuem a sua origem.

Segundo a tese católica o episcopado é de direito divino e os bispos, tomados no seu conjunto, são os sucessores dos apóstolos, dos quais receberam os poderes e os privilégios inerentes ao cargo. Esta tese prova-se com dois argumentos:

Um escriturístico; e

Um histórico no qual refutaremos a tese racionalista.

Argumento escriturístico. Os textos do Evangelho devem servir-nos para tratar a questão de direito, a saber, se a autoridade era transmissível. Ora, a resposta deduz-se claramente dos textos já citados e, em particular, das palavras que nosso Senhor empregou quando constituiu os Apóstolos chefes da sua Igreja. Que outras coisas significam as suas palavras: “Ide, ensinai todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar todas as coisas que vos tenho mandado: e estais certos de que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mat. XXVIII. 20)? Jesus encarregou os Apóstolos da missão de pregar o Evangelho a todos os povos, de batizar e reger a Igreja até o fim do mundo. Ora, esse encargo não se podia realizar por aqueles a quem era confiado. Logo, os poderes conferidos aos Apóstolos eram ilimitados quanto ao espaço e quanto ao tempo e, por conseguinte, na intenção de Cristo, deviam transmitir-se aos sucessores dos Apóstolos.

Argumento histórico. Não insistimos muito no argumento escriturístico acerca das questões de direito, embora seja útil contra os protestantes, porque os racionalistas rejeitam todos os textos que se referem a Cristo ressuscitado, e só consideram a questão de fato. Conforme à sua teoria, “só na história, abstraindo de qualquer preconceito dogmático, se devem procurar as origens do episcopado”. Exporemos resumidamente o modo como explicam a sua origem.

Tese racionalista - Origem do episcopado.

Segundo a tese racionalista, os membros das primeiras comunidades cristãs eram todos iguais. Todos eles formavam um povo escolhido, um povo de sacerdotes e profetas.

Pode-se, no entanto, distinguir-se na sociedade cristã primitiva “duas grandes classes de operários da obra divina: os homens da palavra - os apóstolos, os profetas, os doutores - e os anciãos, os vigias “episcopoi” ou bispos e os diáconos”. Os primeiros estavam a serviço da Igreja em geral e só dependiam do Espírito que os inspirava. Os segundos, pelo contrário, eram os empregados escolhidos por cada comunidade particular.

“Ao começo, não somente não se encontra instituição alguma formal de episcopado, ou de qualquer outra hierarquia, mas até os nomes de “episcopoi” e “presbyteri” são equivalentes e designam as mesmas pessoas”. “A história não menciona exemplo algum de um bispo constituído por um apóstolo e ao qual tenha transmitido, por essa instituição, quer a totalidade, quer parte dos seus poderes”. Os poderes de ensinar e de governar eram reservados aos favorecidos pelos carismas. Somente pouco a pouco os bispos ou presbíteros, encarregados da administração temporal das Igrejas, se apossaram dos poderes de ensinar e governar, primitivamente reservado aos apóstolos a aos que tinhas os carismas. Conforme a tese racionalista, não existem poderes conferidos por Jesus Cristo. O cristianismo é uma democracia na qual a assembléia dos cristãos conserva o poder e o delega aos que elege. Para provar que a autoridade deriva da assembléia dos fiéis e que não se pode exercer senão com consentimento do povo cristão (sistema chamado multitudinismo ou presbiterianismo defendido por algumas seitas protestantes) os historiadores racionalistas alegam que antigamente os bispos eram muitas vezes escolhidos pelo povo. Confundem evidentemente a eleição com a colação da jurisdição e a sagração:

Quanto à eleição, é verdade que os fiéis concorreram por vezes para a escolha do candidato;

A eleição, porém, não conferia o poder aos eleitos; porque só depois da eleição dos fiéis ter sido confirmada pelos bispos de província eclesiástica, recebiam os eleitos a sagração e a jurisdição do metropolitano e, por conseguinte, do Sumo Pontífice. O povo não conferia a jurisdição nem sagrava os bispos.

