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26 de junho de 2012

O que são Demônios?

Pressuposto. A respeito de demonologia, secularmente usou-se a Bíblia como principal argumentação, quase exclusiva.

Ora, é tema teológico ou é tema científico?
Pertence à ciência o estudo das realidades observáveis do nosso mundo.
E deduzíveis da observação (filosofia). A Bíblia é um livro de doutrina sobrenatural, inobservável, revelada.

E da Bíblia podem deduzir-se outras verdades (Teologia). Não há direito a invocar a Bíblia em ciência, como a ciência não pode discutir Doutrina sobrenatural.

A Igreja Católica e Denominações Protestantes, o Islã, as seitas religiosas, como tais, não têm a última palavra em ciência, nem sequer a primeira.

E o conjunto dos ramos da ciência que estuda fatos incomuns, relacionados com o homem, é a Parapsicologia.

Teologia e ciência tratam de temas diferentes (Falo inclusive como doutor em Teologia).
Isto pressuposto, em demonologia de que se trata?
É Doutrina sobrenatural, inobservável, revelada, ou trata-se de cultura e interpretação de fatos do nosso mundo?

O Sol, "Criador" da luz tem um
lugar proeminente em quase
todas as mitologias. Horus, o
maior deus egípcio, apresenta-se
com um disco solar, símbolo
do poder de criação.
Naquele pressuposto muito, muito, muitíssimo deveríamos insistir para evitar tantos erros acumulados em demonologia..., por culpa de teólogos, padres, pastores, etc., inclusive santos e pretendidas revelações particulares (tema também muito importante que amplamente deveremos analisar em outra oportunidade).

DEMÔNIO. Hoje sob o termo geral demonologia tem-se embutido uma amálgama completamente heterogênea, misturando ou identificando conceitos na realidade totalmente incompatíveis.

Antigo Testamento.
Uma primeira constatação é que o termo demônio (ou um eqüivalente hebraico para traduzir exatamente o termo grego daimónion e daimónia (ou daímon e daímones) tão freqüente, como veremos, no Novo Testamento apesar de ser tão curto, não aparece nunca nos originais do Antigo Testamento apesar de ser tão comprido.
A palavra demônio no Antigo Testamento é só fruto de traduções posteriores.

Ídolos. Os sátiros (espécie mitológica de bode), "seres peludos" descritos por Isaías, inspirado nas divindades mesopotâmicas, são convertidos na tradução oficial, (chamado de Setenta), em demônios. Dançariam com sereias nas ruínas da Babilônia (Is 13,21).

Também em outras oportunidades os ídolos são traduzem por demônios (Isaías 65,3; Dt 32,17; Sl 106,36ss).

E quando Isaías (65,11) fala de Gad, o deus arameu da fortuna, os Setenta substituem Gad por demônio.
Esses mesmos sátiros, esses mesmos ídolos, esses mesmos demônios, no Levítico são, na tradução dos Setenta, simplesmente "coisas vãs"! (Lv 17,7).
Coisas: Não existem como seres pessoais. Vãs: vazias, inúteis...

Soberania de Deus. Na sua pedagogia, a Bíblia não enfrentou diretamente desde o início os deuses estrangeiros. Utilizou-os, como instrumento de linguagem, para destacar a soberania de Deus. Apresentou-os como subordinados a Jahweh, o Deus dos deuses e das potestades.
Aos deuses pagãos chamou-os "Filhos de Deus", que formavam o conselho de Deus, "Potestades" que ajudavam no governo do universo.
E inclusive os organizou hierarquicamente (Dn 10,13) -como em toda milícia bem-estabelecida- sob o comandante supremo, Satã (Zc 3,1-2).

Mas a manifesta semelhança com a mitologia pagã poderia induzir o povo judeu ao politeísmo. Aparecem então os Profetas lembrando que só há um Deus.

Os profetas tiram da mitologia e cultura da época todo traço de politeísmo, mas guardam os aspectos compatíveis com o único Deus, Criador e Supremo Governante.

Os deuses pagãos, as Potestades e outras criaturas celestes servem para destacar a grandeza do Criador.

