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20 de dezembro de 2013

Moral Católica: Praias, Piscinas e danças


Nestes tempos difíceis para as almas e também para nosso apostolado, é bom lembrar aos nossos irmãos no sacerdócio os princípios que uma sã moral impõe no que se refere às férias de verão e às idas às praias e piscinas...
Talvez para alguns pareçam um pouco rigorosas, mas são apenas as regras sempre ensinadas pela Igreja para proteger do pecado as almas, que tementes a Deus, desejam viver em tudo de acordo com os Mandamentos do divino Salvador...

Padre Ricardo Félix Olmedo (Professor de Moral e Direito Canônico no Seminário Internacional Nuestra Señora Corredentora da FSSPX na Argentina)

PRAIAS E PISCINAS

O banho ao ar livre em praias e piscinas é higiênico e saudável, pode ser uma honesta forma de recreação; em si mesmo não é mau e, portanto, lícito. Contudo, com a desculpa de ser por motivos de higiene, saúde ou descanso, são cometidos, hoje, gravíssimos escândalos. [1]

Não se trata de coibir uma natural, lícita e saudável expansão, nem o uso dos bens que Deus outorgou ao homem para sua conveniente higiene e para a recreação do corpo e do espírito; mas de forma alguma é permitido, e é pecado grave, que, aproveitando-se dessas ocasiões, os costumes honestos sejam abandonados, consinta-se no desenfreio dos vícios, dê-se lugar ao nudismo sem pudor e se pervertam as almas pelo escândalo...
A causa de graves equívocos acerca do que é permitido e do que é proibido nesse tema, com gravíssima ruína para as almas é algumas vezes o respeito humano, outras vezes é um conceito deturpado da higiene ou da elegância, muitas vezes, é a sensualidade e a concupiscência.
Convém, pois, assinalar os princípios morais a que deve ser submetida essa atividade.
A conduta que a virtude do pudor impõe ao católico, a todo o momento e lugar é o primeiro ponto a ser destacado.

Pio XII, falando do tema, dizia que: “É muito evidente que a origem e a finalidade das roupas é a exigência natural do pudor, entendido tanto em seu sentido amplo (que inclui também a devida consideração para com a sensibilidade dos outros diante dos objetos repugnantes à vista), quanto, sobretudo, como uma tutela da honestidade moral e escudo contra a desordenada sensualidade. A estranha opinião que atribui ao relativismo desta ou daquela educação o sentido do pudor, que chega a ser considerado como uma deformação do conceito da realidade inocente, um falso produto da civilização e até um estímulo à desonestidade e uma fonte de hipocrisia, não está apoiada em nenhuma razão séria; pelo contrário, essa opinião encontra uma explícita condenação na conseguinte repugnância daqueles que talvez tenham se atrevido a adotá-la como filosofia de vida, confirmando desta forma a retidão do sentido comum manifestado nos costumes universais.

O pudor, considerado em seu significado estritamente moral, qualquer que seja a sua origem, se baseia na inata e mais ou menos consciente tendência de cada indivíduo de defender um bem físico próprio, da indiscriminada concupiscência dos outros, a fim de reservá-lo, com prudente seleção de circunstâncias, aos sábios fins do Criador, por Ele mesmo posto debaixo do escudo da castidade e da pudicícia. Esta segunda virtude, a pudicícia - cuja sinônima “modéstia” (de modus, medida, limite), talvez expresse melhor a função de governar e dominar as paixões, particularmente as sexuais - é a natural defesa da castidade, sua valiosa defesa, posto que modera os atos proximamente conexos com o objeto próprio da castidade.

Como uma escolta avançada, o pudor se faz sentir no homem desde o momento em que este adquire o uso da razão, inclusive antes mesmo que aprenda a noção de castidade e seu objeto, e lhe acompanha durante toda a vida, exigindo que determinados atos, em si honestos, porque divinamente dispostos, estejam protegidos pelo véu da discrição e pela reserva do silêncio, como para conciliar-lhes o respeito devido à dignidade de seu grande fim. ‘É, portanto, justo que o pudor, como depositário de bens tão preciosos, reivindique para si uma autoridade superior sobre toda outra tendência ou capricho e que presida a determinação das formas de vestir.’” [2]

Acrescenta o Sumo Pontífice que, “do mesmo modo que a natureza pôs em cada criatura um instinto que a impulsiona e a leva a defender sua própria vida e a integridade de seus membros, assim a consciência e a graça (que não destrói, e sim aperfeiçoa a natureza), infundem nas almas uma espécie de sentido que as coloca em constante vigilância contra os perigos que ameaçam a sua pureza. Isto é especialmente característico da jovem cristã.

Lê-se na paixão das Santas Perpétua e Felicidade - considerada como uma das mais apreciadas obras da antiga literatura cristã - que no anfiteatro de Cartago, quando a mártir Víbia Perpétua, lançada ao ar por um touro feroz, caiu novamente na arena, seu primeiro cuidado e primeiro gesto foram o de arrumar a sua túnica, que se havia rasgado por um lado, para tratar de cobrir-se, mais atenta ao pudor do que à dor...” [3]
A virtude do pudor se constitui, assim, uma guardiã vigilante da castidade perfeita de qualquer cristão..., e se a higiene pessoal responde a imperativos físicos, e a boa presença (que serve à moda no vestir) põe em manifesto todo um conjunto de razões psicológicas e estéticas, sempre o pudor terá primazia sobre estas exigências, porque somente ele é de ordem espiritual.

Todo católico, através do Batismo, foi elevado à condição de filho de Deus, e seu corpo se constitui em “templo do Espírito Santo”. Daí decorre que tudo o que venha a empanar a sua pureza constituirá num atentado àquela condição e a esta dignidade de seu corpo.
Além disso, a desordem deixada na natureza por causa do pecado original, impõe um cuidado especial na forma de vestir, e que, sem deixar de lado os progressos da moda, sempre deve ser respeitada de modo absoluto: “não se deve jamais proporcionar uma ocasião próxima de pecar”[4], e por isso Pio XII advertia com uma pergunta, a respeito da moda indecente, desonesta: “Não existe uma moda que, ante os nossos olhos, se manifesta audaciosa e maldosa para uma jovem cristianamente educada...? Trajes tão exíguos que mais parecem feitos para pôr em relevo aquilo que deveriam velar...”.[5]

Em relação a esse tema é necessário repetir o que já afirmava São Paulo: “os que temos por mais vis membros, a estes cobrimos com mais decoro..., porque os que em nós são mais honestos não têm necessidade de nada”[6], do que se conclui que, segundo a doutrina e a prática dos teólogos[7], há uma distinção entre as distintas partes do corpo:

a) Partes honestas: aquelas que de acordo com um sadio costume, sem ofender o pudor, se expõem ao olhar de todos (o rosto, as mãos, os pés).

b) Partes menos honestas: as que, segundo o uso recebido e o sadio costume, costumam se cobrir (as pernas, o peito, parte dos braços, o pescoço, as costas).

c) Partes desonestas (ou torpes): as que em todas as nações cultas, por pudor natural, sempre se cobrem (são os órgãos genitais e as partes próximas a eles). [8]

Baseado nessas premissas, de modo geral se deve dizer que “é moralmente lícito para o homem, a mulher e as crianças, banhar-se tanto no mar, como no rio e inclusive nas piscinas...”

Contudo, a tal princípio devem ser incluídos outros que preservem dos riscos que o mesmo implica e que correspondam às suas circunstâncias: “em nome da higiene, da saúde ou do necessário lazer – dizia numa Pastoral sempre atual, o Bispo de Cádiz-Ceuta – tomem sem problemas seu banho de mar, homens, mulheres e crianças. Porém, o façam com a separação conveniente, as necessárias precauções e as devidas cautelas. O uso dos banhos mistos deve ser vedado para qualquer pessoa cristã.”[9]

Sem prejuízo de algumas explicitações que damos mais abaixo, transcrevemos, acerca destas “precauções e cautelas”, as diretivas de outra pastoral, dada pelo Arcebispo de Valladolid, no dia 8 de julho de 1950, também de perene vigência: “... que todos os nossos fiéis saibam:

1)Que todas as roupas de banho devem sempre ser honestas, e que o maiô [10]certamente não o é.

2) Que todos aqueles que nas praias ou fora delas exibem a nudez provocativa pecam com um duplo pecado de imodéstia e de escândalo. E é sabido o que a respeito do escandaloso disse Jesus Cristo: “Mais valeria que se lhe colocasse uma pedra de moinho ao pescoço e lhe atirassem no fundo do mar”. Tão forte é a sentença que, sobre os escandalosos, formulou o Mestre divino.

3) Que as praias em que se banham promiscuamente, homens e mulheres, e a nudez é provocativa, constituem de si ocasião de pecado grave para aqueles que a freqüentam.

4) Que nas praias deve haver completa separação de sexo para aqueles que estejam em traje de banho. Se esta separação não existe, ninguém pode estranhar que homens e mulheres sejam mutuamente objeto de tentação e de perigo para a limpeza de suas almas.

