Eucaristia, que desde a origem está no centro do culto cristão, é também o centro da vida interior de cada fiel. As formas devocionais que dele surgiram foram se desenvolvendo com o correr dos tempos.
A Igreja e o seu Magistério, por sua vez, introduziram-nas na liturgia, ou autorizaram sua prática privada. O resumo que segue pretende oferecer uma visão histórica desta devoção.
SÍNTESE HISTÓRICA
A devoção eucarística, assim como existe hoje, aparece somente após o século X. No entanto, desde os santos Padres (séculos IV-V), e sobretudo na alta Idade Média (século XIII), certas manifestações devocionais prenunciam outras formas de culto e vivência eucarística.
A celebração da eucaristia, inicialmente, era restrita à liturgia dominical. Ao redor desta celebração semanal, muito cedo tida como de fundamental importância, surge, no tempo de Tertuliano († 220), uma celebração – mais freqüente e até mesmo diária.
A obrigatoriedade da participação da missa dominical aparece somente em 529, por determinação do Concílio de Orange. Nos séculos III e IV, a missa e a comunhão cotidianas passam a ser generalizadas.
A fim de possibilitar a comunhão dos doentes, se estabelece, desde o início, o costume de conservar as santas espécies após a comunhão dos fiéis (Reserva Eucarística). Durante os primeiros séculos, por causa das poucas igrejas e da utilização das casas de família, esta prática necessariamente assume caráter privado.
Justino (†165), na sua Apologia dirigida ao imperador Antoniano, diz que os diáconos são encarregados de levar a eucaristia aos ausentes.
A Reserva Eucarística, uma vez terminadas as perseguições, é cercada sempre mais de respeito e solenemente conservada. O Sínodo de Verdum (século VI) determina que se conserve a eucaristia em lugar eminente e honroso e haja uma lâmpada acesa.
Leão IV († 855) indica expressamente que se conserve o santo sacramento sobre o altar. Às vezes, se conserva também o vinho consagrado. Uma carta de são João Crisóstomo a Inocêncio I faz alusão, por exemplo, ao precioso sangue profanado no lugar em que estavam conservadas as santas espécies.
A devoção à presença do Cristo, como tal, se desenvolve mais tarde.
Santo Agostinho († 430) nos dá testemunho disso: “Ninguém coma daquela carne sem primeiro tê-la adorado...”
O Sacramentário Leonino, do século VII, declara que é toda a pessoa de Cristo, com sua natureza divina e sua natureza humana, que se adora na eucaristia. Certas liturgias antigas assinalam que, no momento da comunhão, se fazia uma elevação pela qual os elementos consagrados eram apresentados aos fiéis com estas palavras: “As coisas santas para os santos!”.
A devoção à Eucaristia é, de modo particular, vivenciada pelo monges que vivem nos mosteiros. Suas celas são contíguas à igreja e, pelo hagioscópio (abertura que permite ver o altar), eles assistem à missa, aos ofícios e comungam.
INCREMENTO DO CULTO EUCARÍSTICO
O movimento em favor da devoção à eucaristia se manifesta cada vez mais vigoroso entre fiéis e teólogos. Porém, a partir de 1200, a teologia e o culto eucarístico tornam-se, em quase toda a Igreja, objeto de constante preocupação.
Não é de estranhar que, meio século mais tarde, seja instituída a festa do Corpo de Deus (Corpus Christi).
É sobretudo na Bélgica que este fervor provoca o aparecimento do culto à eucaristia tal qual o conhecemos hoje.
Em Liège existem mosteiros inteiros dedicados à adoração do SS. Sacramento.
Santa Juliana (1192-1258), primeira abadessa das agostinianas de Mont-Cornillon, tem visões que pedem a instituição de uma festa em honra ao Santíssimo Sacramento. Alguns teólogos consultados se declaram favoráveis.
Roberto de Torote, pouco favorável no começo, muda de idéia depois de um diálogo com Juliana e, em junho de 1246, institui a festa do Santíssimo Sacramento decidindo que seja anualmente celebrada na quinta-feira depois de Pentecostes.
O papa Urbano IV († 1264) estende a festa do Santíssimo Sacramento para toda a Igreja, em 11 de outubro de 1264. A instituição da solenidade de “Corpus Christi”, como uma das maiores festas do ano litúrgico, confere à devoção eucarística um caráter oficial.
A Eucaristia, a partir do século XII, dá origem às confrarias, ordens e congregações religiosas instituídas para promover o culto ao Santíssimo Sacramento. Importante é também o surgimento, no século XIX, dos Congressos Eucarísticos diocesanos, nacionais e internacionais, ocasiões de aprofundamento da teologia eucarística.
LIÇÕES DA HISTÓRIA
Fica demonstrado portanto que a fé no culto eucarístico nem sempre se desenvolveu com equilíbrio, acusando, cá e lá, certos exageros e desvios. Assim, o desejo de ver a hóstia, que se concretizou posteriormente no rito da elevação e nas exposições do Santíssimo, alimentou excessivamente a dimensão individual do culto eucarístico, deixando, à sombra, a dimensão sócio-eclesial.
