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14 de novembro de 2014

O sorriso do progresso.



– Em uma interessante entrevista, o Cardeal Braz de Aviz mencionou o progresso na resolução do “caso Franciscanos da Imaculada”. Depois de quase ter destruído aquele Instituto, o qual pouco tempo atrás ainda estava florescente, o prefeito da Congregação responsável explicou que finalmente eles descobriram os problemas.

O problema é a “negação do Concílio” escondida por detrás da “referência ao rito extraordinário”. Não sem razão Maurizio Grosso (“Corrispondenza Romana”) manifestou alguma perplexidade em torno da expressão “o Concílio”. Mas eu não vou ser assim tão malicioso e prefiro ver na expressão do Cardeal apenas um “atalho linguístico”. Suponho que o prelado a tenha usado apenas porque o Vaticano II é até agora o mais recente dos Concílios. Então, se o cardeal dissesse, por exemplo, “a Copa”, estaria se referindo à última Copa do Mundo (deveria então explicar depois tal expressão para os seus conterrâneros, que provavelmente prefeririam evitar tal exaltação), e se ele dissesse “a guerra mundial”, de certo não o faria ignorando que foram duas guerras, mas simplesmente para poupar o tempo que se gasta em pronunciar as palavras “última” ou “segunda”. Com tal economia, certamente se sobra mais tempo para tratar da teologia da libertação.

Deixemos portanto em paz “o Concílio”,  não vamos acusar Sua Eminência de querer com esta expressão “negar” não apenas um, mas vinte concílios. Seria realmente um desastre ter que por sob intervenção a Congregação [para os Institutos de Vida Consagrada] que mais faz florescer a vida religiosa, especialmente as congregações femininas, ou melhor, feministas na América.

No entanto, permanece a dúvida sobre o que se entende pela palavra “negação”. Quem nega um concílio? E no que consistiria uma tal negação? Se alguém diz: “no meu ponto de vista, o Concílio de Florença se desenvolveu em circunstâncias bastante escandalosas”, já se torna culpado de “negação”? Ou se alguém diz, “o quinto Concílio de Latrão não resolveu os problemas da sua época”, já comete o delito de “negar o concílio?” (delito o qual – como ensinou precisamente o caso Franciscanos da Imaculada – corresponde à pena de morte?) Então, se um outro diz, “o pontificado do Papa Alexandre VI foi vergonhoso” – “nega-se” aquele pontificado? Ou se alguém diz que o pontificado de Leão X, que foi “fatal para a sede romana” (von Pastor o escreveu), torna-se, talvez, um negador?

Mas não é só isso: será que os Franciscanos da Imaculada realmente procuravam evidenciar apenas o lado negativo do vigésimo primeiro concílio ecumênico? De modo algum! Muito pelo contrário, eram exatamente eles que apoiavam fortemente a linha de Bento XVI; negação – sim – mas não de “o concílio”, mas de uma de suas hermenêuticas erradas. Na verdade, eu acho que poucos estudiosos fizeram tanto para salvar o concílio quanto os bravos professores dos Franciscanos da Imaculada. Fingir que está tudo bem e que não há nenhuma crise ou enterrar a cabeça no chão como um avestruz não resolve o problema, um problema que deve ser enfrentado com amor pela Igreja, nossa querida e ensanguentada mãe, com a humildade de filhos, mas também com honestidade científica. Essa honestidade certamente não pode ir nem contra o amor à Igreja, nem contra a humildade. Quando será possível que a verdade contradiga a virtude?

Este foi o trabalho desenvolvido pelos  professores e sacerdotes dos Franciscanos da Imaculada. Quantos leigos os procuravam cheios de dúvidas e encontravam ajuda! Quantos que ao se deparar com a terrível crise e diante da tentação de se colocar toda a responsabilidade sobre os ombros dos Padres conciliares, encontravam entre os Franciscanos da Imaculada (e de fato os mais perseguidos agora) um outro lado: “Olha, o Vaticano II não queria a destruição da vida religiosa… a queda da moralidade… o enfraquecimento da Igreja… Leia os documentos, leia-os à luz da tradição; não se preocupem e não dê ouvidos a quem quer interpretar esses documentos contra o que sempre foi ensinado pela Igreja!”

No final, no entanto, devo acrescentar algumas palavras sobre o Concílio Vaticano II, a sua relevância e atualização em geral.

Existem textos conciliares que – repetindo com palavras novas as verdades de sempre, – permanecem atuais. Aqueles que lêem esses documentos “à luz da Tradição”, encontram neles um tesouro (embora, por vezes, bastante escondido). Um “tradicionalista” que denunciava abertamente a crise, Dietrich von Hildebrand, era um entusiasta da  “Lumen Gentium” (pelo menos enquanto escrevia seu “Cavalo de Tróia na Cidade de Deus”).

Mas o último concílio, desenvolvido na atmosfera do famoso “aggiornamento”, se auto-definiu como um concílio “pastoral”. E sabemos bem que nas dioceses, frequentemente orientações pastorais não duram mais do que 50 anos. Ainda mais quando se trata desses últimos 50 anos! Depois de 1968, da queda do Muro de Berlim, da transformação dos países comunistas, da globalização, da Internet, imigração, terrorismo islâmico, várias guerras, a descristianização da sociedade… talvez — aliás, certamente – esses são os mais velozes “50 anos” da história! O que há 50 anos era uma “atualização”, agora seria uma “desatualização”.

Quem, então, não foi bem atualizado? Os Franciscanos da Imaculada, seguindo o Papa Bento e as suas decisões (entre elas o retorno ao antigo rito) ou aqueles que, olhando com saudosismo para os anos da Teologia da Libertação, procuram debelar um dos mais belos frutos do Concílio Vaticano II? (lembremos da inspiração que Padre Manelli tirou do documento “Perfectae Charitatis”).

Senhor Cardeal! Os tempos mudaram, podemos dizer. O “Zeitgeist” sopra em outro lugar; sopra para a tradição. Leonardo Boff é um velho quase esquecido em seu oásis ecológico, enquanto os seminários em que se ensina a Missa segundo o Missal do recém-canonizado João XXIII estão cheios. Podemos dizer que este é o julgamento do implacável progresso da História: o progresso de vez em quando prega peças em seus admiradores. Vocês não estão bem atualizados, permanecem em seus tempos áureos da teologia da libertação. Nesse meio tempo houve um “Summorum Pontificum”, houve uma conversa sobre as duas hermenêuticas… de resto, nesse meio tempo houve também uma certa declaração sobre a teologia da libertação.


Por Victor Spazevic – Riscossa Cristiana | Tradução: Gercione Lima - Fratres in Unum.com



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