5) Que é muito doloroso e lamentável que as pessoas que nas praias se distinguem por sua imodéstia não sejam somente as mundanas, livres e atrevidas ou duvidosas, mas também outras dadas, exteriormente ao menos, à piedade, e às vezes as que comungam com freqüência e têm seu nome ligado às instituições beneficentes ou piedosas.” [11]

E a razão é que o nudismo e a excessiva liberdade usada em tais lugares constituem uma ocasião voluntária de pecado grave ao qual ninguém tem o direito de se expor sem cair em pecado... Além disso, não se pode pensar que tal perigo diminui com o hábito, segundo o axioma que diz ab assuetis nulla fit passio, porque no homem, especialmente nos jovens, o espetáculo contínuo de praias e/ou piscinas, ainda que proximamente não suscite por acaso os baixos estímulos maldosos, enfraquece sempre o pudor natural e faz com que um se permita, com facilidade, muitas pequenas faltas. Assim, as paixões não diminuem, e sim aumentam em tais lugares, onde ao relaxamento físico se une o relaxamento espiritual. Por isso, com muita razão o Papa Pio XII advertia:

“Não se iludam em crer que suas almas são insensíveis às tentações, invencíveis aos atrativos e aos perigos. É verdade que o hábito contínuo costuma fazer com que o espírito esteja menos submetido a tais impressões...; mas imaginar que todas as almas, tão inclinadas ao sentimento, podem tornar-se insensíveis aos incentivos que assaltam a imaginação, que, cercados com os atrativos do prazer, atraem e prendem a si mesmos a atenção, seria supor ou estimar que se possa diminuir ou fazer cessar a maligna cumplicidade que aquelas insidiosas instigações encontram nos instintos da natureza humana decaída e desordenada.” [12]
O Episcopado argentino, preocupado também pela onda de imoralidade nestes temas, ditou em junho de 1933, um Decreto que em sua parte pertinente diz:

“Considerando com grande dor de nossas almas os gravíssimos danos espirituais que leva ao povo cristão a difusão da imoralidade pública em todas as suas manifestações; e tendo presente as instruções e decretos emanados da Santa Sé durante estes últimos anos; além disso, querendo estabelecer em alguns pontos normas práticas e concretas, que sirvam tanto aos fiéis como aos diretores de almas para ajustar os costumes externos de uma vida verdadeiramente cristã:

Os Bispos, reunidos para velar pelo bem das almas que Nos foram destinadas, estabelecemos que não são conformes com a conduta cristã:

1) “Nem a promiscuidade simultânea de sexos nas piscinas públicas de natação e em certas diversões em que o traje é completamente inadequado para estar fora da água...” [13]
Neste contexto, podemos dizer, então, que:
Os banhos tomados com pessoas do mesmo sexo serão lícitos desde que se utilizem as regras de decência e dignidade nos modos, postura, trajes, etc.
Não se pode aceitar qualquer tipo de traje de banho senão: 1) somente aquele que seja honesto conforme às partes do corpo que devam ser cobertas. 2) De tal tecido e cor que evite o aderir-se ao corpo, mostrando, insinuando ou transparecendo o que não se deve mostrar. 3) Que, atendidas as circunstâncias do ambiente e das pessoas que os usam não sejam escandalosos e/ou provocativos para os demais.
Na praia ou fora da piscina deve-se permanecer sempre coberto. Se alguém deseja tomar banho de sol, deverá se afastar das pessoas do sexo oposto, e de maneira que se proteja completamente da curiosidade ou ocasião de pecado... [14]

Não é lícito a um católico ir a piscinas públicas, por causa da aglomeração de pessoas, menor espaço físico, frivolidade, leviandade e liberdade excessiva que o ambiente favorece.
Para o banho nas piscinas privadas, deve-se respeitar sempre a separação dos sexos, e em casas de família, entre os irmãos, pode ser lícita a não separação dos sexos na infância, sempre tomando cuidado dos perigos de pecado nos jogos mistos.

De maneira particular, deve acrescentar-se que não estão livres do pecado (inclusive mortal) os que: a) procuram em tais ações ou ocasiões um fim desonesto; b) prevêem (ou devendo ter previsto, não o fizeram) que sua atitude pode provocar escândalo; c) com sua atitude foram ocasião de violação de outras obrigações (de pai, de mãe, de sacerdote, etc.); d) vendo que tais banhos são ocasião de pecado, não desistem deles; já que se por razões pessoais (temperamento, fraquezas, ...) tais lugares ou situações se constituem em ocasião de pecado voluntário, há obrigação absoluta que se renuncie a eles.

Nem a moda, nem a higiene ou a comodidade, nem o pensar que o comportamento, posturas, modos ou vestido não causam nenhum dano aos outros, não pode ser a última norma de conduta. Para tais argumentos respondia Pio XII com estas sábias e prudentes palavras: “a moda não é nem pode ser a regra suprema de nossa conduta; acima dela e de suas exigências existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem ser sacrificados por causa do prazer ou do capricho...

Caso se torne um perigo grave e próximo para a salvação da alma, não é, certamente, higiênica para seu espírito, e é seu dever renunciar. E se, por um simples prazer pessoal ninguém tem direito de pôr em perigo a vida pessoal do outro, não será ainda menos lícito comprometer a salvação da alma? Que sabem eles sobre a impressão que causam nos outros? Quem garante que os outros não sofrem incitações perversas? Não conhecem bem a fundo a fragilidade humana nem a forma como sangram as feridas produzidas na natureza pelo pecado de Adão, com a ignorância na inteligência, a malícia na vontade, com avidez de prazer e com fraqueza diante do bem aparente que nasce nas paixões dos sentidos...”[15]

Em resumo, um bom católico não discute sobre o limite do que é permitido e do que é proibido; deve ter a sua norma de conduta orientada pela sua fé. Deve deixar que todo o seu exterior transpareça a vida divina que leva na sua alma, e, portanto, no tema particular que nos ocupa, está obrigado a: 1) recusar sempre usar adornos que sejam desonestos ou pouco honestos; 2) vestir apenas o que, sem cair no ridículo, expresse a reserva e a delicadeza própria de toda pessoa virtuosa; 3) abster-se de ir a lugares onde se ponham em perigo a virtude, a vida honesta, e a bondade dos costumes...; 4) e, sobretudo, acima do sentimento do pudor natural e quase inconsciente, deve cultivar de forma cuidadosa, conscientemente, em todo tempo e lugar, a virtude cristã do pudor e da modéstia.
A.M.D.G.

A DANÇA

Na sociedade cheia de contradições em que vivemos, a dança se transformou para quase toda a juventude, algo quase necessário, e para não poucos, a coisa mais importante de suas vidas. O fim de semana é esperado com ansiedade e planejado cuidadosamente com muita antecedência, de maneira que todo o ano está organizado em torno dessas reuniões mundanas, festas, noitadas, boates, discotecas, etc., onde os jovens esgotam seus corpos e pervertem suas almas desde a meia-noite até a madrugada, por meio da dança[16], com conversas frívolas quando não abertamente más incluindo bebidas e até drogas...
“A moral da Igreja é imutável e o que ontem era vaidade, ocasião próxima de escândalo ou de pecado, o é hoje e o será sempre”, ensinava com toda razão Dom Antonio de Castro Mayer em sua sempre vigente e mais atual que nunca, carta pastoral sobre os “Problemas do Apostolado Moderno”[17]. Por isso é importante um juízo acertado sobre a dança e as suas circunstâncias, que sirva, tanto aos pastores de almas como aos fiéis devotos que vivem no mundo, para julgar e obrar segundo a reta razão e os princípios perenes da moral católica.

1. NOÇÕES PRÉVIAS

O Cardeal F. Roberti define a dança como “um conjunto de movimentos rítmicos com os quais se expressam sentimentos de entusiasmo, especialmente de alegria”[18], e assim entendido, conforme a sã teologia moral deve-se afirmar que a dança não é em si intrinsecamente má[19]. Como também não o são a música e a poesia.
Pode-se então considerar a dança como uma atividade honesta de distração, expressão ou manifestação de alegria da alma, realizada por movimentos corporais compassados, e até como a expansão de um culto religioso...: “chegam os primeiros cristãos, ainda impregnados dos usos pagãos, diz um autor, introduzindo a dança nos ritos da Igreja...”

E é significativo que os primeiros monges se chamassem coristas[20]. Recorde-se aqui a dança do rei David diante da arca da aliança e outras ações semelhantes que conta o Antigo Testamento[21], como também alguns bailados ou danças folclóricas, individuais ou em grupo, ainda que de ambos os sexos, por ocasião de festas civis em que os participantes giram e realizam movimentos separadamente..., e ainda alguns outros que poderíamos chamar danças da corte ou de salão até a metade do século XVIII.

