O Juízo final
Ao tratarmos de nosso fim, lembremo-nos de nossa origem. No capítulo sobre a criação e a queda do homem, a morte é um castigo (Gn 3, 19).
"Porque Deus criou o homem imortal, e o fez à sua imagem e semelhança. Mas, por inveja do demônio, entrou no mundo a morte" (Sb 2, 23-24). "Assim como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também passou a morte a todos os homens, por aquele em quem todos pecaram". (Rm 5, 12).
Havia, no paraíso, duas árvores: a do Conhecimento do bem e do mal e a Árvore da Vida. Em relação à primeira, o homem pecou, despindo-se da graça, perdendo sua condição privilegiada.
Vestido, então, com a pele de um animal (Símbolo do Cordeiro que derramaria Seu sangue para revesti-lo mais dignamente), foi expulso do Paraíso, para que não estendesse a sua mão também para a Árvore da Vida, imortalizando-se em sua nudez (Gn 3, 22).
Mesmo agora, apesar de restaurados pelo sacrifício de Cristo, não nos convém a imortalidade. Realmente, a morte é castigo – mas castigo de Pai.
Morremos para alcançarmos um destino melhor. Contudo, a morte nos repugna. E é natural. Feitos para a imortalidade, custa-nos aceitá-la. A fé é necessária. Muita fé.
Preparando-se para o Encontro
Embora poucos detenham na morte seu pensamento – atitude, aliás, que não nos livra dela. Mais prudente seria pensar no assunto – porque nossa alma é imortal.
"O pó voltará a ser pó, mas a alma – espiritual – é incorruptível. E cada um será julgado conforme suas obras. "Todos os homens hão de morrer e o juízo há de acompanhar a morte" (Hb 9, 27).
"A árvore para no lugar onde caiu" (Ecl 11, 3). Por isso, é importante morrer em estado de graça, isto é, morrer revestido de Cristo. Todo o mais é secundário. "De que adianta ao homem possuir o mundo e perder a própria alma?"
Como "não sabemos o dia nem a hora", a Sabedoria consiste em sempre estar preparado. Somos todos julgados logo após a morte. É o juízo particular. Penetrando na eternidade, apresentamo-nos diante do Rei – e nossa veste deve ser branca (Mt 22, 1s).
Por isso, devemos viver bem para morrer bem. Assim, a morte não apavora. Em vez de medo, há confiança. E os santos – que podem ser definidos como as pessoas que sabem viver – em vez de tristeza, têm alegria.
É bom que não saibamos o dia de nossa morte. Para estarmos sempre prontos. "Estai preparados porque o Filho do Homem virá na hora que ignorais" (Mt 24, 44).
"A morte é terrível para o pecador, mas não para o justo". "O justo, na morte, é uma árvore que tomba para produzir, na eternidade, frutos ainda mais belos; o pecador é a árvore cortada na raiz para ser jogada ao fogo"
A alma se fixa no estado em que se encontra. Não escolhemos a hora da morte – mas escolhemos o modo de vida (ou de morte) de nossa alma. Todos somos predestinados ao Céu – Deus quer que a salvação de todos. Mas não nos obriga a querer o mesmo.
Após a morte, Deus nos pedirá contas de nossa administração (Lc 16, 22). S. Mateus fala que daremos conta até das palavras inúteis (Mt 12, 36).
"Todos compareceremos ante o tribunal de Cristo" (Rm 14, 10). "Cada um receberá a sua recompensa, conforme o seu trabalho" (1Cor 3, 8) "está estabelecido que os homens morrem uma só vez e, depois disso, venha o juízo" (HB 9, 27).
Céu, Inferno e Purgatório
Logo após a morte, estaremos no Céu. Inferno ou Purgatório. No Céu ou no Inferno, permaneceremos eternamente; no Purgatório, a permanência é temporária
No Céu ficarão os que morrerem com a alma absolutamente sem mancha a que já tiverem pago os seus pecados aqui na terra. No inferno ficarão os que morrerem em pecado mortal. Neste caso a alma já está morta para a eternidade. Porque a Graça de Deus é a vida da alma; o pecado é a sua morte. Por isso, quem morre em pecado (mortal) entra na eternidade já com a morte na alma.
A alma se fixa no estado em que se encontrar – estado livremente escolhido, Não é, pois, Deus, quem conduz ao Inferno – é ela que para lá se encaminha, por ter preferido as trevas à luz.