Este empréstimo de elementos das religiões pagãs é evidente em várias oportunidades.
Por exemplo, no Levítico.
O velho costume popular de expiação é aproveitado purificando-o da idolatria:

"Quanto ao bode sobre o qual caiu a sorte 'para Azazel', será colocado vivo diante de Jahweh, para fazer com ele o rito de expiação, a fim de ser enviado a Azazel, no deserto... Aarão porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode e confessará sobre ele todas as faltas dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados (...) e o bode levará sobre si todas as faltas deles para uma região desolada" (Lv 16,10,21s).

O bode não é sacrificado ao demônio Azazel. A ação simbólica de transferir os pecados se faz diante de Jahweh pela mediação do sacerdote Aarão, e o "bode expiatório" indo ao deserto, onde morrerá, simboliza a desaparição dos pecados.

Inexistentes. Mais ainda, Israel logo compreende que Deus não precisa de conselho nem ajuda de ninguém e que os deuses pagãos não passam de absurdas falsidades enquanto não se identifiquem com o próprio Deus único.

Se não são o próprio Jahweh, essas divindades são falsas, inexistentes.

O Salmo 96,5 diz no original hebraico que os deuses dos pagãos são vãos: deuses = élohim, vãos = élilim. Não pode o grego conservar este jogo de palavras. E os Setenta convertem vãos em demônios!

Os demônios são vãos, inexistentes.

No Novo Testamento se recolhe a idéia: São João identifica os deuses pagãos com os demônios, e são seres inertes, meras imagens feitas pelas mãos dos homens:

"Obras das suas mãos, para não mais adorar aos demônios, os ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir ou andar" (Ap 9,20).

E São Paulo também identifica deuses pagãos e demônios, e igualmente como vãos, nada, inexistentes:

"Aquilo que os gentios imolam, eles o imolam aos demônios (...). Que quero dizer com isto? (...) Que os ídolos (os demônios) mesmos sejam alguma coisa? Não!" (1Cor 10,19-20).

Influencias pagãs.
A antiquíssima demonologia-divindades da literatura suméria, os perniciosos deuses-demônios chamados udug, e a demonologia acádia influenciaram os hebreus do Antigo Testamento, e através dos caldeus penetraram o mundo grego e depois o romano.

Pouco antes de Cristo, a influência volta aos judeus, através da cultura grega, resultante da dominação romana.
Dois séculos antes de Cristo e no próprio século 1º d.C., a demonologia judaica manifesta reflexos da demonologia mesopotâmica e grego-romana.

Demônios e demônio são as traduções vernáculas para os termos daímones no plural e daímon no singular na versão dos Setenta.
Tenhamos em conta que esta tradução foi feita precisamente nesta época neo-testamentária. Ora, na literatura grega e na época helenística, daímon e daímones significam deus e deuses: divindades de grau inferior.

Os judeus na época neo-testamentária, também adotaram esta denominação. Flávio Josefo, o historiador judeu que escrevia no século primeiro, várias vezes emprega o termo daímones como sinônimo de deuses. Levemos em conta que o todo o Novo Testamento foi escrito em grego.

O termo daímon procede de daiomai, que significa distribuir: eram os deuses que distribuíam os bens e os castigos aos homens.

Neste mesmo sentido, os pagãos usam o termo daímones com referência à pregação de São Paulo: "Dir-se-ia um pregador de divindades (daímones) exóticas, porque ele anunciava Jesus e a Ressurreição" At 17,18). Os que escutavam Paulo usaram o termo daímones no plural porque acreditavam que Jesus era anunciado como um deus e a Ressurreição como uma deusa.

Elaboração do animismo. Zoroastro ou Zaratustra, o mais antigo fundador conhecido de religião, ensina que Alhura Mazda, o Deus Supremo, serve-se dos chamados "santos imortais": são divindades inferiores, pois são concebidas como irradiações da natureza divina. Alhura Mazda não governa diretamente o mundo, serve-se para isso dos imortais, potestades ou daímones.