Mas também existem danças más, como aquelas que nos conta a mesma Sagrada Escritura, a de todo o povo hebreu diante do bezerro de ouro, ou a de Salomé, filha de Herodíades, no dia do aniversário de Herodes[22], e as que aparecem a partir do século XVIII e XIX. É então que “se deu uma grande revolução nas danças de salão, desde o ponto de vista moral, quando a dança na qual o cavalheiro toca apenas a mão da dama chegou a uma nova espécie em que o casal, em um abraço apertado, movimenta-se em giros contínuos, como a valsa, a polca, a mazurca, etc.”[23] O século XX nos trouxe uma maior decadência, com o advento do tango, o fox trote, o charleston, até os mais modernos denominados com nomes extravagantes de origem indígena, ou melhor, negro-americanos, como o mambo, o cha-cha-cha, o rock and roll e mais recentemente, também méxico-americanos, como a rumba, etc.

Se é certo que a dança é uma demonstração lícita de alegria e ainda mesmo de piedade, por causa do pecado original e da ferida da concupiscência, a mesma se torna facilmente em uma ocasião de desordens passionais, e por isso o Espírito Santo adverte ao católico: que “não freqüentes o trato com a bailarina, nem a escutes, se não queres perecer ante a força de sua atração”[24], e que a dança é o símbolo da impiedade: “os ímpios tocam o pandeiro e o tambor e dançam ao som dos instrumentos musicais; passam em delícias os dias de sua vida, mas na hora da morte vão ao inferno”[25].

Por isso sempre foi preocupação dos Padres da Igreja e do Magistério por meio dos Concílios de todas as épocas, dos Papas e também dos Bispos, advertir o que a moral cristã tem a dizer a respeito da dança. Citando aqui dois exemplos, transcrevemos o que afirmou o Concílio de Laodicea no século IV, em seu cânon 53: “os cristãos que assistem às bodas não devem nem saltar nem bailar, senão participar com decência à comida ou à ceia, como convém a todo cristão”, e Bento XV, em sua encíclica “Sacra propediem”: “não falemos dessas danças – umas más, outras piores – exóticas que, saídas da barbárie, invadiram pouco a pouco os salões mais elegantes, sem que seja possível encontrar nada mais a propósito que elas para acabar com o último rastro de pudor”[26].
Com essas premissas, consideremos os princípios morais que devem regular esta atividade do homem.

2. PRINCÍPIOS MORAIS

Como toda ação humana, a dança recebe sua primeira qualificação moral de seu “objeto”e depois de seu “fim” e de suas “circunstâncias”.
Já adiantamos que há danças que em si são boas, há outras más e convém aqui precisar essa condição que as fazem más por seu objeto.

Para descobrir os princípios que resultam aplicáveis neste ponto, deve-se assinalar, em primeiro lugar que, sendo a dança uma ação humana cujo objeto são os movimentos exteriores do corpo humano, deverá sempre estar regulada pela virtude. Sobre isso, ensina Santo Tomás: “a virtude moral consiste em regular as ações humanas conforme à razão. E não há dúvida de que os movimentos exteriores do homem são também susceptíveis de tal ordenação, visto que o império da inteligência chega aos órgãos externos”[27]

Para isso existe uma virtude especial, potencial da temperança (que regula os movimentos difíceis do corpo), chamada “modéstia” que, entre outras coisas, é a que modera “o que pertence aos movimentos e ações corporais, isto é, para que sejam feitos com decência e honestidade”[28].

Mas, além disso, Santo Tomás trata explicitamente sobre a dança em seu comentário ao livro de Isaías, quando este fala da mundanidade das mulheres israelitas[29] e se pergunta “se é possível dançar sem pecado”[30], para responder que “a dança em si mesmo [secundum se], não é má, e tudo depende do fim a que alguém se propõe no mesmo bailar e das circunstâncias que podem fazer desta ação um ato de virtude ou um vício”. Para que não ofenda a Deus, o doutor Angélico exige que “não seja pessoa que possa dar escândalo, como um clérigo ou religioso, que seja unicamente para exteriorizar a alegria, como nos casamentos ou circunstâncias parecidas, que se dance com pessoas honestas e o sejam também os cânticos, e, além disso, não haja gestos muito atrevidos ou livres. Mas quando se dança para provocar a lascívia ou com outras circunstâncias inadequadas, é claro que se trata de um ato vicioso”[31].

(a) O ato de bailar e seu objeto:

Aplicadas estas noções a nosso tema, pode-se dizer que pela modéstia – virtude que propriamente se encarrega de submeter à razão os movimentos exteriores do homem – é que são retificados os movimentos da dança.

Em outras palavras, a dança será moralmente boa e modesta, se seus movimentos – objeto mesmo da ação humana de “bailar” – têm decência e honestidade; e guardarão a decência e honestidade quando se dança; se há beleza, harmonia nos movimentos do corpo; se no bailar guarda-se a razão, que expressa, com movimentos proporcionados, os afetos ordenados, a sã alegria da alma.

Por isso, destaca com razão Santo Tomás que “os movimentos exteriores são certos sinais da disposição interior”..., e Santo Ambrósio diz que no estado do corpo se vê a disposição da alma; e que é certa expressão do espírito o movimento do corpo”[32].
(i) Danças intrinsecamente más ou desonestas em si
Pelo contrário, será uma dança má, moralmente má, quando seus movimentos forem desonestos, sensuais, indecentes, quando não expressarem proporção nem harmonia, quando forem sinal de desordem da alma.
Assim, entende-se por que a Igreja, os moralistas, destacaram que algumas danças são más em si mesmas, por sua própria natureza.

E o são entre outras razões? 1º) pelos “gestos livres ou atrevidos”; 2º) porque o contato dos que dançam se estende por todo o corpo, 3º) porque são expressão de comoções corporais e de atos sensuais, 4º) porque impõem um estreito abraço entre o casal que dança, 5º) pelas atitudes, gestos provocativos, posturas, aproximações, e/ou modo de tratar-se que proíbe o mais elementar pudor, 6º) pela “significação” (por exemplo, imoral e impura, etc.) que têm, etc.

Lembremos mais uma vez do Papa Bento XV, quem, depois de lamentar-se da indecência dos vestidos femininos e a falta de recato dos bailes, referindo-se a estes, falava sobre “essas danças – se uma má outra pior – que, saídas da barbárie, irromperam faz pouco tempo os salões mais elegantes, sem que seja possível encontrar coisa mais a propósito do que essa para acabar com o último rastro de pudor”...[33], Pio XI, por sua vez, se queixava sobre este tema, nos seguintes termos: “observamos também como passaram dos limites do pudor a frivolidade das mulheres e das meninas, especialmente... ao dançar[34]”; e Pio XII, em numerosas ocasiões aludiu a dança moderna como meio poderoso de corrupção juvenil, particularmente da mulher.[35]

Entre outras danças modernas[36] condenadas temos as seguintes: “o tango[37], o fox-trot, o turkey-trot, o kamel-trot, o schymmy, o check-to-check, o one-step, o two-spep, o Boston, o blues, o samba, o charleston, o jazz, o boogy-woogey, o cha-cha-cha, o calipso, o twist, o rock-and-roll[38], o guapachá, o kanndidance, etc.”[39], e outros que vão surgindo de todas as partes, como a cumbia, o quarteto, o tecno, o hardcore, o beat, progressivo, etc.
Estas danças constituem um pecado grave e verdadeiro escândalo em si mesmo, e ninguém pode, com tranqüilidade de consciência, cooperar com essa obra má, seja organizando-as ou tomando parte nelas, ou facilitando o lugar para que sejam realizadas, ou assistindo como mero espectador, ou convidando a outros, ou aprovando-os, ou permitindo – quem tenha autoridade sobre outros – que seus filhos, alunos e empregados assistam.

(ii) Danças menos honestas e más por serem ocasião próxima de pecado grave:
Além destas danças intrinsecamente más, os moralistas destacam a existência de outras, menos honestas ou não honestas, quanto ao objeto. “São essas danças, dizem, em que não apenas o cavalheiro toca a mão da dama, mas em que o par, num abraço apertado, se movimenta em giros contínuos, como a valsa, a polca, a mazurca, o chotis, a redowa, a habanera, etc...”[40]

Estes toques entre pessoas de sexos opostos não são considerados maus em si pelos moralistas nem pelo Magistério. Assim, o artigo 35 dos Estatutos sinodais da diocese de Québec (Canadá), promulgado no século XIX, após condenar o tango, o fox-trot e outros do mesmo gênero como “lascivos em si mesmos”, acrescentava, “Condenamos... também as danças que são lascivas pela maneira de bailar, como a valsa, a polka, que se dançam em nossos dias ordinariamente de uma maneira lasciva. Nós as reprovamos energicamente como ocasiões próximas de pecado; e as proibimos expressamente..., de forma que (o que Deus não permita), quem ousar tomar parte ou permitir a seus filhos ou a seus empregados tomar parte nelas, ou os deixe dançar em sua casa, será réu de um pecado grave de desobediência”[41].

Trata-se então nestes casos, de movimentos que não encerram uma malícia intrínseca, mas que, pelo modo como se realiza ordinariamente, com o contato dos corpos e giros velozes, são ocasião próxima objetiva de pecar.