O aspecto social se restringiu preferentemente a algumas formas exteriores de culto, mas o espírito que animou estas expressões continuou profundamente individualista. Isso empobreceu a dimensão plena e integral da eucaristia.
A acentuação exagerada da eucaristia, enquanto sacramento, chegou mesmo a alimentar atitudes religiosas marcadas por elementos de superstição, como: colocar a hóstia na boca dos defuntos, dentro da mesa do altar, etc. A piedade popular careceu de uma teologia mais sólida do mistério eucarístico como um todo celebrativo, visão que orientasse a devoção eucarística fora da missa.
A presença real do Cristo na eucaristia foi de fato considerado, muitas vezes, apenas como um valor isolado. Cristo não se faz presente na eucaristia para ser simplesmente adorado, mas para ser alimento dos cristãos. Em outros termos, a presença real acontece em função da comunhão:“Isto é o meu corpo que é dado por vós... meu sangue... derramado por vós”. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,21).
O motivo primeiro é a comunhão. Evidentemente, dado que o Cristo está real e substancialmente presente na eucaristia, é digno de toda nossa adoração e do nosso respeito.
O desenvolvimento deste culto eucarístico fora da missa aconteceu, historicamente, no momento em que o povo se distanciava da celebração litúrgica, porque não mais a compreendia por falta de catequese e pela distância que se estabeleceu entre liturgia e povo. Conseqüência: a não-participação ativa dos fiéis, reduzidos a meros espectadores da ação litúrgica. Dessa forma, os cristãos buscaram formas isoladas e individuais para alimentar a sua piedade e manifestar o seu amor à eucaristia.
EUCARISTIA E ECUMENISMO
O Papa Paulo VI lembra os frutos do culto eucarístico, particularmente em vista do ecumenismo:“O nosso Santíssimo Redentor, pouco antes de morrer, pediu ao Pai que todos aqueles que viessem a crer nele se tornassem uma só coisa, como Ele e o Pai são uma só coisa.
Oxalá que todos celebremos, com uma só voz e uma fé, o Mistério da Eucaristia e, tornando-nos participantes do Corpo de Cristo, formemos um só corpo, unido com os mesmos vínculos que Ele determinou” (Mysterium Fidei, 75).
Finalizando: Nunca devemos esquecer que a presença real está em relação com a comunhão e que Cristo está presente na Eucaristia, em primeiro lugar, para ser alimento dos fiéis. Por isso mesmo, a Eucaristia é digna de adoração e reverência também fora da Santa Missa.
A Igreja e o seu Magistério, por sua vez, introduziram-nas na liturgia, ou autorizaram sua prática privada. O resumo que segue pretende oferecer uma visão histórica desta devoção.
SÍNTESE HISTÓRICA
A devoção eucarística, assim como existe hoje, aparece somente após o século X. No entanto, desde os santos Padres (séculos IV-V), e sobretudo na alta Idade Média (século XIII), certas manifestações devocionais prenunciam outras formas de culto e vivência eucarística.
A celebração da eucaristia, inicialmente, era restrita à liturgia dominical. Ao redor desta celebração semanal, muito cedo tida como de fundamental importância, surge, no tempo de Tertuliano († 220), uma celebração – mais freqüente e até mesmo diária.
A obrigatoriedade da participação da missa dominical aparece somente em 529, por determinação do Concílio de Orange. Nos séculos III e IV, a missa e a comunhão cotidianas passam a ser generalizadas.
A fim de possibilitar a comunhão dos doentes, se estabelece, desde o início, o costume de conservar as santas espécies após a comunhão dos fiéis (Reserva Eucarística). Durante os primeiros séculos, por causa das poucas igrejas e da utilização das casas de família, esta prática necessariamente assume caráter privado.
Justino (†165), na sua Apologia dirigida ao imperador Antoniano, diz que os diáconos são encarregados de levar a eucaristia aos ausentes.
A Reserva Eucarística, uma vez terminadas as perseguições, é cercada sempre mais de respeito e solenemente conservada. O Sínodo de Verdum (século VI) determina que se conserve a eucaristia em lugar eminente e honroso e haja uma lâmpada acesa.
Leão IV († 855) indica expressamente que se conserve o santo sacramento sobre o altar. Às vezes, se conserva também o vinho consagrado. Uma carta de são João Crisóstomo a Inocêncio I faz alusão, por exemplo, ao precioso sangue profanado no lugar em que estavam conservadas as santas espécies.
A devoção à presença do Cristo, como tal, se desenvolve mais tarde.
Santo Agostinho († 430) nos dá testemunho disso: “Ninguém coma daquela carne sem primeiro tê-la adorado...”
O Sacramentário Leonino, do século VII, declara que é toda a pessoa de Cristo, com sua natureza divina e sua natureza humana, que se adora na eucaristia. Certas liturgias antigas assinalam que, no momento da comunhão, se fazia uma elevação pela qual os elementos consagrados eram apresentados aos fiéis com estas palavras: “As coisas santas para os santos!”.