Na mais antiga mentalidade todas as manifestações da natureza, que o homem primitivo considerava superiores a ele, eram concebidas como dotadas de alma. Esses seres animados, espíritos bons ou maus, eram os responsáveis pelos acontecimentos favoráveis ou desfavoráveis.

Com o tempo, o animismo dos povos primitivos foi se fazendo mais elaborado e complexo. É substituído por potestades, ou divindades inferiores, que como intermediários governam a humanidade e o mundo. Os próprios intermediários - divindades inferiores-, se multiplicam numa subordinação hierárquica mais ou menos extensa.

Elaborado ou primitivo conserva-se o animismo nas tradições de muitos povos africanos. De lá se ramificou principalmente pelos chamados cultos afro-brasileiros e de vários países latino-americanos.

O judaísmo num começo não se opôs ao animismo, mas o disciplinou, a fim de acomodá-lo às suas próprias exigências doutrinais.

Por exemplo, o animismo universal considerava que os rios e os vaus tinham alma. Depois, pensou que havia neles um deus. Eram daímones. Para atravessar um rio, primeiro era preciso aplacá-lo com oferendas e dádivas.

Lê-se na Bíblia: Jacó "se levantou, tomou suas duas mulheres, suas duas servas, seus onze filhos e passou o vau do Jaboc. Ele os tomou e os fez passar a torrente e fez passar também tudo o que possuía. E Jacó ficou só".

Mas não aplacara o deus torrente! Teria portanto de ser castigado: "E alguém lutou com ele até surgir a aurora. Vendo que não o dominava, tocou-lhe na articulação da coxa, e a coxa de Jacó se deslocou enquanto lutava com ele".

Com a aurora vem um daímon mais poderoso, que afugenta as divindades noturnas. Para isso, o deus da torrente disse: "Deixa-me ir, pois já rompeu o dia". Mas Jacó respondeu: "Eu não te deixarei se não me abençoares".

Faz parte também do animismo universal atribuir força mágica aos nomes. O Gênesis acomoda tal crença, fazendo intervir a Divina Providência nos nomes:

"Ele lhe perguntou:
'Qual é teu nome?'
-'Jacó', respondeu.
Ele retomou:
'Não te chamarás mais Jacó, mas Israel (Deus forte, ou algum significado eqüivalente), porque foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevaleceste'.
Jacó fez esta pergunta:
'Revela-me teu nome, por favor'.
Mas ele respondeu:
'Por que perguntas pelo meu nome?' E ali mesmo o abençoou. Jacó deu a este lugar o nome de Fanuel 'porque -disse- eu vi Deus face a face'" (Gn 32,23-33).

A demonologia de Israel consta de elementos emprestados de todas as civilizações vizinhas.
Tais culturas não pertencem ao conteúdo da Revelação!
Trata-se de interpretação pagã de realidades do nosso mundo. Pertence à ciência.

A Bíblia não é um livro de ciencia. Os elementos da natureza não são deuses. Estes daímones não existem. Só metaforicamente se substituem, ou identificam, esses demônios pelo verdadeiro e único Deus.

Novo Testamento. Sob diversos nomes alude 73 vezes ao que comumente hoje se chama demônio. O Novo Testamento usa, além de daimónion, os nomes:
"Diabo e seus anjos" (Mt 25,41), "espíritos imundos" (Mt 10,1), "espírito impuro" (Mc 1,23), etc.

Demônio e os outros termos se usam indistintamente. No singular ou no plural. Assim, por exemplo, a mesma pessoa que, segundo Marcos (5,2), é possuída por um espírito impuro, no singular, pouco depois no mesmo Marcos (v. 13) está possuída por espíritos imundos, no plural.

E segundo Lucas (8,27) essa mesma pessoa está possuída por demônios, no plural; mas imediatamente, no mesmo Evangelho de Lucas (v. 29) Jesus identifica esses demônios como um espírito impuro, no singular; e no versículo seguinte (30), Lucas diz que são muitos demônios

No apóstolo São Paulo. Paulo usa a linguagem e as imagens próprias da cultura judaica da sua época. Os "espíritos do astral" e outros demônios-divindades, originariamente do Oriente, foram convertidos pelos judeus em "armadas celestes" (Sabaoth). Jahweh é o Deus dos Sabaoth, Deus dos exércitos, ou em diversas passagens da tradução dos Setenta, "Deus das Potestades" (cf. por exemplo, Sl 80,5).