A questão que se coloca nesta segunda classe de danças é a seguinte: são estas ocasião universal próxima de pecado grave, referindo-nos sobretudo aos jovens, ou podem dar-se circunstâncias que atenuem a excitação que produzem, de tal forma que não suponham perigo e tornem lícita a assistência a elas?
Merkelbach e Noldin destacam que estas danças são – igual que as más em si – gravemente desonestas pelo perigo de pecar. “Sobretudo, ensina o primeiro, pelo modo de dançar, por exemplo levando apertado o peito da mulher contra o peito do homem, de tal forma que parece que a jovem está nos braços do homem.

Tudo o que provoca movimentos desordenados, ainda que não necessariamente desonestos, como consta pelo testemunho dos que dançam, e parece que é assim, devido a que o pensamento se distrai com outras coisas e necessariamente tem que atender aos movimentos rítmicos (na valsa, no galope, chotes, mazurca, cotillón, etc.)”[42]. Noldin, por sua vez, afirma que “algumas danças que estão na moda no nosso tempo tem um perigo maior pelo abraço apertado como se realizam, contudo, geralmente não se pode dizer que sejam gravemente desonestas nem, portanto, de si, proibidas como ocasião próxima”[43], palavras que devem ser entendidas corretamente, isto é, que estas danças não são más intrinsecamente, o que é certo teoricamente falando, mas na prática são gravemente más por ser em ocasião próxima universal em razão das circunstâncias...

No mesmo sentido e com uma visão real das coisas, Gury-Ferreres, afirmam que “entre eles (os bailes desonestos em razão do modo de dançar), consideram muitos os que na Espanha se designam como a valsa, a mazurca, o galope, a polka, o chotis, a americana ou habanera, nos quais aumenta o perigo na mesma ordem em que vão sendo ensinados”[44]. E acrescentam que “o perigo provém de um duplo motivo: da íntima união dos corpos do homem e da mulher, e de que os que dançam se perdem entre a multidão, abandonados a si mesmos, dando lugar a uma maior liberdade para conversas indecentes [majorem libertatem habeant verba minus casta proferendi], quando todas as circunstâncias contribuem a incitá-los a pecar; e quanto mais familiaridade existe entre os que dançam, mais perigosas são estas danças e devem ser evitadas de qualquer modo”[45].

A estas razões podemos acrescentar outras que resultam de princípios morais aceitos por todos os autores e que destacam estes atos como perigo próximo de pecado grave e dos quais todos estão obrigados a afastar-se por não serem necessários:

a) O abraço das partes menos honestas – ou menos excitantes – não é em si desonesto ou intrinsecamente mau, ao menos levemente mau (objetivamente), não sendo nunca lícito, enquanto não exista causa proporcionada que compense o perigo que leva consigo (nos referimos ao que se realiza entre pessoas de distinto sexo, não familiares);
b) Os tatos, os abraços morosos e prolongados de determinadas partes, como são as costas, os braços, a cintura, costumam ser ocasião próxima de pecado.[46]
c) As danças, pelos contatos e abraços estreitos e demorados em determinadas partes do corpo como costumam ser realizados, são enormemente perigosos e causa de múltiplas tentações, sendo muitos os que pecam por sua causa.
d) Se olhar as partes menos honestas de uma mulher é pecado venial, mesmo que não seja demoradamente, forçosamente são pecado os toques e certamente graves se são prolongados e apertados.

e) Não sendo, contudo, ações em si mesmo más, para realizá-las são necessárias haver uma causa proporcionada, tanto mais grave quanto maior for o perigo, e assim, só será admissível esta assistência ou participação como ocasião de algum festejo familiar ou social inevitável (exigências do cônjuge, casamento, festa pátria, evento diplomático), e que sejam feitos os resguardos necessários para não transformar em remota a ocasião próxima que estes bailes suscitam;

f) Não se nega que possam existir jovens (de ambos os sexos) para os quais a dança possa não ser um perigo próximo (o que não quer dizer que não pequem por cooperação e escândalo) ou porque seu temperamento é menos excitável, ou porque algumas circunstâncias, em alguns casos, atenuem este perigo, ou porque a assistência seja ocasional e tenham uma sólida formação religiosa.

g) Prescinde-se em tudo isto da intenção luxuriosa ou de deleite diretamente buscado, o qual se existe, ainda que não seja perfeito, é sempre pecado mortal[47].

De tudo o que foi exposto pode-se propor o seguinte princípio para estas danças menos honestas: as danças menos honestas ou desonestas pelo modo de realizá-las, entre pessoas de sexo oposto, ordinariamente jovens, realizadas de modo habitual, constituem por si mesmas perigo próximo de pecado grave, e só serão lícitas por causa proporcionalmente grave e postas as condições que tornem remota a ocasião.

3. AS DANÇAS E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

Toda ação humana recebe sua segunda qualificação moral das circunstâncias que a rodeiam, e desta norma não está isenta a dança, ao que são aplicáveis os princípios gerais sobre a matéria. Deles, nos parece necessário recordar aqui, dois principais: a) um ato mau em si não se torna bom pela reta intenção do agente ou pelas circunstâncias boas que o rodeiam, e b) um ato bom ou indiferente, pode se tornar mal pelo fim do agente ou pelas circunstâncias.
Pode-se falar de circunstâncias objetivas e de circunstâncias subjetivas, segundo que afetem a qualquer homem ou mulher em toda ocasião, ou que afetem somente a determinadas pessoas em razão de alguma condição pessoal.

(a) O fim do agente:

Recordemos novamente a sentença de Santo Tomás: a dança em si mesma [secundum se] não é má, e tudo depende do fim a que alguém se propõe na dança mesma... que seja unicamente para exteriorizar a alegria, como nos casamentos ou circunstâncias parecidas...”[48]

Igual maneira de pensar é a de outro doutor da Igreja, São Francisco de Sales: “para dançar licitamente é necessário que seja por recreação e não por afeição”[49]. Pergunta-se também São Francisco em que ocasiões se pode dançar, respondendo que será lícito “quando por condescender ou para agradar à honesta conversação em que alguém se encontra, a prudência e a discrição a façam aconselhável, porque a condescendência... faz boas as coisas indiferentes, e as perigosas permitidas...”[50]
Porém se o que se procura é o deleite ou complacência dos sentidos, o prazer da carne, sendo ordinariamente que estes são legítimos só dentro do matrimônio para seu fim próximo, a dança não é lícita, e é gravemente pecaminosa a causa de se colocar voluntariamente em ocasião de pecado de luxúria.
Em outra ordem de coisas, e considerando o fim perseguido, a Igreja condena os chamados “bailes de caridade”, que se organizam para recolher fundos para obras pias[51].
(b) Circunstâncias objetivas:

Devem ser consideradas aqui as seguintes:

- As pessoas:

Nunca é lícito às pessoas consagradas (sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos “consagrados”), em razão da sua dignidade, dançar, organizar, assistir ou incitar outras pessoas a participarem dos bailes.
Para os leigos, quando lhes seja lícito fazê-lo pelas razões já apontadas, deve-se considerar também que: não é lícito dançar com pessoas estranhas, de duvidosa ou má reputação ou que não tenham boa intenção.
Estão condenados pela Igreja os bailes infantis[52], e deve afastar-se dos bailes modernos[53] os adolescentes de ambos os sexos.

Apenas a presença dos pais – qualquer que seja a idade dos jovens – pode fazer com que algumas vezes desapareçam algumas grosserias externas escandalosas e chamativas, porém não livra da malícia intrínseca nem os perigos próximos que, por si só, tem alguns bailes. Cabe a eles, enquanto os filhos estão sob sua responsabilidade, proibir, organizar ou assistir os bailes desonestos ou menos honestos[54].
A diversidade ou igualdade de sexo nos bailes não encerra de si mesmo malícia alguma, salvo o perigo de tentação ou intenção libidinosa...

Os vestidos e os perfumes

É também uma das mais freqüentes circunstâncias de tentação contra a castidade, a grave falta de modéstia na forma de se vestir, em particular, das mulheres jovens, nas ocasiões de assistir festas ou nos lugares de baile. O homem geralmente é muito mais sensível que a mulher a este tipo de provocação.
Aqueles que por sua falta de modéstia no vestir são ocasião de tentação ou escândalo para terceiros no baile, tornam-se responsáveis moralmente do pecado a que induzem com sua imoderação no vestir.
O uso de fantasias nem sempre devem ser reprovados como ilícitos em si, a não ser que haja má intenção ou que seja ocasião de outros pecados..., ainda que, em igualdade de condições com os outros (os sem fantasia), são mais perigosos, particularmente em lugares fechados.
E ainda devem ser considerados como circunstância moralmente má, que muitas vezes os perfumes que as mulheres usam (e também alguns homens) se elaboram com drogas e/ou produtos que adormecem os reflexos, excitam a sensibilidade...

(iii) O ritmo da música e a letra das canções

As danças modernas, em que geralmente os dançarinos não se tocam, nem por isso são menos perigosas. Devem ser igualmente proibidas, além dos motivos já expressados, de acordo com o motivo que aqui consideramos. E uma primeira causa desta proibição moral é o ritmo da música que se utiliza em tais danças, que influenciam grandemente e de modo desordenado sobre as paixões da alma e sobre os sentidos corporais.
Está comprovado que o ritmo “beat”, base musical de todas as danças modernas, produz gravíssimas alterações no sistema nervoso, secreções anormais, estímulo da sensualidade, depressão da inteligência e da razão que desemboca no erotismo, na violência e até no suicídio[55].
Também são circunstâncias que tiram a bondade da dança, as canções que se utilizam e que têm letra sensual ou que incitam ao suicídio ou a qualquer outro pecado...

