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Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos.
Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento.
Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia.
O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, como os mistérios de Elêusis, com as doutrinas do Cristianismo. Em seu sentido mais abrangente, o Gnosticismo significa "a crença na Salvação pelo Conhecimento".
Das mulheres que aparecem nos Evangelhos, a que tem maior relevo, depois da Mãe de Jesus, é Maria madalena. Certamente porque ocupava um lugar de destaque nas memórias que se transmitiam sobre a vida de Jesus. Antes de mais nada, é apresentada como testemunha importante da morte e ressurreição do Senhor. Em Mateus, Marcos e Lucas, sempre é mencionada como a primeira de um grupo de mulheres que contemplaram de longe a crucifixão (Mc 15, 40-41), foram para onde Jesus estava sepultado (Mc 15, 47) e, segundo São Mateus, permaneceram sentadas em frente ao sepulcro (MT 27, 61). Conta-se também que no domingo de madrugada, Maria Madalena e outras mulheres voltaram novamente a ungir o corpo com aromas que haviam comprado (Mc 16, 1-7) e que lá receberam de um anjo a notícia da ressurreição e a tarefa de comunicá-la aos discípulos.
São Lucas, e somente ele, dá, além disso, a informação de que muitas mulheres que haviam sido libertas de doenças e de espíritos imundos seguiam a Jesus na Galiléia e o serviam com os seus bens, entre elas Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios (Lc 8, 2-3; Mc 16,9).
São João narra as coisas de outra forma. A Madalena aparece ao pé da cruz e é mencionada em último lugar, após a Mãe de Jesus, sua irmã e Maria, mulher de Cleófas (Jo 19, 25). Em seguida conta que no domingo, quando ainda era noite, foi ao sepulcro e ao ver a pedra retirada, correu para contar a Pedro e ao discípulo amado, pensando que alguém levara o corpo (Jo 20, 1-2). Em seguida, lemos que estava chorando junto ao sepulcro e, na continuação, vem a cena na qual Jesus aparece ressuscitado, encarregando-a de levar aos discípulos a mensagem de que subia para o Pai (Jo 20, 11-18). Em São João, a figura de Maria Madalena está repleta de simbolismo e representa a Igreja que busca e encontra o seu Mestre ressuscitado, e pode proclamar “vi o Senhor”.
Três mulheres
Dos relatos evangélicos, não se deduz que Maria Madalena seja a pecadora que segundo Lucas 7, 36-39 ungiu Jesus e secou seus pés que molhara com suas lágrimas. Esta identificação se propagou na Igreja latina em fins do século IV com São Gregório Magno. Foi resultado de um processo de interpretação dos Evangelhos no qual não falta lógica, mas que, certamente, não se impõe.
A partir do ano 200, alguns Santos Padres e escritores eclesiásticos, de Alexandria e do norte da África (por exemplo, Clemente de Alexandria e, mais tarde, santo Ambrósio de Milão e Santo Agostinho) identificaram como uma só mulher as três que aparecem nos Evangelhos ungindo a Jesus:
Maria Betânia, irmão de Lázaro (Jo 12, 1-8), outra cujo nome não é dito (MT 26, 6-13); Mc 14, 3-9) e a mulher pecadora de quem fala Lucas 7, 36-50. O passo seguinte foi a identificação com Maria Madalena.
Desta maneira, colocava-se em harmonia os diferentes relatos evangélicos e as coisas eram simplificadas. Com tal identificação, não se manchava sua imagem, mas inclusive a deixava exaltada: também São Pedro negara o Mestre e São Paulo fora perseguidor dos cristãos, e muitos grandes santos foram grandes pecadores antes de sua conversão.
Outros escritores, sobretudo no Oriente, mantiveram a diferenciação entre as três (por exemplo, Santo Éfren e São João Crisóstomo).
Receptora de revelações secretas
Da figura de Maria Madalena que aparece nos Evangelhos canônicos deriva a utilização que se faz dela em outros escritos mais ou menos posteriores para apresentar revelações secretas sobre Jesus. Trata-se de obras cujos ensinamentos divergem da tradição apostólica recolhida no Novo Testamento e que pertencem a algumas correntes gnósticas que surgiram nos séculos II e III. Ainda que por vezes essas obras foram transmitidas com o título de “evangelho”, na verdade não pertencem a este gênero literário, já que nem contêm relatos sobre a vida de Jesus, nem seus autores estão interessados neles. Os discípulos aparecem apenas como os que perguntam e como os destinatários de revelações feitas após a ressurreição.
Portanto, não surpreende que Maria Madalena fosse um dos personagens preferidos por tais escritos enquanto receptora da revelação secreta, já que o Senhor apareceu a ela após a Ressurreição.
Normalmente, não é chamada de Maria Madalena, como acontece nos evangelhos, mas é nomeada apenas como Mariam, Mariamne ou Mariham. Isto é um indicativo de que sua identidade pessoal não tem, de certo forma, muito relevo: o que importa é o que ela representa como gnóstica.
Mariam é praticamente a única mulher que, ao lado dos apóstolos, ouve as revelações secretas de Jesus. Desta forma a vemos no “Evangelho de Tomás”, no “Diálogo do Salvador”, no “Pistis Sofia” e em outras obras fazendo perguntas ao Salvador, por vezes mais do que qualquer um dos apóstolos.
No “Evangelho de Maria”, no qual somente ela é a destinatária da revelação feita por Jesus ao ascender ao céu, diz-se que até mesmo Simão Pedro reconhece em dado momento que o Senhor lhe falou e dá razão a ela: porque a amou mais do que a outras mulheres.
Este recurso a Mariam era uma forma de justificar as doutrinas apelando para essas revelações.
Fonte: Por Gonzalo Aranda Pérez -
Professor de Antigo Testamento da Universidade de Navarra.
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