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20 de agosto de 2010

Presença de Cristo Salvador na Liturgia


Deus, que “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tim 2,4), “tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas” (Hebr 1,1), quando chegou à plenitude dos tempos, enviou o Seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito Santo, a evangelizar os pobres, curar os contritos de coração (Cfr. Is 61,1; Lc 4,18), como médico da carne e do espírito (S. Inácio de Antioquia aos Efésios, 7,8: F.X. Funk, Patres Apostolici, I, Tubinga, 1901, p.218), mediador entre Deus e os homens (Cfr. I Tim 2,5).


A sua humanidade foi, na unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação. Por isso, em Cristo “se realizou plenamente a nossa reconciliação e se nos deu a plenitude do culto divino” (Sacramentário de Verona, ed. C. Mohlberg, Roma, 1956, nº1265, p.162).


Esta obra da redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus, prefigurada pelas suas grandes obras no povo da Antiga Aliança, realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão, em que “morrendo destruiu a nossa morte e ressurgindo restaurou a nossa vida” (Missal Romano, Prefácio Pascal).


Foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja (Cfr. S. Agostinho, Enarr. In Ps. CXXXVIII, 2: Corpus Christianorum XL, Tournai, 1956, p.1991; e a oração depois da segunda leitura de Sábado Santo antes da reforma da Semana Santa, no Missal Romano).


Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para que, pregando o Evangelho a toda a criatura (Cfr. Mc 16,15), anunciassem que o Filho de Deus, pela sua morte e Ressurreição, nos libertara do poder de Satanás (Cfr. At 26,18) e da morte e nos introduzira no Reino do Pai, mas também para que realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o sacrifício e os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica.


Pelo Batismo são os homens enxertados no mistério pascal de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados (Cfr. Rom 6,4; Ef 2,6; Col 3,1; 2 Tim 2,11); recebem o espírito de adoção filial que “nos faz clamar: Abba, Pai” (Rom 8,15), transformando-se assim nos verdadeiros adoradores que o Pai procura (Cfr. Jo 4,23). E sempre que comem a Ceia do Senhor, anunciam igualmente a sua morte até Ele vir (Cfr. 1 Cor 11,26).


Por isso foram batizados no próprio dia de Pentecostes, em que a Igreja se manifestou ao mundo, os que receberam a palavra de Pedro. E “mantinham-se fiéis à doutrina dos Apóstolos, à participação na fração do pão e nas orações... louvando a Deus e sendo bem vistos pelo povo” (At 2, 41-47).


Desde então, nunca mais a Igreja deixou de se reunir em assembléia para celebrar o mistério pascal: lendo “ o que se referia a Ele em todas as Escrituras” (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia, na qual “se torna presente o triunfo e a vitória da sua morte” (Conc. Trento, Sess. XIII, 11 Out. 1551), e dando graças “a Deus pelo Seu dom inefável (2 Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor da sua Glória” (Ef 1,12), pela virtude do Espírito Santo.


Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – “O que oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que ofereceu na Cruz” (Conc. Trento, Sess. XXII, 17 Set. 1562)– quer, e sobretudo, sob as espécies eucarísticas.


Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza (Cfr. S. Agostinho, in Joannis Evangelium Tractatus VI). Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18,20).


Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai.


Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo – cabeça e membros – presta a Deus o culto público integral.


Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação na Igreja.

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