(iv) O lugar e o ambiente:

Não é mesma coisa os bailes familiares, somente entre parentes, e os que se realizam em casas particulares onde amigos e amigas se reúnem para se divertir, sobretudo por motivo de casamento e/ou aniversários, e que costumam ter uma condição particular especial: a de estender aos que não são familiares, e sim, amigos de amigos, vizinhos e estranhos que aparecem como “penetras”...

É evidente que o baile numa casa de família ou familiar, que se dá diante dos pais e pessoas mais velhas, tem menos perigo do que os que acontecem em outros lugares, desde que o que se dance seja honesto; porém advertimos que somente o lugar, ou uma circunstância, não torna bom o que por seu objeto é mau...

Se for lugar mau, não se pode ir de modo algum, e é o que acontece nos atuais lugares dançantes, seja qual nome for: bares, discotecas, boates, pubs etc., e isto pelas seguintes razões: são lugares normalmente fechados, escuros, com utilização de luz branca e raios laser, pouca iluminação, e onde há um jogo de luzes manipulado constantemente e de tal modo que produz desinibição, estados de excitação das paixões que levam a pecar, levam a uma ruptura com a realidade e perda de toda capacidade de controle, ou seja, perturbações tais que produzem um “curto circuito” nas faculdades conscientes como faz a droga alucinógena.

Porém, também os lugares abertos podem ser circunstâncias más, e ainda agravantes, quando o ambiente é tal que afete a moral e os bons costumes, ou quando degenera em histeria coletiva, atritos, atos de violência ou imoralidade, como ocorrem nos chamados “festivais” ou “concertos” de música beat de grupos ou “bandas” famosas que acontecem em estádios de futebol, centros esportivos ou similares, teatros, etc., para centenas e até milhares de jovens que se amontoam para vê-los em suas contorções frenéticas, escutarem suas canções muitas vezes imorais, para moverem-se agitadamente numa massa amorfa que conduz prontamente a esse histerismo coletivo de que falamos, atos de nudez e ainda sexuais em público, sem freio e sem inibição alguma, quando não se drogam ou praticam outras ações aberrantes...

O “ambiente” que existe nestes bailes modernos é também um grave obstáculo para legitimar a concorrência de um católico: a presença de toda classe de pessoas, sua frivolidade, seu desejo de se divertir sem nenhum freio, a falta de controle dos responsáveis pelo lugar, a falta de modéstia dos vestidos, muitas vezes acompanhados com um show de streepers(nudismo de homens e/ou mulheres), venda de álcool, quando não droga, etc...
(v) Tempo:

Há três aspectos que fazem do tempo uma circunstância má da dança: a freqüência, os horários, o tempo sagrado.
De tal modo se apoderou esta “diversão” da sociedade, em particular dos jovens, que aparece como algo absolutamente necessário em toda reunião familiar, festa profana ou fim de semana. Tudo termina – senão quando começa também – e deve ser amenizado com um baile, e baile moderno como os que descrevemos mais acima.
É um dado evidente que os jovens, nas noites dos fins de semana, “devem” sair para dançar com os amigos...
Esta freqüência faz esquecer os deveres da vida, faz com que a paixão se inflame, o pudor se debilite e o horror ao mal desapareça cada vez mais...
Some-se a isso o tema do horário. Para ninguém passa despercebido o perigo de que os bailes aconteçam à noite e terminem às altas horas da madrugada[56]. Ambas as coisas, horário e duração, combinadas, produzem um enervamento que acaba com toda a reserva moral, e costuma ser a causa de outros pecados que se cometem depois de uma “noitada” cheia de paixão e desenfreio...
Também tem importância assinalar a imoralidade dos bailes realizados nas épocas consagradas a honrar Deus de um modo particular, particularmente no tempo da Quaresma... Alguns Concílios regionais chegaram a proibi-los – e se tratava logicamente de bailes honestos – durante as funções do culto...

(c) Circunstâncias subjetivas:

Todo o anterior foi descrição e princípios morais relativos de circunstâncias objetivas, exteriores ao sujeito e ao mesmo baile considerado em si.
Devemos dizer algo do aspecto subjetivo, ou seja, atender ao próprio sujeito, sua condição pessoal e que pode ser também um obstáculo para assistir ou participar dos bailes...
Não nos referimos à intenção ou fim que pode perseguir quem dance, do qual já falamos mais acima, e sim, supondo a retidão neste ponto, e a honestidade do mesmo baile, de uma questão de temperamentos e sensibilidade pessoal tanto daquele que dança, como daquele que assiste.
O que para alguns pode não ser ocasião de pecado, pode ser para outros, devido ao seu temperamento, sua sensibilidade, e neste sentido, quem corre o risco de pecar, sendo a ocasião do baile normalmente voluntária, deve abster-se do mesmo.
O mesmo deve dizer-se se o risco de pecar vem não da própria condição, mas sim de terceiros que concorrem: não pode escandalizar-se o próximo pela forma de dançar, de vestir-se, etc.

4. RESPOSTAS A ALGUMAS OBJEÇÕES

Para concluir, deve-se responder algumas objeções que levantam os jovens para justificar sua assistência, organização e diversão nos bailes modernos. Não são todas as que se escutam, mas são suficientemente representativas no modo de pensar da juventude de nossa época e mesmo de nossos ambientes tradicionais:

1) Eu não peco porque não danço com má intenção:

É necessário reconhecer o justo direito que o homem tem de uma sã diversão, mas isso não torna bom o que é de si mau. Dançar com boa intenção; qual é essa boa intenção? Está dirigida pela modéstia e pela temperança? Será realmente boa, ou “aparentemente” boa e não um verdadeiro bem[57] o que se está buscando? E ainda, admitindo a retidão da intenção, ela não pode mudar de nenhum modo a natureza das coisas, não pode fazer que o que é naturalmente mau, moralmente, seja bom. Se os bailes são maus ou menos honestos em si, se as circunstâncias que o rodeiam são más não é lícito dançar nem assistir a tais diversões...

2) Há muitas pessoas que dançam e são boas, inclusive melhores que muitas outras que vão à Igreja:

Este argumento é um verdadeiro sofisma: estas pessoas poderão ser boas em muitas outras coisas, talvez em todas as outras, mas nisto de dançar não o são..., e, portanto, não têm a verdadeira bondade cristã, não são católicos virtuosos. Chamar de bom ao que não é integralmente bom é não falar com propriedade, é esquecer aquele princípio que nos recorda Santo Tomás: “a ação não será absolutamente [simpliciter] boa se todas as bondades não se concentram nela, porque o bem, como diz Dionísio, resulta da integridade da causa, e o mal, de um só defeito singular”[58], e mais clara e explicitamente o diz o apóstolo Santiago: “Porque qualquer um que houvesse guardado toda a Lei, e faltasse em um só ponto, tornou-se culpado de tudo”[59]. Deve-se negar em absoluto que um jovem ou uma jovem possa ser muito bom nem propriamente bom diante de Deus se freqüenta estes bailes modernos...

3) Há jovens que são muito piedosos, que freqüentam os sacramentos, que vão à Missa todos os domingos e, contudo, vão aos bailes; portanto esta diversão não será tão má nem pecaminosa como se afirma:

A verdadeira piedade corresponde em “prestar submissão e reverência a Deus como Pai”, ensina Santo Tomás[60]. Essencialmente, portanto, ao amor de Deus importa primeiramente a obrigação de cumprir seus mandamentos[61]... Tomar parte nos bailes modernos vai diretamente contra o sexto mandamento, porque, na melhor das hipóteses, é pôr-se em perigo próximo de quebrantá-lo sem necessidade. Dançar e ser verdadeiramente piedoso é tão impossível como fazer um círculo quadrado... Que os jovens dancem habitualmente e depois freqüentem os sacramentos nos faz suspeitar de muitas confissões e comunhões sacrílegas: não pode haver verdadeiro arrependimento em quem se confessa de ter participado nestes bailes e não faz nada para afastar-se deles... Se essas são suas disposições, de nada valem a absolvição do sacerdote. Sua confissão e comunhão nesse estado é um verdadeiro sacrilégio...
Além disso, alguém deve se perguntar: depois de ter assistido a esses bailes e lugares, tenho mais vontade de rezar? Tenho grandes desejos de virtude? Volto para casa em paz com a minha consciência e com Deus? Sinto-me “melhor” depois de ter dançado sem parar e de modo sensual e frenético durante longas horas da noite? A piedade e o baile são absolutamente incompatíveis.

