O evangelista São Lucas presta uma atenção particular ao tema da misericórdia de Jesus.
Em sua narração, encontramos alguns episódios que destacam o amor misericordioso de Deus e de Cristo, que afirma que não veio para chamar os justos, mas os pecadores (Cf. Lucas 5,32).
Entre as narrativas de Lucas, encontra-se a da conversão de Zaqueu, que a liturgia deste domingo apresenta. Zaqueu é um “publicano”, e mais, o chefe dos publicanos de Jericó, importante cidade no rio Jordão.
Os publicanos eram os arrecadadores dos impostos que os judeus deviam pagar ao imperador romano, e por este motivo eram considerados pecadores públicos.
Ademais, aproveitavam com frequência sua posição para fazer chantagem e sacar dinheiro das pessoas. Por este motivo, Zaqueu era muito rico, mas depreciado por seus concidadãos. Portanto, quando Jesus, ao atravessar Jericó, deteve-se precisamente na casa de Zaqueu, isso suscitou ume escândalo geral.
O Senhor, no entanto, sabia muito bem o que fazia. Por assim dizer, quis arriscar e ganhou a aposta: Zaqueu, profundamente impressionado pela visita de Jesus, decide mudar de vida, e promete restituir o quádruplo do que roubou. “Hoje chegou a salvação a esta casa”, disse Jesus, e conclui: “o Filho do homem veio para buscar a salvar o que estava perdido”.
Deus não exclui ninguém, nem pobres nem ricos. Deus não se deixa condicionar por nossos preconceitos humanos, mas vê em cada um uma alma que há que salvar, e o atraem especialmente aquelas almas que são consideradas perdidas e que assim o creem elas mesmas. Jesus Cristo, encarnação de Deus, demonstrou esta imensa misericórdia, que não tira nada à gravidade do pecado, mas que busca sempre salvar o pecador, oferecer-lhe a possibilidade de resgate, de voltar a começar, de se converter. Em outra passagem do Evangelho, Jesus afirma que é muito difícil para um rico entrar no Reino dos Céus (Cf. Mateus 19, 23). No caso de Zequeu, vemos precisamente que o que parece impossível realiza-se: “Ele entregou sua riqueza e imediatamente ficou substituída pela riqueza do Reino dos Céus”, comenta São Jerônimo (Homilia sobre o Salmo 83, 3). E São Máximo de Turim acrescenta: “As riquezas, para os néscios, são um alimento para a desonestidade; no entanto, para os sábios, são uma ajuda para a virtude; a estes, se lhes oferece uma oportunidade para a salvação, no caso dos outros provoca um tropeço que leva à ruína” (Sermões, 95).
Queridos amigos, Zaqueu acolheu Jesus e se converteu, pois Jesus tinha sido o primeiro a acolhê-lo! Não o havia condenado, mas tinha respondido a seu desejo de salvação. Peçamos à Virgem Maria, modelo perfeito de comunhão com Jesus, que experimentemos a alegria de receber a visita do Filho de Deus, de ficar renovados por seu amor, e transmitir aos demais sua misericórdia.
[Traduzido por ZENIT
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