Continuam os racionalistas, a autoridade passa primeiro dos fiéis ao conselho dos anciãos, aos seniores ou presbíteros e deste ao mais influente deles, que se torna o Bispo único. O episcopado é, portanto, segundo Renan e Harnack, uma instituição humana nascida da mediocridade das massas e da ambição de alguns; foi a mediocridade que fundou a autoridade.

A tese modernista é sensivelmente a mesma. Para eles, o episcopado não é de origem divina e os bispos não receberam dos Apóstolos a missão nem os poderes.

Tese católica

O fundamento da tese racionalista, segundo a qual, os membros das primeiras comunidades eram iguais, já foi refutado anteriormente.

A distinção entre as duas classes de operários que trabalhavam na obra cristã, isto é, entre a chamada hierarquia discorrente e a hierarquia estável, não se pode pôr em dúvida. Mas de alguma maneira constitui uma prova contra a origem divina do episcopado, como veremos na discussão do terceiro artigo da tese racionalista. Essa distinção entre as duas classes referidas já tinha sido mencionada por S. Paulo na Epístola aos Efésios. Na primeira classe inclui os apóstolos, os profetas e os evangelistas; e na segunda os pastores e os didáscalos (Ef. IV, 11).

Os apóstolos, os profetas e os evangelistas, isto é, os obreiros da primeira categoria, eram missionários: formavam a hierarquia discorrente (itinerante).

O termo apóstolo tem dois sentidos, um lato e outro restrito.

No sentido lato, que é conforme a etimologia da palavra (grego “apóstolos” enviado, mensageiro) o apóstolo é um mensageiro qualquer (II Cor. VIII, 23; Fil. II, 25). Eram apóstolos todos os que serviam de intermediários; os que, por exemplo, eram encarregados por uma igreja de levar uma carta, ou qualquer outra comunicação a outra igreja.

No sentido restrito, apóstolo significa os enviados de Cristo. Todavia, mesmo neste caso, não se aplica exclusivamente aos Doze, pois que não se podem excluir do apostolado S. Paulo e S. Barnabé. Portanto, as duas expressões “Os Apóstolos” ou “os doze” ou o “colégio dos doze” não são idênticas. Mas o que é que constitui o apostolado propriamente dito? Ter visto Cristo na sua vida mortal ou ressuscitado e ter recebido dele a sua missão. São estas as duas razões que S. Paulo aduz para reivindicar o título de apóstolo de Cristo.

Os profetas eram os que apesar de não serem enviados diretamente por Cristo, falavam em nome de Deus em virtude duma inspiração especial. Dotados do dom da profecia e da faculdade de perscrutar os corações, tinham o encargo de exortar, edificar e de converter os infiéis (I Cor. XIV, 3, 24, 25).

Os evangelistas. Esta palavra, que se encontra somente três vezes no Novo Testamento (At. XXI, 8; Ef. IV, 11; Tim. IV, 5), designa o encarregado de anunciar o Evangelho.

Na segunda categoria coloca S. Paulo:

Os pastores, isto é, os chefes propostos às igrejas locais: bispos ou presbíteros.

Os didáscalos, ou doutores, eram uma espécie de catequistas, encarregados de instruir os fiéis da localidade que lhe confiavam.



A explicação das origens do episcopado por uma série de crises e de transformações é o ponto central da questão. A tese racionalista nega que ao começo houvesse qualquer instituição de episcopado e para o provar estriba-se em dois argumentos:

Os dois termos episcopi e presbyteri são equivalentes; e

A história não nos refere exemplo algum dum bispo monárquico constituído por um apóstolo, ao qual esse tenha transmitido os seus poderes no todo ou em parte.

Resposta

Parece que as palavras episcopi e presbyteri foram sinônimas no princípio. Assim - para não citar mais de um exemplo - escreve S. Paulo na Carta a Tito: “Deixei-te em Creta para que regulasses o que falta e estabelecesses presbíteros em cada cidade. Que o escolhido tenha boa reputação, porque é necessário que o bispo seja irrepreensível, como administrador da casa de Deus” (Tit. I, 5-7). É evidente que nesta passagem os dois termos presbítero e bispo se empregam no mesmo sentido.

Também é certo que nos primeiros tempos não encontramos vestígios de bispo monárquico, tal como aparecerá mais tarde. Os presbíteros ou “episcopi” que os Apóstolos colocavam à frente das comunidades por eles fundadas, formavam um conselho, o presbyterium, incumbido do governo da igreja local (At. XV, 2-4; XVI, 4; XXI, 18).