4) Há alguns sacerdotes que nada dizem sobre o baile, e inclusive que afirmam que se se dança sem má intenção, não há pecado:

É possível que existam, e se é assim, estão erradíssimos. Esses tais não são nem bons sacerdotes nem bons confessores. Pelo contrário, são perigosíssimos, lobos disfarçados em pele de cordeiro que enganam os jovens, cometem uma falta grave de caridade contra eles, e se fazem responsáveis por grandes pecados, próprios e também daqueles que agem conforme seus conselhos.

Porém pode ocorrer também que seu conselho ou explicação tenha sido de um caso geral quando em realidade correspondia a um caso em particular em uma circunstância concreta, e que retirada do contexto tenha se transformado, por razões que preferimos não indagar, em um princípio geral. Em absoluto, não é impossível que o confessor, em um caso particular, autorize a ir dançar, como no caso, por exemplo, de uma mulher casada, verdadeiramente piedosa que pergunta se pode acompanhar seu esposo em um baile de fim de ano – homem rude e de costumes frívolos – porque este está decidido a pensar que se esta não vai com ele, ficará dançando com outras...Nessas circunstâncias, é provável que autorize, tomadas as devidas precauções e para evitar males e pecados maiores, que podem ocorrer no referido baile. Porém isto não permite fazer de tal permissão um princípio geral...

5) É melhor ir dançar que ir a lugares escondidos, como fazem certos casais, porque isso é muito mais perigoso e dá muito mais o que falar:
Dançar não é “melhor” do que ir a “outro lugar escondido...”. Melhor é comparativo de bom, e, portanto, na essência, pode-se dizer que dançar “é menos mal” do que fazer o que fazem alguns...
Ser uma coisa pior que outra, não faz da última boa ou lícita... Além disso, não é inevitável uma ou outra ação: dançar ou a outra... Há muitos jovens que se divertem de maneira saudável sem necessidade de alguma dessas coisas..., e o católico deve buscar esta maneira de se divertir...

6) Se não se dança, se não se freqüenta os lugares de baile, não se consegue casar e nenhum jovem quer ficar solteiro. Ou freira ou casada, dizia alguém, e como não tivesse vocação para freira, então...:
Argumentos semelhantes escutávamos faz algum tempo de um jovem: “ir às discotecas para conseguir uma namorada...”
É num lugar como este que se pode conseguir um(a) namorado(a) verdadeiramente católico(a) tradicionalista?[62] Procurar uma namorada ou um namorado em meio a um baile ou freqüentando as “discotecas” é fora de toda lógica cristã, e não pode ser concebido pensamento assim num jovem católico bem formado.
O casamento concebido dessa forma – se é que verdadeiramente os que vão a esses lugares querem conseguir um(a) esposo(a) – será como dizia um Sumo Pontífice, um “casamento de filme que retirou do homem o respeito pela mulher e desta o respeito por si mesma”; definitivamente, um casamento que não estará fundado em princípios verdadeiramente católicos..., e não se diga que logo o “converterão” ao tradicionalismo...
Faz muitos anos, quando os colégios católicos eram verdadeiramente tais, um ancião e santo religioso, dava este conselho aos alunos que iriam ingressar: “rapazes, não procurem uma namorada na rua”, ensinamento que é reflexo de puro senso comum católico: quem se deixa “abordar” por um desconhecido numa via pública mostra, além de pouco juízo, que tem princípios liberais; e este princípio pode ser aplicado com muito mais razão em relação às “boates”, “discotecas”, “pubs” ou como queiram chamar estes lugares de baile moderno. Quando se deseja um esposo ou uma esposa católica, que seja pai ou mãe católica para criar filhos católicos, jamais o encontrarão nesses lugares, e o mais provável, é que quem se conhece dessa forma e chega a se casar esteja trocando os planos que Deus tinha para ele...
Em todo o caso, sempre será válida a resposta a este argumento capcioso, aquela de São Paulo: “non sunt facienda mala ut veniant bona” (não se deve fazer um mal para se obter um bem) .

7) Todas vão, sou a única que nunca posso ir..:.
Era o argumento de uma menina colegial ainda, que acabava de entrar na adolescência e reclamava com o pai, que lhe proibia de ir dançar com suas amigas aos sábados...
O progenitor havia apresentado inúmeros argumentos, mas não havia utilizado o único verdadeiramente válido e importante: dê graças a Deus por ser a única que no dia seguinte poderá despertar com a consciência tranqüila por não ter pecado indo a esses lugares, por não ter-se colocado em ocasião voluntária de pecar gravemente...
O espírito liberal que invade tudo nos faz pensar que porque todos vão dançar, por ser a maioria que resolveu que é lícito a dança, as suas circunstâncias se transformam, como por arte de magia, em algo bom, conveniente e até necessário... Afastemos de nós este raciocínio falso, semelhante ao que levou à morte a Nosso Senhor Jesus Cristo: “... e todos gritavam a uma voz: Faze morrer este [e] gritavam mais forte: Crucifica-o, crucifica-o...!”[63] Que todos fossem dançar, jamais se poderia fazer bom o que é mau em si mesmo ou por suas circunstâncias ou ocasião...

8) Finalmente, também escutamos dizer que talvez se possa deixar os jovens em uma semi-ignorância que talvez haja, prevendo que quem freqüenta estes lugares não está em condições de parar de ir a eles e se corre o risco de converter em pecado formal algo que não vêem assim, e que se apresenta como pecado material para eles...:
Quem pensa assim tem uma falsa caridade e nenhum conhecimento da moral católica. A caridade se fundamenta na verdade, e ocultá-la, dissimulá-la, não dizê-la nestes casos é consentir no pecado alheio, favorecê-lo, não afastar do pecado a quem deve e pode ser afastado.

Para a teologia moral a semi-ignorância não existe, e não conhecemos nenhum moralista que utilize esse termo em nenhum caso...
Os autores falam apenas em “ignorância”, e a definem, em ordem à moralidade dos atos humanos, da seguinte forma: “falta de devido conhecimento em um sujeito capaz”[64], e que dividem, referindo-se ao sujeito que pode tê-la como “ignorância invencível”, que é aquela que não pode ser desvanecida ou porque de nenhum modo se dá conta do erro ou porque suas tentativas por fazê-la desaparecer foram em vão (perguntando aos outros, estudando o caso etc.)[65], ou como “ignorância vencível” que é aquela que poderia e deveria desvanecer com uma diligência razoável (consultando, refletindo, etc.).
Se a ignorância invencível escusa de pecado por ser totalmente involuntária, e, portanto inculpável, não ocorre o mesmo com a ignorância vencível que é sempre culpada, e, portanto pecado, em maior ou menor grau de acordo com a negligência em averiguar a verdade.

É bom lembrar as reflexões simples que faz um teólogo conhecido em nosso meio hispânico: “a razão da culpabilidade é porque é sempre voluntária. O agente percebe sua ignorância e nada faz – ou muito pouco – para averiguar seus deveres. Contudo, é certo que diminui um pouco o ato voluntário e o faz, por conseguinte, menos culpado; a não ser que a ignorância seja afetada, neste caso aumenta a malícia do ato pela perversa disposição da vontade do pecador, que não quer interar-se de seu dever para não ver-se obrigado a cumpri-lo”[66].

Poderíamos apresentar aqui a possibilidade de uma consciência provável na qual os motivos em que se baseiam o juízo não garantam a certeza, mas também não são suficientes para tornar honesto o ato de dançar. Em outras palavras, tentar justificar a licitude da dança porque se duvida se é lícito ou não, havendo argumentos tanto para dizer que sim ou que não. A consciência provável, ensinam os teólogos, é aquela em que se afirma como sendo somente provável que algum ato é lícito ou ilícito, mas com temor do que lhes é contrário. Seria algo semelhante à opinião, e os autores modernos assimilam a consciência provável à duvidosa (ainda que, em sentido estrito, a consciência duvidosa seja a suspensão do juízo do intelecto que não assume nenhuma das partes contraditórias). Na prática, a solução é a seguinte: esta consciência provável ou duvidosa se reduz também à consciência vencivelmente errônea; com efeito, quem ignora desta forma conhece a sua ignorância e não pode ter certeza de seus juízos. E a consciência vencivelmente errônea, assim como a provável ou duvidosa, não é regra legítima para atuar: “Nunca a consciência duvidosa nem a consciência vencivelmente errônea podem ser a norma reta de uma ação” ensinam os moralistas. Falando de outra maneira, “não é permitido seguir a consciência vencivelmente errônea já seja que mande ou permita algo, nem agir contra ela, senão que é preciso retirar o erro antes de agir”.

“O homem deve se valer de uma séria solicitude para ter uma consciência certa”, e por isso os jovens devem se informar a respeito de seus deveres morais, particularmente neste em que estamos tratando: a dança; e por sua vez, aos pastores lhes urge pregar, ensinar e aconselhar neste assunto e não podem deixar os jovens na ignorância..., nem numa suposta “semi-ignorância”; pelo contrário, fazem-se culpados de uma gravíssima negligência em seus deveres pastorais e responsáveis pelos pecados que aqueles cometerem por não terem sido retirados de seu desconhecimento ou erro sobre este tema.
Ensina Santo Tomás que “a ignorância implica na privação da ciência, a saber, enquanto falte para alguém a ciência daquelas coisas que por natural aptidão pode saber e algumas destas se está obrigado a saber, como aquelas sem cuja ciência não se pode exercer com segurança o devido ato; pelo que todos estão obrigados a saber comumente as coisas que são de fé e os preceitos gerais do direito; e cada um em particular as que dizem respeito ao seu respectivo estado...”[67].

