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31 de outubro de 2009

Equipe Litúrgica um ministério eclesial a ser levado a sério

DIANTE DE DIFICULDADES


Em minhas andanças por este Brasil afora, exercendo função de missionário da divina Liturgia, percebo que há muitos párocos e vigários paroquiais preocupados com a qualidade das equipes litúrgicas em suas comunidades eclesiais.
Queixam-se do despreparo delas. Lamentam a atuação por demais improvisada de muitas equipes, que tantas vezes se limitam à distribuição de folhetos e livros de cantos, escolha de leitores na última hora, mera leitura formal dos comentários do folheto, leituras bíblicas mal feitas (sem preparo), músicos atuando meio por conta (alheios ao conjunto da equipe e com cantos deslocados do verdadeiro espírito litúrgico), ausência de inventivas para fazer uma liturgia mais viva e proveitosa.
Numa palavra, falta formação, não só de equipes litúrgicas, mas também das equipes litúrgicas. E os próprios padres (e outros agentes de pastoral), muitas vezes, reconhecem que também não sabem orientar as equipes e como trabalhar com elas. Sentem-se despreparados neste setor pastoral e pedem ajuda.


UM PROGRAMA DE ESTUDO E TRABALHO

Assim sendo, no intuito de atender aos anseios de nossos párocos e vigários paroquiais (e, eventualmente, outros), vamos ter daqui para frente, nesta revista, uma série de “encontros”, conversando sobre equipes litúrgicas:
- sua razão de ser a partir do Vaticano II, questão da ministerialidade da assembléia litúrgica, o papel da animação de uma assembléia litúrgica, o papel da equipe de animação da vida litúrgica na paróquia (ou comunidade), o papel da equipe diocesana de pastoral litúrgica e seu papel, o trabalho coletivo, como formar uma equipe litúrgica, como organizá-la e fazê-la funcionar, passos de uma reunião para preparar uma celebração, etc.
Vou me basear, sobretudo, em três preciosos livrinhos:
- CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil (Documentos da CNBB n.º 43), São Paulo, Paulinas, 2002; Equipe de Liturgia (Equipe de Liturgia 1), de Ione Buyst, 15a ed. atualizada, Ed. Vozes, Petrópolis, 2000; Preparando passo a passo a celebração. Um método para as equipes de celebração das comunidades (Coleção “Celebrar a fé e a vida”, 3), de Luiz Eduardo P. Baronto, Editora Paulus, 3a ed., São Paulo, 1997. Aconselho o leitor e a leitora a adquirirem estes livrinhos para aprofundamento pessoal e em grupos.

EQUIPES DE LITURGIA, UMA EXIGÊNCIA A PARTIR DO VATICANO II

Na tradição mais antiga da Igreja, a assembléia litúrgica era servida por muitos ministros:
- porteiros, cantores, salmistas, leitores, acólitos, diáconos..., além do presidente. Posteriormente, da Idade Média para cá, o padre acabou monopolizando tudo nas celebrações. Tanto que os poucos serviços leigos que ainda restaram (sacristão, coroinha, cantores...), acabaram nem sendo considerados mais como ministérios litúrgicos. Regime este que durou todo o segundo milênio! A partir do movimento litúrgico, na primeira metade do século 20, começou-se a acordar e perceber o quanto tínhamos nos afastado da genuína tradição da Igreja, no que diz respeito à participação na liturgia.
E começou-se a introduzir outras funções, exercidas por leigos, principalmente nas chamadas “Missas Comunitárias”. Enquanto o padre fazia a leitura em latim lá no altar, de costas, em voz baixa, leigos faziam a leitura em voz alta, na linguagem do povo, para todos ouvirem e entenderem. Leigos animavam o canto popular. Leigos traziam as oferendas (pão, vinho e água) para o altar. Leigos acolhiam os irmãos à porta da Igreja. E assim por diante.
A Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Liturgia, do Concílio Vaticano II, assumiu estas “novidades”, dando-lhes um fundamento teológico:
- “o sacerdócio de todo o povo batizado e a diversificação dos ministérios litúrgicos como expressão da Igreja-Comunhão, Igreja-Corpo-de-Cristo, onde cada membro tem a sua tarefa específica em função do bem comum” (Ione Buyst, Equipe de Liturgia, p. n.º 12). O que vemos? A SC nos alerta expressamente que ninguém deve acumular funções na celebração litúrgica, e que os leitores, comentaristas, o grupo de cantores... exercem um verdadeiro ministério litúrgico (cf. SC 28-29). Em seguida, mesmo não falando diretamente de “equipe”, no fundo está pedindo que ela seja uma realidade.
Senão, quem é que vai “incentivar as aclamações do povo, as respostas, as salmodias, as antífonas e os cânticos, as ações e os gestos e o porte do corpo”, bem como “o sagrado silêncio” (cf. SC 30)?... E hoje a própria Instrução Geral sobre o Missal Romano fala da necessidade de preparar a atuação de cada um “de comum acordo”, o que supõe que haja uma equipe que atue de maneira entrosada e que se reúna para preparar a celebração (cf. nn. 91-111 e n.º 352).
UMA EXIGÊNCIA NA IGREJA DA AMÉRICA LATINA E CARIBE

Assim sendo, mãos à obra!Os desafios são muitos e o trabalho é grande!...Vale a pena, porque a Páscoa libertadora quecelebramos na sagrada liturgia merece servivida intensamente por nossas assembléias.E as equipes litúrgicas bem constituídascumprem aí um maravilhoso papelevangelizador, pois "a liturgia é o momentoprivilegiado de comunhão e participação parauma evangelização que conduz à libertaçãocristã integral, autêntica"(Documento de Puebla, n.º 895)
Os importantes documentos da Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM) de Medellín, Puebla e Santo Domingo denotam a necessidade imprescindível de equipes litúrgicas em nossas comunidades eclesiais. O documento de Medellín (1968), pelos dois grandes desafios para a vida litúrgica que nele sobressaem, a saber, celebrar em comunidade e celebrar a partir dos acontecimentos (dos fatos da vida), evidencia que só com a constituição de boas equipes litúrgicas se poderá atingir o objetivo de uma liturgia realmente comunitária e participativa, celebrando a Páscoa no hoje de nossa história.
O documento de Puebla (1979), que traz à nossa mente o povo pobre (a maioria!) com suas práticas religiosas como um novo sujeito na liturgia, exige a constituição de equipes que possibilitem o surgimento de uma expressão litúrgica autenticamente popular. O documento de Santo Domingo (1992), que trata da inculturação da fé, deixa entrever que a adaptação da liturgia às várias culturas em nosso continente é coisa que deve ser levada a sério. Ora, só com equipes litúrgicas bem constituídas é que poderemos dar cumprimento a este importante objetivo da Igreja em nosso continente, isto é, de uma liturgia inculturada, como é o desejo do Concílio Vaticano II (cf. SC 37-40).

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