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7 de setembro de 2014

Bento XVI, o Papa do sonho de Dom Bosco?


O mundo se surpreendeu na última segunda-feira, 11 de fevereiro, pela renúncia do Santo Padre o papa Bento XVI.
Muito se tem falando sobre esse gesto do papa que, embora já tenha ocorrido por três vezes na história bimilenar da Igreja e também previsto pelo Código de Direito Canônico, não deixa de ser para nós algo “ novo”, inusitado, visto que a enorme maioria dos Pontífices envelheceram, foram amparados em suas enfermidades e morreram no Trono de S. Pedro.

Segundo a Lei da Igreja, um papa pode renunciar, e para isso apenas basta manifestar o seu desejo publicamente e de forma inteiramente livre. Essa renúncia não pode ser aceita por nenhum dos cardeais, visto que a única autoridade acima do Vigário de Cristo é o próprio Cristo.

No canon nº 332, par. 2,, encontramos: “Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja feita livremente e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguem”.

E foi assim que Bento XVI procedeu, deixando claro que tem plena consciência de seu ato e com pleno uso de sua liberdade, renuncia ao Trono de S. Pedro, “ para o bem da Igreja”

O envelhecimento e o sumir das forças do Santo Padre é visível a todos , e justamente é esta explicação que o Sumo Pontífice coloca para justificar o seu ato.
Em seu comunicado aos cardeais e à cúria, determina o dia e a hora que a Sé de Pedro deve ser considerada vacante: dia 28 de fevereiro, às 20h ( horário Vaticano).

Sabemos, sem ingenuidades, que muitos lhe faziam oposição, inclusive dentro do próprio Vaticano: disputas, intrigas, escândalos e outras coisas lhe cercaram de perto, todavia sou de plena opinião que nada faria o Papa renunciar, nenhuma pressão; nem de um lado nem do outro. Embora de certa timidez, Bento XVI é incisivo naquilo que deseja realizar. Ficaria, sim, até o martírio se fosse necessário.
Mas enfim, o que o levou à renuncia?

Após a morte de João Paulo II, era da intenção de Ratzinger o recolhimento para descanso e sobretudo vida de oração.
De grande perspicácia , o Papa nada fazia que não falasse alto em gestos, desde o primeiro, na basílica de S. Pedro, quando, de forma diferente saudou os fiéis. Nenhum papa, que eu saiba, até hoje, fez aquele gesto: gesto de quem sai da batalha, ganhando a vitória e, claro, não era ele o vencedor, mas a Santa Igreja. Outro que deve nos falar muito é antes de tudo, a escolha de seu nome: Bento , com clara referência a S. Bento, patrono da Europa, fundador da “Escola do serviço do Senhor”. Aliás, Bento XVI, no inicio de seu reinado se colocou como um “humilde trabalhador na vinha do Senhor.”
Não! O papa não renunciou por fuga, deixando suas ovelhas à mercê dos lobos. Aliás no início ele nos pediu oração para que “ não sucumbisse diante dos lobos”.

Tenho a convicção que esse gesto do Santo Padre, mais que humano é sobrenatural. Nossa Senhora, nas bodas de Caná, antecipa a hora da Graça. Bento XVI, com sua renuncia, antecipa todas as coisas na Igreja. Como Moisés que conduziu o povo, mas não entrou na terra da promessa, necessitando de um novo líder, assim Bento XVI quer entregar o leme da Igreja àquele que já viria por vontade divina.
Nas aparições de Fátima, Jacinta assim exclama em relação à sua visão:

“Não sei como foi, eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de joelhos diante de uma mesa, com as mãos no rosto a chorar; fora da casa estava muita gente e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre, temos que pedir muito por ele!”
Aqui Lúcia a repreende dizendo que se ela continuar a falar poderá revelar o segredo.

Na época das aparições era Vigário de Cristo o papa Bento XV e, não nos consta que a profecia de Jacinta tenha se cumprido nos papas posteriores, a não ser no papa Bento XVI que foi o papa mais odiado pelo mundo inteiro, após Fátima. E claro, essa visão de Jacinta está diretamente ligada ao Segredo, visto que Lúcia lhe proíbe de continuar para não terminar revelando o segredo.
Muito se tem falado no Segredo de Fátima.

É verdade que por ocasião da beatificação de Francisco e Jacinta houve uma “ revelação” do que seria o Segredo, mas acredita-se e, com muita propriedade que, tratou-se de uma revelação parcial, não total do Segredo.

Outro fato também importante e que não pode ficar de lado é o sonho de D. Bosco, vejamos, vale a pena ler na integralidade:
http://www.padremarcelotenorio.com/2013/02/o-sonho-de-dom-bosco.html

Destacamos aqui alguns fatos do sonho:

a) O navio majestoso é a Barca de Pedro onde está o Papa e as barcas menores, que recebem comandos são as igrejas particulares.
b) As duas colunas são uma clara alusão à Santíssima Eucaristia, cento de nossa fé e à Virgem Imaculada, a onipotência suplicante que sempre teve, na história da Igreja um papel extremamente importante através de suas poderosas intervenções.
c) A primeira conferência convocada pelo comandante supremo e logo interrompida pelos ataques dos inimigos, é claro tratar-se do Concílio Vaticano I, interrompido pela guerra e a segunda reunião convocada pelo papa é o Concílio Vaticano II.
O Papa, inesperadamente, é atingido e cai:
“De súbito, o Papa cai gravemente ferido. Imediatamente, os que estão com ele o ajudam e o levantam”. Percebam que o papa não morre aqui. É apenas ferido e logo ajudado a levantar-se. Seria João Paulo II no atentado de 13 de maio de 1980?

