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26 de maio de 2013

NOVAS MUDANÇAS NA MISSA? parte II


I. NOVIDADES

As novidades propriamente ditas são poucas. Eis as mais significativas.

Abolição do altar voltado para a parede. 

- O Missal Romano ainda permitia o altar voltado para a parede, sobretudo em igrejas antigas. Agora se exige o altar voltado para o povo. Assim o altar deverá estar separado da parede, permitindo a locomoção do celebrante e dos ministros na celebração (cf. n. 299).

A posição do tabernáculo. 

- O tabernáculo não pode mais estar sobre ou embutido no altar da celebração eucarística. É de singular importância que o Santíssimo esteja numa capela reservada, ou no sacrário separado do altar da celebração. Numa capela, esta deverá estar conectada com a igreja e acessível aos fiéis. Se, ao contrário, se utiliza o sacrário no lugar da celebração, este não deverá estar no altar onde se celebra a Missa, sendo que a decisão sobre a colocação do sacrário pertence ao juízo do bispo diocesano (cf. n. 314-315).

Se a Eucaristia se encontra no sacrário, aqui, sinônimo de presbitério, o sacerdote, o diácono e outros ministros fazem uma genuflexão, quando se aproximam ou abandonam o altar, salvo durante a celebração da missa. Mas, os que não estão envolvidos na celebração da missa, deverão fazer a genuflexão, cada vez que passam diante do altar do Santíssimo Sacramento. Aqui parece tratar-se, do altar do Santissimo Sacramento e não do tabernáculo situado atrás do altar. Portanto, o sacerdote, o diácono e todos os ministros só fazem genuflexão ao Santíssimo ao chegar ao altar no início da Celebração eucarística e no fim (cf. n. 274).


II. INSISTÊNCIAS E PROIBIÇÕES

O canto do Ordinário da Missa dialogado com a assembléia. 

- Trata-se do primeiro nível ou do primeiro grau de Missa cantada. De modo geral a Instrução expõe a importância do canto da Missa:

“Dê-se grande valor ao uso do canto na celebração da Missa, tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia litúrgica. Ainda que não seja necessário cantar sempre todos os textos de per si destinados ao canto, por exemplo nas Missas dos dias de semana, deve-se zelar para que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações dos domingos e festas de preceito.

Na escolha das partes que de fato são cantadas, deve-se dar preferência às mais importantes e sobretudo àquelas que o sacerdote o diácono, o leitor cantam com respostas do povo; ou então àquelas que o sacerdote e o povo devem proferir simultaneamente” (n. 40). Estas últimas são as chamadas partes do Comum da missa. Em último lugar vem o canto das partes próprias da Missa, ou seja, o canto da entrada, das oferendas e da Comunhão.

Mais adiante, no item que trata da Oração eucarística se diz o seguinte:
“É muito conveniente que o sacerdote cante as partes da Oração eucarística, enriquecidas pela música” (n. 147b).

Nos Ritos orientais o canto do sacerdote em diálogo com a assembléia é intensamente cultivado. Não tanto no Ocidente. Mas no tempo da Missa em latim certamente o sacerdote cantava mais. Eram as missas solenes com três padres, ou três ministros, o sacerdote presidente, o diácono e o subdiácono.
Ou eram as Missas cantadas. Por que este quase abandono do canto do sacerdote?
Houve ao menos duas causas. Feita a tradução dos textos latinos do Missal faltaram as melodias em vernáculo, inclusive porque os especialistas em música religiosa quiseram fazer preceder toda uma pesquisa que servisse de base para as novas melodias. Sorte que a edição do Missal pela Vozes inseriu em encarte melodias inspiradas no Canto gregoriano que praticamente são as únicas usadas quando o sacerdote canta partes da Missa. Temos ainda um segundo motivo: a falta de formação musical nos Seminários. Já não conseguem solfejar. Hoje em dia praticamente só se canta por ouvido. Hoje, graças a Deus já existe um material musicado mais abundante.

O canto gregoriano. 

- Insiste-se que o canto gregoriano ocupe o primeiro lugar entre as demais expres-sões do canto por ser próprio da Liturgia romana. Contudo não se excluem outros gêneros de canto (cf. n. 41).

O Glória e o Cordeiro de Deus. 

- Há uma proibição explícita de se substituir o texto do hino do Glória por outro (cf. n. 41). Acontece o mesmo com o Cordeiro de Deus (cf. n. 366). Esta substituição tornou-se costume que se espalhou por alguns países.

