Vários anos atrás, era fora de moda falar de anjos e demônios; precisava ter coragem até para falar nas igrejas e na catequese para as crianças. Famosa ficou a frase de R. Bultmann no seu livro Kerigma und Mytos vol I de 1955: "Não se pode usar a luz elétrica e o rádio, servir-se de modernos instrumentos médicos e clínicos e acreditar, ao mesmo tempo, no mundo dos espíritos e dos milagres do Novo Testamento". Esta era a mentalidade científica daquele tempo que rejeitava, a priori, também o mundo angélico. Não é intenção desse artigo criticar ou aprovar a citação acima, mas constatar que essa mentalidade foi desmentida pelos fatos dos últimos anos. Hoje, existe por aí um esvoaçar de anjos de todo tipo, que cria confusão nas pessoas e que abriu um rico mercado, colocando o assunto entre os que mais vendeu nos últimos anos. Somente em 1995, foram colocados no mercado mais de 52 títulos diferentes sobre os anjos.
Crie seu anjo pessoal e viva bem
Mas que anjos são esses?
A quanto parece, certamente não são os anjos da tradição cristã, visto os títulos e os artigos que aparecem nas revistas da grande mídia e da New Age. Anjos cabalistas, crianças e adolescente, jovens e adultos, masculinos e femininos, vestidos de sol, de guerreiros ou seminus, conforme o gosto pessoal. Não seria totalmente estranho se alguém lançasse um manual sobre anjos com o título "Crie seu anjo pessoal e fique de bem com a vida".
Até o antigo dito - "discutir o sexo dos anjos" - que significava uma discussão inútil, hoje, perdeu significado porque cada um pode fabricar seu anjo a seu prazer; além disso, há livros sobre o sexo e as preferências dos anjos...
Esse grande revival de seres celestiais, nos anos que precedem o fim do século 20, fez com que alguns esotéricos "suspeitassem" que os anjos estariam preparando uma grande jornada na terra. O motivo era a passagem para o terceiro milênio ou a crença - pelo menos até agora infundada - da iminência do fim do mundo. Os anjos deveriam guiar os homens nessa difícil passagem e preparar o novo milênio. Mas o fim não aconteceu e os anjos continuam voando, cada vez mais numerosos, nos livros e nas lojas esotéricas.
Desse conjunto de suposições esotéricas, explica-se em parte a súbita paixão pelos anjos. O homem moderno sente falta de um amparo espiritual e constrói sucedâneos que lhe possam dar certa tranqüilidade e segurança interior. Para muitos, a devoção aos anjos torna-se uma terapia econômica porque dispensa o psicólogo.
Alguns escritores descobriram até que esses seres seriam parte da cabala, portanto, cada anjo teria um nome, um número mágico e uma hora mais propícia para proteger seus afilhados.
Quem seriam esses anjos?
Num vôo pela história das várias re-ligiões, encontramos seres semelhantes aos que chamamos de anjos: seres espirituais, incorpóreos, mensageiros - donde o nome angelus (anjo) - da divindade superior. Na Bíblia, podemos encontrá-los em vários lugares e em várias funções: como guardião do paraíso terrestre; aparecendo a Abraão para anunciar-lhe o nascimento do filho; como companheiro de viagem do filho de Tobias ao qual fornece um remédio para a cegueira do pai; enfeitando a arca da Aliança - talvez a única imagem antropomórfica dos mesmos com três pares de asas. No livro do profeta Ezequiel, há uma detalhada descrição de anjos e como eles servem ao trono de Deus.
No Novo Testamento, um anjo anuncia a Maria o nascimento de Jesus, resolve as dúvidas de José, aparece no sepulcro vazio após a ressurreição, anuncia a volta do Salvador e liberta Pedro da prisão. No Alcorão, lemos que a revelação, ou parte dela, a Maomé foi feita por Gabriel, um arcanjo importante na hierarquia angélica, e anjos guardam o inferno islâmico. Em outras religiões, encontramos manifestações de seres anunciadores de mensagens celestes e intermediários entre a divindade máxima e os homens.
Em oposição aos anjos existem os demônios, isto é, anjos decaídos que se revoltaram contra Deus e foram castigados. O núcleo dessa rebelião angélica encontra-se nas três religiões que surgiram da Bíblia: judaísmo, islamismo e cristianismo, porém, com nuanças diferentes. Para os cristãos, Lúcifer, o anjo da luz que se tornou Satanás, revoltou-se contra Deus por soberba e por não querer aceitar a futura encarnação do Filho de Deus num homem, alegando ser indigno querer que anjos, seres superiores, adorassem um Deus encarnado num homem, ser inferior.
Alguns rabinos diziam que os anjos decaídos teriam se revoltado contra Deus querendo demonstrar a própria superioridade sobre os homens ou, conforme a curiosa interpretação de outros, por não ter o poder de gerar filhos, possibilidade que foi concedida por Deus aos homens. Para confirmar isso, lembram uma citação bíblica que diz que alguns espíritos fugitivos do paraíso teriam seduzido mulheres e criado gigantes monstruosos.
Quantos são?
As discussões são enormes: alguns opinam que seriam 99 vezes o número dos homens, para atender a todas as funções de anjos da guarda de cada ser humano vivo e ao serviço na corte celeste, superando em 2/3 o número de demônios. São Tomás de Aquino diz que Deus criou anjos em "abundância" para atender aos homens e proteger o universo.
Será que os anjos têm asas?
Tirando a única citação sobre as asas dos querubins na arca e a simbólica descrição de Ezequiel, não consta - na tradição judaica - que esses seres incor-póreos tivessem asas, embora se deslocassem com a velocidade dos espíritos. A tradição popular cristã sobre os anjos com asas parece ter iniciado no séc.5,para distingui-los dos mensageiros pagãos da mitologia greco-romana. Essa tradição foi assumida e confirmada pelos artistas que criaram asas de todo tipo.
Pelo pouco que falamos, pode-se deduzir que sendo os anjos seres indefinidos, foram adaptados aos gostos de cada inventor de modismos angélicos. Mas a diferença entre os anjos da New Age e do catecismo católico é enorme. Para concluir, queremos terminar com a frase de Alix de Saint-André que nos lembra que "sem Deus, o anjo se torna absurdo", ou seja, procuremos o Deus vivo e encontraremos o verdadeiro anjo, seu mensageiro.
Os anjos conforme a tradição da Igreja católica
Os anjos fazem parte do patrimônio teológico-cultural da Igreja. Eles seriam seres espirituais, incorpóreos, criados por Deus, inteligentes, imortais, superando em perfeição todas as criaturas, destinados a proteger (anjo da guarda) as pessoas, do nascimento até a morte, e a Igreja.
Entre os pronunciamentos de vários papas, encontramos que os anjos são mediadores entre Deus e os homens. O resto pertence à tradição popular que sempre teve uma particular devoção por esses seres alados, tão bons, que se tornaram simpáticos até àqueles que não acreditam em Deus.
Fonte: Ernesto Arosio
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