Paulo, pela sua cultura judaica, utilizou como comparação o mito de que Deus delegou o governo do mundo às Potestades e Principados (Gl 3,19; Hb 2,2; 1Cor 6,3 etc.) São os demônios.

"O nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do mal, que povoam as regiões celestiais" (Ef 6,11-12).

As Potestades ou demônios estão a serviço de Deus; são dignos de respeito (1Cor 11,10) e obediência (talvez também Rm 13,1-6); são os instrumentos de uma correção salutar por meio de doenças (1Cor 5,5); o próprio Paulo é deixado a Satã (2Cor 12,7); serão julgados (1 Cor 6,3) e podem ser castigados se não cumpriram bem a sua função.

Em todo caso os demônios culpáveis terão de reconhecer o senhorio universal de Cristo (Fl 2,10-11; Cl 1,15-20; Ef 3,10; Cl 2,15).

Paralelamente à mentalidade mítica judaica, que concebia os lugares áridos como morada preferida dos baixos demônios, aparecem em Paulo as altas potestades habituando as camadas mais altas da atmosfera:
"Príncipe do poder do ar" (Ef 2,2);
"Espíritos do mal que povoam as regiões celestiais" (Ef 6,12).

Tudo influencia os primeiros cristãos. Se os povos orientais influenciaram muito nos judeus e, em seqüência, em São Paulo, influíram mais ainda na demonologia dos primeiros cristãos.

São Justino, São Clemente de Alexandria etc. refletem claramente a mentalidade demonológica dos egípcios. Orígenes, no começo do século III, teve uma influência decisiva na demonologia cristã que lamentavelmente permanece até hoje.

Os demônios maus. O daímon, demônio, divindade inferior, vai deixar de ser um intermediário entre Deus e as criaturas, para o bem ou para o mal, e converte-se num ser unicamente mau.

Para São Paulo, apostatar da fé é eqüivalente a escutar os ensinamentos dos demônios-deuses pagãos (1 Tm 4,1); a idolatria eqüivale a misturar-se com demônios-ídolos, que sustentam o paganismo (1 Cor 10,20ss).
E assim passou-se a considerar os demônios como seres maus e desprezíveis, nada semelhantes a potestades que colaboram com Deus.

Isso já aparece nos últimos escritos do Novo Testamento:
"Caiu, caiu Babilônia, a Grande, tornou-se moradia de demônios, abrigo de todo tipo de espíritos impuros, abrigo de todo tipo de aves impuras e repelentes" (Ap 18,2);
"Nisto vi que da boca do Dragão (... ) saíram três espíritos impuros, como sapos" (Ap 16,13).

Gradualmente o abismo entre divindades e demônios foi-se alargando.
O Judaísmo, o Cristianismo e o Islã só vêem hoje nos demônios forças inimigas de Deus e dos homens


" A Parapsicologia, tendo como principal representante no Brasil, o padre Oscar G. Quevedo S.J., nega a atividade, a intervenção do diabo (ou como quer que se queira chamar :demonios, belzebu, satã, satanás, lúcifer, etc, etc, etc) nos homens "


" Filosoficamente e teologicamente, porém, é possível a existência de seres espirituais que se afastaram de Deus (anjos rebeldes) devido à liberdade que Deus dá a todas as suas criaturas. Mas isto não significa que atuem nos homens."

      " O diabo (ou como quer que lhe chamem) como personificação do Mal não existe. 
O próprio homem é autor dos pecados e responsável por eles, causando seu próprio afastamento de Deus."




Fonte: Autor: Oscar G. Quevedo S.J.
Quem quiser aprofundar o assunto, adquira o livro
"Antes Que os Demônios Voltem"uma pesquisa mundial, uma bibliografia enorme a respeito!



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