Trata-se de um venerável hino de louvor à Santíssima Trindade, com caráter cristológico e pascal. Por isso, não pode ser substituído por um simples canto de glória. Faz parte de antiga tradição da Igreja oriental e depois também da ocidental. No Ocidente inicialmente era proclamado somente pelo Papa em Roma; depois, no dia da Páscoa e pelos presbíteros, em sua Missa primicial.

Aos poucos começou a ser cantado em dias solenes, como grande doxologia, desdobramento do Kyrie. Na reforma pós-conciliar, voltou a ser previsto somente nos domingos não roxos, nas Festas e Solenidades. Sendo um hino em prosa, é um pouco difícil de ser cantado por toda a assembléia. Temos agora uma versão opcional para o canto, em cinco estrofes.

Há muito vínhamos insistindo que não se substituísse o Glória por “glorinhas”, meras aclamações trinitárias, ou outro canto de glória como se começou a chamar este canto. O Glória, como o Cordeiro de Deus fazem parte do Ordinário da Missa. O que se diz aqui do Glória e do Cordeiro de Deus vale “a fortiori” do Santo.

O “Santo”. 

- O que vale para o Glória e o Cordeiro de Deus, vale “a fortiori” do Santo. O Sanctus faz parte integrante da Oração eucarística. Constitui grande doxologia que abre o “Santo dos Santos” da Oração eucarística. Aclamação inspirada na Bíblia ressalta dois aspectos de toda a Liturgia, mas sobretudo do Sacrifício eucarístico: seus aspectos transcendente e imanente. No Santo existem ao menos três elementos fundamentais a serem considerados: A santidade de Deus, o Deus transcendente. O aspecto numinoso do mistério. Depois, a majestade de Deus, bem como sua glória manifestada na criação:

O céu e a terra estão cheios da vossa glória. Seria esta a tradução mais autêntica do texto original latino: Pleni sunt caeli et terra gloria tua. A nossa tradução O céu e a terra proclamam a vossa gloria aceita e aprovada no convênio com Portugal, certamente enfraquece um pouco o sentido do original, onde se realça a ação de Deus e não tanto a resposta da criação.
O terceiro aspecto é a imanência de Deus. Por isso: Bendito o que vem em nome do Senhor. É a teofania, a manifestação de Deus no mistério de Encarnação do Filho, Jesus Cristo.

Acontece que o memorial das obras maravilhosas deste Deus é retomado após a aclamação do Santo, a partir de um dos elementos da própria aclamação. Por exemplo, na Segunda Oração eucarística:

Na verdade, ó Pai, vós sois santo e fonte de toda a santidade. Santificai, pois... A partir do reconhecimento do Deus Santo, passa-se à invocação do Espírito Santo na chamada epiclese. Em outras orações eucarísticas, como na Quarta, retoma-se a proclamação a partir da plenitude da glória do Deus santo que enche o céu e a terra; retoma-se a narração a partir da obra de Deus da criação. Assim, retomar a Oração eucarística após um canto onde mal ocorre a palavra santo constitui um grave empobrecimento e uma distorção da própria Oração eucarística. Não há, pois, lugar para traduções adaptadas, muito menos introduzindo o termo Javé para Deus.
A Linha 4 da Liturgia da CNBB pede que, por respeito aos judeus que não pronunciam esta palavra, não se use esse nome para Deus na Liturgia.

A Palavra de Deus. 

- As leituras e o Salmo responsorial sejam bíblicas (cf. n. 57). Portanto, não podem ser substituídos por outros textos por mais nobres que eles sejam. O Salmo responsorial faz parte da celebração da Palavra de Deus. É como que mais uma leitura em forma de salmo. É Deus falando na resposta orante da assembléia. Deve ser superada a concepção de que o Salmo responsorial é uma mera meditação da Palavra de Deus e assim o conceito de mero canto de meditação.

Proclamação da Palavra de Deus. - Tratando da Liturgia da Palavra a Instrução não usa mais os termos “ler” ou “recitar” a Palavra, mas “proclamar” as leituras, o Evangelho (cf. n. 128, 130 e 135).

Por trás desta mudança podemos perceber a insistência no caráter celebrativo da Palavra, que não é mera leitura, mas anúncio. A esta atitude deverá corresponder também o modo de os fiéis acolherem a Palavra de Deus, ou seja, pela audição. Daí podemos concluir que não convém que os féis acompanhem a proclamação através da leitura de folhetos. Os fiéis não se reúnem para uma leitura comunitária da Palavra de Deus, mas para ouvi-la. Não seria o caso de se modificarem os “folhetos litúrgicos”? Por exemplo, trazendo apenas a indicação das “leituras”?