Pouca gente gosta de falar no Inferno. Mas Jesus falou nele. "A árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo" (Mt 3, 10). Parábolas falam do joio que será lançado ao fogo e dos peixes maus que serão postos fora (Mt 13, 24-30, 47-50).
Igualmente, a das núpcias do filho do rei (Mt 22, 1-14), a das dez virgens (Mt 25, 1-13), a dos talentos (Mt 25, 14-30), a da árvore que não dá frutos (Mt 7, 17-19), a do rico avarento (Lc 16, 19-31) etc, não deixam dúvida quanto à sua existência.
No purgatório ficam os que morrem sem pecado mortal, isto é, com a alma viva, mas tendo, ainda, necessidade de purificação e resgate de pecados cometidos. Do Purgatório passa-se para o Céu. Também, a esse respeito, há referências no Novo Testamento.
S. Mateus (Mt 12, 32) fala também dos pecados contra o Espírito Santo que "não serão perdoados nem neste século, nem no futuro" (pecado contra o Espírito Santo é a consciente e voluntária recusa à conversão – portanto, a consciente e voluntária escolha do Inferno.)
Alem disso, Jesus fala de uma prisão donde "não se sairá antes de Ter pago a última moeda" (Mt 5, 26). Na parábola dos devedores, o servo mau foi entregue à justiça "até que pagasse toda a dívida"- e Jesus esclarece: "Assim também vos tratará meu Pai celestial" (Mt 18, 23-25).
O Céu, Inferno e Purgatório, mais propriamente que lugares, são estados d’alma. "Quando os anjos e os santos visitam aqui na terra, eles não cessam de estar no Céu, porque eles não podem ser privados da visão de Deus". Nossos anjos da guarda, sempre junto de nós, vivem no Céu (Mt 18, 10). Aliás, já aqui na terra, temos uma pequena amostra disso. O santo carrega o Céu dentro de si. Mesmo nos piores sofrimentos, lá na profundidade de sua alma, permanece a Esperança – Esperança que lhe dá Paz, que lhe dá Alegria.
O inverso acontece ao pecador. Mesmo com saúde e riqueza, gozando dos ditos "prazeres deste mundo", se ele pára de se atordoar ou de se entorpecer, sente o vazio de sua vida, a ausência de Deus e, por conseguinte, o tédio, a insatisfação, o desespero.
No meio termo vive a maioria de nós: no Purgatório.
Nosso destino não se consome aqui. Disse Jesus a Pilatos: "Meu Reino não é deste mundo" "Senhor, lembrai-vos de mim quando estiverdes em vosso Reino", disse o bom ladrão. O Céu é nossa verdadeira pátria; aqui, somos estrangeiros. . (Hf 13, 14).
Para o Céu fomos criados. Porque Deus é nosso princípio e nosso fim, só em Deus nos realizamos plenamente. Temos em nós alma imortal, com inteligência e vontade. Respectivamente, essas faculdades têm por objetivo a Verdade e o Bem
Verdade e Bem que, em sua plenitude, se encontram em Deus. A felicidade, no Céu, consiste na contemplação e posse de Deus, isto é, contemplação e posse da Verdade, Beleza e Amor. Por isso, só em Deus seremos plenamente felizes, plenamente realizados. Para que se chegue ao Céu é preciso morrer já levando-o dentro de si – é preciso morrer em estado de graça, em união com Deus.
O Juízo Particular e o Universal
Além do juízo particular, logo após a morte de cada um de nós, haverá o Juízo Universal, coletivo, no fim do mundo. Tanto o Antigo como o Novo testamento fazem referências a este assunto. O capítulo 5 do Livro da Sabedoria é inteiramente dedicado ao juízo final.
Isaías (66, 18) diz : "Eu virei recolher as suas obras e os seus pensamentos e reuni-los com todas as gentes e línguas; e eles comparecerão, todos, e verão a minha glória". Nos Atos dos Apóstolos (1, 11) vê-se que, logo após a Ascensão, foi anunciada, por dois anjos, a volta de Jesus, como juiz. S. Mateus, no capítulo 24, e S. Lucas no capítulo 21, discorrem, longamente sobre o assunto.
No juízo final, o julgamento será definitivo – depois dele haverá, somente, Céu e Inferno. O mundo, com matéria, certamente, acabará. Mas quando e como será o fim do mundo, não o sabemos. "Nem os anjos sabem".
