.

.

13 de setembro de 2012

APOLOGÉTICA: DEFINIÇÃO - OBJETO


1. Definição

Etimologicamente, a palavra apologética (do grego apologèticos, apologia) significa justificação, defesa. Apologética é, pois, a justificação e defesa da fé católica.

2. Objeto

A apologética tem dois fins:

Justificação da fé católica. Considerando a religião no seu fundamento (isto é, no fato da revelação cristã, de que a Igreja Católica se diz a única depositária fiel), a apologética expõe os motivos de credibilidade, que provam a sua existência. Deve, portanto, resolver esse problema: havendo neste mundo tantas religiões, qual será a verdadeira? Ora, o apologista católico sustenta que só a sua fé é a verdadeira, e que o é na realidade; deve, pois, provar essa asserção. Este primeiro trabalho constitui a apologética demonstrativa ou construtiva.

Defesa da fé católica. A apologética não só apresenta os títulos que tornam a Igreja Católica credora da nossa adesão, mas também enfrenta os adversários, respondendo aos seus ataques. E como os ataques variam com as épocas segue-se que deve evolucionar e renovar-se incessantemente, pondo de parte as objeções antiquadas e apresentando-se no campo escolhido pelos adversários, para os combates da hora presente. Sob este segundo aspecto, a apologética tem um caráter negativo, e chama-se apologética defensiva.

3. Corolário: Apologética e apologia

Não são termos sinônimos. "Apologética significa propriamente ciência da apologia, do mesmo modo que dogmática significa ciência do dogma.. A apologética é a defesa científica do Cristianismo pela exposição das razões em que se apóia. Uma apologia é uma defesa oposta a um ataque” (Hettinger, Théol. Fond. t. I.).

O objeto da apologética é, portanto, mais geral. A apologia limita-se a defender um ponto da doutrina católica no campo do dogma, da moral ou da disciplina. Prova, por exemplo, que o mistério da SSma. Trindade não é absurdo; que acusar de interesseira a moral cristã é injusto; que o celibato cristão não é instituição digna de censura, mas rica em vantagens inestimáveis; e chega até a reabilitar a memória de um santo. A apologia remonta às primeiras eras do Cristianismo; a ciência apologética aparece mais tarde, e está sempre em via de formação ou, pelo menos, de aperfeiçoamento.

II - FIM E IMPORTÂNCIA DA APOLOGÉTICA

4. Fim

Do objeto da Apologética (n.0 2) deduz-se claramente o fim que se propõe.

Enquanto demonstrativa, dirige-se não só ao crente, mas também ao indiferente e ao ateu:

Ao crente para o arraigar nas suas convicções, mostrando-lhe os sólidos fundamentos de sua fé, iluminando-lhe a inteligência e fortificando-lhe a vontade;

Ao indiferente ao ateu: ao primeiro, para o convencer da importância de questão religiosa e da sem-razão da indiferença acerca deste assunto; ao segundo, para o arrancar a incredulidade; a ambos, finalmente, para os levar à reflexão, ao estudo e à conversão. Quer se dirija aos crentes, quer se dirija aos incrédulos, a apologética tem sempre em vista levar as almas à certeza do fato da revelação. Ora, há muitas escolas filosóficas que negam ao homem a capacidade de atingir a verdade. Será, pois, conveniente, resolver o problema da certeza.

Enquanto defensiva, a apologética visa só os anticrentes e tem por fim refutar os seus preceitos e objeções. Dizemos anticrentes e não incrédulos, porque ordinariamente os incrédulos limitam-se a não crer, ao passo que os anticrentes têm uma religião especial - a religião da ciência, da humanidade, da democracia, da solidariedade, etc. - que dirigem contra a religião católica.

5. Importância

A importância da apologética deduz-se destes dois motivos:

