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7 de janeiro de 2012

A casa sobre a rocha - Evangelho de Mt 7,21-27


 Há certos cristãos que estão convencidos que, para cumprir os compromissos que decorrem da sua fé, é suficiente a língua, é suficiente repetir sempre: “Senhor, Senhor” (v. 21).
É difícil encontrar, entre os descrentes, os que nos criticam por rezarmos pouco.
De modo geral dizem: os cristãos rezam bastante, repetem frequentemente as frases do evangelho, se vangloriam de ser seguidores de Cristo, mas no fim, na vida real, falam, pensam, se comportam exatamente como os outros.
O evangelho de hoje começa com uma afirmação muito séria. Afirma que muitos julgarão ter vivido em comunhão com Cristo, mas no fim se encontrarão diante de uma trágica surpresa: o Senhor não os reconhecerá como seus seguidores. Como então será possível ter garantias de não errar? Seria triste demais chegar ao fim da própria vida e ser obrigado a admitir que a gente se enganou. Há uma prova incontestável: as obras de amor em favor do homem (v. 21; cf. Mt 25,31-46). Quem as cumpre, com certeza, será reconhecido por Cristo como seu seguidor, ainda que seu nome não se encontre registrado nos livros de batizados, de crismas e de casamentos da comunidade cristã.
Nos versículos seguintes (vv. 22-23) é feita uma descrição pormenorizada das pessoas que se iludem de ser cristãs: não somente invocam muito bem Jesus chamando-o “Senhor”, mas falam em seu nome e até realizam feitos extraordinários: expulsam demônios e operam milagres.
Nós ficamos muito impressionados diante de fatos milagrosos. Temos certeza de que eles constituem a prova da santidade de uma pessoa e a comprovação da verdade daquilo que ensina. O antigo testamento, porém, já advertia que não se deve fundamentar a fé nos milagres (Dt 13,2-6). Jesus hoje também afirma de forma clara que o que vale diante de Deus não são as obras extraordinárias, mas o cumprimento constante e fiel da sua vontade. Esta primeira parte do evangelho é um chamado a rever com seriedade a nossa vida pessoal e comunitária. Por acaso não identificamos frequentemente a fé com a “prática religiosa”, com o cumprimento de exercícios externos de piedade, como a recitação de fórmulas, cânticos, cerimônias solenes, devoções, palavras bonitas? Não há por acaso cristãos que por vezes procuram esconder a falta de amor aos irmãos por trás destas práticas? Em nossa vida não acontece às vezes de manifestarmos algum gesto isolado de generosidade, para depois continuarmos como pagãos pelo restante do tempo? Deus não se satisfaz só com alguma nossa boa ação. Não se adquire a comunhão com Ele com fatos prodigiosos, mas renovando a nossa vida e enriquecendo-a com obras de amor em favor do irmão. Na segunda parte do evangelho, Jesus explica o que Ele ensinou através de uma parábola (vv. 24-27). Quer nos dar a entender que a nossa vida deve ser construída sobre alguma coisa sólida de forma que possa resistir ao juízo de Deus. Duas casas ou duas cabanas podem parecer idênticas para quem as observa do lado de fora; mas se uma delas não tem os alicerces ou se as madeiras de uma das cabanas estão completamente corroídas por dentro pelos cupins, não ficará de pé por muito tempo quando vierem as tempestades, quando soprarem com força os vendavais, ou quando os rios transbordarem. Assim é, diz Jesus, a religiosidade de muitos que se julgam cristãos: exteriormente são pessoas que se apresentam bem, têm uma aparência impecável, mas interiormente são frágeis, falham naquilo que é essencial: as obras.
O que representam a chuva, o vento, os rios? Não são as dificuldades da vida que submetem a duras provas a nossa fé; são imagens usadas pela bíblia para representar o juízo de Deus.
O juízo dos homens é muito tênue e superficial, sopra como uma brisa leve que deixa em pé até construções muito frágeis. Os homens frequentemente aplaudem e ficam encantados ao contemplar pessoas cuja vida, em geral, merece ser reprovada com severidade.
O juízo de Deus será diferente: desencadear-se-á como um tufão muito forte: resistirão somente as construções muito sólidas.
A prática religiosa de algumas comunidades também poderá ser julgada de forma positiva pelos homens. Podemos até ficar deslumbrados e ovacionar determinadas liturgias-espetáculo, mas se faltar o compromisso em favor dos pobres e pela justiça, para que servem tais manifestações?
O que sobrará da “cabana” da nossa vida, se as vigas que a sustentam não estiverem estruturadas em obras sólidas de amor em favor do irmão, mas em papo-furado? Nunca nos passou pela mente que um dia toda a nossa construção poderia desabar como um castelo de cartas? É preferível verificar, o mais rápido possível, a solidez dos alicerces.

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