O importante, porém, é vivermos preparados. Preparados para encontrar o Juiz, o verdadeiro Juiz de nossa vida, o Absolutamente Justo, o que penetra em nossos pensamentos, nossas intenções, sabe de nossas fraquezas e misérias.
No último dia, haverá a ressurreição da carne. Marta, irmã de Lázaro, não ignorava isso (Jo 11, 24). Jó também o sabia (19, 25), assim como os irmão Macabeus (2Mc 7, 11), Isaías (26, 19), Daniel (13, 2). E o próprio Jesus o ensinou (Mt 22, 23-33; Jo 11, 25) – e Ele mesmo, como também o predissera, no terceiro dia após a Sua morte, ressuscitou glorioso.
Jesus já está, portanto, no Céu, em corpo e alma. Junto dele, por Ter sido concebida sem o pecado original, também se encontra Maria – de quem a Igreja ensina que adormeceu (podendo Ter morrido) e, pelos anjos, foi transportada ao Céu (é a sua Assunção).
No último dia, os corpos dos justos ressuscitarão gloriosos, semelhantes ao de Jesus ressuscitado. Os justos ressuscitarão para a glória e os réprobos para o seu opróbrio. É uma questão de justiça. O homem inteiro é corpo e alma. O corpo participa de nossa vida pecaminosa ou virtuosa.
Como homens, agimos de corpo e alma. O importante é que o corpo obedeça à alma e esta obedeça a Deus. Como bons filhos, obedecendo a Deus, nada teremos a temer: a morte será o encontro com o melhor dos pais – o Pai do Céu.
Antes do fim do mundo, já julgadas em juízo particular, as almas dos defuntos aguardarão a ressurreição dos corpos. "Não foi sem razão muito harmoniosa que a Sabedoria divina decretou retribuir separadamente às almas e os corpos: já que cada alma se origina por criação direta e particular de Deus, é conveniente que a cada alma toque a sua sorte eterna logo que se torne capaz de ser julgada sobre os seus méritos e deméritos;
Lembra-nos S. Tomás que, os homens, considerados como indivíduos corpóreos, têm uma certa continuidade entre si, pois isto é próprio da corporeidade (At 17, 26). Porém, as almas, Deus as cria uma por uma; donde se seque que a glorificação simultânea das almas não é de tanta conveniência como a glorificação simultânea dos corpos. Além disso a gloria do corpo não é tão essencial quanto a da alma.
A profissão de um duplo juízo (particular e universal), não significa, pois, que Deus duas vezes sentencie o homem, mas é uma única sentença que é feita em ocasiões diferentes.
O Juízo Universal acontecerá para que tudo o que foi oculto seja posto às claras. Para a vergonha do pecador e glória do justo. Tudo o que foi encoberto será conhecido. Toda a verdade será conhecida. Por todos. Será a hora da perfeita reabilitação dos caluniados, difamados, injustiçados. Estes nada perdem por esperar. O tempo passa. O tempo é breve.
A justiça de Deus é absoluta. E irrompe da eternidade.
Porém, o mais importante, para cada um de nós, é o juízo particular. A hora da morte, hora da passagem do tempo para a eternidade, é o momento mais importante de nossa vida.
Por isso, devemos viver de modo que tudo nos sirva de meio para a conquista do Céu.
"Se a tua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o fora de ti: melhor te é entrar na vida manco ou aleijado, do que, tendo duas mão ou dois pés, ser lançado no fogo eterno" (Mt 18 , 8).
Normalmente, não precisamos chegar a esses extremos, mas, às vezes, precisamos chegar a outros que podem ser maiores: a renúncia a um amor ilícito, ou a uma posição social brilhante etc.
Estamos aqui de passagem e, por mais que vivamos, o tempo nada é em relação à eternidade. Salvar a alma – eis o que importa. Para isso, viver em união com Deus – Deus que é nosso princípio e nosso fim. Viver com Ele para com Ele morrer – e, então, realmente, conquistar a Vida.
Qualidades dos Corpos Ressuscitados
De acordo com a Sagrada Escritura, os corpos ressuscitados terão as seguintes qualidades:
- Identidade
Cada homem ressuscitará em seu próprio corpo. "Este corpo corruptível se revestirá de incorruptibilidade; este corpo mortal, de imortalidade" (1Cor 15, 53).
"No último dia ressurgirei da terra e serei novamente revestido da minha pele, e na minha própria carne verei o meu Deus" (Jó 19, 25-26).