Teriam esses presbíteros os poderes que mais tarde teve o bispo monárquico, ou eram simples sacerdotes? Os documentos históricos não nos permitem solucionar o problema, o que aliás não tem muita importância, visto não se tratar disso na questão. Aqui apenas nos interessa saber se os Apóstolos delegaram ou não em vida os poderes que receberam de Jesus Cristo para assegurar a questão, quando morressem. É o que vamos estudar.

Afirmam os adversários que os poderes eram inerentes aos carismas; ora, como os carismas eram incomunicáveis, os poderes não se podiam transmitir.

Também nós admitimos que os carismas eram dons ocasionais ou pessoais, porque procediam diretamente do Espírito e portanto eram incomunicáveis. Mas, é preciso não confundir os carismas com os poderes apostólicos; porque, embora muitas vezes se encontrem juntos na mesma pessoa, contudo os carismas não eram causa ou princípio dos poderes; apoiavam ou reforçavam a autoridade, mas não a constituíam. Logo, os Apóstolos receberam de Jesus Cristo poderes independentes dos carismas e, portanto, transmissíveis.

Consultemos agora os fatos e vejamos se os Apóstolos transmitiram os poderes que possuíam.

Examinemos, em primeiro lugar, as Epístolas de S. Paulo e por elas veremos que S. Paulo, ainda que se reservava a autoridade suprema nas Igrejas que fundara (I Cor. V, 3; VII 10-12; XIV, 27-40; II Cor. XII, 1-6), delegava às vezes noutros os seus poderes. Encarregou Timóteo de instituir o clero em Éfeso, e deu-lhe os poderes de impor as mãos e de estabelecer a disciplina (I Tim. V, 22). Do mesmo modo escreveu a Tito estas palavras: “Deixei-te em Creta para que regulasses o que falta...” (Tit. I, 5). Portanto, Timóteo e Tito receberam a missão de organizar as Igrejas e os poderes de impõe as mãos, isto é, os poderes episcopais.

No século II. Encontramos o germe do episcopado nos tempos apostólicos: procuremo-lo agora no século II. Logo no começo desse século descobrimos vários testemunhos da existência do episcopado monárquico.

Testemunho de S. João. Logo no princípio de seu Apocalipse, S. João escreve que vai narrar as suas revelações acerca das sete Igrejas da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia (Apoc. I, 1-11). São sete cartas destinada ao anjo de cada uma delas. Mas quem é esse anjo? Todos são concordem em afirmar que não se trata do anjo da guarda destas igrejas, porque, além dos elogios e exortações, as cartas contém repreensões e ameaças, o que não se pode aplicar aos espíritos celestes. Estes anjos são, portanto, os chefes espirituais das igrejas, os anjos do Senhor no sentido etimológico da palavra (“aggelos”, mensageiro, enviado), que possuíam poderes episcopais.

Testemunho de S. Inácio de Antioquia. O testemunho de S. Inácio data da primeira década do século II. Neste tempo havia um bispo não somente em Éfeso, Magnésia, Trália, Filadélfia e Esmirna, mas em muitas outras Igrejas. A hierarquia, por toda a parte, estava na posse tranqüila de seus cargos e não se encontraram na história daquele tempo os mais ligeiros indícios de crises ou revoluções, pelos quais tinha passado o episcopado antes de conquistar os poderes que todos lhe reconhecem. “Sem bispo, sacerdotes e diáconos não pode haver Igreja”, escreva S. Inácio à igreja da Trália (III,1).

Testemunho fundado nas listas episcopais feitas, uma por Hegesipo (que vem nas suas "Memórias") e outra por S. Ireneu que pode ver-se no seu "Contra as heresias". Desejando Hegesipo, sob o pontificado de Aniceto (155-166) conhecer a doutrina das diversas igrejas para ver se era uniforme, empreendeu uma viagem através de cristandade. Visitou várias cidades e demorou-se particularmente em Corinto e Roma. Nesta última cidade escreveu uma lista cronológica de todos os bispos até Aniceto...mas, infelizmente, perdeu-se e só conhecemos alguns extratos, que o historiados Eusébio nos conservou.