Continua o sonho:

“Uma segunda vez, o Papa é atingido; ele cai de novo e morre. Um grito de júbilo e vitória irrompe dentre os inimigos; de seus navios eleva-se uma indizível zombaria. Mas assim que o Pontífice cai, um outro assume seu lugar. Os pilotos, tendo-se reunido, elegeram outro tão prontamente que, com a notícia da morte do anterior já se apresentam as boas novas da eleição do sucessor. “
Nessa última parte vemos um papa que é atingido “cai” e “ morre”. Primeiro cai, depois é que morre.
A renúncia de um papa não poderia ser visto também como uma queda? A morte acontece logo depois da “queda”, mas tão rapidamente é eleito o seu sucessor que a notícia da morte do ultimo se mistura com a da eleição do novo.

Ora mas me dirão que no sonho de Dom Bosco são dois os papas que aparecem e aqui, em nosso pensamento aparecem três: o que cai ferido, o que cai ferido e morre e o que coloca a Barca em seu devido lugar. O próprio D. Bosco, retrucando a quem dizia diferente, exclama que eram três os papas do sonho, confira:

http://www.montfort.org.br/fatima-um-segredo-contendo-um-enigma-envolto-em-um-misterio/#fatima4

É um sonho tremendo e que não pode ser desprezado.
Toda essa luta dos papas era para recolocar a barca de Pedro em segurança, presa às duas colunas.
Ora, todos sabemos os esforços que Bento XVI travou pela pureza do culto, sobretudo da Missa. Seu trabalho incansável pela restauração litúrgica, favorecendo a Missa antiga, como bem explicou em seu Motu Proprio “ Summorum Pontificum”, como também a correção dos desvios provocados pelo o que ele chamou de “espírito de ruptura”.
Isso não seria a busca urgente de atracar a Barca na coluna da Eucaristia?

E o que dizer do culto à Nossa Senhora, tão precioso para a Igreja e que chegou ao ápice no reinado de Pio XII?
Não precisa fazer análises delongadas para se constatar que o culto à Nossa Senhora, após o Concílio, sofreu uma baixa enorme. Já na época de Pacelli houve várias oposições à proclamação dogmática da Assunção, devido aos protestantes, todas ignoradas pelo Papa que queria e fez tal proclamação.

Era do desejo de Bento XVI a proclamação do dogma da Mediação Universal. Eu mesmo li a consulta que o papa enviou a todos os bispos do mundo inteiro sobre isso.
Em Castel Gandolfo, conversando com um monsenhor da Cúria sobre o desejo do papa, ele se colocou desfavorável, devido ao diálogo ecumênico. Para esse monsenhor, bastava a Mediação Universal ficar nas litanias.
Eu guardava muita esperança que o papa tomasse a decisão de proclamar Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças, mas infelizmente não aconteceu. Entretanto o seu desejo em realizar tal ato sinaliza que esse papa não estava longe de fazer a barca ser amarrada, também, na coluna da Virgem. E, se ele não estava longe…logo podemos acreditar, de alguma maneira, que o sonho de D. Bosco está chegando à sua plena realização.

No dia 28 de fevereiro, Bento XVI vai se retirar do Trono e a Sé ficará vacante. Quais os reais motivos de seu afastamento? Com a “queda” do papa também cai toda a Cúria Romana ou pelo menos, os cargos chefes.
Tive a oportunidade de no verão de 2010, entregar ao Santo Padre um belo quadro pintado por um artista de Campo Grande, Moacir Queiroz, no qual ele retratou o “Sonho de D. Bosco”. O pintor colocou no papa timoneiro o rosto de Bento XVI. Quando ele avistou o quadro, exclamou, olhando a figura do papa: “ Sou Eu!”…O “ Sou Eu” do papa fez-me lembrar a resposta de Deus a Moisés. Não sei se o papa estava dizendo isso porque se achou parecido com o do quadro, ou porque mesmo se identificou com o sonho. Nesse momento disse-lhe: “ O senhor é o Papa do sonho de D. Bosco”!

Bento XVI demorou-se, em silêncio, com seu dedo indicador percorrendo as duas colunas: primeiro, a da Eucaristia, segundo a de Nossa Senhora. O silêncio e a demora do papa foi notada não só por mim, mas por outras pessoas que comigo estavam.
Em que pensava o Santo Padre? Qual a razão de sua demora sobre a tela?…..Não saberei dizer. Só sei que em Bento XVI repousa um mistério, não humano, mais divino que silenciosamente avança….


Por: Padre Marcelo Ten´rotio

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