A devoção à Eucaristia é, de modo particular, vivenciada pelo monges que vivem nos mosteiros. Suas celas são contíguas à igreja e, pelo hagioscópio (abertura que permite ver o altar), eles assistem à missa, aos ofícios e comungam.
INCREMENTO DO CULTO EUCARÍSTICO
O movimento em favor da devoção à eucaristia se manifesta cada vez mais vigoroso entre fiéis e teólogos. Porém, a partir de 1200, a teologia e o culto eucarístico tornam-se, em quase toda a Igreja, objeto de constante preocupação.
Não é de estranhar que, meio século mais tarde, seja instituída a festa do Corpo de Deus (Corpus Christi).
É sobretudo na Bélgica que este fervor provoca o aparecimento do culto à eucaristia tal qual o conhecemos hoje.
Em Liège existem mosteiros inteiros dedicados à adoração do SS. Sacramento.
Santa Juliana (1192-1258), primeira abadessa das agostinianas de Mont-Cornillon, tem visões que pedem a instituição de uma festa em honra ao Santíssimo Sacramento. Alguns teólogos consultados se declaram favoráveis.
Roberto de Torote, pouco favorável no começo, muda de idéia depois de um diálogo com Juliana e, em junho de 1246, institui a festa do Santíssimo Sacramento decidindo que seja anualmente celebrada na quinta-feira depois de Pentecostes.
O papa Urbano IV († 1264) estende a festa do Santíssimo Sacramento para toda a Igreja, em 11 de outubro de 1264. A instituição da solenidade de “Corpus Christi”, como uma das maiores festas do ano litúrgico, confere à devoção eucarística um caráter oficial.
A Eucaristia, a partir do século XII, dá origem às confrarias, ordens e congregações religiosas instituídas para promover o culto ao Santíssimo Sacramento. Importante é também o surgimento, no século XIX, dos Congressos Eucarísticos diocesanos, nacionais e internacionais, ocasiões de aprofundamento da teologia eucarística.
LIÇÕES DA HISTÓRIA
Fica demonstrado portanto que a fé no culto eucarístico nem sempre se desenvolveu com equilíbrio, acusando, cá e lá, certos exageros e desvios. Assim, o desejo de ver a hóstia, que se concretizou posteriormente no rito da elevação e nas exposições do Santíssimo, alimentou excessivamente a dimensão individual do culto eucarístico, deixando, à sombra, a dimensão sócio-eclesial.
O aspecto social se restringiu preferentemente a algumas formas exteriores de culto, mas o espírito que animou estas expressões continuou profundamente individualista. Isso empobreceu a dimensão plena e integral da eucaristia.
A acentuação exagerada da eucaristia, enquanto sacramento, chegou mesmo a alimentar atitudes religiosas marcadas por elementos de superstição, como: colocar a hóstia na boca dos defuntos, dentro da mesa do altar, etc. A piedade popular careceu de uma teologia mais sólida do mistério eucarístico como um todo celebrativo, visão que orientasse a devoção eucarística fora da missa.
A presença real do Cristo na eucaristia foi de fato considerado, muitas vezes, apenas como um valor isolado. Cristo não se faz presente na eucaristia para ser simplesmente adorado, mas para ser alimento dos cristãos. Em outros termos, a presença real acontece em função da comunhão:“Isto é o meu corpo que é dado por vós... meu sangue... derramado por vós”. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,21).
O motivo primeiro é a comunhão. Evidentemente, dado que o Cristo está real e substancialmente presente na eucaristia, é digno de toda nossa adoração e do nosso respeito.
O desenvolvimento deste culto eucarístico fora da missa aconteceu, historicamente, no momento em que o povo se distanciava da celebração litúrgica, porque não mais a compreendia por falta de catequese e pela distância que se estabeleceu entre liturgia e povo. Conseqüência: a não-participação ativa dos fiéis, reduzidos a meros espectadores da ação litúrgica. Dessa forma, os cristãos buscaram formas isoladas e individuais para alimentar a sua piedade e manifestar o seu amor à eucaristia.
EUCARISTIA E ECUMENISMO
O Papa Paulo VI lembra os frutos do culto eucarístico, particularmente em vista do ecumenismo:“O nosso Santíssimo Redentor, pouco antes de morrer, pediu ao Pai que todos aqueles que viessem a crer nele se tornassem uma só coisa, como Ele e o Pai são uma só coisa.
Oxalá que todos celebremos, com uma só voz e uma fé, o Mistério da Eucaristia e, tornando-nos participantes do Corpo de Cristo, formemos um só corpo, unido com os mesmos vínculos que Ele determinou” (Mysterium Fidei, 75).
Finalizando: Nunca devemos esquecer que a presença real está em relação com a comunhão e que Cristo está presente na Eucaristia, em primeiro lugar, para ser alimento dos fiéis. Por isso mesmo, a Eucaristia é digna de adoração e reverência também fora da Santa Missa.
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