A presidência única da Missa. - Insiste-se que um e o mesmo sacerdote exerça a presidência da Missa (cf. n. 108).
Exclui-se, portanto, uma presidência que começou a ser chamada de presidência colegiada. Isso não exclui a participação dos concelebrantes em partes que lhes são confiadas pelas próprias normas da celebração.

Aqui tem sentido uma reflexão sobre o respeito à palavra em geral e à palavra do presidente da celebração. A palavra constitui uma das principais formas de as pessoas se comunicarem. Na Liturgia ela tem valor de símbolo em si mesma e constitui o meio mais comum de se dar sentido às ações e aos sinais. Isso vale sobretudo quando alguém usa da palavra em solo. Diz a Introdução ao Missal:

“A natureza das partes “presidenciais” exige que sejam proferidas em voz alta e distinta e por todos atentamente escutadas. Por isso, enquanto o sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão ou qualquer instrumento” (cf. 32). O que se diz das partes “presidenciais” vale das leituras e preces proclamadas por outros ministros. Também no canto comunitário, importa que a melodia, o ritmo e os instrumentos não sufoquem a letra. Importa considerar o caráter dialogal da celebração litúrgica.

Vestes litúrgicas. 

- Insiste-se que os presbíteros ao concelebrarem a missa estejam revestidos das vestes sagradas (cf. n. 114). Curioso que não se fala de vestes litúrgicas, mas de vestes sagradas.

Comunhão de hóstias consagradas na missa. 

- Já tive a tentação de escrever um artigo sobre cacoetes litúrgicos. Os presidentes sofrem tremendamente de certos cacoetes, difíceis ou quase impossíveis de serem corridos, como qualquer cacoete. Há sacerdotes que continuam a traçar o sinal da cruz sobre a água que vão colocar no cálice. Ou traçam o sinal da cruz com a hóstia que vão comungar. Fazem inclinação da cabeça às palavras do início do Prefácio:

Demos graças ao Senhor, nosso Deus. Fazem inclinação às palavras introdutórias à narração da Instituição: deu graças. Ora tudo isso não mais existe. Outros cacoetes se eternizam pela lei do menor esforço. Um deles é a mania de colocar tudo quanto é coisa sobre o altar no início da celebração.

Outro é insistir na distribuição da Sagrada Comunhão com hóstias consagradas em celebrações anteriores. Ora, não só o padre, mas também os fiéis em geral são insistentemente convidados a comungarem do pão eucarístico consagrado missa que está sendo celebrada. É pela ação de graças que Cristo se torna presente na Ceia do Senhor. Diz a Introdução ao Missal:

“É muito recomendável que os fiéis recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma Missa e participem do cálice nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a comunhão se manifeste mais claramente como participação do Sacrifício celebrado” (n. 85).

Não se justifica, pois, obrigar os fiéis a comungarem somente de hóstias tomadas do sacrário. É válido, quando faltam hóstias consagradas na Missa ou para renovar a reserva do sacrário. Cuidar disso é sobretudo função dos sacristães e dos ministros extraordinários da Comunhão eucarística. Mas, o responsável último é o sacerdote celebrante.

A Sagrada Comunhão recebida só do ministro. 

- Os comungantes nunca podem receber a Comunhão, tomando-a por própria iniciativa sobre o altar e muito menos uns dos outros, senão somente do sacerdote ou ministro da Eucaristia (cf. n. 16).

O silêncio. 

- A comunicação na Liturgia é globalizante. Expressa-se não só pela palavra. A participação ativa se faz através de todos os sentidos do ser humano: ela se realiza pelos olhos, pelos ouvidos, pela boca, o gosto, o olfato, o tato, a ação, o movimento e pelo silêncio. Mas um silêncio significativo, um silêncio eloqüente. Por isso, a Instrução insiste sobre o silêncio, sobretudo após as leituras e após a homilia (cf. n. 136). E no n. 45 se diz:

“Oportunamente, como parte da celebração deve-se observar o silêncio sagrado. A sua natureza depende do momento em que ocorre em cada celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, cada fiel se recolhe; após uma leitura ou a homilia, meditam brevemente o que ouviram; após a comunhão, enfim, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração.
Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na igreja, na sacristia e mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados mistérios”.

