O Cardeal Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano, precisou que a indissolubilidade do matrimônio não é uma mera doutrina, mas é um dogma da Igreja, e ressaltou a necessidade de compreender a realidade deste sacramento e da família.
Assim o indicou o Cardeal alemão em um livro-entrevista que será publicado em breve e que foi realizado pelo jornalista espanhol Carlos Granados, diretor da Biblioteca de Autores Cristãos em Madri. O livro se chama “A esperança da família” e será lançado em inglês, italiano e espanhol, por parte da editora Ignatius Press.
No texto, o Cardeal corrige os maus entendidos sobre os ensinamentos da Igreja em relação à família, refere-se à dramática situação dos filhos de pais separados e ressalta a necessidade de uma maior educação que deve começar com a realidade do amor de Deus.
O livro, assinala Andrea Gagliarducci, vaticanista da CNA –agência em inglês do grupo ACI– pode considerar-se como a “contribuição definitiva” para os preparativos para o seguinte Sínodo dos Bispos, dedicado à família, que se realizará em Roma de 5 a 19 de outubro. Por enquanto, o Cardeal decidiu não dar mais entrevistas.
Diversas publicações especularam sobre “possíveis mudanças” no ensinamento da Igreja em relação à recepção da comunhão por parte dos divorciados em nova união, assim como uma disciplina mais laxa quanto à anulação do matrimônio.
Ante estas especulações, o Cardeal Müller reafirma que “a total indissolubilidade de um matrimônio válido não é mera doutrina, mas é um dogma divino e definitivo da Igreja”.
Sobre quem diz que os divorciados podem “começar tudo de novo” ou que o amor entre duas pessoas pode morrer, o Cardeal indicou que “estas teorias estão radicalmente erradas”.
O Cardeal Müller explica que “não se pode declarar que um matrimônio está extinto sob o pretexto de que o amor entre os esposos está ‘morto’” porque “a indissolubilidade do matrimônio não depende dos sentimentos humanos, sejam eles permanentes ou transitórios. Esta propriedade do matrimônio é querida por Deus mesmo. O Senhor está envolvido no matrimônio entre homem e mulher, e por isso o laço existe e tem sua origem em Deus. Essa é a diferença”.
Para o Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé os erros no entendimento do matrimônio na nossa sociedade são o resultado do individualismo, e propõe um novo anúncio da Palavra de Deus para superá-los.
“Em um mundo amargamente individualista e subjetivista, o matrimônio já não se percebe como uma oportunidade para o ser humano de chegar a sua plenitude, compartilhando o amor”, lamenta.
“Estamos chamados a anunciar uma vez a Deus, à Trindade de Amor! Devemos anunciar o Deus revelado que nos chama a sermos parte de seu ser relacional”, afirma e acrescenta que é importante uma boa educação para o sacramento: “a preparação remota para o matrimônio – desde a infância e a adolescência – deve ser uma prioridade pastoral e educativa”.
Ante os erros e a má compreensão do matrimônio, o Cardeal Müller assinala logo que “como pastor, digo-me a mim mesmo: não pode ser! Temos que dizer a verdade às pessoas! Devemos abrir os seus olhos, dizer-lhes que foram covardemente enganadas através de uma falsa antropologia que só pode levar ao desastre”.
“Os órfãos do divórcio, às vezes rodeados por muitos bens e com muito dinheiro disponível, são os mais pobres entre os pobres, porque têm coisas materiais, mas estão privados do bem fundamental: o amor entregado dos pais que eles mesmos negam para seus filhos”.
O livro “A esperança da família” contém um prefácio escrito pelo Cardeal Fernando Sebastián, de quem o Papa Francisco quando ainda era o Cardeal Jorge Mario Bergoglio se considerava seu “aluno”, no qual assinala que “o principal problema presente na Igreja em relação à família não é o pequeno número de divorciados recasados que querem receber a comunhão eucarística”.
“Nosso problema mais sério é o grande número de batizados que se casam civil e sacramentalmente que não vivem o matrimônio ou a vida esponsal em harmonia com a vida cristã e os ensinamentos da Igreja, que os converteria em ícones viventes do amor de Cristo por sua Igreja presente e servindo no mundo”.
Em sua defesa do dogma da indissolubilidade do matrimônio, também se uniram ao Cardeal Müller os cardeais Caffarra, Brandmüller, Bagnasco, Sarah, Re, Ruini, Di Paolis, e Collins, entre outros.
Em 7 de outubro, Ignatius Press também lançará o livro “Permanecendo na verdade de Cristo”, um trabalho de cinco cardeais que responde ao Cardeal Walter Kasper e que refutam a “premissa de que a doutrina tradicional católica e a prática pastoral contemporânea estão em contradição”.
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