É o preâmbulo da fé. Lembremo-nos, que a fé exige o concurso da inteligência, da vontade e da graça. Ora, a missão da Apologética é levar o homem até o limiar da fé, torna-la possível, provando que é racional. As provas, que o apologista nos fornece acerca do fato da revelação, devem levar-nos a formar dois juízos: a revelação manifesta-se-nos com evidência objetiva e portanto é digna de crédito (credibile est), juízo de credibilidade; se é digna de crédito, há obrigação de crer (credendum est), juízo de credendidade. O primeiro é de ] ordem especulativa, dirige-se só à inteligência; o segundo vai mais longe, atinge a vontade: é um juízo prático. Se considerarmos os fatos, a questão para nós não existe, está resolvida antes da discussão, porque, seja qual for a religião a que pertençamos, todos a recebemos do nosso meio e da nossa educação; veio-nos por intermédio dos nossos pais e dos nossos mestres. Muitos há que a aceitam sem discussão nenhuma, fundados somente na autoridade. Mas pode chegar um momento em que a dúvida assalte o espírito, e seja necessário armar a fé contra os ataques inimigos. Não recomendava já S. Pedro aos primeiros cristãos que andassem preparados para dar razão de sua crença quando lha pedissem? (I Ped. 3, 15). Hoje, ainda mais do que então, devem os católicos conhecer os motivos da sua fé e saber explicá-los aos outros. É bom advertir que não se pode duvidar da fé, embora seja permitido sujeitá-la a exame. Segundo o Concílio Vaticano I, “os que receberam a fé pelo magistério da Igreja nunca podem ter razão suficiente para a abandonar, ou pôr em dúvida”. (Const. Dei Filius, Can. III e Can. VI). Aos que dizem que é preciso fazer primeiro tábua rasa da fé para chegar à verdade, responde Leibniz: “Quando se trata de dar a razão das coisas, a dúvida para nada serve... Que se faça um exame para passar a dúvida..., passe. Mas que, para examinar. Seja necessário começar por duvidar, é isso o que eu nego”.

A apologética é a condição necessária da Teologia. Com efeito, a exposição da doutrina da fé católica já supõe a fé, e só tem em vista os crentes. Donde se segue que apesar de terem pontos de contato e de se ocuparem igualmente da revelação, diferem contudo no ponto de partida e no desenvolvimento. De fato, o apologista, só com o instrumento da razão, eleva-se das criaturas ao Criador, a um Deus revelador, e chega ao fato da Igreja docente; ao passo que a Teologia segue a ordem inversa: partindo do ponto onde chega a apologética, isto é, do magistério infalível da Igreja, expõe os ensinamentos da fé.

III - DIVISÃO DA APOLOGÉTICA

Como as relações entre Deus e o homem são o fundamento da religião católica, a apologética deve tratar de Deus, do homem e das suas relações mútuas. Ora, a solução dos problemas, que dizem respeito a este tríplice objeto, pertence ao domínio da filosofia e da história. Daí as duas grandes divisões: a parte filosófica e a parte histórica.

1º) Parte filosófica

Pertencem à filosofia os problemas relativos:

A Deus. Esta primeira seção trata da existência de Deus, da sua natureza e da sua ação (Criação e Providência).

Ao homem. A segunda seção deve provar a existência da alma humana, duma alma espiritual, livre e imortal.

Às suas relações mútuas. A terceira seção é a conclusão das duas primeiras. Parte da natureza de Deus e do homem, e tem por fim provar, não só as suas relações mútuas e necessárias, mas ainda aquelas cuja existência é possível presumir-se. As três seções da primeira parte constituem o que se chama preâmbulos racionais da fé.

2º) Parte histórica

Na segunda parte entramos na questão de fato. Ora, os fatos pertencem à história. É portanto com documentos históricos que o apologista deve provar a existência da revelação primitiva e mosaica, e finalmente da revelação cristã feita por Jesus Cristo, da qual a Igreja é depositária.

A parte histórica subdivide-se, pois, em duas seções: a demonstração cristã, e a demonstração católica.

Demonstração cristã. Nesta primeira seção trata-se de provar a origem divina da religião cristã, por sinais ou critérios, que nos levem ai assentimento. São de duas espécies:

Critérios externos ou extrínsecos, isto é, todos os fatos, milagres e profecias que, não podendo ter outro autor senão Deus, nos foram dados por Ele mesmo, para determinar e confirmar a nossa fé;

Critérios internos ou intrínsecos, isto é os que são inerentes à doutrina revelada.

Demonstração católica. Uma vez provada a origem divina da religião cristã, o apologista deve demonstrar que só a Igreja Católica possui as notas da verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo.

Outro modo de demonstração

Poderíamos fundir numa só as duas seções da parte histórica e fazer imediatamente a demonstração da parte católica, sem passar pela demonstração intermediária.
O apologista que adota este método vai diretamente à Igreja Católica. Apresenta-a “ornada de tais caracteres que todos podem facilmente vê-la e reconhecê-la como a guarda e única possuidora do depósito da revelação”. E isso pelo fato de só ele conservar “o imenso e maravilhoso tesouro das obras divinas, que mostram até à evidência a credibilidade da fé cristã”, e por ser ela mesmo um fato divino, “um grande e perene motivo de credibilidade, pela sua admirável propagação, eminente santidade, fecundidade inesgotável em toda espécie de bens, unidade católica e invencível estabilidade” (Const. de Fide, c. III.).

Tal é, a largos traços, a apologética demonstrativa.
Caminha sempre ao lado da apologética defensiva, que lhe prepara o terreno, refutando as objeções dos adversários na parte filosófica e histórica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Formando e Informando Católicos; Paz e Bem! Agradecemos sua participação no blog!!

Ratings and Recommendations by outbrain