E assim, aos jovens lhes está imposto o dever – insistimos – de interrogar, de informar-se acerca do modo de se divertir cristianamente e a respeito da licitude ou não dos bailes modernos... Sua ignorância neste ponto de nenhum modo pode ter-se como “invencível” ou “inculpável”, porque facilmente podem obter o conhecimento que precisam sobre o particular...: “pela negligência, a ignorância de algo que alguém está obrigada a saber que é pecado..., [e] a ignorância vencível é sim um pecado, se versa a respeito de coisas que se está obrigado a saber”[68].
Por isso afirma com toda razão o Doutor Angélico que “se a razão ou a consciência é errônea por um erro direto ou indiretamente voluntário no tocante às coisas que alguém está obrigado a saber, tal erro não exime de pecado a vontade que segue a razão ou a consciência errônea”[69]. Os jovens devem formar-se moralmente..., os sacerdotes devem formá-los nestes temas morais!
Diz-se ainda na objeção que “quem freqüenta estes lugares não está em condições de acabar com eles e corre o risco de converter-se em pecado formal algo que não vêem assim, e que hoje não passa de pecado material para eles”.
Várias coisas devem ser consideradas aqui: 1) A falta de “condições”(?) para cortar com esta ocasião provém de uma falta de firmeza na vontade? 2) Ou não querer fazê-lo, quer dizer, deixar de ir dançar, porque acreditam que não é pecado? 3) Ou, por que apesar de tudo não vão deixar de ir? E no segundo caso: 4) Que classe de ignorância é a sua para que se possa dizer que é apenas pecado material?
Se se está atento ao que foi explicado, vê-se claramente que a questão da “ignorância” é um problema de “inteligência”, e, portanto, se o problema é a fraqueza da vontade (interrogação 1), o remédio é fortalecê-la pelos meios adequados, porém não é deixá-los expostos a uma ocasião que produz piores males dos que se supõe.
Se é porque simplesmente não irão deixar de ir (interrogação 3), ainda que saibam de sua malícia, o único que resta é negar-lhes a absolvição...

Mas se seu juízo “supostamente” bom sobre as danças modernas é por ignorância, ou em todo caso por erro (interrogações dois e quatro), como se deve resolver o problema? A ignorância nestes casos nunca é invencível porque com um mínimo de esforço – que por outro lado é obrigação do jovem –, pode chegar a conhecer algo que é necessário para sua “vida moral”, e, portanto nunca excusa de pecado formal. O que deve ser feito, nos ensina Santo Afonso: “é obrigação do confessor alertar ao que está na ignorância culpável de algum de seus deveres, já provenham eles da lei natural ou da lei positiva. Quando esta ignorância é inculpável, deve-se fazer uma distinção: se alguém ignora as coisas necessárias para se salvar, é de todo evidente que devemos retirá-lo do erro[70], e aqui se trata de cumprir com o sexto mandamento..., cujos violadores, ensina São Paulo, não entrarão no reino dos céus. Assim, não se pode falar em deixar que o jovem cometa, nesses casos, pecado material, isto é, que quebrante involuntariamente a lei de Deus porque não existe tal ignorância invencível: ele deve conhecer suas obrigações morais e o sacerdote tem obrigação de instrui-lo sobre o tema.

9) Mas é necessário se divertir na vida, não é possível viver virtuosamente sem ter um momento de relaxamento, pelo que é lícito dançar:
Certamente que a recreação é necessária ao homem e conforme a reta razão, e ensina Santo Tomás que o contrário é vício: “é obrar contra a razão não participar da alegria comum e impedir a recreação amena dos outros”[71].
Na vida é necessário certo repouso, e para consegui-lo fazem falta as distrações que o proporcionem e “essas atividades, segue ensinando o doutor Angélico, em que se busca o prazer do espírito se denominam... festas, e é necessário usá-las para descanso da alma”[72].

A virtude que regula esta atividade é a “eutrapelia”, que retifica, segundo a reta razão, estas diversões, porque “se, sob o pretexto de diversão, comete-se uma ação imoral em si mesmo ou nociva para o próximo em matéria grave, temos um pecado grave”[73].
É por isso que destaca Santo Tomás que, nestas diversões é necessário considerar três coisas: “antes de tudo é necessário não buscar o dito prazer em coisas torpes ou nocivas; convém, além disso, não perder a gravidade do espírito; e em terceiro lugar devemos considerar que a brincadeira [a diversão] deve acomodar-se à dignidade da pessoa, circunstâncias de lugar, tempo etc., ou como diz Cícero, “algo digno do homem e do momento”. Tudo isto ponderado pela reta razão”[74].
E assim pode existir “excesso em razão das circunstâncias, como divertir-se em tempo e lugar indevido, ou em forma que vai contra a dignidade da pessoa e de seus negócios, e isto pode ser às vezes pecado mortal pela veemência do afeto que se põe... menosprezando os preceitos de Deus ou da Igreja”[75].

E nossa dignidade é a de ser filhos de Deus, irmãos de Cristo, por quem fomos redimidos pelo preço de seu Sangue divino e nos vem a salvação, herdeiros do Céu se cumprirmos seus mandamentos de amor...
Assim se explica que “uma diversão má em si mesma, nunca está autorizada; uma diversão má não é lícita se escolhida por nenhum preço, [e também] uma diversão orientada para o mal, deve igualmente ser proibida, ... e a causa dessa proibição é que, o que ama, ou quer o perigo sem a menor necessidade, é, pela mesma razão, considerado desejoso do mau que se lhe está unido; porque, em segundo lugar, toda lei, assim como veda sua violação, proíbe tudo aquilo que leva a sua transgressão. Esquivar-se da ocasião próxima não é, pois, um simples conselho, mas um preceito imposto por Deus mesmo”[76].

5. DANÇAS HONESTAS

Depois de tudo o que foi dito, a juventude hoje em dia pode praticar algum tipo de dança? Trata-se, obviamente, de determinar em primeiro lugar se existem danças moralmente honestas por seu objetivo, segundo os critérios dados por Santo Tomás, aos que já fizemos referência, e que é nossa referência segura sobre o tema, e que então sejam legítimas como expressão de uma alegria cristã... Porém a isso deve ser acrescentado também, se compreendemos tudo o que foi dito até agora, circunstâncias “boas”, no sentido moral do termo.
Para que a dança seja honesta e lícita, é necessário que, sendo expressão de uma sã alegria da alma, seus movimentos sejam ordenados de acordo com a reta razão, com arte, harmonia e conforme o que buscam exteriorizar, afastada toda a sensualidade, indecência, atrevimento ou liberdade de gestos, giros e/ou atitudes que possam levar à lascívia. Devem ser danças decentes, isto é, diz S. Afonso, “sem que mediem atos, posturas, movimentos ou contatos contrários à pureza”[77].

Assim fica excluído como danças honestas a dança abraçada, que põe em contato os corpos (em particular os peitos) dos dançarinos, pelo perigo próximo de sensualidade em que se colocam os participantes...

A estas “qualidades objetivas” devem somar-se: 1) o motivo honesto dos que concorrem e dançam: um casamento, uma festa familiar etc...; 2) lugar decente: casa particular, ou lugar aberto (por exemplo, como são as danças em praças públicas por motivos de festas patronais) e não público (pelos perigos que implicam se são fechados, estreitos, e além da índole dos assistentes, aglomeração etc.); 3) na presença de pessoas mais velhas, respeitáveis, de costumes honestos; 4) com pessoas decentes, ou seja, virtuosas e que saibam conduzir-se conforme os costumes católicos em tais circunstâncias; 5) por pouco tempo[78] e em horários convenientes; 6) com vestimenta cristã; 7) com retidão de intenção; ou seja, com a única finalidade de divertir-se por um momento honestamente...
Estas qualidades encaixam-se perfeitamente nesses bailes regionais ou danças populares, expressão de arte rítmica, de agilidade e destreza, que haviam nos povoados, festas cívicas ou patronais, e até com a presença do padre paroquial.

Eram, entre outros da mesma índole, as danças e os bailes folclóricos da Espanha e da América Latina que aconteciam durante a época colonial[79] e até tempos mais próximos, as danças “criollas” que aconteciam no interior do nosso país[80] e que, atualmente são consideradas como relíquias de costumes de um passado que não se deseja recuperar.
Nada pode ofender a moral cristã a respeito de tais costumes, e talvez alguém se pergunte se, fora desses tipos de danças, hoje poderia dar-se o título de “honesto” e por conseqüência, “lícito” a alguma das danças que os jovens atuais usam em suas festas ou entretenimentos. A resposta é clara: se há a possibilidade de aplicar ao mesmo tempo todas as condições e circunstâncias descritas acima, pode-se praticá-las, salvo proibição para aquelas que, ainda que todas as normas tenham sido cumpridas, as referidas danças sejam uma ocasião pessoal de pecado por motivos subjetivos.