A lista de S. Ireneu, feita cerca do ano 180, chegou até nós na íntegra. O bispo de Lião propôs-se combater as heresias, especialmente o gnosticismo, apoiando-se na tradição e estabelecendo como princípio que a regra de fé deve basear-se no ensino dos Apóstolos fielmente guardados pela Igreja. Declara que pode “enumerar os bispos constituídos pelos Apóstolos e estabelecer a sua sucessão até nossos dias”. Mas, “como seria demasiado longo apresentar o catálogo de todas as Igrejas”, limita-se a “considerar a maior, a mais antiga, a mais conhecida de todos, e que foi fundada e organizada em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo”. Em seguida, apresenta a lista dos Bispos de Roma até Eleutério: os bem-aventurados apóstolos (Pedro e Paulo), Lino, Anencleto, Clemente, Evaristo, Alexandre, Sixto, Telésforo, Higino, Pio, Aniceto, Sotero e Eleutério"

Alguns contestam a historicidade destas listas, alegando que o nome dos bispos variam de catálogo para catálogo, e que a lista de S. Ireneu difere da do catálogo “Liberiano” feita por Filócalo, em 354, no tempo do papa Libério. É certo que exista alguma diferença entre elas, pois o catálogo Liberiano nomeia Lino depois de Clemente e desdobra Anencleto em Cleto e Anacleto. Mas as variantes são de pouca importância e provavelmente devidas aos copistas.

Conclusão. De tudo o que precede, podemos tirar as seguintes conclusões:

Tanto dos textos evangélicos como dos documentos da Igreja primitiva, deduz-se claramente que os poderes apostólicos eram transmissíveis e foram de fato transmitidos.

Os apóstolos comunicaram os seus poderes a delegados, elevando alguns discípulos à plenitude da Ordem e confiando-lhes a missão de governar as Igrejas por eles mesmos fundadas e de fundar outras novas.

Portanto, é falso afirmar que o episcopado nasceu da mediocridade de uns e da ambição de outros; porque não foi “a mediocridade que estabeleceu a autoridade”, mas o Evangelho. Os Bispos foram instituídos para receber a missão e os poderes que Jesus tinha conferido aos Apóstolos e, por isso, tomados coletivamente, são os sucessores do colégio apostólico.

§ 3º - Jesus Cristo fundou uma Igreja monárquica. Primado de Pedro e de seus sucessores.

Demonstramos nos parágrafos precedentes que a Igreja fundada por Jesus Cristo não é uma democracia baseada na igualdade dos seus membros, mas uma sociedade hierárquica onde os dirigentes recebem os poderes diretamente de Deus e não do povo cristão.

Outra questão se apresenta neste momento. A autoridade soberana que pertence à Igreja docente reside em todos os bispos coletivamente, ou num só dos membros do episcopado? Por outros termos, a Igreja é uma monarquia ou uma oligarquia? Terá por ventura Jesus Cristo dado a sua Igreja um chefe supremo? Os protestantes e os Gregos cismáticos sustentam a negativa. Todavia, esses últimos com alguns Anglicanos concedem a S. Pedro a primazia de honra mas não de jurisdição. Essas diferem essencialmente entre si. A segunda supõe uma autoridade efetiva; a primeira concede apenas direitos honoríficos. Os que possuem a primazia têm o direito de governar seus súditos como verdadeiros vassalos; os que possuem a primeira têm somente o direito de precedência.

Nós os católicos defendemos que Jesus conferiu o primado da jurisdição a S. Pedro e, na sua pessoa, a seus sucessores. Provaremos separadamente as duas partes desta tese com os dois argumentos: um, escriturístico, e outro, histórico.


Fonte: Bibliografia: Tratados de filosofia; em particular o Manual de Filosofia de C. Lahr (Porto, Apostolado da Imprensa), e os de Fonsegrive, Jolivet e G. Sortais. - S. Tomás, Summa Teológica, De veritate. - Kleutgen, La philosophie scholastique (Gaume). - De Pascal, Le Christianisme, I. Part. La verité da la Religion (Lethielleux). - P. Julien Werquin, L´Évidence et la Science.

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