Aliás, estas citações são válidas, também, como argumento contra a utopia da reencarnação. Para cada corpo Deus cria uma alma que, com ela, viverá na eternidade.
- Impassibilidade ou incorruptibilidade
O corpo "é semeado na corrupção, e há de ressurgir incorruptível" (1Cor 15, 42).
- Integridade
Tanto justos como réprobos possuirão todos os órgãos e membros, todas as faculdades que o corpo humano, por natureza, possui, mesmo que tenham sido mutilados ou disformes, neste mundo. Conservarão, inclusive, a distinção de sexos – que pertence à natureza humana, como Deus a criou. Porém, órgãos que só têm função nas circunstâncias de vida terrestre, em corpos ressuscitados deverão ser como um revestimento para harmonia e integridade.
"Seremos semelhantes aos anjos" (Lc 20, 34s).
Essas três qualidades serão comuns aos corpos tanto dos justos como dos réprobos.
os justos terão ainda:
- Fulgor
"Os justos resplandecerão como o sol" (Mt 13, 43).
- Agilidade
Os corpos gloriosos se locomoverão com presteza, sem cansaço nem obstáculo.
Sutilidade
Como Jesus ressuscitado entrou no cenáculo, com as portas fechadas, os corpos gloriosos poderão fazer o mesmo (Jo 20, 19).
Contudo...
Os réprobos, ao contrário, por terem recusado a restauração trazida por Cristo, terão os seus corpos:
"Passíveis ou sujeitos à dor;
Obscuros ou tenebrosos, como imagens hediondas do mais escuro e deplorável estado de alma;
Pesados ou dificilmente sujeitos à locomoção e crassos ou resistentes aos impulsos da alma;
Em uma palavra, serão a expressão fiel da horrenda situação produzida na alma pelo ódio a Deus".
- Limbo
Inicialmente, deve-se estabelecer a diferença entre Limbo dos pais e Limbo das crianças.
O primeiro eqüivale à "mansão dos mortos", onde os justos do Antigo Testamento aguardavam a Redenção. Após o sacrifício de Cristo, possibilitando o ingresso no Céu, este Limbo deixou de existir. Era, em linguagem Bíblica, o "Seio de Abraão".
Quanto ao limbo das crianças, não há, na Sagrada Escritura, referência a seu respeito. No entanto, apesar de a Igreja nunca ter definido a sua existência, desde os tempos de S. Agostinho (430), admitiu-se o limbo como lugar destinado às crianças mortas sem Batismo.
Seria um "inferno mitigado". Porém, outro ponto destacado é o de que "Deus quer que se salvem todos os homens" (1Tm 2, 4), acrescido da especial preferencia de Jesus pela crianças. "O vosso Pai, que está nos céus, não quer que se perca nem mesmo um destes pequeninos" – (Mt 18, 14).
Assim, admitem aqueles teólogos que "a oração da Igreja por todas as necessidades da humanidade" e "o oferecimento que os pais façam de seus filhos moribundos a Deus" podem suprir os efeitos do batismo, como admitem também que:
"O sofrimento e a morte das criancinhas não batizadas são, em virtude da paixão voluntária de Cristo, um "quase-sacramento" de reconciliação, um certo batismo de penitência, que supre o batismo de água".
Apesar desta concepção, o sacramento do Batismo fica sendo a via normal instituída por Cristo para prover à Salvação dos homens; afastar-se voluntariamente dessa via é temerário, é tentar a Deus. Cumpram, pois, os genitores e pastores de almas as suas partes, proporcionando sem demora o batismo aos pequeninos.
Comentário Final
Encerremos este assunto, ainda com uma referência ao Céu, onde, segundo o próprio Jesus disse, "há várias moradas". Essa "moradas" ou graus de felicidade correspondem ao grau de santidade de cada um. É certo que qualquer pessoa que morre em estado de graça terá o Céu. Mas qualquer pessoa não é S. Francisco ou S. Teresinha. Cabe, aqui na terra, a cada um, alargar a sua visão.
Já houve quem se servisse das imagens de dedal e balde. O primeiro, com um pouco d'água, o segundo, com muita, ambos ficam repletos, saciados. Cabe-nos procurar ter a largueza de um ou outro. No Céu, a felicidade é completa - para cada pessoa. Todos são saciados - de acordo com sua sede.
Cabe a cada um de nós aumentar sua receptividade à vida divina, abrir-se mais ao Bem, à Verdade, à Beleza, procurar ser um "vaso de eleição" com a profundidade de um grande amor
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