[1] É bom recordar aqui o que era ensinado aos bispos do mundo inteiro em uma carta da Sagrada Congregação do Concílio no ano de 1954: “Ninguém desconhece, com efeito, como, principalmente durante o período de verão, em qualquer lugar que seja, contemplam-se espetáculos que não podem deixar de ofender a vista e o espírito de quem não renunciou à virtude cristã e ao humano pudor. Não só nas praias e nos lugares de veraneio, mas também em quase toda a parte, nas ruas das cidades, privada e publicamente, e, com freqüência, mesmo também nas igrejas, generalizou-se um vestuário indigno e desavergonhado, que põe a juventude – facilmente inclinada ao vício – em gravíssimo perigo de perder sua inocência, máximo ornamento e o mais precioso de sua alma e de seu corpo. O ornamento feminino, se ornamento pode chamar-se, e os vestidos femininos, ‘se vestidos podem chamar-se quando nada apresentam que possam defender o corpo nem mesmo o próprio pudor’ (a), freqüentemente são de tal feitio que mais parecem servir à desonestidade que ao pudor.

A isso soma-se que toda malícia e desonestidade, privada e pública, é apregoada descaradamente nos periódicos, revistas e folhetos ou onde há mais afluência de gente, oferecendo-lhes de forma animada e colorida nas telas dos cinemas, de maneira que já não só a incauta e débil juventude, mas até mesmo os de idade provecta, sentem-se empolgados pelas mais insanas solicitações. Ninguém ignora como, de tudo isso, derivam grandes males, com seus subseqüentes perigos, para a moralidade pública. Surge, pois, a necessidade de que não somente se recomende a todos como algo bom a beleza do pudor apresentada em sua luz própria, mas também se reprima e, até mesmo, proíba-se, na medida do possível, os atrativos e excitações dos vícios; e finalmente que todos retornem à devida severidade de costumes, porque, como disse o máximo orador romano: ‘Com freqüência vemos serem vencidos no pudor, àqueles que nenhum argumento pudera vencer’ (b).

Todos compreendem bem como nos achamos diante de um problema gravíssimo, do qual depende não só, e principalmente, a virtude cristã, como também a saúde mesma do corpo, e, ainda, o vigor e fortaleza da sociedade humana. Razão teve o antigo poeta ao dizer: ‘Princípio do pecado é já quando os corpos se apresentam publicamente desnudos.’ (c); por tudo isto, este assunto, como facilmente se vê, diz respeito não somente à Igreja, senão também aos que governam a sociedade, pois todos devem desejar que não se debilitem nem se rompam as forças corporais ou as defesas da virtude. E, principalmente a vós, aos que o Espírito Santo colocou para reger a Igreja de Deus, considerareis isto com a máxima atenção, cuidando e promovendo tudo aquilo que possa contribuir para a melhor defesa do pudor e para a melhoria dos costumes cristãos: ‘Pois todos somos templos de Deus porque se nos infundiu o Espírito Santo que nos consagrou, o vigilante e reitor deste templo é o pudor, que não deverá permitir que nele penetre nada de impuro ou profano, para que não seja ofendido aquele Deus que aí habita e, então, abandone a sua morada.’ (d) Pois então, todos compreendem bem como, pelo modo atual de vestir-se, especialmente entre as mulheres e as jovens, faz-se grave ofensa à modéstia que ‘é companheira do pudor e cuja companhia é a melhor defesa da castidade’(e).

Por tudo isso é de necessidade absoluta o avisar e exortar da melhor forma possível a todas as classes de pessoas, mas, singularmente, à juventude, para que cuidem de evitar os perigos de tantas ruínas que, por sua total oposição à virtude cristã e à humana, podem pô-las em gravíssimo perigo. Quão belo é o pudor, a mais brilhante pérola dos costumes! Razão é, portanto, para que não seja ofendida nem violada por fáceis lisonjeios e atrativos dos vícios que nascem daquelas maneiras de vestir ou de outras ações, já referidas, e que os homens de bem não podem mais que lamentar.”

a) Sêneca, De ben. VII; b) Cícero, Tusc., II, 21; c) Ênio, apud Cícero, Tusc., IV, 33; d) Tertuliano, De Cultu Fem., II, 1; e) S. Ambrósio, De Off., I, 20.
[2] Alocução ao Primeiro Congresso Internacional de Alta Costura, de 8 de novembro de 1957.
[circundamus... Honesta autem nostra nullius egent” (1 Cor. XII, 23-24).
[7] Cfr. Merkelbach, B. (O.P.) em “Quæstiones de Castitate et Luxuria”, edição 4ª, ano 1936, edit. La Pensée Catholique, Bélgica, p. 71; Prümmer, em “Manuale Theologiæ Moralis, t. II, nº 691, p. 534, ed. Herder, ano 1961; Noldin em seu complemento “De Sexto Præcepto et Usu Matrimonii” à “Summa Theologiæ Moralis”, nº 48, p. 50, ed. Oeniponte (Pustet), ano 1907, ed. 9ª, Ratisbona; Loiano S. (O.M.C.), em “Institutiones Theologiæ Moralis ad normam Iuris Canonici”, vol. V, nª 127, p. 147, ed. Marietti, ano 1952, etc.
[8] Dizem-se desonestas não secundum se, porque nada do que foi criado por Deus é desonesto, senão porque como objeto de abraço, toques, beijos e/ou olhares, ordinariamente terminam, pela sua própria natureza, em atos desonestos ( “Terminare actus deshonestos natæ sunt”)
[9] Pastoral de 21 de julho de 1951, citada pelo Pe. Blanco Piñán em “Alegrai-vos no Senhor – a Igreja e os costumes e diversões modernas”, ed. Fax, Madri, ano 1957, p. 223.
[10] Em francês “maiô” significa traje de banho, mas em português, a palavra é utilizada como traje de banho de uma só peça e que na época começava a utilizar-se, em que, assinalando o contorno das formas do corpo, deixava também descobertas as pernas, os braços, as costas, parte do peito...
[11] Citada pelo Pe. Piñán, o. c., p. 222.
[12] Alocução à Juventude Feminina da Ação Católica, de 22 de maio de 1941, citada em “O Problema da Mulher, Ensinamentos Pontifícios”, ed. Paulinas, Bs. Aires, nº60, p. 54.
[13] Publicado na Revista “Criterio” nº 285, p. 473 nota.
[14] Por suposto que não é lícito nem mesmo nesta circunstância tomar banho de sol completamente desnudo.
[15] “Alocução ao Primeiro Congresso Internacional de Alta Costura”, de 8 de novembro de 1957.
[16] E mais..., segundo um artigo publicado em um jornal de Buenos Aires, em que se conta a organização de festas durante todo o fim de semana. Com o título “Siga a festa... até qualquer hora... maratonas de música eletrônica que se organizam em casas de campo e discotecas para dançar de dia”, o jornal “La Nación”, do dia 3 de março de 2003, informa a respeito dos chamados “after hours... onde o pôr do sol não determina o fim da festa, em que nada parece ser suficiente, e agora alguns se estendem até às 21:00 h...”. Vale a pena transcrever algumas das declarações transcritas pelo mesmo jornal. Uma mulher, de trinta e cinco anos de idade, diz: “De segunda a sexta-feira tenho uma vida supernormal. Trabalho de recepcionista e vivo com meus pais. Mas, os fins de semana são para mim de um desfrute total”... Um jovem, por sua vez, afirma: “... para muita gente isto é uma festa. E não ponha o meu nome, pois minha mãe pensa que estou jogando uma partida de futebol em um clube campestre...” Um estudante assinala que “aqui cada um está em seu mundo... a mim me encanta esta agitação. [sic] de dançar até qualquer hora.”, e outra mulher diz:

“Ontem me levantei às 6:00 h. Trabalhei o dia todo; à noite, fui dançar e depois fui a uma reunião... Como agüento? Isso não se pergunta”... Curiosamente, e como por casualidade, na mesma página, o jornal traz um artigo sobre a substituição – por razões de custo – da droga “extasis”, que invadiu as festas de dança na década de 90, por outro alucinógeno que se vende nas lojas veterinárias. Ali se fala de “a droga do desenfreio e a dança sem fim... que tem as propriedades de um anestésico, com a diferença de que a pessoa continua desperta [sic]. Os rapazes e as moças dançam, mas não sentem o corpo. E se alguém os golpeia ou os toca, não o percebem, porque a droga anula uma das defesas naturais do organismo”... “O efeito que provoca é definido por seus consumidores – assinala o artigo – como de separação do corpo e da mente. Não é droga de marginais e no último ano houve um aumento considerável de consultas por consumo de ketamina (é o nome da droga)”.
A notícia conclui que “segundo um estudo da Food and Drug Administration dos Estados Unidos, o uso prolongado de Ketamina pode provocar delírio, amnésia, deterioramento da função motora e problemas respiratórios potencialmente mortais”.


Fonte: www.padremarcelotenorio.com, Pe. Ricardo Félix Olmedo



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