A Oração eucarística deve ser proferida somente pelo sacerdote. - Eis o que diz a Instrução:

O sacerdote inicia a Oração eucarística. Conforme as rubricas ele escolhe uma das Orações eucarísticas do Missal Romano, ou aprovadas pela Santa Sé. A Oração eucarística, por sua natureza, exige que somente o sacerdote, em virtude de sua ordenação, a profira.
O povo, por sua vez, se associe ao sacerdote na fé e em silêncio e por intervenções previstas no decurso da Oração eucarística, que são as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação após a consagração, e a aclamação Amém, após a doxologia final, bem como outras aclamações aprovadas pela Conferência dos Bispos e reconhecidas pela Santa Sé. É muito conveniente que o sacerdote cante as partes da Oração eucarística, enriquecidas pela música (cf. n. 147).

A Oração eucarística é fundamentalmente um memorial, uma recordação dos benefícios de Deus, em especial, do maior de todos, a morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. É normal que a história seja contada por uma pessoa e os presentes, ouvindo atentamente a história, interrompam de vez em quando por exclamações ou aclamações. É a maneira própria de a assembléia se manifestar.

Também no memorial do sacrifício eucarístico da morte e ressurreição de Jesus, uma pessoa foi incumbida de narrar a história da salvação, tornando-a assim novamente presente. É o Presidente da assembléia, o sacerdote. A assembléia, por sua vez, em momentos mais significativos se manifesta através das aclamações.

O “Por Cristo”, só do sacerdote. 

- “No fim da Oração eucarística, o sacerdote, tomando a patena com a hóstia e o cálice ou elevando ambos juntos profere sozinho a doxologia: Por Cristo. A término, o povo aclama: Amém. Em seguida, o sacerdote depõe a patena e o cálice sobre o corporal” (n. 151).

O “Por Cristo, com Cristo” é só do padre. Por que?

Porque a Oração eucarística é memorial, ou seja, anuncia narrando os benefícios de Deus à humanidade, particularmente o mistério pascal salvador de Cristo, desde o plano eterno de Deus até a escatologia.
No gênero literário da Oração eucarística é um que narra, que anuncia, que conta. No caso da Eucaristia, é alguém chamado e enviado por Cristo e pela Igreja: o bispo ou o presbítero. Para tanto ele recebeu o Espírito Santo pela imposição das mãos.
A doxologia final da Oração eucarística faz parte desta proclamação. O modo natural de a assembléia se manifestar e intervir na Oração eucarística é pelas aclamações, como o Santo, a Aclamação após a Consagração e o Amém final, fazendo sua a narração.
A doxologia não é aclamação e, por isso, também não é proclamada por toda a assembléia. É, sim, um resumo de toda a Oração eucarística, retomado pelo celebrante e proposto para a aclamação de toda a assembléia.

Intervenções da assembléia durante a Oração eucarística. 

- “O Presidente não intervenha durante a Oração eucarística” (n. 31). Isso vale também para toda a assembléia que poderá manifestar-se segundo o previsto, ou seja, através das diversas aclamações constantes na Oração eucarística.

Uma das aclamações mais importantes é certamente a aclamação após a Consagração. A Instrução insiste: “Após a consagração, tendo o sacerdote dito:

“Eis o mistério da fé”, o povo profere a aclamação, usando uma das fórmulas prescritas” (cf. n. 151).
Não é propriamente uma adoração, mas o testemunho e o anúncio do mistério pascal. A assembléia aclama, professando sua fé no mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo.
Deve usar uma das três fórmulas previstas.
Cada uma delas realça um aspecto do sacrifício eucarístico:
a Missa como ação de graças, a Missa como Ceia do Senhor, a fé na salvação pela morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O ministro da Santa Comunhão. 

- “Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado nem o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si” (cf. n. 160). Com isso quer-se insistir que o sacerdote não é somente ministro do memorial da morte e ressurreição do Senhor, que torna presente Jesus Cristo no Sacramento, mas é ministro também da Comunhão eucarística.
Em sua ação de servir o Corpo e Sangue do Senhor ele se manifesta como presença do próprio Cristo que distribui o Pão, seu Corpo, e o Cálice, seu Sangue: Jesus tomou o pão, partiu-o e deu a seus discípulos. Na simplicidade e na pobreza os fiéis recebem o Corpo e o Sangue do Senhor, sem deles se apossarem.

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